AMERICAN WORLD UNIVERSITY MESTRADO EDUCAÇÃO FILOSOFIA E POLÍTICA EDUCACIONAL ACD2 - ARTIGO CIENTÍFICO POR DISCIPLINA (RE) FORMAÇÃO DO EDUCADOR EM FILOSOFIA por SUZY DE ABREU COSTA 3318- LAD RESUMO Este artigo busca um repensar sobre a prática pedagógica do educador em filosofia, visto ser este estudo indefinido, abrangente, infinito, reflexivo, inexato e dialógico, reforçando-se assim, a necessidade de uma formação contínua e flexível do professor, no que se refere ao aprendizado dos teóricos e das questões contemporâneas voltadas as indagações dos alunos, procurando fazer com que essas aprendizagens tenham significados na vida interior e social dos estudantes. PALAVRAS-CHAVES: Filosofia, Educador, Formação, Didática, Reflexões, Educando. INTRODUÇÃO Vê-se que na atualidade a preocupação com a educação da filosofia não tem apenas considerado como pontos de estudos a origem do ser humano e os dos grandes pensadores, mas sim, tem procurado adentrar na fase contemporânea, buscando fazer com que este espaço não se torne apenas um estudo histórico da vida dos grandes filósofos, suas formas de reflexões sobre os acontecimentos da época, datas, como também, principalmente, de buscar os diferentes saberes que envolvem o ser integral em sua trajetória, ou seja, sua origem, a capacidade de saber dialogar, saber argumentar, saber respeitar as opiniões divergentes das suas, no sentido que estes aprendizados possam vir a favor das indagações contemporâneas voltadas aos acontecimentos sociais, políticos e humanos dos alunos, resultando assim, em uma melhor condição emocional ao lidar com as diversidades do meio, como também, fazer-se conhecedor do processo evolutivo do ser como um todo. Por ser um estudo tão complexo e emergente, o repensar sobre a formação deste professor nesta disciplina obrigatória no ensino fundamental, faz com que este educador busque ter um olhar diferenciado na sua prática pedagógica, visto que o seu papel passa a ser uma ferramenta fundamental no processo evolutivo deste educando. OBJETIVO Diante de uma disciplina tão reflexiva, “abstrata”, e dialógica, este artigo tem como objetivo, retomar sobre a formação do educador e do conteúdo que deve ser ensinado em sala de aula, no sentido que a matéria de filosofia possa despertar o interesse em seus alunos pelas grandes questões que envolvem a diversidade deste tema, como também, desenvolver o aspecto interacional, onde o professor e o aluno são coresponsáveis pela aprendizagem, buscando assim, uma filosofia democrática, uma pedagógica flexível, visando uma aprendizagem significativa e útil à sociedade. DESENVOLVIMENTO A necessidade da disciplina Filosofia, no ensino médio brasileiro, encontra-se preconizado no art. 36, §1º, inciso III da lei nº. 9.394/96 das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), onde o Ministério de Educação busca fazer com o aluno adquira o “domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania”. Através desta inclusão, percebe-se que esta lei visa desenvolver no aluno, uma atitude de reflexão, tornando-o um cidadão crítico, conhecedor de seus direitos e deveres, sendo ainda, protagonizador do seu espaço em uma sociedade diversificada. A partir do momento em que foi instalada esta disciplina no currículo escolar, nota-se a necessidade de uma reflexão sobre este ensino, considerando, a didática, o conteúdo, e principalmente a preparação do professor para tal ensinamento, necessidades estas que constituem elementos importantes, visto que, durante o processo de formação acadêmica, geralmente em licenciatura, muitas vezes é enfocado neste professor, o trabalho de pesquisa, em detrimento da preparação para a docência. Percebe-se que há dentro dos campos acadêmicos dois tipos de profissionais, os pesquisadores e os professores. Infelizmente, ao contrário do que Luis Carlos de Menezes (1986 p.120) elucida: “A Universidade tem que assumir a formação do professor como tarefa, como uma de suas tarefas centrais”. esta afirmação não condiz com a realidade, pois o que se vê na prática da docência, é que somente após ter concluído a sua graduação e de ter passado pela fase inicial, já na vida de docente, por diferentes situações conflitantes e por estar fazendo uma auto-reflexão-de-comoser-um-bom-professor no dia-a-dia, é que o professor irá se qualificar como um bom educador, ou seja, esta busca de como ser um educador, deverá ser feita por ele. As reflexões sobre a formação do professor de ensino médio têm-se posicionado acerca das questões relativas ao ensino da filosofia, uma vez que este educador tem como tarefa, participar do processo construtivo de educandos adolescentes, alunos estes, questionadores quanto as suas necessidades atuais, reais e concretas, e que muitas vezes, não demonstram atenção, concentração, e muito menos interesse em participar, discutir um estudo tão distante de suas ânsias, angústias e dúvidas. O professor deve procurar durante a sua prática pedagógica centralizar as questões filosóficas de acordo com a leitura que ele consegue fazer do mundo real dos seus alunos. Ghiraldelli (2002, p. 100) descreve como texto anexo, O intelectual humanistaonze teses, do professor Richard Rorty da universidade de Stanford, onde este reflete sobre a função do professor que seria a de “instilar dúvidas nos estudantes a respeito de suas próprias auto-imagens e sobre a sociedade à qual pertencem. Essas pessoas são os professores que ajudam a assegurar que a consciência moral de cada nova geração seja um pouco diferente da geração anterior”. Tem-se observado que durante a prática pedagógica do educador na disciplina em questão, que há uma grande necessidade em disponibilizar aos alunos a biografia dos grandes filósofos, descrevendo assim, a História da Filosofia, não havendo tempo, no percorrer do ano letivo, de trazer estas reflexões para o cenário atual, como também, muitas vezes, os pensadores da fase contemporânea, que trazem discussões que fazem parte do mundo dos jovens, não são analisadas em virtude da finalização do tempo escolar. Para os alunos, o que se observa através deste conhecimento filosófico, é como se estudar filosofia simplesmente seria memorizar os nomes de quem representa o período pré-socrático, os socráticos, os pós-socráticos, formas de pensar e diferentes datas. Porém, como a lista dos pensadores é muito comprida, o que se conclui, é que no final da disciplina não se sabe mais quem pensa o que, e muito menos quando, tornando assim, o estudo da filosofia enfadonho, por parecer deslocado das questões atuais, sem sentido e desanimador para a grande maioria dos alunos, como também, para o educador. Jean Maugüé, professor do Curso de Filosofia da USP, em 1955, alertava que o estudo filosófico não poderia ser simplesmente uma recapitulação de pensamentos da época, com uma lista de nomes ilustres. No seu entender a história da Filosofia consistiria em uma “comunhão” com os grandes espíritos do passado, seus ensinamentos, e a retomada deste conhecimento para as situações atuais. Quando o professor consegue trazer para a sala de aula questões como, por exemplo, justiça social, ética moral, política, discriminação, com a devida contextualização e referência histórica dos grandes pensadores filósofos, este professor está ao mesmo tempo, fazendo Filosofia como um exercício de reflexão constante, através desta prática, ele também estará motivando os alunos ao diálogo, a argumentação, e ao respeito das opiniões contrárias as suas, considerando a coerência, a profundidade e a abrangência de diferentes situações, reforçando assim, conforme a colocação de Hryniewicz (2002, p. 28), ”A filosofia é um pensar coerente, pois faz emprego do recurso lógico, profundo, enquanto vai até as raízes dos problemas, não permanecendo na superfície (é avesso ao achismo) e abrangente, já que procura abordar as questões tendo presente o contexto em que estas se encontram e a multiplicidade de respostas possíveis”. O professor pode e deve centralizar as suas aulas sobre os conteúdos da tradição filosófica, buscando transformar estes pensamentos em processos de construção para as diferentes leituras que o aluno faz do seu mundo, ou seja, ensinando-o a filosofar, pois conforme o mesmo autor (p.31), “Pensar filosoficamente é possível a qualquer um. Basta que se rompa o véu do pensar ingênuo, próprio de dogmatismo, e sejam postas questões fundamentais sobre a realidade”. A reflexão filosófica do aluno ocorrerá, se ele for capaz de compreender o porque que tal filósofo pensava de determinada forma, no que ele estaria embasado para esta conclusão, como ele argumentava, e o que esta forma de pensar representaria no contexto atual para diferentes situações conflitantes ou não do cotidiano do educando, preocupações estas que devem fazer parte do processo pedagógico do professor durante a sua prática. Favaretto (1993, p. 5) considera como princípios metodológicos da atividade intelectual, procedimentos que buscam o desenvolvimento cognitivo através da análise; da leitura; de técnicas de raciocínio e argumentação; de métodos de questionamento. O professor que se preocupa com a sua prática pedagógica, considerando estes procedimentos metodológicos, irá proporcionar aos alunos as habilidades essenciais para o exercício da reflexão, do diálogo, da crítica, da argumentação, bem como, desenvolverá uma maior capacidade cognitiva, voltada às questões que envolvem um raciocínio mais complexo e abstrato, fazendo com que estas habilidades sejam refletidas em outras áreas do saber, como em outras disciplinas que fazem parte do currículo escolar, e principalmente na vida social-afetiva daquele educando. O educador precisa saber lidar com as diferenças que existem no outro, observando-os fora de si, e que também ele faz parte desta diversidade. Freire enfatizava que a escola, através do seu professor, deve acompanhar os acontecimentos sociais e políticos de sua época, como também, este educador deve procurar fazer uma “leitura” de cada aluno, no sentido que o conteúdo e a didática possam interiorizar neste estudante, considerando a sua capacidade de enxergar este mundo, demonstrando assim, interesse, participação, e principalmente, fazer com que este aprendizado tenha significado para este educando. Durante a sua prática pedagógica, o educador deve observar que há sempre ações que devem ser retomadas, etapas que precisam ser trabalhadas sistematicamente e comportamentos que devem ser evitados. Educar de uma forma dialógica e reflexiva é uma habilidade que pode ser aprendida e precisa ser exercitada. O resultado de uma discussão filosófica vai depender da habilidade do professor em coordenar o diálogo entre os alunos e da visão que ele tem do mundo como um todo. O professor deve se sentir seguro e confiante em sua prática para que este resultado dialógico possa ser concluído de uma forma harmoniosa. Refletir sobre a formação do professor de filosofia, dentro do contexto atual é buscar no passado a forma tradicional de que como se dava a prática pedagógica do educador; acrescentar as questões presentes; e projetar o resultado deste processo metodológico, para um futuro próximo, dando-se conta da dimensão espacial e temporal que vão além dos limites da escola, considerando o mundo de relações que resulta desta conexão, educador-educando-prática pedagógico. CONCLUSÃO Dentro do seu processo de formação, que deve ser contínuo, o educador deve ser conhecedor dos seus próprios limites e buscar no exterior as soluções para as suas indagações, no sentido que possa propiciar no aluno a transformação necessária para uma melhor relação consigo e com a sociedade. Ele deve buscar através da reflexão teórica e do aprofundamento das indagações atuais, um melhor entendimento e análise da sua própria prática, no sentido que esta aprendizagem filosófica possa auxiliar no processo de significados e construções do educando, implicando assim, num aprofundamento e na tomada de consciência do ser pensante e a sua ação. Finalizando, a formação do educador é infinita, é um processo contínuo que necessita ser realimentado através da auto-reflexão, através dos teóricos, através das trocas entre toda uma sociedade. Diante desta forma de análise, pode-se concluir que o educador não se forma, ele se encontra em processo de reforma. BIBLIOGRAFIA FAVARETTO, Celso. Sobre o ensino de Filosofia. Revista da Faculdade de Educação, USP. 19 Jan. /Jun/ 1993. P. 97 – 102. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Ed. Paz e Terra, 1996. JÚNIOR, Paulo Ghiraldelli. Filosofia da Educação. Ed. DP&A, Rio de Janeiro, 1957. HRYNIEWICZ, Severo. Para Filosofar. Edição do Autor, Rio de Janeiro, 2002. LDBEM. Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ed. Saraiva. São Paulo, 1996. MAGÜÉ, Jean. O ensino de Filosofia: suas diretrizes. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro. V.5, fasc. 4, nº 20, pag. 642-649, 1955. MENEZES, Luís Carlos de. Formar professores: tarefa da universidade. São Paulo: Brasiliense, 1986. Taquara, Rio Grande do Sul, Brasil, 13 de setembro de 2005. _______________________________ Suzy de Abreu Costa