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UNIVERSIDADE SÃO MARCOS
CEAFI
ISANDRA BROWNE
ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA SÍNDROME DO DESCONFORTO
RESPIRATÓRIO EM NEONATOLOGIA
GOIÂNIA
2012
2
UNIVERSIDADE SÃO MARCOS
CEAFI
ISANDRA BROWNE
ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA SÍNDROME DO DESCONFORTO
RESPIRATÓRIO EM NEONATOLOGIA
Projeto de Pesquisa apresentado à
Universidade
São
Marcos,
como
requisito parcial para elaboração do
Artigo Científico de Conclusão do curso
de Pós Graduação em Fisioterapia
Pediátrica e Neonatal.
Orientadora:
Pereira
GOIÂNIA
2012
Profª.
Drª.
Silvana
A.
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RESUMO
A Síndrome do Desconforto Respiratório, conhecida também, por Doença da
Membrana Hialina, de etiologia relacionada à deficiência de surfactante, é a causa mais
importante de morbidade em neonatos pré-termos. O objetivo deste estudo é identificar
na literatura científica, por meio de revisão bibliográfica sistemática, as principais
indicações e formas de tratamento e de intervenção fisioterapêutica, através de
ventilação mecânica, ventilação não invasiva, da reposição com surfactante e da
fisioterapia dentro da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, bem como relacionar as
discussões científicas quanto às técnicas de ventilação mais fisiológicas e menos
agressivas ao neonato. Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa de referências
bibliográficas publicadas no período compreendido entre os anos de 2000-2009.
Observou-se, ao final do estudo, concordância em alguns aspectos do tratamento da
patologia, tais como o uso da reposição do surfactante exógeno, a utilização de
ventilação mecânica não invasiva e das técnicas fisioterapêuticas, bem como aspectos
que ainda não estão completamente esclarecidos, como ventilação de alta frequência e a
utilização de surfactante exógeno, havendo necessidade de mais pesquisas científicas
sobre estes temas.
Palavras-chaves: Síndrome do Desconforto Respiratório – Membrana Hialina –
Fisioterapia.
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ABSTRACT
Respiratory Distress Syndrome, knew also as Hyaline Membrane Disease, is related to
surfactant deficiency and is the most important cause of morbidity in preterm neonates.
The purpose of this study, is to identify, in the scientific literature, using a systematic
bibliography research, the main indications, treatment models and of physical therapy
intervention in mechanical ventilation, non invasive ventilation and of surfactant
replacement therapy inside Neonatal Intensive Care Unit, as well the scientific
arguments about the most physiological and less damage to the neonate. To achieve
such purpose a scientific research was carried on by using articles published between
the years of 2000-2009. At the end of the study, we found that there are a great
agreement about some aspects of the disease, such as conventional mechanical
ventilation, non invasive ventilation and of physiotherapeutic, as well as aspects that are
not yet fully understood, and some disagreements about the high frequency ventilation
and the use of exogenous surfactant, so it is necessary to carry on new researches about
these subjects.
Key-words: Respiratory Distress Syndrome – Hyaline Membrane – Physical
Therapy.
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1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa apresenta as principais indicações e formas de tratamento e de
intervenção fisioterapêutica, através de ventilação mecânica, ventilação não invasiva, da
reposição com surfactante e da fisioterapia dentro da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
relacionada à Doença da Membrana Hialina (DMH), atualmente reconhecida como Síndrome
do Desconforto Respiratório (SDR).
A SDR é uma patologia relacionada à deficiência primária de surfactante, afetando
particularmente o recém nascido pré-termo (RN-PT) sendo sua incidência inversamente
proporcional á sua idade gestacional.
É a principal doença pulmonar neonatal, com um índice cerca de 0,5-1% dos nascidos
vivos, sendo mais frequente nos pré-termos menores de 1.500 g, sexo masculino, filho de mãe
diabética e naqueles que sofrem asfixia perinatal aguda.
De todos os problemas respiratórios que afetam o RN, a SDR constitui um dos mais
graves e frequentes. Cerca de 50% dos óbitos que ocorrem no período neonatal estão
relacionados a distúrbios respiratórios, participando a SDR cerca de 80% a 90% dos casos,
durante a 1ª semana de vida, na fase aguda da insuficiência pulmonar.
Além da prematuridade, vários fatores de risco podem contribuir para o
desencadeamento da SDR. Destes, destacam-se fatores pré e perinatais: deslocamento
prematuro da placenta, eritroblastose fetal, asfixia perinatal, diabete materno, gemelaridade,
panos traumáticos, uso de anestésicos e/ou analgésicos, e cesária eletiva. Entre os fatores pósnatais estão a hipovolemia, hipotermia, alterações metabólicas (hipoglicemia), choque e
hipóxia prolongada.
O reconhecimento e a prevenção destes fatores de risco contribuirão não só para a
diminuição da incidência da doença, como para a menor morbi-mortalidade.
A pesquisa foi dividida em introdução, análise teórica sistemática baseada nas
principais literaturas da área, metodologia em que foram utilizadas publicações nos idiomas
Português, Inglês e Espanhol entre os anos 2000-2009. As considerações finais e referências.
O objetivo desse estudo é realizar uma revisão bibliográfica sobre a atuação da
fisioterapia no tratamento da SDR, abordando estratégias de ventilação mecânica invasiva e
não invasiva, assim como a terapia de reposição de surfactante.
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2. MÉTODOS
Neste estudo de revisão bibliográfica, o levantamento de referências foi feito
utilizando os seguintes bancos de dados: Pubmed (período de publicação de janeiro de 2000
a fevereiro 2009); Scielo (período de publicação de janeiro de 2000 a fevereiro 2009);
Ebsco-host research databases (período de publicação de janeiro de 2000 a fevereiro 2009).
Foram utilizadas publicações nos idiomas Português, Inglês e Espanhol. Os termos
utilizados para a pesquisa foram os seguintes: Respiratory Distress Syndrome (Síndrome do
desconforto respiratório); Hyaline Membrane (Membrana Hialina); Physical Therapy
(Fisioterapia).
Na avaliação da intervenção dentro da seleção dos artigos foram levados em
consideração os seguintes critérios:
1. Delineamento dos estudos: ensaios clínicos randomizados; revisões sistemáticas;
estudos tipo caso-controle; modelos experimentais em animais; capítulos de livros.
2. Critérios de exclusão: Artigos de revisão não sistemática; relatos de um único
caso. A análise foi realizada conjuntamente entre título e resumo do artigo.
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3. DISCUSSÃO
A prematuridade é considerada um problema mundial nos serviços de saúde. A
Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) continua representando o mais importante
problema respiratório durante o período neonatal, afetando um grande número de recémnascidos, destacando-se os prematuros de muito baixo peso ao nascer. No Brasil, a SDR,
foi responsável por 44% dos óbitos em período neonatal no ano de 1990, e houve um
aumento para 49% no ano de 1995 (MENEGUEL, et al., 2003).
A SDR, antigamente conhecida como Doença da Membrana Hialina (DMH), é a
expressão clínica da deficiência de surfactante em neonatos, a qual promove instabilidade
funcional e colapso alveolar, além da formação da membrana hialina (composta por células
alveolares necrosadas, transudato plasmático e fibrina), que resultam no decréscimo da
capacidade residual funcional (CRF) e aumento do espaço morto pulmonar (AGRONS et
al., 2005).
Em 1959, mostrou-se pela primeira vez que a DMH era provocada pela deficiência
do surfactante, que é a substância fundamental da mecânica pulmonar, pois, na sua
ausência, o líquido, presente entre o alvéolo e o ar, apresenta uma tensão superficial alta
que exerce uma força de colabamento sobre as estruturas pulmonares.
O surfactante se interpõe às moléculas de água na superfície alveolar e reduz a
tensão superficial de maneira dinâmica, de forma que essa tensão aproxima-se de zero no
final da expiração quando a superfície do alvéolo está reduzida, evitando, dessa forma, a
atelectasia (FREDDI et al., 2003; REBELLO et al., 2002).
O surfactante é sintetizado e secretado pela célula alveolar tipo II (ou pneumócito
tipo II), onde uma estrutura chamada corpúsculo lamelar é considerada o reservatório
intracelular de surfactante. Em contraste, a síntese de surfactante é inibida pela testosterona
e pela insulina, levando os recém-nascidos do sexo masculino e de mães diabéticas a
apresentarem maior risco para a DMH (CARVALHO et al., 2000).
De acordo com Carvalho (2000), na deficiência de surfactante os pulmões colapsam
a cada sucessiva respiração, e o neonato terá de se esforçar muito mais a cada respiração.
Esta repetida expansão/colapso das pequenas vias aéreas produz um dano epitelial que
resulta em uma exsudação rica em proteínas e fibrina no interior dos espaços alveolares,
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formando a chamada membrana hialina. Estas membranas fibrino-hialinas constituem uma
barreira às trocas gasosas, induzindo a retenção de CO2 e a hipoxemia, levando a acidose,
cianose, apnéia e morte.
Os neonatos com SDR apresentam tipicamente: taquipnéia (> 60 irpm), ruído
expiratório, batimento de asas do nariz, cianose, diminuição do murmúrio vesicular e
retração da musculatura intercostal e da região imediatamente inferior ao esterno. O ruído
expiratório é caracterizado pela passagem do ar através da glote parcialmente fechada, onde
o neonato se esforça para aumentar a distensão alveolar através do aumento da pressão
expiratória (FRASER et al., 2004; AGRONS et al., 2005).
Quando a SDR não é diagnosticada rapidamente os neonatos podem apresentar
quadro de fadiga, apnéia e hipóxia, evoluindo para insuficiência respiratória e necessidade
de assistência ventilatória (FRASER et al., 2004). O diagnóstico é realizado através do
exame físico do neonato, sinais e sintomas associados e exames complementares como o
raio-x de tórax (AGRONS et al., 2005).
Com os avanços na administração do quadro clínico da SDR foi introduzido, em
1972, o tratamento da gestante em risco de parto prematuro com córticoesteróides. Esse
medicamento aumenta a quantidade de enzimas antioxidantes e modula a diferenciação de
vários tecidos fetais, preparando o concepto para o nascimento prematuro, além de acelerar
a produção de surfactante e a maturação do pulmão. Os efeitos dessa terapia estão
associados à redução de 40% no risco de mortalidade por SDR, e seus resultados foram
demonstrados em diversos estudos randomizados realizados entre os anos de 1970 e 1980
(AGRONS et al., 2005; FRASER et al., 2004).
Os corticoesteróides interagem com receptores protéicos específicos no tecido alvo,
assim como regulam a expressão dos genes que são estimulados por esse medicamento
fazendo com que o nível e a disposição das proteínas sintetizadas se alterem.
Desse modo, o corticoesteróide auxilia na aquisição e no sucesso da transição fetal
para a vida extra-uterina, acelerando o processo de maturação. A aceleração do
desenvolvimento pulmonar diminui proporcionalmente o risco de SDR, e as alterações
estruturais e biomecânicas da administração deste fármaco promovem a diminuição de
necessidade e/ou o tempo de duração do procedimento de ventilação mecânica
(MENEGUEL et al., 2003).
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A terapia com administração de surfactante exógeno promove um recrutamento
alveolar mais homogêneo, estabilizando as vias aéreas terminais, reduzindo atelectasias e
favorecendo a diminuição dos parâmetros ventilatórios, sendo geralmente indicada para
prematuros tanto em sua forma terapêutica (administração para pacientes com diagnóstico
de SDR), quanto profilática (alto risco de desenvolvimento de SDR).
Em neonatos extremos as evidências indicam vantagens do uso profilático sobre o
uso terapêutico na redução da mortalidade. O surfactante é administrado via tubo
endotraqueal e seus resultados estão associados à redução de 40% da mortalidade e redução
de 30-65% do risco de pneumotórax (FREDDI et al., 2003; FRASER et al., 2004).
O diagnóstico é feito pela presença de sinais clínicos, evolução e raio X compatíveis
com a síndrome. Como nesta ocorre uma atelectasia progressiva, muitas vezes leva-se
algum tempo para a evidência deste diagnóstico. A droga é administrada em uma dose, em
geral, de 100mg/kg de peso. A resposta ao surfactante pode ser reduzida por outras
patologias associadas (hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido, edema
pulmonar, aspiração de mecônio), pela distribuição do surfactante, pela sua composição,
pelo manejo da ventilação mecânica ou pelo momento em que a terapia é administrada.
(FREDDI et al., 2003).
Dentre as modalidades de surfactante, a terapêutica é a mais utilizada para
prematuros mais próximos ao termo, em que o risco de imaturidade pulmonar e o risco de
morte são menores. Há uma resposta imediata na melhora da oxigenação e da função
pulmonar. Já a profilática é utilizada imediatamente após o nascimento, antes da primeira
ventilação ou após estabilização inicial, já com alguns minutos de vida. Entretanto, o
benefício visível seria a sua administração dentro de um período de 30 minutos do
nascimento.
A maioria dos estudos mostra uma melhora do quadro respiratório e uma redução da
incidência da SDR quando utilizado o método profilático, como a redução da incidência de
pneumotórax, de enfisema intersticial pulmonar, da mortalidade e da combinação de mortes
e casos de displasia broncopulmonar. Fortes evidências sugerem que entre essas duas
opções terapêuticas, a profilaxia com surfactante está indicada para recém-nascidos prétermo com menos de 30 semanas de idade gestacional. (REBELLO et al., 2002).
A primeira resposta ao tratamento com surfactante é um rápido e intenso aumento
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na oxigenação, o que permite uma rápida redução nas concentrações de oxigênio inspirado.
A melhora da complacência é lenta, levando a uma progressiva redução do pico máximo de
pressão inspiratória utilizada, a fim de se manter um volume corrente adequado. O maior
recrutamento alveolar resulta em aumento do volume pulmonar máximo e maior
estabilidade na expiração, quando os alvéolos conservam-se abertos, resultando em maior
capacidade residual funcional. A somatória desses efeitos explica a melhora na oxigenação
observada após o tratamento com o surfactante. (REBELLO et al., 2002).
Uma complicação verdadeira do tratamento com surfactante, embora rara, e de
maior gravidade, por estar associada à alta morbidade e mortalidade, é a hemorragia
pulmonar, tanto após tratamento sintético (profilática) como com o natural (terapêutica).
Ela ocorre várias horas após a administração, tendo sido feita a associação entre sua
ocorrência e o aumento do fluxo esquerdo-direito através do canal arterial (REBELLO et
al.,2002).
Anteriormente ao advento da terapia de reposição com surfactante exógeno, a
ventilação mecânica (VM) era considerada como primeira intervenção para o combate das
conseqüências fisiológicas da SDR. Entretanto, esse tipo de tratamento está associado a
uma série de conseqüências cardiovasculares e pulmonares, incluindo-se a diminuição do
débito cardíaco, decréscimo do retorno venoso sistêmico, comprometimento do fluxo
sanguíneo pulmonar e a displasia broncopulmonar.
Os protocolos de tratamento em ventilação mecânica, atualmente, são indicados de
acordo com a gravidade do quadro clínico do paciente, otimizando a captação do oxigênio e
remoção do dióxido de carbono do tecido, minimizando a depressão cardiovascular, a
distensão exagerada dos alvéolos e os efeitos tóxicos do oxigênio (AGRONS et al., 2005).
A injúria pulmonar pode ser minimizada quando o tratamento é guiado de maneira
cuidadosa, atentando-se para os valores apropriados de volume corrente e de pressão
expiratória (AGRONS et al., 2005).
Os distúrbios pulmonares constituem importante causa de morbimortalidade no
período neonatal (considerado até o vigésimo nono dia após o nascimento), pois, os
pulmões, nesta fase, encontram-se fisiologicamente e morfologicamente imaturos
(AGRONS et al., 2005; FRASER et al., 2004). Porém, com os avanços das técnicas de
terapia intensiva, observam-se melhores resultados no tratamento das doenças e melhor
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evolução clínica dos recém-nascidos. Nesse contexto, salienta-se a importância da
assistência respiratória como principal determinante dessas mudanças, conforme Lima
(2004).
Sarmento (2007) afirma que nos casos mais leves da SDR, quando o RN é capaz de
respirar espontaneamente com adequada ventilação, com FiO2 menor ou igual a 40% para
manter a PaO2 entre 50 e 70 mmHg, não há necessidade de suporte ventilatório. Para os
RNPT, a administração do oxigênio pode ser feita pela incubadora, através do catéter nasal
ou pelo halo (capacete), sendo que a forma mais indicada é pela incubadora, em que o fluxo
de oxigênio ofertado é de acordo com a necessidade da concentração do gás.
O autor justifica ainda que, quando o RN necessitar de uma concentração de
oxigênio ≥ a 60% e apresentar um desconforto respiratório moderado a grave, indica-se a
Ventilação Mecânica Não-Invasiva (VMNI). O mais indicado é a CPAP (pressão positiva
com fluxo contínuo nas vias aéreas) através de prong nasal, onde o fluxo é em torno de
6L/m a 8L/m, e a PEEP em média 5 cmH2O, variando de acordo com a necessidade de
cada RN. O tamanho do prong varia de acordo com o peso do RN.
Segundo Suguihara e Lessa (2005), além de recrutar alvéolos e aumentar o volume
pulmonar, a CPAP reduz as distorções torácicas e estabiliza a caixa torácica, e aumenta a
excreção de surfactante. Por ser um procedimento menos invasivo do que a ventilação
mecânica vem sendo estudado como tratamento precoce. Estudos mostram que o emprego
da CPAP reduz a necessidade e o tempo de intubação.
Sarmento (2007) diz que quando for necessária uma concentração de oxigênio
maior que 60% e o RN apresentar um desconforto respiratório grave, ou não responder à
terapêutica com o CPAP, indicam-se a Intubação Endotraqueal ou Orotraqueal (IOT) com
emprego da ventilação mecânica invasiva (VMI). Os aparelhos de ventilação mecânica
mais utilizados são ventiladores ciclados a tempo, limitados a pressão e com fluxo
contínuo. A modalidade ventilação mandatória intermitente (IMV) é a mais empregada por
permitir que o RN respire entre as respirações mandatórias. Porém, além do VC não ser
controlado, não há sincronia entre as respirações ventilador/paciente, o que pode acarretar
numa ventilação inadequada.
Na modalidade SIMV (ventilação mandatória intermitente sincronizada), ocorre
uma sincronia entre as respirações mandatórias e espontâneas. Porém, seu emprego em
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prematuros ainda é controverso, pois estes não conseguem disparar o aparelho
adequadamente acarretando uma ventilação deficiente.
Segundo Suguihara e Lessa (2005), as modalidades de ventilação sincronizadas,
como a SIMV ou a assistida/controlada (A/C), mostram-se mais eficazes, necessitando de
menores parâmetros de suporte no respirador. Os autores afirmam, ainda, que as vantagens
sobre a ventilação convencional são: aumento do volume corrente de cada respiração,
melhor oxigenação, diminuição do risco de barotrauma, redução da variação do fluxo
sanguíneo cerebral e aceleração do desmame da ventilação.
Para Sarmento (2007) a Ventilação de Alta Frequência (VAF) é uma recente técnica
ventilatória, que consiste em baixo volume-corrente e alta frequência respiratória. A sua
vantagem sobre a ventilação convencional reside na possibilidade de ofertar um volume
minuto adequado com baixas pressões, diminuindo-se assim, as lesões pulmonares comuns
nos neonatos, contudo seu emprego na SDR ainda é controverso.
Os RNPT com SDR apresentam diminuição da complacência pulmonar e do tempo
inspiratório, aumento da resistência das vias aéreas e retenção de CO2, por causa da
hipoventilação. Isso leva a necessidade de altas pressões inspiratórias e expiratórias (PIP e
PEEP) e elevada FIO2 e frequência respiratória.
A fisioterapia neonatal consiste em procedimentos realizados pelo fisioterapeuta,
que é o profissional que compreende o manuseio da parte motora e pulmonar do recémnascido. Um dos objetivos do manuseio pulmonar é a remoção das secreções brônquicas
em excesso. Os efeitos prejudiciais que tais secreções têm sobre a função pulmonar foram
demonstrados em algumas revisões sistemáticas.
Segundo Nicolau (2007), alguns estudos descrevem como objetivos da assistência
fisioterapêutica: otimizar a função respiratória de modo a facilitar as trocas gasosas e
adequar a relação ventilação-perfusão; adequar o suporte respiratório; prevenir e tratar as
complicações pulmonares; manter a permeabilidade das vias aéreas; favorecer o desmame
da ventilação mecânica e da oxigenoterapia.
A técnica de higiene brônquica é descrita na literatura como fisioterapia respiratória
convencional (FRC) e compreende as manobras de drenagem postural, pressão manual
torácica, facilitação da tosse e/ou aspiração de vias aéreas superiores (ANTUNES LCO et
al., 2006).
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O aumento do fluxo expiratório (AFE) é uma técnica não convencional de
desobstrução brônquica que pode ser aplicada desde o nascimento, inclusive no RN
prematuro, quando existe doença respiratória com obstrução das vias (ANTUNES et al.,
2006). O AFE consiste em uma manobra que associa a compressão do tórax e do abdome
com a finalidade de aumentar o fluxo aéreo expiratório, para deslocar secreções brônquicas
por aumento brusco do fluxo expiratório (HADDAD et al., 2006).
A desobstrução é realizada por meio de preensão bimanual, com uma mão
envolvendo e comprimindo suavemente a parede anterolateral do tórax do RN durante a
expiração, enquanto a outra mão exerce apoio estático no abdome (ANTUNES LCO et al.,
2006). Dentre as técnicas fisioterapêuticas o AFE é uma das mais utilizadas em pediatria,
tendo como objetivo mobilizar, deslocar e eliminar as secreções traqueobrônquicas
(ANTUNES LCO et al., 2006).
Os movimentos rítmicos da tapotagem ou dígitopercussão criam uma coluna de ar
(ventosa), desprendendo e mobilizando secreções anormais da árvore traqueobrônquica,
além do auxílio no reflexo da tosse. A vibração auxilia no deslocamento das secreções dos
brônquios distais para os mais proximais, onde causa um relaxamento da parede torácica e
melhora a perfusão alveolar. A reeducação toracoabdominal (RTA) consiste no manuseio
sobre o tronco do RN, em que o terapeuta deve atuar no sentido de suprir as falhas dos
músculos respiratórios oferecendo pontos fixos, apoios e alongamentos musculares que
facilitem o funcionamento muscular normal (OLIVEIRA, BURKLE, PAVAN, 2005).
Desta forma, os músculos respiratórios podem desempenhar com eficiência suas funções
inspiratórias e expiratórias, com aumento do volume corrente, melhora da complacência
pulmonar e diminuição da resistência expiratória em RNPT (RIBEIRO et al., 2008).
O
posicionamento
adequado
melhora
a
função
pulmonar,
favorece
o
desenvolvimento neurossensorial e psicomotor, além de propiciar maior conforto ao
neonato. A posição prona é relatada na literatura como uma boa alternativa para melhorar a
oxigenação e a ventilação/perfusão, pois promove redistribuição da ventilação alveolar e da
perfusão, aumento da complacência pulmonar e da capacidade residual funcional, melhora
da função diafragmática e da ventilação dorsal pulmonar, bem como diminuição da assincronia toracoabdominal. (RIBEIRO et al., 2008).
RNs gravemente enfermos são colocados em posição supina pela facilidade da
14
manipulação, entretanto é a posição que menos favorece a dinâmica respiratória
(OLIVEIRA, BURKLE, PAVAN, 2005). O decúbito lateral facilita a flexão, mantém as
mãos na linha média e ajuda a levá-las a boca. Fortalece a musculatura intercostal do lado
apoiado e expande o lado oposto (OLIVEIRA, BURKLE, PAVAN, 2005). Tem sido
utilizado em situações de atelectasias no pós-operatório de cirurgias cardíacas, para que a
ventilação seja direcionada preferencialmente para o pulmão não dependente, favorecendo
à expansibilidade do pulmão atelectásico. Entretanto, a alternância periódica dos decúbitos
deve ser realizada, para não haver hipoventilação em outras áreas pulmonares, sempre
respeitando as limitações do neonato. (RIBEIRO et al., 2008).
A drenagem postural utiliza o efeito da gravidade, por meio da verticalização do
brônquio lobar, removendo secreções brônquicas das regiões mais periféricas para centrais.
O estímulo diafragmático coordena os movimentos respiratórios e melhora a atividade
diafragmática. Manobras de bag squeezing objetivam a desobstrução e o recrutamento
alveolar. A técnica necessita de duas pessoas onde a primeira induzirá a hiperinsuflação
pulmonar com o auxílio do ambú e realizará manobras de higiene brônquica. E a segunda
irá aspirar as secreções (OLIVEIRA, BURKLE, PAVAN, 2005).
A aspiração é utilizada para remoção das secreções, uma vez que o reflexo da tosse
pode encontrar-se imaturo e ineficiente. Previne a obstrução no tubo endotraqueal, evitando
o aparecimento de atelectasias e infecções pulmonares (OLIVEIRA, BURKLE, PAVAN,
2005).
Estabilizada a função respiratória, o fisioterapeuta determina a necessidade e
frequência de intervenções sensório-motoras. Estas podem iniciar-se por estímulos táteis
suaves ao longo do corpo do RN e a estimulação cinestésica com movimentos passivos nas
articulações. Durante a permanência do bebê na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal,
preconiza-se cerca de 3 a 6 atendimentos num período de 24 horas ou de acordo com o
quadro de hipersecreção brônquica apresentado (OLIVEIRA, BURKLE, PAVAN, 2005).
Logo, o acompanhamento fisioterapêutico desses recém-nascidos proporciona uma
estabilidade de variáveis hemodinâmicas, como a freqüência cardíaca, a manutenção
funcional da circulação cerebral do recém-nascido e, secundariamente, a manutenção das
vias aéreas com fluxo menos turbulento possível e com o mínimo de secreção, permitindo
uma diminuição da resistência pulmonar e eventos fisiológicos de trocas gasosas. (ABREU
15
et al., 2006)
16
4. CONCLUSÃO
Diante do exposto, percebe-se que cada recém-nascido deve ser avaliado e
tratado de forma individual, levando-se em conta não apenas a doença, como também,
suas limitações e sensações de frio, dor, medo.
O profissional em Fisioterapia tem que estar capacitado para trabalhar em UTI’s
Neonatais utilizando estratégias fisioterapêuticas menos agressivas pois, para prevenir a
lesão pulmonar em prematuros extremos, é necessário minimizar os vários fatores que
desencadeiam a SDR.
Conforme a literatura, o tratamento da SDR com surfactante exógeno tem se
mostrado vantajoso sob vários aspectos, como a diminuição da morbi-mortalidade da
doença, assim como o tempo necessário em ventilação mecânica.
Após o estudo de trabalhos de diversos grupos de pesquisadores, pode-se
concluir que a VM convencional e protetora é a forma mais empregada de tratamento
para a SDR dentro das UTIs neonatais, havendo grande divergência quanto à utilização
de outras estratégias invasivas, tais como, a VAF, e as estratégias fisioterapêuticas
abordadas quanto aos ajustes de parâmetros ventilatórios são em sua maior parte
concordantes.
Quanto à utilização da ventilação não invasiva, CPAP, a grande maioria dos
autores mostrou-se favorável à sua utilização através de prongas nasais curtas,
concomitante ou não à utilização de terapia de reposição através de surfactante exógeno
e, quanto a seus parâmetros de ajuste houve grande concordância científica.
Os estudos sobre posicionamento durante a VM, demonstram a vantagem na
utilização da posição prona em relação à posição supina, garantindo uma maior
oxigenação do paciente e promovendo uma resolução mais rápida da SDR, porém, essa
estratégia não está totalmente elucidada para a comunidade científica.
A fisioterapia, como parte integrante da intervenção multidisciplinar dentro da
unidade de neonatologia, além de trabalhar com os ajustes de VM e ventilação não
invasiva, atua de forma a prevenir infecções do trato respiratório através de manobras de
higiene brônquica e de terapias manuais que promovem a reexpansão pulmonar e o
redirecionamento do fluxo aéreo para áreas não recrutadas do pulmão.
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REFERÊNCIA
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