67 Atividade antibacteriana de Ficus benjamina L. (Moraceae) 1 2* 1 RESCHKE, A. ; MARQUES, L.M. ; MAYWORM, M.A.S. 1 Laboratório de Fitoquímica, Faculdade de Biologia, UNISA. Rua Prof. Enéas de Siqueira Neto, 340. (São Paulo, 2 SP, 04829-900). Laboratório de Micoplasmas, Departamento de Microbiologia, ICB – USP. Av. Prof. Lineu Prestes, 1374. (São Paulo, SP, 05508-900). *Autor para correspondência RESUMO: Ficus benjamina L. é uma espécie de porte arbóreo, amplamente cultivada em parques e jardins. Os extratos de frutos tem mostradoação antibacteriana, portanto, o objetivo deste trabalho foi estudar o potencial antibacteriano de extratos produzidos a partir de folhas jovens e adultas e do caule de Ficus benjamina L. O bioensaio de ação antibacteriana foi realizado utilizandose macrodiluição em caldo com concentrações exponenciais (16 µg mL-1 a 2048 µg mL-1) dos extratos. Os resultados mostraram que as menores concentrações inibitórias foram observadas em extratos de folhas adultas contra Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus e em extratos de folhas jovens contra P. aeruginosa e S. pyogenes. Palavras-chave: Atividade antibacteriana, Ficus benjamina L., Moraceae. ABSTRACT: Antibacterial activity the Ficus benjamina L. (Moraceae). Ficus benjamina is an arborous specie largely cultivated in gardens. Extracts of fruits have shown antibacterial activity. The aim of this paper was to study the antibacterial potential of ethanolic extracts of young and adult leaves and the stalk of Ficus benjamina L. The antibacterial test was performed by using the macrodilution method with extracts in exponential concentrations (16 µg mL-1 to 2048 µg mL-1). The results showed that the lower inhibitory concentration was observed in the extract of adult leaves against Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus pyogenes and Staphylococcus aureus, and in extract of young leaves against P. aeruginosa and S. pyogenes. Key words: Antibacterial activity, Ficus benjamina L., Moraceae. INTRODUÇÃO O conhecimento de plantas medicinais e suas propriedades terapêuticas vêm sendo acumulados durante séculos, contribuindo para a seleção e incorporação de espécies vegetais como plantas medicinais eficazes e direcionando os estudos detalhados para a obtenção de novos medicamentos (Di Stasi, 1996). Ao longo das últimas décadas, tem-se comprovado que as plantas produzem substâncias químicas com propriedades antimicrobianas, como cumarinas, flavonóides, terpenóides, alcalóides, taninos, entre outros (Cowan, 1999), os quais encontram-se distribuídos nas diferentes partes das plantas. Extratos de Ficus sycomorus, F. benghalensis, F. religiosa e F. racemosa (Moraceae) revelaram atividade bactericida (Carauta & Diaz, 2002) e extratos de frutos de Ficus benjamina mostraram ação antibacteriana utilizando a metodologia de difusão em placa (Mousa et al., 1994). Estudos fitoquímicos em espécies de Ficus citaram a presença de cumarinas (Oliveira, 2002; Chang et al., 2005), flavonóides (Lorenzi & Matos, 2002), terpenóides (Saeeb & Sabir, 2002; Li & Kuo, 1998), alcalóides (Baumgartner et al., 1990) e taninos (Ogungbamila et al., 1997). Visando, contribuir para um melhor conhecimento das propriedades medicinais de Ficus benjamina, este trabalho teve como objetivo estudar o potencial antibacteriano de extratos produzidos a partir das folhas jovens e adultas e do caule. Recebido para publicação em 24/05/2005 Aceito para publicação em 04/08/2006 Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.2, p.67-70, 2007. 68 MATERIAL E MÉTODO Produção dos extratos Amostras de folhas jovens, adultas e do caule de F. benjamina L. foram coletadas nas dependências do Campus I da Universidade de Santo Amaro e amostras-testemunha foram depositadas no Herbário da Universidade de Santo Amaro, sob Voucher “Reschke 01” (coleta em 17.12.2003). As amostras foram fragmentadas e submersas em etanol P.A. As extrações foram feitas em temperatura ambiente e protegidas da luz, sendo o solvente trocado a cada sete dias (4 extrações). Os extratos obtidos foram reunidos e concentrados sob pressão reduzida em rotaevaporador a 40ºC, a fim de se obter uma concentração de 10 mg mL-1 (1%), sendo armazenados a 4ºC (Bernard et al., 1995). Microrganismos utilizados Foram utilizadas cepas padrão, originárias de cultura do ATCC (“American Type Culture Collection”), adquiridas através do Instituto Adolfo Lutz (IAL): Escherichia coli ATCC – 25922 / IAL 339; Pseudomonas aeruginosa ATCC – 10145 / IAL 1024; Staphylococcus aureus ATCC – 25923 / IAL 1606; Streptococcus pyogenes ATCC – 12345 / IAL 1614; Salmonella Typhimurium C.5 CIP / IAL 1472 e Klebsiella pneumoniae ATCC – 13883 / IAL 1920; também foram utilizados isolados clínicos do Instituto de Ciências Biomédicas (USP): Bacillus subtilis, Enterococcus faecalis e Proteus mirabilis. Teste de ação antibacteriana O método de macrodiluição em caldo foi realizado segundo Sutter et al., (1979, modificado). Em tubos com 5 mL de caldo triptona soja – TSB (Acumedia, Baltimore, USA), foram depositados as concentrações exponenciais dos três extratos produzidos (16 a 2048 µg/mL -1) e o inóculo padronizado em 108 UFC/ml de bactérias. Os testes foram realizados em duplicata e mantidos em estufa por 24 horas, a 37ºC. Foram determinadas a Concentração Inibitória Mínima (CIM) e a Concentração Bactericida Mínima (CBM). Controles positivos (tubo com o caldo mais bactéria e outro com caldo, bactéria mais álcool) e negativos (tubo com caldo e outro com caldo mais o extrato) foram adicionados para a validação dos resultados. RESULTADO E DISCUSSÃO Pela Tabela 1 pode-se observar os valores de CIM e de CBM dos extratos produzidos a partir de folhas jovens, adultas e do caule de F. benjamina. Foi observada inibição de todas as bactérias testadas utilizando-se extratos de folhas jovens e adultas em concentrações a partir de 256 µg mL-1. O extrato de caule não mostrou atividade contra as bactérias testadas. No extrato de folhas adultas, as menores concentrações inibitórias foram observadas em P. aeruginosa (256 µg mL-1), S. pyogenes (256 µg mL-1) e em S. aureus (512 mg mL-1). O extrato de folhas jovens também teve efeito na inibição de todas as cepas, sendo mais efetivo sobre P. aeruginosa (256 µg/mL) e S. pyogenes (512 µg mL-1). O extrato de folhas adultas (1024 g mL-1) mostrou atividade bactericida contra S. pyogenes, P. aeruginosa, P. mirabilis e B. subtilis. As menores concentrações bactericidas do extrato de folhas jovens foram obtidas em concentrações de 512 µg mL -1 e 1024 µg mL -1 para S. pyogenes e P. aeruginosa, respectivamente. Não foi observado efeito bactericida em S. typhimurium tratada com extrato de folhas jovens. Mousa et al. (1994), testando extratos de fruto de Ficus benjamina, F. sycomorus, F. benghalensis e F. religiosa e utilizando o método de difusão em placa, observaram a presença de halos de inibição no crescimento de 22 cepas de bactérias, entre elas, S. aureus, E. coli, K. pneumoniae, e P. aeruginosa. Valsaraja et al. (1997), utilizando a técnica da macrodiluição em caldo, observaram que os extratos de F. religiosa e F. benghalensis apresentaram atividade contra E. coli, P. aeruginosa, B. subtilis e S. aureus em concentrações a partir de 6 mg mL-1, concentrações estas, maiores do que as obtidas com F. benjamina neste trabalho. Ogungbamila et al. (1997) também utilizaram a técnica de macrodiluição para testar extratos de F. barteri com concentração de 10 mg mL-1. Os autores observaram inibição de S. aureus e B. subtilis. Desta forma é importante destacar que os resultados encontrados quando comparados aos observados em literatura, sugerem que o extrato proveniente de folhas adultas mostraram maior eficácia antibacteriana quando comparada com extrato de folhas jovens, de caules e sicônios (frutos) de outras espécies. Ainda não existem dados sobre a composição química de Ficus benjamina, porém a ocorrência de compostos já isolados em outras espécies de Ficus como alcalóides, cumarinas, flavonóides, terpenóides e taninos, poderia justificar a sua atividade antibacteriana observada neste trabalho. Em recente revisão, Cowan (1999) destaca que essas classes de compostos, entre outras, apresentam atividade antimicrobiana comprovada. A diferença observada entre a eficácia do extrato de folhas jovens e folhas adultas sugere que o extrato produzido a partir dessas últimas apresentam maior teor de metabólitos, fato comumente observado na literatura. Segundo Edward & Wrattens (1981), a concentração de metabólitos secundários não é Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.2, p.67-70, 2007. 69 TABELA 1: Determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) e da Concentração Bactericida Mínima (CBM) dos extratos etanólicos de Ficus benjamina. (Concentrações expressas em mg mL-1). constante durante o desenvolvimento da planta. Fenny (1970) observou que o teor de taninos aumenta com a maturidade das folhas de carvalho (Quercus robur). Henriques et al. (2004) afirmaram que a produção de alcalóides ocorre preferencialmente em células adultas uma vez que este processo ocorre no retículo endoplasmático e sua concentração nos vacúolos. Sendo assim, possivelmente os extratos de folhas adultas poderiam conter um maior teor desses e de outros compostos, contribuindo para uma maior eficácia na atividade antibacteriana. Os resultados obtidos também confirmam e ampliam o conhecimento sobre a atividade antibacteriana de F. benjamina, já descrita por Mousa et al. (1994), utilizando-se extratos de frutos a e de outras espécies de Ficus (Baumgartner et al., 1990; Mousa et al., 1994; Ogungbamila et al., 1997; Valsaraja et al., 1997; Abou et al., 2003; Farrukh et al., 2003; Kone, 2004), destacando-se maior eficiência dos extratos de folhas em relação aos extratos produzidos a partir de outras partes de Ficus spp. A cada dia, cepas bacterianas estão tornando-se resistentes a diversos antibióticos, o que faz necessária a busca de novas substâncias eficazes para o tratamento de doenças. Os resultados obtidos neste estudo confirmam a atividade antibacteriana de extratos produzidos a partir de folhas em estádio adulto de Ficus benjamina e abre caminho para novas pesquisas, como o isolamento das substâncias ativas para posteriores testes. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABOU, D.A. et al. A cycloartane triterpene and phytosterols from the fruit of Ficus vogelii. Revista Latinoamericana de Química, v.31, n.1, p.58-65, 2003. BAUMGARTNER, B. et al. 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