AVALIAÇÃO FITOSSANITÁRIA EM ÁRVORES NA ÁREA

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AVALIAÇÃO FITOSSANITÁRIA EM ÁRVORES NA ÁREA URBANA
DE JOÃO MONLEVADE/MG
Dalila Mendes1, Tatiane Reis1, Marcus Alvarenga Soares1, Geisla Teles Vieira1, Bernardo
Soares1.
1
Departamento de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais, Universidade do
Estado de Minas Gerais.
Resumo
A arborização dos centros urbanos exige manutenção e práticas necessárias para manter as
árvores com saúde, vigor e sempre compatíveis com o ambiente. Tais práticas envolvem as
atividades de poda, remoção de árvores, adubação, irrigação, e tratos fitossanitários. Este
trabalho objetivou coletar e identificar pragas que vem atacando as árvores de praças públicas
do município de João Monlevade – MG. Para a realização deste trabalho foram coletados
dados das condições fitossanitárias e observações gerais nas praças. Os indivíduos foram
classificados com condição ‘boa’, ‘regular’ ou ‘ruim’. Foram identificados 06 espécimes de
insetos que apresentaram uma relação diretamente proporcional às condições fitossanitárias
ruins. A maioria dos indivíduos avaliados estava em condições fitossanitárias boas, poucos
em regular e apenas dois em condição ruim. Todas as praças apresentaram uma taxa acima de
66% de indivíduos em boas condições, exceto a Praça Joaquim Pena da Luz onde 100% dos
indivíduos foram observados em condições regulares. Entre as espécies amostradas, a Ficus
benjamina apresentou as piores condições fitossanitárias e a maior infestação de pragas,
revelando problemas de adaptação ao ambiente urbano.
“Palavras chaves”: insetos; pragas; praças públicas.
Introdução
A ocorrência de certos tipos de insetos-praga e plantas parasitas em espécies arbóreas
encontradas em praças públicas, reservas florestais e em grandes propriedades rurais
destinadas ao cultivo de culturas podem ocasionar consideráveis danos ambientais e
econômicos. Os insetos-praga representam uma constante ameaça e um desafio ao homem,
pois existem inúmeras espécies que, esporádica ou constantemente, causam perdas
econômicas significativas. Além dessas perdas diretas, os prejuízos ambientais,
principalmente em virtude do uso de inseticidas, devem ser considerados (SALLES, 2003).
Os danos causados pelos insetos às plantas são variáveis em todos os órgãos vegetais
e, dependendo da espécie e da densidade populacional da praga, do estágio de
desenvolvimento, estrutura vegetal atacada e da duração do ataque poderá haver maiores ou
menores prejuízos quantitativos e qualitativos para a planta. O aumento populacional dos
insetos, em um dado ambiente, está diretamente influenciado pelas condições ambientais
favoráveis, aliadas à ausência de predadores naturais (GALLO, 2002),
Este trabalho tem por objetivo avaliar a condição fitossanitária de árvores em praças
públicas, identificando os danos e agressões provocados pelas pragas.
Materiais e Métodos
A pesquisa foi realizada no município de João Monlevade - MG, localizado na latitude
19,5º S e longitude de 43,7º W, distante 110 km de Belo Horizonte, com aproximadamente
75.320 habitantes (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2009). A vegetação natural
está inserida no bioma Mata Atlântica, possuindo clima tropical de altitude, tipo CWA
segundo classificação climática de Kõppen-Geiger, e situa-se a uma altitude média de 900
metros.
Durante os meses de março a junho de 2010 foram realizadas campanhas de campo em
quatro praças da cidade sendo Praça Joaquim Pena da Luz (PJPL), Praça do Lindinho (PL),
Praça Geraldo de Paula Santos (PGP) e Praça São José Operário (PSJO). Apenas indivíduos
arbóreos foram selecionados para este estudo.
As condições fitossanitárias dos indivíduos foram classificadas como sendo “Boa”,
“Regular” ou “Ruim”. Os critérios para classificação foram: boa (sem necrose, sem infestação
por pragas ou erva-de-passarinho e sem interferências mecânicas); regular (sem necrose, com
infestações por pragas ou erva-de-passarinho, com injúrias mecânicas bem reparadas ou podas
bem recuperadas); ruim (com infestação por pragas e/ou erva-de-passarinho, e/ou grandes
intervenções mecânicas e/ou podas mal recuperadas).
Resultados e Discussão
A maioria dos indivíduos arbóreos analisados, nas quatro praças, apresentou condições
fitossanitárias boas, poucos apresentaram condição regular e apenas dois foram classificados
com condições ruins. Todas as praças apresentaram uma taxa acima de 66% de indivíduos em
boas condições (Figura 1), exceto a PJPL onde 100% dos indivíduos avaliados estavam em
condições regulares. Nesta praça foi observada uma infestação da praga Tripes
(Gynaikothrips ficorum) na espécie Ficus benjamina.
120
Condições fitossanitárias %
100
Boa
Regular
Ruim
80
60
40
20
0
PGP
PL
PSJO
PJPL
Figura 1: Condições fitossanitárias em % para as praças Geraldo de Paula (PGP), Lindinho (PL), São José
Operário (PSJO) e Joaquim Pena da Luz (PJPL).
Foram encontradas diferentes pragas em seis espécies de plantas estudadas (Tabela
01):
Tabela 01: Classificação taxonômica dos insetos, número e local de ocorrência
NOME CIENTÍFICO
NOME
POPULAR
Icerya purchasi
ORDEM
FAMÍLIA
Nº DE
INDIVÍDUOS
Pulgão
branco
Bemisia sp
Mosca
branca
Gynaikothrips ficorum Tripes
Homoptera
Aphididae
4
Homoptera
Aleyrodidae
4
Thysanoptera Phlaeothripidae
50
Oiketicus kirby
Bicho-cesto
Lepidoptera
Psychidae
1
Pseudococcus
maritimus
Cochonilha
Hemiptera
Pseudococcidae
2
Hemiptera
Membracidae
10
Sp1
OCORRÊNCIA
Oiti (Licania
tomentosa) PL
Canjambo (Guarea
Kunthiana) PGP
Figueira (Ficus
benjamina) PJPL
Pata de vaca (Bauhinia
forficata) PGP
Emabúba da Mata
(Cecropia polystachya)
PL
Pata de vaca (Bauhinia
forficata) PGP
Os danos mais graves foram registrados nas espécies F. benjamina e Bauhinia
forticata, causados pelo ataque de Gynaikothrips ficorum e Oiketicus kirby, respectivamente.
As folhas das árvores dessas duas espécies já se encontravam em estágio avançado de ataque.
Gynaikothrips ficorum é um inseto de origem sul-asiática e de ocorrência pan-tropical.
Quando em fase adulta, atingem 2,6 a 3,6 mm de comprimento e apresentam asas franjadas e
coloração preta. Sua ocorrência está associada pelas áreas mais diversas por onde a espécie
Ficus benjamina L. (Moraceae), seu hospedeiro preferencial se aclimatou, como Israel,
Palestina, Sicília, Espanha, Argélia, Ilhas Canárias e por toda a América. Atacam as folhas
das plantas do gênero Ficus (F. benjamina), causando deformação e enrolamento pela injeção
de toxinas (GALLO, 2002).
Larvas de O. kirbyi constroem um casulo com seda e pequenos gravetos empupando
dentro dele (BORROR & DELONG 1969). Oiketicus kirby é uma espécie polífaga que se
alimenta de folhas de várias famílias de plantas: Malpighiaceae, Rutaceae, Erythroxylaceae,
Vochysiaceae (DINIZ & MORAIS 1995), Myrtaceae (PEREIRA et al. 2001), Musaceae
(STEPHENS, 1962; RAMÍREZ et al. 1999) e Aquifoliaceae (IEDE & MACHADO 1989). No
entanto, seu hospedeiro preferencial é o Eucalipto (Eucalyptus).
As ervas-de-passarinho (Struthantus flexicaulis) foram encontradas em diversos
hospedeiros em todas as praças. São plantas hemiparasitas generalistas, podendo parasitar
grande número de hospedeiros e levá-los a morte, outras apresentam uma limitação na
quantidade de hospedeiros que parasitam, sendo que algumas poucas espécies são conhecidas
por parasitarem apenas uma única espécie de planta (NORTON & CARPENTER 1998).
Apesar de poderem parasitar uma diversidade de hospedeiros, mesmo as ervas-de-passarinho
generalistas apresentam preferências e parasitam alguns mais frequentemente do que outros
(NORTON & CARPENTER 1998).
Conclusões
Ficus benjamina apresentou as piores condições fitossanitárias, com maior infestação
de pragas, revelando problemas de adaptação ao ambiente urbano. Diante disso, não se
recomenda o plantio desta espécie em praças públicas.
Recomenda-se a redução do uso da espécie Bauhinia forticata na arborização urbana
para evitar infestações mais severas de O. kirby.
Referência
BORROR, D.J.; DELONG, D.M. 1969. Introdução ao Estudo dos Insetos. São Paulo, Editora
Edgard Blücher Ltda., 653 p.
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