desafios e perspectivas para um novo

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A PRÁTICA DOCENTE DO PROFESSOR DE FUNDAMENTOS
FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA UM
NOVO TEMPO
Todos nós educadores temos a convicção de que estamos vivendo um período
histórico de muitas possibilidades e conquistas. Mas, ao mesmo tempo, estamos
inseridos em um momento histórico no qual se instalou uma crise em diferentes
dimensões: seja política, econômica, social, ambiental, de valores etc. Diante dessa
realidade, as instituições sociais são chamadas a se ressignificarem para enfrentar os
desafios postos pela contemporaneidade. É dentro desse contexto que se encontra a
escola e a educação superior. Os profissionais que nela atuam precisam enfrentar muitas
demandas ao mesmo tempo. Nesse bojo, desenvolver no educando e educanda o gosto
pela leitura, o interesse em refletir sobre a realidade e os problemas cotidianos não
parece ser uma tarefa muito fácil em um tempo em tudo é muito rápido e que as pessoas
não tem paciência para discutir questões de forma aprofundada. No entanto, tais
questões parecem inquietar, especialmente, os e as docentes da disciplina Filosofia
Educacional em razão das especificidades inerentes a essa disciplina.
Assim, o objetivo do texto é descrever de forma sucinta uma experiência
vivenciada como professora de Filosofia da Educação. Dessa forma, entendemos que o
conhecimento acerca da prática do professor de Filosofia são elementos instigações para
enriquecer a pratica docente dos professores das demais áreas do conhecimento. É o que
veremos a seguir.
O papel do professor/a de Filosofia da Educação na contemporaneidade
Uma das problemáticas mais sérias que os/as docentes de Filosofia enfrentam na
sua prática docente refere-se, a competência deste profissional para motivar os alunos
no processo de ensino-aprendizagem. É notório para qualquer professor e professora
que, de modo geral, os educandos não gostam de Filosofia. Afirmam ser uma disciplina
de difícil compreensão e sem sentido para a realidade em que estamos inseridos. Além
disso, vivemos num mundo no qual as pessoas são impacientes e estão saturadas de
informações. Esse fenômeno atinge os discentes da Educação Infantil até os alunos e
alunas do Ensino Superior. Além dessa situação, há ainda outras dificuldades, como por
exemplo, nos cursos de Pedagogia e Licenciaturas de modo geral as disciplinas ditas
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teóricas e pedagógicas não são valorizadas, muitos estão preocupados com técnicas de
ensino acreditando que elas estão desvinculadas do debate teórico. Por outro lado,
alguns estão preocupados em obter apenas o certificado ou estão no curso por falta de
opção.
Diante dessa realidade como professora dos Fundamentos Filosóficos da
Educação no curso de Pedagogia, no decorrer do trabalho fizemos
a seguinte
indagação: que metodologias o/a educador/a desse campo de ensino pode lançar para
motivar os discentes aos estudos e compreender a importância da Filosofia para a sua
formação? A resposta a esta questão é uma tarefa complexa na medida em que a
cobrança para com esse/a educador/a é grande, visto que, não se admite que esse
docente não tenha competência metodológica para atingir esse fim, isto é, o (a)
professor(a) do campo filosófico é considerado especialista na arte de instigar os
estudantes a pensarem, a refletirem sobre o mundo, portanto, entende-se que esse
educador deve ter uma metodologia de trabalho diferenciada. Nesse sentido, não pode
apenas transmitir conhecimentos e sim levar o educando a pensar sobre o mundo.
Outro ponto que é importante destacar é que nas licenciaturas de modo geral as
disciplinas ainda são, apesar de mudanças dos componentes curriculares de muitas
faculdades e universidades, tratadas no esquema em que se trabalha as disciplinas
teóricas para depois ser apresentadas as metodologias. Esta forma de organizar o
currículoi gerou a dissociação entre teoria e prática acarretando a fragmentação dos
saberes.
Sabemos, entretanto,
que a partir dos anos 80 do século XX iniciou-se o
movimento de reformulação dos cursos de formação de professores com base na
identidade profissional apontando para uma revisão crítica dessa concepção, à luz da
relação teoria/prática e sua relação com a escola ou outras instituições, assumindo uma
nova forma de conhecimento e intervenção na prática social (FILHO, 2004, p.13).
Defendemos, portanto, que a Filosofia faz parte da nossa vida cotidiana e que ela não é
algo meramente contemplativa e dissociada da realidade em que estamos inseridos.
Como afirma Chauí (2009, p.19) “em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos
considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática
muito visível e de utilidade imediata...” A atitude filosófica envolve algumas questões
tais como: pergunta o que é, pergunta como é e pergunta por que é. Sendo assim, a
atitude filosófica procura fazer essas indagações ao mundo que nos rodeia e nas relações
estabelecidas entre as pessoas (CHAUÍ, 2009).
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Assim, o caminho encontrado como professora dessa disciplina não foi fácil.
Procuramos respaldar o trabalho em alguns pilares tais como: a) partimos sempre de
questões problematizadoras e reflexivas no sentido do estudante pensar sobre o mundo e
o conhecimento discutido b) uma formação centrada no educando como um todo; isto é,
são tratados conteúdos de cunho conceituais, procedimentais e a atitudinais sem perder
o enfoque filosófico; c)
as propostas lançadas aos discentes são discutidas e
reformuladas no decorrer do trabalho realizado; d) foi sempre priorizado o
posicionamento do educando em relação as atividades propostas, fazendo um paralelo
entre aquilo que é vivenciado na faculdade e o que é feito nas escolas públicas e em
outros espaços educacionais.
Esses eixos, por sua vez, estavam pautados em dois aspectos: o primeiro,
compreende que a construção da qualidade do ensino não pode prescindir da discussão
da importância da formação inicial e continuada dos docentes e do reconhecimento
público do magistério; o segundo ponto percebe os alunos e alunas, futuros professores,
(uma grande parte já está no mercado de trabalho) como intelectuais que têm seus
próprios saberes, suas experiências e histórias de vida. Tomando como base as ideias da
estudiosa e pesquisadora Garrido (2000, p.17)
compreendemos que é preciso
ressignifcar os processos formativos a partir das discussões sobre os saberes necessários
à docência. É preciso discutir com os alunos e alunas a descrença em relação ao curso e
a profissão tendo como foco a construção de um novo profissional capaz de atuar no
âmbito do trabalho com coerência entre o discurso e o que faz no cotidiano escolar.
É importante ressaltar que quando os discentes chegam aos cursos de
licenciatura eles têm saberes das experiências como aluno e aluna sobre o que é ser
professor. Outros por sua vez, estudaram no magistério a partir do que chamamos hoje
de Normal Médio e atuam no ensino fundamental do 1ª ao 5ª ano. Todas essas
experiências os fazem discernir o que é ser bom ou mau professor. Em outro nível, o
saber da experiência centraliza-se no fazer cotidiano, na aprendizagem com os colegas,
nas tentativas de acertos na sala de aula.
Outro saber que o formador precisa levar em conta é o saber disciplinar (do
conhecimento) saberes esses que precisam ao mesmo tempo ser priorizado e
questionado na medida em que determinados conteúdos trabalhados na escola não
servem para a vida dos educandos. Hoje, sabemos que há diferença entre adquirir
competências e obter informações. A competência implica em saber lidar com as
informações, saber organizar, analisar e contextualizar o que está sendo aprendido.
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Assim, o papel da formação inicial e continuada é instrumentalizar o docente na
perspectiva de que assuma sua profissão mediante a reflexão das experiências vividas.
Ela é vista como um projeto existencial capaz de articular práticas e saberes diversos.
Ser um sujeito em formação é poder usar conscientimente o saber, o saber-fazer e o
saber-ser em função de poder contribuir para um mundo melhor.
Para atingir tal fim faz-se necessário que desde a formação inicial sejam
discutidos e aprofundados os saberes da experiência, os saberes pedagógicos e os
saberes disciplinares.
A formação, a partir da problemática acima destacada tem se refletido
fortemente em variadas questões que interferem na vida profissional do educador. Entre
as questões levantadas pelos docentes estão: 1) a violência na sociedade e na escola; 2)
a dissociação entre teoria e prática educativa; 3) a saturação do mercado de trabalho; 4)
as condições inadequadas de trabalho e baixos salários dos professores e professoras,
entre outros aspectos. Sem dúvida nos colocamos num quadro complexo e
extremamente paradoxal. Uma das formas de pensar a escola, a formação de docentes é
compreendê-la numa dimensão multidimensional enfocando o aspecto humano, técnico
e político-social e filosófico.
Nessa perspectiva, a partir do final da década de 90 do século XX, a Filosofia
retomou seu status no currículo escolar tanto no Ensino Médio como na Formação dos
professores e professoras. Para tanto, essa disciplina precisa ser pensada em
consonância com os problemas da educação
como um todo. No dizer de Chauí
(2009,p.23) “ a Filosofia volta-se para diversas formas de conhecimento (percepção,
imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão) e dos vários tipos
de atividades”...
Nesse sentido, é possível dizer que a Filosofia é de suma importância para
entender o contexto educacional. Pois sabemos que a escola é o lócus de difícil
compreensão porque nela estão inseridos conflitos, contradições, desespero, dramas,
alegrias, esperanças e utopias. É pensando sobre o papel dessa instituição como
elemento fulcral para a formação do ser humano em sua plenitude que a disciplina
Fundamentos Filosóficos precisa ser redimensionada e repensada.
Compreendemos que a Filosofia é um campo de conhecimento próprio e
investigativo que envolve a reflexão e a intervenção no cotidiano escolar a partir dos
estudos dos problemas relacionados aos sujeitos envolvidos no processo de
aprendizagem (pais, alunos, professores/as, comunidade, direção....). A Filosofia só faz
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sentido porque discute os dilemas, as questões e situações humanas. Segundo Severino
(200, p.36) “a filosofia é, pois, a busca sistemática e insistente do sentido mais profundo
e mais radical da existência humana, sem dúvida alguma para torná-la mais adequada,
mais coerente, cada vez mais especificamente humana.”
A Filosofia numa concepção teórico-prático vê a teoria indissociável da prática.
Nessa perspectiva, é necessário explicitar o conceito de prática e de teoria como
elementos de superação da fragmentação do conhecimento. A Filosofia deve favorecer
a reflexão, as discussões dos problemas diários que assolam a realidade educacional,
dos professores e dos alunos A escola como fonte inspiradora para pesquisa precisa ser
assumida como horizonte ou utopia a ser conquistada nos projetos dos cursos de
formação de professores. A problematização e análise das situações da prática social de
ensinar, permite que o professor/a e o/a aluno/a utilize o conhecimento elaborado das
Ciências, das Artes, da Filosofia, da Pedagogia e das Ciências da Educação como
ferramentas para a compreensão e proposição do real.
A investigação e valorização da capacidade de decisão dos/as professores/as no
sentido de discutir os temas que permeiam o cotidiano das atividades são fundamentais
para a compreensão dos problemas da escola citamos como exemplo: o que é educar?
Nascemos humanos ou nos tornamos humanos? O que podemos aprender com a
Filosofia Grega para pensarmos a Educação hoje? O que é ética? Por que a ética é
importante para a prática educativa? Esperamos que todas essas questões confrontando
com experiências de vida dos diferentes estudantes levarão a formação de pessoas
conscientes do seu papel na sociedade.
Sendo assim, a Filosofia como reflexão sobre a nossa ação pode servir de espaço
para pensar projetos interdisciplinares, ampliando a compreensão e conhecimento da
realidade profissional de ensinar. Desta forma, consideramos a disciplina Fundamentos
da Educação como campo de conhecimento significativo atribuindo-lhe um estatuto
espistemológico que supere sua tradicional redução à atividade meramente teórica e
sem sentido para a nossa realidade. Assim, é possível dizer que a tarefa básica da
Filosofia Educacional “é buscar o sentido mais profundo do próprio sujeito da
educação, ou seja, de construir a imagem do homem em situação de sujeito/educando”
(SEVERINO, 1994, p.37). Por isso indagamos: qual é o sentido do próprio
conhecimento? O que é conhecer? Conhecer antes de tudo exige pensar, refletir, analisar
e desvendar o sentido das coisas. Cabe à Epistemologiaii explicar como acontece o
processo de conhecimento.
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Nesse sentido, tínhamos como objetivos do nosso trabalho: a) oportunizar os
alunos a refletirem sobre a relação da teoria com a prática pedagógica dos educadores a
partir da realidade concreta das escolas públicas; b) confrontar as teorias do campo
educacional e pensamento filosófico de diversos tempos com os problemas das escolas
públicasiii; c) contribuir para a melhoria da qualidade de ensino no âmbito do Ensino
Superior através de produção individual e coletiva. d) apontar caminhos de intervenção
de forma interdisciplinar para a prática pedagógica dos professores das diversas áreas de
conhecimento do Ensino Fundamental e Médio. Enfim, foram momentos de
aprendizagem prazerosa com constantes questionamentos da realidade educacional do
nosso país.
Nos tempos atuais, uma das demandas primordiais diz respeito ao sentido do ato
de educar. Será que educar é somente transmissão cultural dos conhecimentos da
geração antiga para a nova? Ou constitui o pleno desenvolvimento humano? A
compreensão da aprendizagem do sentido de viver no mundo passa pelo próprio
entendimento de educação.
Assim, o debate sobre o que é educar? Como nos tornamos humano? São
fundantes para que nossos estudantes entendem qual é o papel do educador e da
educadora nos tempos em que o mundo vive de forma interligada. Daí, a necessidade de
professores/as e estudantes analisarem as problemáticas atuais e lutarem decididamente
uma educação de qualidade.
Considerações Finais
Ao término do trabalho pudemos observar que os alunos e alunas estavam mais
motivados para serem professores e professoras, mesmo sabendo das dificuldades e
desvalorização da profissão além do gosto pela disciplina. Alguns se apresentaram
menos apáticos, mais críticos e responsáveis nas atividades desenvolvidas. Aos poucos
o campo Filosófico/Histórico na faculdade vem ganhando espaço e despertando nos
professores das áreas específicas e dos licenciados a descoberta do sentido de ser
educador e
passam a entender que a Filosofia e História da Educação não são
disciplinas inúteis e sem sentido.
O ato de educar acontece no processo histórico/filosófico de cada grupo social
no qual são repassadas as tradições, mas também, os valores e normas no sentido de
contribuir com a personalidade do jovem estudante. Notadamente, educar vai além de
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transmissão de conhecimentos. É a forma de fornecer a alguém os cuidados necessários
ao pleno desenvolvimento físico, intelectual e moral. É promover o processo de
formação do outro como ser humano integral.
Destacamos que a educação escolarizada não é o único espaço na sociedade que
promove processos educativos e que orienta a vivência dos estudantes. Ao contrário, o
estudante quando chega à universidade traz experiências e concepções construídas na
família e na comunidade e em outros espaços. Tais experiências e concepções
construídas, muitas vezes, entram em choque com os valores e normas estabelecidas
pela educação escolarizada. Cabe aos profissionais em Filosofia contribuir para uma
postura ética e questionadora do sujeito.
Assim, o debate sobre papel de ser educador e como este necessita pensar sobre
a realidade em que estamos inseridos é fundante para que nossos estudantes
compreendam que vamos precisar de pessoas éticas e responsáveis para construir outra
nação. Daí, a necessidade de professores/as e estudantes discutirem no mundo
contemporâneo as suas práticas e lutarem decididamente por relações em que todos e
todas se sintam sujeitos históricos.
Referências
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2009.
FILHO, Manoel Pergentino dos Santos. Estágio supervisionado: uma leitura das
representações de docentes do curso de licenciatura em Pedagogia. Dissertação
(Mestrado em Educação), Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias,
Lisboa, 2004.
PIMENTA, Selma Garrida; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São
Paulo: Cortez, 2004.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da Educação: construindo a cidadania. São
Paulo: FTD, 1994.
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Currículo é um termo polissêmico e, portanto, neste trabalho ele não é visto como algo meramente
técnico voltado para questões de conteúdo, métodos e técnicas. Não é um elemento neutro, a-histórico e
atemporal. Ao contrário, ideologia conflito e poder perpassa todo o currículo. Ele é portanto, visto como
um artefato social e cultural. A dissertação de Roseane Maria de Amorim apresentada ao programa de
Pós-Graduação em Educação de UFPE intitulada “As implicações dos Parâmetros Curriculares Nacionais
para a prática pedagógica dos professores de História da Rede Municipal do Jaboatão dos Guararapes” faz
um estudo aprofundado sobre a questão curricular.
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Epistemologia é a área da Filosofia que trata das questões relacionadas aos conhecimento”
(SEVERINO,1994, p.37)
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iii
A relação teoria prática foi se dando através das leituras entre o campo teórico e da difícil realidade
das escolas públicas do nosso país noticiadas na TV em vários momentos.
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