REAÇÃO DE "MAILLARD" O trabalho publicado em 1912, no "Comptes Rendus de l,Academie des Sciences" de M.L.C. "Maillard", revelava a possibilidade de um açúcar (a glicose) reagir quando em solução aquosa, a quente, com um aminoácido (ácido lutâmico) produzindo coloração amarela e depois marrom. Maillard equacionou a reação provável. Seguidores de "Maillard" foram elucidando etapas e completando a reação, como Amadori, Strecker, Cole, etc. No alimento essa reação vai depender da presença do açúcar redutor que dará o grupamento carbonila C=O, vindo de um aldeído ou de uma cetona. Não só um açúcar fornece a carbonila, mas também as gorduras que tem esse grupo livre em cada 1 dos 3 ácidos graxos ligados à glicerina. Os aminoácidos irão colaborar com os grupamentos (NH2) essenciais para a reação. O grupamento ácido do aminoácido COOH ou C=O também pode fornecer a carbonila como no caso do ácido graxo ou do açúcar redutor. Os aminoácidos básicos como a lisina, a hidroxilisina, que têm grupamentos NH2 extras à ligação peptídica, quando presentes nos alimentos tornam mais provável a reação. É importante classificar os aminoácidos também quanto à reatividade. O ácido glutâmico é o mais reativo. Assim, uma lipoproteína pode então, fornecer grupamentos NH2 e C=O. Alimentos fornecedores dos grupos reativos No leite reagem as proteínas caseína, lactoalbumina e lactoglobulina e o açúcar lactose. Nas carnes e nos peixes reagem a mioglobulina, a miosina e a actina e como fonte de carbonilas, as gorduras. Nos peixes, durante a secagem, pode ocorrer o ranço oxidativo, liberando peróxidos altamente reativos ou malonaldeídos que fornecem carbonilas que reagem com a própria proteína do peixe, particularmente a lisina, com escurecimento além do desejado. Em alimentos preparados com açúcar ou amido onde se adiciona o leite, como os produtos de confeitaria, é comum ocorrer este tipo de escurecimento. Etapas da reação de "Maillard" A reação ocorre preferencialmente em meio alcalino com 3 etapas distintas. É necessário a abertura do anel do açúcar ou o açúcar na forma redutora. Inicialmente o açúcar redutor, glicose, condensa-se com o aminoácido. A ação do calor e a presença de água aceleram a reação. Essa condensação se faz no carbono reativo. A relação açúcar aminoácido é 1:1 no início. O composto formado se desidrata levando à formação da base de Schiff, insaturada e instável. A proporção de liberação de água é de 1:1 em relação ao açúcar combinado. O rearranjamento para a forma cíclica é imediato, mais estável devido a formação da ligação hemi-acetálica entre os carbonos 1 e 5. É a glicosilamina N substituída ou aldosilamina. Por ser o último componente da reação em equilíbrio com a solução aquosa, encerra a 1ª etapa. A 2ª etapa consta do rearranjamento de Amadori. É a reação chave para o escurecimento. Ocorre a entrada e saída de um H+, inicialmente formando o catiônico da base de Schiff (capaz de doar prótons) e isomerização dando um amino, 1 desoxi, 2 cetose, N substituída. É a forma ceto (cetoseamina), mais estável e que encerra a 2ª etapa. O final da 2ª etapa é de fácil detecção porque a substância formada é redutora e pode ser medida por métodos convencionais. Esta etapa é catalisada pelos aminoácidos presentes. Catálise ácido-base. A 3ª etapa de "Maillard" consta de dois caminhos: a) A partir do produto da 2ª etapa que é sensível ao calor em estado seco, mesmo a pH ácido e se aquecida desidrata, sofre fissão, dando redutonas incolores ou substâncias marrons. Em estado líquido, se o pH estiver alcalino já escurecem. Redutonas constituem o grupamento mais reativo que se forma na reação de "Maillard" dando aroma de caramelo. Têm alto poder redutor. A redutona é a fonte de escurecimento na forma de dehidrorredutona (é um escurecimento oxidativo). Além das redutonas pode-se formar também o isomaltol e o maltol, este tem aroma de caramelo e é realçador de sabor. b) A 3ª etapa da reação de "Maillard", partindo da cetoseamina pode ser entendida como uma série de reações que ainda não estão totalmente elucidadas e generalizadas. Experimentalmente, partindo de 1 glicina, 1 deoxi, 2 cetose, D-frutose, chega-se ao hidroximetil furfural. O HMF reage com os compostos iniciais, polimeriza-se em outros chegando às melanoidinas. É possível medir esta etapa por cromatografia. Os furfurais ao cindirem o anel fornecem também as redutonas, de alto poder redutor. As presenças de HMF e de redutonas levam ao escurecimento e aroma característicos da reação de "Maillard". Nesta 3ª etapa há também liberação de CO2 que aparece devido a degradação dos aminoácidos a aldeídos. A liberação de CO2 pode prejudicar produtos enlatados; o estufamento das latas já foi observado em purê de tomate e suco concentrado. Esta reação recebe o nome de Degradação de Strecker. Estes aldeídos de Strecker ao reagirem com os compostos de "Maillard" darão o sabor e o aroma peculiares das reações de escurecimento. O final da reação de "Maillard" é importante porque há formação de aroma, alteração do sabor e cor característicos. Conforme o aminoácido presente há o aparecimento do aroma e de cor característicos, a uma dada temperatura. Por exemplo, a arginina na presença de glicose escurece a 60ºC e desprende aroma semelhante a pipoca. A valina escurece a 80ºC e a 180ºC desprende aroma semelhante ao do chocolate. A lisina só escurece a 130ºC e a 180ºC desprende aroma semelhante ao do pão. Alguns autores sintetizam "flavours" sob condições especiais de pH, temperatura e tempo a uma dada concentração dos componentes. Exemplo: glicose + histidina = manteiga. Glicose + ácido glutâmico + ácido cítrico = mel. Perdas nutricionais Em termos nutricionais, há perda da qualidade proteica devido ao consumo do aminoácido durante a reação irreversível. Essa perda foi medida no sistema constituído de albumina do ovo incubado com glicose, por 35 dias, a 37ºC e com UR=76%. Houve maior consumo de arginina e lisina. O mesmo experimento, mostra a medida da disponibilidade do aminoácido. Perdas chegam a 90% na disponibilidade de lisina e 66% de arginina. Um alimento que perde seu valor nutritivo é o leite em pó escurecido após o armazenamento prolongado. Resumo A reação de "Maillard" ocorre entre 1 grupamento carbonila do açúcar ou da gordura e o grupamento NH2 do aminoácido, em meio preferencialmente alcalino, na presença de água e calor. Há complexação do açúcar com o aminoácido, formando uma base, o que acelera a reação. Há formação imediata de composto mais estável, cíclico que é a glicosamina N substituída. Esta recebe prótons e os doa. Devido a isomerização recebe o nome de rearranjamento de Amadori levando a 1 amino, 1 deoxi, 2 cetose, N substituída. Na 3ª fase há desprendimento de CO2 (aroma) e formação de redutonas e de hidroximetilfurfural. Ao final, há formação de substâncias heterocíclicas, pirróis, imidazois, piridinas e pirasinas. Podem ocorrer condensações aldólicos e polimerização de aminoaldeídos. Os intermediários se polimerizam formando polímeros insaturados coloridos. Referências: http://www.esalq.usp.br/departamentos/lan/pdf/Quimica%20de% 20Alimentos%20-%20Escurecimento%20nao%20enzimatico.pdf