Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA 1. Reações de Ácidos Carboxílicos e Seus Derivados O grupo carboxila (―CO2H ou ―COOH), é um dos grupos funcionais mais amplamente encontrados na química e na bioquímica. Não apenas os próprios ácidos carboxílicos são importantes, mas o grupo carboxila é o grupo gerador de uma família enorme de compostos relacionados chamados compostos acílicos ou derivados de ácido carboxílico. A reatividade dos ácidos carboxílicos e seus derivados se dá pela polaridade da ligação carbono-oxigênio devido ser mais eletronegativo. O carbono carbonílico, por tanto, é um eletrófilo e por essa razão podemos seguramente prever que será atacado por um nucleófilo. R Y δ+ C O δ− Carboxila (Y é uma hidroxíla ‐ OH) Quando um nucleófilo ataca o carbono carbonílico de ácido carboxílico ou derivado, a ligação π carbono-oxigênio quebra e um intermediário é formado. O intermediário é chamado intermediário tetraédrico porque o carbono trigonal planar (sp2) nos reagentes se torna um carbono tetraédrico (sp3) no intermediário. De um modo geral, embora o produto final seja diferente, reações de ácidos carboxílicos e seus derivados inicialmente se assemelham às reações sofridas pelos aldeídos e cetonas. A etapa inicial em ambas as reações envolve adição nucleofílica no átomo de carbono da carbonila. Em ambos os casos os grupos de compostos. Após o ataque nucleofílico inicial ter acontecido as duas reações passam a se diferenciar. O intermediário tetraédrico formado a partir do aldeído ou cetona captura um próton para formar um produto de adição estável. Ao contrário, o intermediário formado a partir do composto acílico normalmente elimina o grupo de saída; esta eliminação leva a regeneração da ligação dupla carbono-oxigênio e a um produto da 1 Prof. Ms. Zilvam Melo – Química Orgânica Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA substituição. O processo global no caso da substituição acílica ocorre, portanto, pelo mecanismo adição-eliminação nucleofílica. Os compostos acílicos reagem desta forma porque todos eles possuem bons grupos de saída (ou eles podem ser protonados para vir a se tornar bons grupos de saída), ou razoavelmente bons, ligados ao átomo de carbono carbonílico. a) Mecanismo geral para reação onde o nucleófilo está carregado negativamente 1o Etapa: Reação de adição δ− O O δ+ C Nu + R R C Y C Nu Y 2 o Etapa: Reação de eliminação O R - O Nu C R Y + Y‐ Nu b) Mecanismo geral para reação onde o nucleófilo está eletricamente neutro 1 o Etapa: Reação de adição δ− O δ+ R C O + Nu H R Y C Y - O + Nu H R - C YH + 2 Prof. Ms. Zilvam Melo – Química Orgânica Nu Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA 2o Etapa: Reação de eliminação O R C O Nu YH + C R + HY Nu 2. Reatividades Relativas dos Ácidos Carboxílicos e Seus Derivados Ambas as etapas são reações de equilíbrio, portanto, a eliminação de Y- ou Nudepende de suas basicidades relativas. A base mais fraca é preferencialmente eliminada. Como discutido em aulas anteriores, quanto mais forte for o ácido (menor valor de pKa) mais fraca será a base conjugada. Deste modo, quanto mais fraca for a base ligada à carboxila melhor será como grupo de saída. Em outras palavras, numa reação de adição-eliminação nucleofílica, devemos avaliar qual grupo de saída ligado será a base mais fraca (menor valor de pKa), pois este grupo que será preferencialmente eliminado ao restaurar a dupla ligação carbonooxigênio. Abaixo temos a ordem de reatividade relativa do ácido carboxílico e seus derivados. Observe que os haletos de acila apresentam a maior reatividade de todos. Isso se deve ao fato destes compostos liberarem Cl- ou Br- que são as bases mais fracas. Como o HCl e o HBr são ácidos muito fortes (apresentam baixos pKa), suas bases conjugadas são muito fracas e, por tanto, são bastante estáveis. Já as amidas o grupo NH2 é um mau grupo de saída, pois é uma base relativamente forte. Mais abaixo temos uma tabela com valores de pKa para grupos de saída de ácido carboxílico e seus derivados: 3 Prof. Ms. Zilvam Melo – Química Orgânica Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA Perceba nos mecanismos abaixo que o grupo de saída (sofre a eliminação) sempre apresenta menor valor de pKa. Veja a seguir algums exemplos específicos: a) Mecanismo para a conversão de haleto de acila em éster: b) Mecanismo para a conversão de haleto de acila em anidrido: 4 Prof. Ms. Zilvam Melo – Química Orgânica Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA c) Mecanismo para a conversão de amida em ácido carboxílico (hidrólise catalisada por ácido): Uma amida não pode ser hidrolisada sem catalisador. Um catalisador ácido torna um grupo um melhor grupo de saída. d) Mecanismo para a conversão de anidrido em éster (e em um ácido carboxílixo: 5 Prof. Ms. Zilvam Melo – Química Orgânica Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA e) Mecanismo para a conversão de éster em ácido carboxílico (hidrólise ácida): O excesso de água forçará o equilíbrio para a direita. Os alcoóis que têm baixos pontos de ebulição podem ser removidos por destilação assim que são formados. f) Mecanismo para a conversão de éster em ácido carboxílico (hidrólise básica): 6 Prof. Ms. Zilvam Melo – Química Orgânica Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA g) Reação para a conversão de ácido carboxílico em éster (esterificação): h) Reação para a conversão de óleo ou gordura em sais de ácido graxo (saponificação): 3. Referências 1. SOLOMONS, T. W.; GRAHAM; CRAIG FRYHLE. Química Orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005. 1 e 2 v. 2. BRUICE, P. Y. Química Orgânica. 4. ed. São Paulo: Pearson, 2006 3. ALLINGER, N. L. Química Orgânica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1978. 7 Prof. Ms. Zilvam Melo – Química Orgânica