ENSINO DE GEOGRAFIA NA CONTEMPORANEIDADE: O USO DE RECURSOS DIDÁTICOS NA SUA ABORDAGEM. Maria Luíza Tavares de Oliveira - Universidade Regional do Cariri (URCA)[email protected] INTRODUÇÃO A ciência geográfica, ao redefinir o seu objeto de estudo, o espaço, nos remete a uma analise mais perceptiva, participativa e reflexiva. Assim, objetiva uma renovação no pensamento geográfico, para reafirmar a sua importância e necessidade na compreensão das transformações espaciais e como o homem se comporta diante de tais mudanças. Considerando a geografia indispensável a analise sócio-espacial, percebe-se como esta, na contemporaneidade, vem reafirmando o seu objeto de estudo, não só técnico-científico, mas, principalmente à educação nas escalas local, regional e global. Reportando-se a Tomasi (2004, p.13), ele faz a seguinte colocação: “Na evolução do conhecimento geográfico é possível verificar a busca por diversas abordagens, das relações entre homem e natureza, numa constante dicotomização e posteriormente entre sociedade e natureza buscando apreender uma visão mais totalizante do espaço em suas investigações.” Diante desse contexto, objetiva-se refletir algumas questões inerentes ao ensino da geografia na atualidade, as quais emergiram do acompanhamento dos estágios supervisionados do curso de licenciatura em geografia, nos ensinos fundamental II e médio. Nesse sentido, o ensino da geografia exige uma maior discussão das mudanças ocorridas no espaço e nas relações homem/meio. Os conteúdos geográficos necessitam dessa discussão pautada numa geografia crítica, com fundamentos científicos. Quando se coloca os conteúdos de geografia, verifica-se que muitas vezes os mesmos são trabalhados incoerentemente, deixando uma lacuna no educando e até a insatisfação no educador. Daí, justificar o uso de recursos didáticos na sua abordagem: Que recursos didáticos se adequam com a realidade de sala de aula? O professor ou educador-geógrafo detém uma formação para trabalhar tais recursos? O Estado oferece condições dignas ao educador em sala de aula? Quais seriam esses recursos didáticos especificamente na geografia? Para desenvolvermos a reflexão que aqui propomos, nos reportaremos às questões discutidas no curso de licenciatura em geografia, diante das experiências de alguns docentes no estágio supervisionado, como também em literatura científica específica. Ensino de Geografia Como está sendo trabalhada a geografia escolar? Esta é uma indagação que nós geógrafos-educadores deveríamos questionar. Ou ainda, qual geografia atende as expectativas dos nossos alunos? É sabido que durante muito tempo a ciência geográfica, não passava de descrição da superfície terrestre servindo aos interesses da classe dominante. No período atual, será que essa geografia renovada, ou a velha dicotomia geografia tradicional ou crítica satisfaz educandos e educadores? É necessário pensarmos a geografia que queremos trabalhar em sala de aula e se essa geografia vai ou está influenciando a formação do educando, do homem cidadão, diante da modernização do trabalho e das mudanças constantes no espaço urbano. De acordo com Cavalcanti (2005, p.16): “A geografia defronta-se, assim, com a tarefa de entender o espaço geográfico num contexto bastante complexo. O avanço das técnicas, a maior e mais acelerada circulação de mercadorias, homens e idéias distanciam os homens do tempo da natureza e provocam um certo “encolhimento” do espaço de relação entre eles. Na sociedade moderna, baseada em princípios de circulação e racionalidade, há um domínio do tempo e do espaço, mecanizados e padronizados, que se torna fonte de poder material e social numa sociedade que constitui à base do industrialismo e do capitalismo (...)” A importância da geografia escolar é indiscutível, para a formação do educando e para a consolidação de uma sociedade sustentável. Contudo, nem sempre a escola persiste nessa temática, ou o professor ainda não se deu conta da sua responsabilidade de despertar no aluno, um olhar analítico-crítico das relações sociais que se presencia, resultando nas desigualdades sociais. Somma (2003, p.165) coloca que: “O objeto de estudo da geografia está aí, exposto a todos os sentidos de cada aluno, todos os dias. O espaço próximo se vive; forma parte da história pessoal do aluno que lhe atribui uma lógica, a sua maneira. Os significados implícitos, os preconceitos, as noções prévias formam parte do desenvolvimento das inteligências pessoais. Ignorar essa forma de apreender seu espaço real é, além de um erro pedagógico, uma forma de desconhecer o aluno como pessoa. Nós, professores de geografia, temos a oportunidade de transformar essas percepções desordenadas, baseadas em uma dinâmica funcional, em categorias de conteúdos e habilidades significativas para o desenvolvimento da inteligência. A escola deveria ressignificar essas idéias prévias. Para que essa atuação formativa se dê, é necessária a conjunção de duas definições do professor: a linha pedagógica e o pensamento geográfico que adota.” Percebe-se, a necessidade da definição da metodologia a ser adotada em sala de aula, nota-se que as dificuldades encontradas na aprendizagem se dão diante da ausência de métodos que focalizem aluno, professor e conteúdos e que favoreçam a construção do conhecimento geográfico que reflita na aprendizagem do aluno e na sua formação para a vida. Assim, Kaercher (2003, p.173) enfatiza: “(...) A geografia não deve se restringir às aparências, ao visível (...) a geografia deve falar, sobretudo, das pessoas. São elas que com seu trabalho, modificam o espaço e os lugares. Riquezas, mapas, cidades e países são frutos do trabalho destas pessoas, principalmente dos mais humildes. E como vive este homem? O que lhe resta depois do trabalho?” Algumas indagações que foram colocados nessa contextualização nos levam a considerar, que é possível trabalharmos uma geografia crítica em sala de aula, mesmo diante de algumas políticas educacionais que comprometem o desempenho do educador-geógrafo, mas, instigar no educando um desejo por conhecer o universo geográfico, e assim, as categorias de ensino da geografia seriam abordadas mais coerentemente, vencendo todas as dificuldades. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.107) indicam objetivos para o ensino Fundamental, e tais objetivos ampliam o papel dos professores que atuam nesta área exigindo uma mudança no seu perfil e na sua forma de atuação. Considerando o ensino de geografia e de acordo com tais parâmetros, aluno deverá ser capaz de: • (...) compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no diaa-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si mesmo respeito; • Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; • Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sócio-cultural brasileiro, bem como aspecto sócio-cultural de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação em diferenças culturais, de classe social, de crença de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; • Perceber-se integrante, dependente e transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente; • Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; Tais objetivos estão de acordo com o papel fundamental da educação para promover o desenvolvimento das pessoas e das sociedades e, para tanto, exige uma escola voltada para a formação do cidadão como cita a Constituição Federal de 1998 que dita os princípios e fundamentos que devem orientar a educação escolar através da elaboração da LDB e do Plano Nacional de Educação que, como não expressam efetivamente a realidade, apresentam-se como grandes metas a serem alcançadas. Para Straforini (2004, p.51) enfatiza: Não podemos mais negar a realidade ao aluno. A geografia, necessariamente, deve proporcionar a construção de conceitos que possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com responsabilidade, ou ainda, preocupar-se com o futuro através do inconformismo com o presente. Mas esse presente não pode ser visto como algo parado, estático, mas sim em constante movimento. O ensino da geografia perpassa por novas reflexões e construções geográficas que vão além do visível. Isso é notável nas colocações dos alunos do ensino fundamental e médio, por mais que a escola pública tenha suas dificuldades, alguns bons profissionais vêm revertendo esse diagnóstico, como presencia o próprio aluno de geografia com as leituras de geopolítica, análise das relações homem/meio, são leituras que estes alunos vêm realizando com maturidade e observa-se que o livro didático é uma base. Não podemos negar, é uma mudança lenta, mas ela vem se tornando efetiva e não podemos esquecer que é resultado também da formação acadêmica. Nessas perspectivas, corrobora-se com Lage (2004, p.07): “A geografia distingue-se no âmbito do conhecimento humano pelo caráter do seu objeto de estudo – o espaço geográfico. Espaço que se pode analisar em suas várias “metamorfoses”: Paisagem, lugar, região, cidade, campo, entre outras (...) o “fazer geográfico” perpassa por esse entendimento e pela busca de superação dessas dificuldades, criando um “saber geográfico consistente que permita o surgir do “ser geográfico”. É preciso compreender, que o ensino da geografia é imprescindível para a formação da cidadania e para as analises social, econômica, política, ambiental e cultural. Ainda, não podemos afirmar que a geografia escolar é a geografia que queremos para nossos educandos, mas, dia-a-dia ela vem lutando para conquistar o seu reconhecimento na sociedade. Portanto, depende de nós a geografia que queremos. O Uso de Recursos Didáticos na sua Abordagem A adoção do uso dos recursos didáticos, para uma melhor abordagem científica do ensino da geografia, contribui para uma maior compreensão da sociedade como o processo de ocupação dos espaços naturais, baseado nas relações do homem com o ambiente, em seus desdobramentos políticos, sociais, culturais e econômicos. Nesse sentido, o ensino da Geografia deve levar o aluno a sentir-se estimulado a intervir significativamente na realidade em construção, com a disposição de se constituir num agente da transformação social. Os recursos didáticos proporcionam ao educador trabalhar os conteúdos articulados a uma técnica que facilitará a compreensão do aluno, sendo indispensável à formação do professor-educador para o uso desses recursos. A ciência geográfica disponibiliza através de seu objeto de estudo, o espaço, à articulação com métodos didáticos que insira o aluno nesse processo de ensino – aprendizagem. Pensando na aprendizagem e apreensão do espaço geográfico, pretende-se, através destes recursos que irão ser detalhados a seguir, oriente a formação do aluno, para Schäffer, (2003, p.169): • Construção da identidade (pessoal e social), isto é, da capacidade de reconhecer-se em um lugar e de reconhecer as particularidades do mesmo, expressando com propriedade; • Formação para a cidadania, entendendo-se por cidadão aquele que é capaz de emitir opinião sobre temas públicos no sentido de direcionar decisões políticas e como aquele que tem conhecimento e acesso aos seus direitos e que admite e assume seus deveres; • Desenvolvimento da autonomia intelectual, da criticidade e da criatividade; • Promoção de atitudes de respeito, interesse, participação e cooperação. A busca pela qualidade do ensino deve ser uma constante na vida do geógrafoeducador, quando se coloca o uso dos recursos didáticos, tais como: documentários, filmes, músicas, cartilhas educativas, cordéis, mapas temáticos, imagens de satélites, músicas e outros. Evidencia-se que estes recursos, com o uso do livro didático, propiciam ao professor adotar uma metodologia mais participativa. Ao propor uma metodologia em que o aluno se sinta inserido, o nível de aprendizagem será bem melhor. A promoção de debates, com temas de interesse da comunidade escolar, como geografia e educação ambiental, diversidade cultural e alfabetização cartográfica entre outros, oferecerá subsídios para a formação e melhor desempenho do aluno. Observa-se que, ao trabalhar com filmes que abordam a problemática sóciopolítica e econômica, os alunos participam mais das aulas, analisando o contexto do documentário e da problemática por ele vivenciado. O próprio livro didático se torna mais explorado. Acrescenta-se que “os alunos, futuros cidadãos, encontram-se desprovidos de instrumentos de raciocínio sobre o espaço, isto é, sobre os lugares de vida: os seus, os nossos, os dos outros” (Foucher, 1994:13). Como despertar no aluno o interesse pela ciência geográfica? Já constatamos em sala de aula, quando usamos o audiovisual, a curiosidade deles, lembrando que não é qualquer filme-documentário que irá se trabalhar em sala, é necessário todo o planejamento para termos a convicção de que ele pode ser analisado com tal conteúdo do livro didático. (...) o papel do filme na sala de aula é o de provocar uma situação de aprendizagem para alunos e professores. A imagem cinematográfica precisa estar a serviço da investigação e da crítica a respeito da sociedade em que vivemos. Trata-se, portanto, de um movimento de apropriação cognitiva da relação espaço-imagem e principalmente, da criação de sujeitos produtores de conhecimento e reconhecimento de si mesmos e do mundo. (Barbosa, 2003, p.113) As representações cartográficas, também, são recursos que o educador deve usar em sala para a exploração e vivência do mundo cartográfico. Exemplo disso é a produção de maquetes construída com base em carta topográfica. Essa produção transfere o aluno para o conhecimento e interpretação do mapa para retirada das curvas de nível e identificação da área de acordo com a escala adotada. A educação cartográfica desperta a criatividade no aluno e o interesse pelos conhecimentos cartográficos, bem como a aprendizagem. Assim, As diferentes situações de ensino – aprendizagem organizados pelo professor devem integrar, portanto, o maior número possível de aspectos pertinentes ao objeto geográfico de estudo, de forma a promover uma visão contextualizada do mesmo. A organização de tarefas em grupos, valorizando as experiências vividas, permitem desenvolver a pluralidade de percepções sobre o tema e aprofundar a argumentação. (Schäffer, 2003, p.169) Levando-se em consideração os recursos didáticos que foram mencionados nessa abordagem, nota-se a importância deste para a formação do conhecimento geográfico, desmascarando a concepção de que geografia se decora e não se compreende. É uma mudança que vem ganhando espaço no cotidiano do educador e do educando onde, diante do processo de modernização, é impossível continuar trabalhando essa geografia escolar descritiva. Como enfatiza Andrade, (2003, p.13), O geógrafo deve utilizar o seu potencial teórico, o domínio das técnicas modernas e o seu comprometimento com os altos objetivos nacionais para dar uma contribuição positiva à solução dos problemas do país. Ciência é também política, e o cientista deve saber por que é utilizada em favor dos interesses de quem ela é utilizada. Daí enfatiza-se o comprometimento e a responsabilidade social do geógrafoeducador diante de uma “platéia” de na sala de aula onde os alunos estão, em alguns casos, diante da única ótica de mundo, com sociedades desiguais e sem as mesmas oportunidades, ficando o professor com uma maior responsabilidade em abordar determinados temas. Considerações Finais: Deve-se considerar que o ensino da geografia na contemporaneidade perpassa por uma analise reflexiva da ciência geográfica, suas conquistas, lutas e mudanças, onde o espaço geográfico é palco de todas essas transformações. É importante lembrar que a geografia escolar refletirá na formação do homem; é preciso ter o cuidado com este saber para que não trabalhe orientações geográficas desorganizadas e até contraditórias. Em nenhum momento, tivemos a intenção de propor um plano de trabalho ou receitas para o professor em sala de aula, mas, insistir na pesquisa para o ensino de qualidade e mesmo diante das dificuldades do educador o uso dos recursos didáticos, das novas tecnologias de ensino, possibilitar-se-á a eles um envolvimento com o objeto de estudo da geografia – o espaço geográfico. Referências ANDRADE, Manuel Correia de. Trajetórias e compromissos da Geografia Brasileira. In: CARLOS, Ana Fani A. et al (Org). A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2003. BARBOSA, Jorge Luiz. Geografia e Cinema: em busca de aproximações e do inesperado. In: CARLOS, Ana Fani A. et al. (Org.). A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2003. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos; apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1997. CAVALCANTI, Lana de Souza. 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