TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO E REABILITAÇÃO Franciele Zanella Onzi1, Roberta de Figueiredo Gomes2 Resumo: Transtorno do Espectro Autista (TEA) define-se por prejuízos persistentes na comunicação e interação social, bem como nos comportamentos que podem incluir os interesses e os padrões de atividades, sintomas estes presentes desde a infância que limitam ou prejudicam o funcionamento diário do indivíduo. Este estudo visa a destacar a importância do diagnóstico e do processo de reabilitação no TEA com base nos avanços científicos na área. A pesquisa caracteriza-se como revisão da literatura, por meio das bases de dados eletrônicas Medline e Scielo, utilizando-se os descritores: Transtorno do Espectro Autista, Autismo, Reabilitação no autismo e diagnóstico de autismo. Foram acessados aproximadamente 30 artigos em um período de dois meses, sendo utilizados 11. Observou-se que a família, ao se deparar com o diagnóstico de TEA, tende a buscar e coletar mais informações sobre o diagnóstico estabelecido. A escolha do tratamento adequado é de extrema importância. É relevante que a família participe do tratamento, aumentando o estímulo ao desenvolvimento da criança, além de proporcionar a desconstrução de rótulos e inverdades sobre o transtorno. Palavras-chave: Autismo. Transtorno do Espectro Autista. Diagnóstico. Reabilitação. AUTISM SPECTRUM DISORDER: THE IMPORTANCE OF DIAGNOSIS AND REHABILITATION Abstract: Autism Spectrum Disorder (ASD) is defined by persistent impairments in communication and social interaction and behaviors which may include the interests and activity patterns, symptoms they present since childhood that limit or impair daily functioning the individual. Objective: highlight the importance of diagnosis and rehabilitation process in ASD through scientific advances in the field. Methodology: This study consists on a bibliography review, through electronic databases Medline and Scielo, using the keywords: Autism Spectrum Disorder, Autism, Rehabilitation in autism, Diagnosis of autism. Results: About 30 articles have been accessed in a period of two months, being used 11. Conclusion: The family when faced with a diagnosis of ASD tend to seek and collect more information about the established diagnosis. Choosing the right treatment is of utmost importance. It is important that the family participates in treatment, increasing the stimulus to the development of the same, in addition to providing the deconstruction of labels and untruths about the disorder. Keywords: Autism. Autism Spectrum Disorder. Diagnosis. Rehabilitation. 1 Psicóloga e especialista em Neuropsicologia pela Projecto - Centro Cultural e de Formação, Porto Alegre/RS-Brasil. 2 Psicóloga, mestra em Medicina e Ciências da Saúde - Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e especialista em Neuropsicologia pela Projecto-Centro Cultural e de Formação, Porto Alegre/RS-Brasil. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 188 Franciele Zanella Onzi, Roberta de Figueiredo Gomes INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, a incidência de casos de autismo tem crescido de forma significativa em todo o mundo (SCHECHTER; GRETHER, 2008). Em países como os Estados Unidos, a média de idade das crianças diagnosticadas tem sido de 3 a 4 anos (CHAKRABARTI; FOMBONNE, 2005). Considerando-se as taxas de 60/10.000 ou a mais recente taxa de 1% se pode estimar, que entre 1 a 2 milhões de brasileiros preencham critério para o espectro autista, sendo de 400 a 600 mil com menos de 20 anos, e entre 120 e 200 mil menores de cinco anos (IBGE, 2000). O autismo é definido como um transtorno complexo do desenvolvimento, do ponto de vista comportamental, com diferentes etiologias que se manifesta em graus de gravidade variados (GADIA, 2006). De acordo com Oliveira (2009), “autos” significa “próprio” e “ismo” traduz um estado ou uma orientação, isto é, uma pessoa fechada, reclusa em si. Assim, o autismo é compreendido como um estado ou uma condição, que parece estar recluso em si próprio. O termo “autismo” perpassou por diversas alterações ao longo do tempo, e atualmente é chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA) pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) (APA, 2014). As características do espectro são prejuízos persistentes na comunicação e interação social, bem como nos comportamentos que podem incluir os interesses e os padrões de atividades, sintomas que estão presentes desde a infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário do indivíduo (APA, 2014). As subcategorias fazem parte do TEA, e o comprometimento pode ocorrer em três níveis de gravidade. No nível um, o indivíduo exige apoio; no nível dois, exige apoio substancial; e no nível três exige muito apoio substancial (APA, 2014). O TEA é considerado um transtorno que vai além da sua complexidade, distante de ser definido com exatidão, pois não existem meios pelos quais se possa testá-lo, muito menos medi-lo. Em outras palavras, as pesquisas realizadas atualmente estão distantes no sentido de apresentarem a “cura” para o autismo, acompanhando o indivíduo por todo seu ciclo vital. Este artigo pretende proporcionar maior compreensão sobre o TEA, no momento em que a obscuridade do autismo reforça a importância pela busca contínua de informação e pelos avanços científicos na área. Assim, aborda a importância do diagnóstico e do processo de reabilitação para esses indivíduos. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 189 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO... METODOLOGIA O presente artigo de revisão tem como objetivo destacar a importância do diagnóstico e do processo de reabilitação no TEA com base nos avanços científicos na área. Diante desse objetivo foi realizada uma pesquisa qualitativa, exploratória e bibliográfica, no intuito de oportunizar mais compreensão, com base nos avanços científicos, e a veracidade sobre o TEA. O tema tem sido abordado por muitos autores, porém é relevante e cabe ainda estudar para aprofundar e verificar os avanços na área, enquanto um processo que atende a diferentes propósitos, mas que deve estar ao alcance de todos em função da busca contínua de informação e pelos avanços científicos apresentados na área. A pesquisa foi realizada em artigos indexados no Medline e Scielo. Os descritores utilizados foram Transtorno do Espectro Autista, autismo, reabilitação no autismo e diagnóstico de autismo. Os estudos analisados foram os que ocorreram do ano de 2001 a 2015, na América Latina e América do Norte. Ainda, foram utilizados teses e livros com literatura clássica sobre o tema. Os critérios de inclusão dos textos selecionados referem-se à abordagem direcionada para o Transtorno do Espectro Autista, autismo, diagnóstico e reabilitação. Foram excluídos todos os artigos que não abordavam o termo Transtorno de Espectro Autista, diagnóstico de autismo e reabilitação, por não contemplarem os objetivos do presente estudo. Foram acessados aproximadamente 30 artigos em um período de dois meses, sendo utilizados 11. Histórico do autismo e do DSM Segundo Pereira (2009), o autismo foi cunhado na literatura médica por Eugen Bleuler em 1911, para classificar pessoas que apresentavam dificuldades na comunicação e interação social com tendência ao isolamento, resultando em um importante e categórico trabalho sobre esquizofrenia do adulto e adolescente. De acordo com Schmidt (2013), o termo autismo atravessa a literatura ora como um tipo específico do TEA, ora como conjunto de sinais e sintomas. Esse autor aponta que historicamente as primeiras publicações sobre o autismo são dos psiquiatras infantis Hans Asperger (1944) e Leo Kanner (1943), ambos respaldados dos casos que observavam juntamente com suas suposições teóricas a respeito da desconhecida síndrome. Hewitt (2006) e Leo Kanner (1943), após descreverem casos de 11 crianças com comportamentos diferentes, observaram características especiais no que se referia à capacidade de se relacionar com o outro, utilizando-se da palavra autismo para caracterizar as pessoas que apresentavam determinados distúrbios. Essa foi sua primeira tentativa de definição sobre o autismo. Após um ano, o pediatra Hans Asperger (1944), como descreve Stelzer (2010), realizou experiência semelhante com a de Kanner (1943). Asperger popularizou, Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 190 Franciele Zanella Onzi, Roberta de Figueiredo Gomes porém, casos de algumas crianças que apresentavam comportamento autista e comprometimento importante de habilidades sociais e de comunicação. Stelzer (2010) explica que Asperger “encontrou” o autismo de forma independente, não tendo conhecimento sobre o artigo escrito por Leo Kanner, publicando suas respectivas observações em 1944. Em 1952, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) publicou a primeira versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Nesse caso, os sintomas do diagnóstico de esquizofrenia faziam referência às “reações” psicóticas em crianças (reação esquizofrênica), não apresentando explicações específicas sobre o autismo (GRANDIN; PANEK, 2015). De acordo com Volkmar, McPartland e Reichow (2014), em 1968 foi criada a segunda edição do DSM. Segundo Grandin e Panek (2015), o termo “reação” referido no primeiro manual foi eliminado, e a classificação passou a ser “Esquizofrenia tipo infantil”. A terceira edição do DSM foi publicada em 1980, listando o autismo infantil em uma categoria denominada Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Em 1987, em sua revisão denominada DSM-III-R, foi abordado o termo Transtorno Autista. Critérios e diagnósticos específicos foram implementados e divididos em categorias, em que o sujeito deveria se enquadrar para obter o diagnóstico (GRANDIN; PANEK, 2015). Dessa maneira, o DSM-III e sua revisão foram um marco importante em termos de revolução no diagnóstico do autismo, pois passou a ser uma entidade nosográfica. Já o DSM-IV-TR (APA, 2002) descreve que os TGD caracterizam-se pelo comprometimento severo e invasivo em três áreas do desenvolvimento, sendo elas: habilidades de comunicação; presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipadas, e habilidades de interação social recíproca. O DSM-IV apresenta dezesseis critérios detalhados, agrupados em três domínios da disfunção. Para um diagnóstico de autismo, seis critérios ou mais precisavam estar presentes, com pelo menos dois da categoria social e um de cada uma das demais categorias, sendo elas: prejuízo na interação social amplo e persistente, podendo haver um fracasso no desenvolvimento de relacionamentos com seus pares e no uso de comportamentos não verbais (exemplo: contato visual direto, posturas, gestos corporais e expressão facial); falta de busca espontânea pelo prazer compartilhado, interesses ou realizações com outras pessoas (exemplo: não apontam, mostram ou trazem objetos que consideram interessantes) e falta de reciprocidade social (exemplo: não participa de brincadeiras, preferindo atividades solitárias); alterações da comunicação, afetando habilidades verbais e não verbais com atraso ou ausência da linguagem falada, podendo haver um uso estereotipado, repetitivo ou idiossincrático da linguagem (exemplo: repetição de palavras ou frases, linguagem que somente é entendida por familiares); a fala, o timbre, a entonação, a velocidade, o ritmo ou a ênfase podem ser anormais (exemplo: tom de voz monótono ou elevado); no comportamento, padrões restritos, repetitivos e estereotipados de interesses e atividades podem ocorrer, com adesão aparentemente Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 191 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO... inflexível a rotinas ou rituais específicos e não funcionais, com maneirismos motores estereotipados e repetitivos ou uma preocupação com partes de objetos (exemplo: botões, partes do corpo); resistência frente a mudanças (exemplo: mudança ou alteração de ambiente); movimentos corporais estereotipados envolvendo as mãos (exemplo: bater palmas, estalar os dedos) ou o corpo todo (exemplo: inclinação abrupta, oscilação do corpo, balanço), postura (exemplo: movimentos atípicos das mãos e postura) (APA, 2002). Em 2014 foi lançado o DSM-V, que retirou a síndrome de Rett do TEA, uma vez que seu gene, chamado de MECP2, localizado no cromossoma X e identificado em 1999, ocorre quase que exclusivamente em meninas. O desenvolvimento da doença acontece, normalmente, até os quatro anos de idade, para posteriormente apresentar prejuízos cognitivos e neurológicos, desaceleração do crescimento da cabeça e o surgimento de alguns sintomas do TEA (HALGIN; WHITBOURNE, 2015). Diagnóstico e sua elaboração Os pais dos indivíduos com TEA são normalmente os primeiros a verificar que algo diferente está acontecendo com seu filho. Nesse momento, começa a busca por auxílio, sendo um período de incertezas o que antecede o processo de elaboração e formação do diagnóstico. No entanto, cabe salientar sobre a importância da forma como esse diagnóstico é elaborado pelos pais das crianças com TEA. Schulman (2002) afirma que, assim que o diagnóstico é comunicado, é importante dirigir os pais aos recursos úteis, o que auxilia na sensação de que existe algo para fazer. Entre os recursos referidos por esse autor para a compreensão sobre o transtorno estão as leituras sobre o diagnóstico, a fim de compreenderem os sintomas do TEA, que variam muito dependendo do caso. Sabe-se que, no autismo, “nem todos são iguais e nem todos têm as mesmas características. Uns podem ser mais atentos, uns mais intelectuais e outros mais sociáveis, e assim por diante” (FERREIRA, 2009, p. 15). Pelo fato de a etiologia do autismo ser pouco definida, os pais podem apresentar sentimentos negativos em vista da necessidade de busca por respostas. A fim de dar sentido para o que está acontecendo com seu filho, essas dificuldades enfrentadas podem gerar sentimentos confusos (SCHMIDT, 2013). Para esse autor, esses sentimentos estão associados a diferentes reações, entre eles enquadram-se: 1- negação, 2- raiva, 3culpa, 4- pensamento mágico, 5- início da aceitação e 6- busca por soluções. Conforme Ardore, Cortez e Regen (2001), muitos pais, após o recebimento do diagnóstico do filho, buscam um culpado, choram e negam sua doença. Há um choque diante do novo, do inesperado, um futuro imprevisível dessa criança e da família. Alguns sentem dificuldades em interagir com o filho e, reclusos na sua dor, acabam perdendo o contato com a sociedade e voltando sua atenção para a família, evitando julgamentos e críticas. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 192 Franciele Zanella Onzi, Roberta de Figueiredo Gomes Outros autores ressaltam a importância da elaboração do diagnóstico por parte dos pais, funcionando como um luto (OPPENHEIM et al., 2009; MILSSHTEIN et al., 2010). Isso porque esse filho vai se distanciar ainda mais do imaginário e desejo dos pais pelo fato de terem uma expectativa em ter um filho perfeito, saudável e que desenvolva sua autonomia ao longo de seu ciclo vital. Essas descrições remetem à ideia de que as características do autismo podem acabar interferindo na família em função de ter um filho que, muitas vezes, não corresponde ou supre suas expectativas ou de seus membros e terão que ser idealizadas novamente por seus pais (APOLÓNIO; FRANCO, 2009, p.4). Baptista e Sanchez (2009) apontam que o diagnóstico torna-se um fator importante e gerador de desestabilização familiar e a combinação de novos papéis faz parte da busca por novos arranjos da família frente à nova realidade. Sabe-se que existem poucos recursos instrumentais para a realização do diagnóstico do indivíduo com suspeita de autismo e, mesmo com muitos estudos na área, não existe nenhum marcador biológico que possibilite um exame preciso para a confirmação ou não desse diagnóstico. Outro fator importante a ser salientado é a forma como ocorrerá a comunicação do diagnóstico de autismo aos pais. É um processo delicado, que promove uma oportunidade única aos profissionais em estabelecerem uma aliança de confiança com eles, e para que possam elaborar o diagnóstico de forma mais coerente possível e menos estressante (BOSA; SEMENSATO, 2013). Cabe aos pais compreender, portanto, as reais necessidades do seu filho e aceitar principalmente suas diferenças, para que possam deixar de lado o medo de serem inadequados, buscando auxílio e informação a respeito da sua condição. Assim, quanto mais cedo a criança for tratada e diagnosticada, maiores serão as chances de seu desenvolvimento acontecer da melhor forma possível. No entanto, por vezes, na prática sabe-se que não ocorre de forma apropriada. Araújo e Schwartzaman (2011) enfatizam que crianças são encaminhadas à avaliação mais tarde do que o desejável, visto que os pais começam a expressar suas dúvidas por volta dos 17 meses da criança e a idade do diagnóstico é por volta dos quatro anos. A identificação precoce do diagnóstico e as intervenções realizadas em crianças com TEA podem determinar o prognóstico, incluindo maior rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando sua chance de inserção em diferentes âmbitos sociais (ARAÚJO; SCHWARTZAMAN, 2011). Autismo e a reabilitação Após a realização do diagnóstico precoce e da comunicação aos pais, inicia-se nova fase, a busca ao tratamento adequado juntamente com o processo de reabilitação. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 193 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO... “A reabilitação é um processo dinâmico e global orientado para a recuperação física e psicológica do indivíduo com deficiência, tendo como objetivo a sua reintegração social” (BATISTA, 2012, p. 3). Em 2013, o Ministério da Saúde Brasileiro em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), criaram uma cartilha denominada “Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA)”. Essas diretrizes têm como objetivo central salientar as orientações às equipes multiprofissionais para o cuidado à saúde do indivíduo com TEA e sua família, nos diferentes pontos de atenção da rede de cuidados à pessoa com deficiência. Para sua elaboração, foram utilizados o Código Internacional de Funcionalidade e Incapacidade (CIF) e os sistemas internacionais de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Como o TEA não tem cura, a busca pelo tratamento específico porta consigo, entretanto, a importância de atenuar os déficits apresentados, pois, alguns tratamentos podem ser mais eficazes para uns e menos para outros, em função de cada autista apresentar um nível de desenvolvimento diferente do outro. Contudo, no que se refere ao tratamento, ainda a psicoterapia comportamental é a mais preconizada juntamente com o processo de condicionamento que facilita os cuidados com o autista, tornando-o mais bem estruturado emocionalmente e organizado (SANTOS, 2008). A psicoterapia tem como objetivo auxiliar a interpretar a linguagem corporal, a comunicação não verbal, a aprendizagem e também as emoções e as interações sociais (BARROS; SENRA; ZAUZA, 2015). A terapia cognitivo comportamental (TCC) contribui para o ensinamento dos autistas em relação a diferentes formas de utilizar, recordar e processar as informações, como treinamento de autoinstrução (WHITMAN, 2015). Outra forma de tratamento do indivíduo com TEA é a musicoterapia. É uma técnica de terapia que recorre à música com o objetivo de ressaltar as potencialidades por meio da aplicação de métodos e técnicas, juntamente com outras capacidades, incluindo a cognição (PAREDES, 2012). Segundo Grandin e Panek (2015), no ano de 2005 foram realizados estudos com 40 indivíduos autistas, que se submeteram ao tratamento da musicoterapia por um período de dois anos. Eles apresentaram melhoras em relação à linguagem e comunicação, assim como na cognição, motricidade e no comportamento. Há pouco tempo, a musicoterapia começou a ser explorada. Grandin e Panek (2015) descrevem em seu estudo uma linha de tratamento chamado Treinamento para Mapeamento Auditivo-Motor (AMMT), o qual visou a estimular a produção da fala, treinando o indivíduo a experimentar a relação entre falar, em tons diferentes, no momento em que tocavam um tambor com som afinado. Esse estudo foi realizado com seis crianças que tinham a linguagem prejudicada entre as idades de seis e nove Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 194 Franciele Zanella Onzi, Roberta de Figueiredo Gomes anos, por um período de oito semanas. No final do tratamento, verificaram-se melhoras significativas na articulação de frases e palavras. No entanto, tem-se um caminho longo em relação a essa forma de tratamento, pois existem ainda poucos dados concretos que comprovam a eficácia da musicoterapia. Bosa (2006) descreve a influência das quatro formas básicas para o tratamento: estimulação do desenvolvimento comunicativo e social, aprimoramento na capacidade de solucionar problemas e do aprendizado, minimização dos comportamentos que afetam o acesso às novas experiências do dia a dia e auxílio à família. Essa autora traz que, dependendo do grau de comprometimento, crianças com déficit na área da comunicação e no desenvolvimento social podem aderir a diferentes formas de comunicação alternativa. Umas das alternativas sugeridas incluem o PECS (Picture Exchange Communication System) e a linguagem de sinais. O programa PECS foi desenvolvido em 1993 e utiliza-se de objetos, palavras impressas, imagens ou combinações dos envolvidos e alguma forma de auxílio físico, como placas de comunicação, livreto e exibição dos materiais visuais. A associação entre símbolos e atividades facilita tanto na compreensão quanto na comunicação. Para Whitman (2015), a linguagem de sinais para as crianças autistas pode ser uma das melhores formas de tratamento, dependendo de suas capacidades cognitivas, motoras e sensoriais, pois não há necessidade do uso de dispositivos físicos. Esse programa inclui também o treinamento para as pessoas que convivem com o autista. Esse autor enfatiza que a tecnologia e os avanços dos programas de computador são excelentes aliados da comunicação, pois são capazes de converter palavras impressas, imagens e outros símbolos na forma de fala. Nesse contexto, pode-se citar o programa educacional TEACCH - Tratamento e Educação Relacionados a Problemas de Comunicação (Treatment and education of Autistic and Related Communication Handicapped Children). Segundo Leon e Osório (2011), o programa foi desenvolvido em 1966 por Schopler e seus colaboradores. A essência do TEACCH é o ensino estruturado, que visa a buscar a organização do ambiente por meio das rotinas e atividades como forma de ensino e orientação para novas habilidades funcionais (FONSECA; LEON, 2013). Essas autoras destacam que o principal objetivo do programa é propiciar o desenvolvimento de habilidades funcionais e emergentes, principalmente nas áreas de comunicação e autonomia. Nesse sentido, o TEACCH foi criado para ajudar os autistas e sua família. O foco do tratamento é melhorar a adaptação, principalmente quando se sentem aflitos com mudanças, salientando seus pontos fortes (WHITMAN, 2015). Outro método a ser salientado é a Análise Aplicada do Comportamento (ABA), que visa ensinar à criança autista habilidades que ela não possui, por meio de etapas associadas a instruções ou indicações. O ABA tem por objetivo tornar o aprendizado Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 195 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO... prazeroso para a criança e ensiná-la a reconhecer diferentes estímulos (FERNANDES; NEVES; SCARAFICCI, 2011). Déficits motores e sensoriais são comuns entre os indivíduos com TEA. Umas das abordagens que envolvem o arranjo dos estímulos sensórios às respostas apropriadas são os tratamentos passivos e ativos. O passivo inclui a orientação dos movimentos do autista pelo terapeuta, e o ativo o integra em atividades que fornecem informações sensoriais (WHITMAN, 2015). Terapias de Integração Sensorial (TIS) estabelecem a estimulação sensorial, com atividades lúdicas, jogos e brincadeiras que gradativamente se tornam mais desafiadoras e complexas (ARAÚJO; SCHWARTZAMAN, 2011). Seu objetivo é desenvolver no autista um nível crescente de alerta e ativação à medida que vai se deparando com diferentes informações de estímulos. São diversos métodos de reabilitação encontrados hoje na literatura, que visam a favorecer a autonomia do indivíduo com TEA, frente a uma sucessão de comportamentos que são exigidos para a convivência social com o outro. De modo geral, indivíduos com TEA acabam influenciando na dinâmica estrutural e funcional da família, cabendo salientar a importância da orientação aos pais em relação às vantagens e desvantagens relacionados a cada tratamento, pois cada autista é único e o que pode funcionar para um pode não ter êxito para outro. Outros fatores relevantes a serem respeitados são os limites e os recursos financeiros de cada família. Nesse paradigma, a escolha do método a ser utilizado no tratamento e o processo de reabilitação escolhido pela família devem visar à melhora das capacidades funcionais do autista, como também ressaltar as potencialidades dele. CONCLUSÃO A família, ao se deparar com o diagnóstico de TEA, tende a buscar e coletar mais informações sobre o diagnóstico estabelecido. Entende-se que, quanto mais cedo a criança for diagnosticada e iniciar o tratamento, maiores serão as possibilidades de desenvolvimento dentro de suas capacidades físicas e mentais. A escolha do tratamento adequado é de extrema importância, pois o TEA acompanha o indivíduo por todo seu período de vida. Assim como qualquer indivíduo, o autista é único dentro da sua singularidade, e os resultados desse tratamento serão variáveis. Eles dependerão do nível de comprometimento e da interatividade de cada indivíduo. Por isso, não existem métodos únicos ou engessados que possibilitem um desenvolvimento regular em todos os autistas, independente de gênero ou idade cronológica. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 3, p. 188-199, 2015. ISSN 1983-0882 196 Franciele Zanella Onzi, Roberta de Figueiredo Gomes Nota-se que o diagnóstico TEA provoca desconfortos na constituição familiar. É relevante sugerir que a família desse indivíduo participe do tratamento, possibilitando aumentar o estímulo ao seu desenvolvimento, além de proporcionar a desconstrução de rótulos e inverdades sobre o transtorno. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION (APA). 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