Intermediação financeira

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Intermediação financeira
Introdução
No cotidiano de nossas vidas, necessitamos de instituições que nos ajudem a manipular e a intermediar o papel-moeda, a moeda metálica e os títulos financeiros e de crédito.
Existem tipos de entidades que servem como intermediários financeiros, colocando-se entre nós e o dinheiro. Essas entidades são úteis na Economia, pois fazem
circular a riqueza.
Para Silva (2000, p. 26), a satisfação das necessidades fundamentais como alimentação, saúde, habitação e segurança é facilitada pelos serviços financeiros, e eles são
proporcionados pelos intermediários que são os bancos e outras entidades que fazem
parte do Sistema Financeiro Nacional.
Fortuna (1999, p. 12) faz uma conceituação abrangente para o sistema financeiro:“conjunto de instituições que se dedica, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições
satisfatórias para a manutenção de um fluxo de recursos entre poupadores e investidores”.
A atividade principal das instituições financeiras é a intermediação de recursos,
pois é ela que viabiliza a captação de recursos de seus clientes, do mercado financeiro
e de capitais, repassando-os, posteriormente, sob a forma de empréstimos, na expectativa de auferirem ganhos.
“Banco” é umas das instituições financeiras componentes do Sistema Financeiro
Nacional (SFN), organizada para intermediar recursos. Esses são expressos principalmente sob forma de moeda e títulos, sendo a moeda o facilitador de trocas entre os
agentes econômicos.
Quando se pensa em moeda, imagina-se, logo, que o dinheiro seja em moeda-papel (nota simples) ou em moedas-metálicas (frações de papel-moeda), mas quando
fazemos depósitos em dinheiro na nossa conta em determinado banco, tais recursos
nos habilitam a emitir cheques para pagar compras diversas, nessa situação, tais cheques desempenham a mesma função do dinheiro. Assim, por uma questão de lógica,
devemos incluir no conceito de moeda os depósitos à vista. Segundo a teoria econômica existem outros conceitos de moeda, mas não serão abordados neste curso.
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Moeda
A moeda é um bem de aceitação geral que tem várias funções, sendo as principais
de servir de intermediário de trocas, medida de valor e reserva de valor.
Como intermediária de trocas, a moeda superou a economia do escambo (simples
troca, sem moeda) e passou, então, a ser utilizada para troca entre as pessoas, representando bens e mercadorias. Na fase do escambo e na ausência de moeda, os povos
trocavam bens entre si, avaliando cada um pelo valor relativo que eles apresentavam
para as partes.
Como medida de valor, a moeda serve como padrão de medida. Assim, todos os
bens e serviços que são avaliados por ela serve de denominador comum de preços.
Como reserva de valor, a moeda constitui-se em reservatório de poder e de compra.
Em diversos povos, a quantidade menor ou maior de moeda confere ao seu titular determinada posição na sociedade. No entanto, existem outros ativos que também desempenham o papel de reserva de valor como: ouro, diamantes, terras etc.
Intermediários financeiros
O mercado financeiro pode ser classificado como elemento dinâmico no processo
de crescimento econômico. Ele também é o responsável pelo controle das taxas de
poupança e investimento.
O mercado financeiro opera através dos intermediários financeiros e agentes econômicos. Os intermediários financeiros são instituições financeiras, como os bancos,
que negociam a moeda, emprestando-a ou tomando-a emprestado. São autorizados
a emitir títulos contra si mesmos para obterem recursos (moeda) junto aos agentes
econômicos (SILVA, 2000, p. 31).
Análise de Risco e Crédito
O intermediário financeiro aproxima-se dos ofertadores e tomadores de recursos,
cobrando spreads e taxas de prestação de serviço. Definição corrente de mercado informa que spread é a
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[...] diferença entre a taxa média de juros que os bancos pagam ao captar recursos e
aquela que recebem ao aplicá-los - seja emprestando ao governo ou ao setor privado
(pessoas físicas e jurídicas). No entanto, o Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em
Administração) considera nos cálculos do “spread” total também as taxas de serviços
cobradas pelas instituições financeiras. (BALBI, 2006)
Os ofertadores de recursos são os agentes econômicos que acumularam poupança, apresentando situação orçamentária de excesso de recursos.
Os tomadores de recursos são os agentes econômicos que necessitam de volume
determinado de moeda para realizar objetivo de interesse próprio, quer seja saldando
dívidas, ou realizando investimentos lucrativos.
Custo da intermediação financeira
Um aspecto relevante quando se trata de intermediação financeira é o custo
dessa atividade. Ela está diretamente ligada à taxa de juros praticada pela instituição
financeira e balizada pelo Banco Central.
As instituições financeiras e o mercado criaram mecanismo através do qual os
recursos fluem entre poupadores e investidores. O nível do fluxo desses fundos pode
afetar significativamente o crescimento econômico do país. A taxa de juros atua como
um regulador que controla o fluxo de recursos entre poupadores e investidores. Sobre
o assunto, Gitman pondera:
“[...] quanto mais baixas as taxas de juros, maior será o fluxo de fundos e, consequentemente, maior
será o crescimento econômico; quanto mais altas as taxas de juros, menor será o fluxo de fundos e
menor será o crescimento econômico”. (Gitman, 2004, p. 41)
Segundo o mesmo autor, a taxa de juros é a compensação paga pelo tomador
dos fundos ao credor; do ponto de vista do tomador de fundos, é o custo de tomar
emprestado os recursos.
A taxa de juros (ou preço do capital emprestado) está baseada na escassez dos
bens e destina-se, também, a remunerar o emprestador pelo risco assumido no caso
de não receber as parcelas do empréstimo concedido na data acordada.
A taxa de juros ou o retorno requerido representa o custo do dinheiro que é o aluguel que um tomador de recursos deve pagar a um fornecedor pelo uso dos recursos
no prazo acordado. Assim, podemos dizer que:
Quando os fundos são emprestados, o custo de tomar os fundos é a taxa de
juros;
Outra conceituação atribuída ao juro é dada por Assaf Neto (2008, p. 98) “para
quem o juro é a remuneração que o tomador (captador) de um empréstimo paga a um
doador (aplicador) de recursos”.
Intermediação financeira
Quando os fundos são obtidos através da venda de um direito de propriedade
– como na vendas de ações – o custo do emissor é normalmente chamado de
retorno requerido, o qual reflete o nível de retorno esperado pelo fornecedor
de fundos.
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A taxa de juros está ligada às operações de intermediação financeira por representar o preço de troca dos ativos disponíveis em diferentes momentos ou períodos de
tempo. Ela também reflete o preço pago pelo sacrifício de poupar, ou seja, é a remuneração de um agente econômico ao decidir postergar o próprio consumo, transferindo
seus recursos a outro agente.
Sistema Financeiro Nacional (SFN)
O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por “um conjunto de instrumentos
e instituições que funcionam como meio para realização da intermediação financeira
[...]” (SILVA, 2000, p. 42).
Aproximando os agentes superavitários – ofertadores de recursos – dos agentes
deficitários – tomadores de recursos –, o SFN viabiliza a realização dos objetivos de
ambos os grupos, fazendo com que contribuam para a circulação da riqueza no país.
As entidades que formam o SFN podem ser subdivididas em dois subsistemas: a)
Normativo; e b) Operativo.
O subsistema normativo é responsável pela normatização e controle das instituições que operam no mercado. É formado pelo Conselho Monetário Nacional, Banco
Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social e pela Comissão de Valores Mobiliários (SILVA, 2000, p. 42). Essas instituições
encontram-se descritas abaixo:
Conselho Monetário Nacional (CMN) – órgão responsável pela fixação de
diretrizes das políticas monetária, creditícia e cambial do país.
Análise de Risco e Crédito
Banco Central do Brasil (BACEN) – órgão encarregado de fazer cumprir as
disposições que regulam o funcionamento do SFN e as normas expedidas
pelo CMN. Outra função do Banco Central é a de controlar a oferta de dinheiro
no mercado.
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Se o BACEN deseja estimular a economia, ele aumenta a oferta de dinheiro. Uma
forma de fazer isso é reduzindo a taxa de juros. No entanto, a grande oferta de dinheiro
pode levar a um aumento da taxa de inflação, cabendo ao próprio BACEN servir de
balizador nesse processo.
Além do CMN e do BACEN existem as autoridades de apoio ao SFN, que são:
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – o órgão normativo do Sistema
Financeiro Nacional, especificamente voltado para o desenvolvimento, disciplina e fiscalização do mercado de valores mobiliários (títulos). Seu poder
de normatizar abrange todas as matérias referentes ao mercado de valores
mobiliários.
Banco do Brasil – considerado um conglomerado financeiro que atua como
banco múltiplo tradicional, embora ainda opere como agente financeiro do governo federal, sendo o principal executor da política financeira do governo.
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – responsável pela política de investimentos de longo prazo do governo federal.
Caixa Econômica Federal (CEF) – responsável pela operacionalização das políticas do governo federal para a habitação popular e saneamento básico.
Conselho Monetário Nacional
CMN
Banco Central do Brasil
BCB
Comissão de Valores Mobiliários
CVM
Sociedades Corretoras
(BOVESPA, 2006. Adaptado.)
De modo geral, as instituições financeiras são responsáveis pela transmissão e
manutenção da política monetária nacional, além de manter a economia em plena capacidade produtiva. A figura a seguir mostra um organograma que evidencia a relação
do CMN com os principais órgãos do SFN.
Bolsa de Valores
Figura 1 – Organograma dos principais órgãos vinculados ao Sistema Monetário Nacional (SMN).
Bancos Comerciais – têm como objetivo proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários para financiar, a curto e médio
prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços e as pessoas físicas. Para tanto, os bancos comerciais podem descontar títulos, realizar operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente (contas
Intermediação financeira
O subsistema operativo é formado pelas instituições financeiras (bancárias e não
bancárias) que operam diretamente na intermediação financeira. As instituições que
fazem parte desse subsistema são compostas por bancos comerciais, caixas econômicas estaduais, bancos de desenvolvimento, bancos de investimentos, sociedades de
crédito, financiamento e investimento (financeiras), sociedades corretoras, sociedades
distribuidoras, sociedades de arrendamento mercantil (leasing), sociedades de crédito
imobiliário e bancos múltiplos. A descrição dessas instituições encontra-se abaixo:
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garantidas), realizar operações especiais, inclusive crédito rural, de câmbio e
comércio internacional, captar depósitos à vista e a prazo fixo, obter recursos
junto às instituições oficiais para repasse aos clientes, obter recursos externos
para repasse, efetuar prestação de serviços, inclusive mediante convênio com
outras instituições e outros.
Bancos de Investimento – têm como principal objetivo o aumento do prazo
de operações de empréstimos e financiamentos, sobretudo para fortalecer o
processo de capitalização das empresas, através da compra de máquinas e da
subscrição de debêntures e ações. Esses bancos estão impedidos, legalmente, de manter contas correntes em outras instituições financeiras. Elas captam
recursos pela emissão de Certificados de Depósitos Bancários (CDB) e Recibos de Depósitos Bancários (RDB) através de captação e repasse de valores de
origem interna ou externa, ou pela venda de cotas de fundos de investimento
por eles administrados.
Fortuna (2008, p. 33) sintetiza as operações ativas que podem ser praticadas pelos
bancos de investimento:
empréstimos a prazo mínimo de um ano para financiamento de capital fixo;
empréstimos a prazo mínimo de um ano para financiamento de capital de giro;
aquisição de ações, obrigações ou quaisquer outros títulos e valores mobiliários para investimento
ou revenda no mercado de capitais (operações de underwriting);
repasses de empréstimos obtidos no exterior;
repasses de recursos obtidos no país;
prestação de garantia de empréstimos no país e provenientes do exterior.
Análise de Risco e Crédito
Bancos de Desenvolvimento – são instituições responsáveis pela política de
investimento de médio e longo prazo do Governo Federal, sendo o BNDES o
seu principal representante para financiar em médio e longo prazo os setores
primário, secundário e terciário.
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Caixas Econômicas – sua atividade principal integra o Sistema Brasileiro de
Poupança e Empréstimo e o Sistema Financeiro de Habitação. Podem ser equiparadas aos bancos comerciais por captar depósitos à vista, realizar operações
ativas (empréstimos, financiamentos etc.) e efetuar prestação de serviços, na
maioria das vezes para pessoas físicas. Também realiza atividades de financiamento de bens de consumo, empréstimo sob garantia de penhor industrial e
caução de títulos, e operações de empréstimo sob penhor de bens pessoais e
sob consignação. Atua como centralizadora do recolhimento e aplicação dos
recursos depositados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Sociedades de Crédito Imobiliário – foram criadas pelo Governo para financiar o mercado imobiliário, utilizando os recursos da caderneta de poupança.
Associações de Poupança e Empréstimo – são constituídas na forma de sociedades civis, restritas a determinadas regiões, sendo de propriedade comum
de seus associados. Suas operações são semelhantes às sociedades de crédito
imobiliário.
Sociedades Corretoras – são sociedades típicas do mercado acionário e
operam na compra, venda e distribuição de títulos e valores mobiliários (inclusive ouro) por conta de terceiros. Elas operam nas bolsas de valores e de
mercadorias, e efetuam lançamentos públicos de ações, administram carteiras
e custodiam valores mobiliários, instituem, organizam e administram fundos
de investimento, operam no mercado aberto e intermediam operações de
câmbio.
Sociedades de Arrendamento Mercantil – a operação de leasing assemelha-se a uma locação, tendo o cliente, ao final do contrato, as opções de renová-la, adquirir o equipamento pelo valor residual fixado em contrato, ou ainda
devolvê-lo à empresa. As empresas de leasing geralmente captam recursos de
longo prazo, como por exemplo, através da emissão de debêntures. A debênture é um valor mobiliário emitido por sociedades anônimas, representativo de
dívida que assegura o direito de crédito de seus detentores contra a companhia emissora.
Bancos Múltiplos – têm o objetivo de racionalizar a administração das instituições financeiras. De acordo com Fortuna (2008, p. 41), permite que instituições, empresas de um mesmo grupo, constituam-se em uma única instituição
financeira com personalidade jurídica própria e, portanto, com um balanço
único, um único caixa e, consequentemente, significativa redução de custos.
Em tese, mantêm as mesmas funções de cada instituição em separado, com as
vantagens de contabilizar as operações como uma só instituição.
Intermediação financeira
Por normas legais, as carteiras de um banco múltiplo envolvem a carteira comercial (regulamentação do BACEN), carteira de investimento (regulamentação dos
bancos de investimentos), carteira de crédito imobiliário (regulamentação das sociedades de crédito imobiliário), carteira de aceite (regulamentação das sociedades de
crédito, financiamento e investimento) e carteira de desenvolvimento (regulamentação dos bancos de desenvolvimento) e a carteira de leasing.
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Conceito e relevância do crédito
Schrickel (2000, p. 24) escreve que “crédito é todo ato de vontade ou disposição de
alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro,
com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente após decorrido
o tempo estipulado”.
O patrimônio referido deve ser próprio e pode estar na forma de dinheiro (empréstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento
parcelado).
Silva (2000, p. 63) conceitua “crédito, em sentido restrito e específico, como consistindo na entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento”.
Assim, em uma loja de produtos de informática, uma venda a crédito é caracterizada
pela entrega da mercadoria (computador, por exemplo) ao cliente, mediante promessa de pagamento do comprador à loja, em uma ou mais parcelas, em um prazo futuro
estabelecido de comum acordo entre as partes.
Embora existam empréstimos gratuitos, não onerosos, no caso de operações
entre pessoas físicas, entre membros de mesma família, por exemplo, normalmente o
vendedor estipula uma taxa a ser paga pelo comprador pelo pagamento dos valores
no futuro, e não à vista.
No comércio e na indústria, o crédito geralmente assume o papel de facilitador da
venda (SILVA, 2000, p. 64). O crédito possibilita que o cliente veja atendida sua necessidade, e que o comerciante aumente suas receitas de venda.
Análise de Risco e Crédito
O crédito deve ser visto como um “produto” para as instituições financeiras. Assim,
negociar “crédito” pressupõe um adequado sistema de cadastro com informações detalhadas sobre seus clientes, e um sistema de avaliação do risco que, além de avaliá-los
pelo risco de não devolverem os recursos emprestados no prazo acordado, calcule o
limite de crédito máximo e mínimo para cada um. Enquanto que, em empresas comerciais e industriais, é possível vender à vista ou a prazo, em bancos não há como fazer
empréstimo ou financiamento à vista (SILVA, 2000, p. 65).
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Deve-se atentar para o fato de que, quando o banco está captando recursos (acolhendo depósitos ou aplicações), quem assume o risco de crédito é o cliente. O banco
nessa condição, não costuma exigir cadastro de seus clientes, mas eles poderiam (se
quisessem) exigir o “cadastro” do banco na forma de demonstrações contábeis e outras
informações que o gerente pudesse fornecer para provar que a instituição é idônea.
O crédito está inserido no contexto da intermediação financeira, sendo parte relevante da geração de receita do banco.
O crédito cumpre relevante papel econômico e social, pois viabiliza a circulação
da riqueza e o atendimento às necessidades dos agentes econômicos. Silva (2000, p.
68) escreve que o crédito a) possibilita que as empresas aumentem o seu nível de atividade; b) estimula o consumo, influenciando na demanda; c) ajuda as pessoas a obterem moradia, bens e alimentos; d) facilitam a execução de projetos para os quais as
empresas não dispõem de recursos próprios suficientes.
Introdução ao risco de crédito
Intuitivamente, “risco” significa “incerteza”, “imprevisibilidade”, um fato que pode
acontecer e contrariar as expectativas iniciais.
“Risco de crédito” pode ser definido como a probabilidade de que o recebimento
não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento. O risco está
presente nas decisões de crédito e está vinculado à “saúde financeira” do tomador de
empréstimo. Para avaliar o risco do tomador de empréstimo, a instituição financeira
deverá possuir funcionários capacitados, além de softwares e aplicativos específicos
para estimar o risco de cada cliente.
A importância da análise de risco nas decisões de crédito pode ser avaliada pela
seguinte citação de Schrickel (2000, p. 36) “a imprevisibilidade quanto ao futuro e ao
risco, deve ser adequada e suficientemente ponderada, a fim de minimizar os riscos
expostos do banco”.
A gestão do risco de crédito é motivo de preocupação do sistema financeiro internacional, que criou o Comitê da Basileia para reestruturar a “indústria” bancária, gerenciando e emitindo normas reguladoras do Sistema.
O Banco Central do Brasil vem implementando relevantes medidas com o intuito
de estimular as instituições financeiras a melhorar seus procedimentos de avaliação e
acompanhamento do risco de clientes, garantindo o funcionamento sem sobressaltos
do SFN.
Intermediação financeira
O Comitê de Supervisão Bancária da Basileia congrega autoridades de supervisão
bancária e foi estabelecido pelos presidentes dos Bancos Centrais dos países do então,
“Grupo dos 10 (G-10)”, em 1975. É constituído por representantes de autoridades de
supervisão bancária e pelo Banco Central, reunindo-se no Banco de Compensações
Internacionais (BIS), na Basileia, Suíça, onde se localiza a sua secretaria permanente.
Em 1997, o Comitê da Basileia declarou que os mais sérios problemas bancários continuam se originando diretamente de problemas de administração de crédito. (CATTANI;
STADUTO, 2003).
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As instituições financeiras tiveram de se adequar às novas normas que lhes foram
dirigidas pelo Banco Central, em um cenário de baixa inflação e aumento das disponibilidades para empréstimos.
A Resolução 2.682, de 21 de dezembro de 1999, do Banco Central do Brasil, complementadas por resoluções posteriores, estabelece os critérios que devem ser observados pelas instituições financeiras na avaliação do risco de seus clientes e operações,
para fins do cálculo e constituição de provisão para risco de crédito.
Silva (2000, p. 75) escreve que os riscos de crédito de um banco podem ser classificados em quatro grupos: a) risco do cliente ou risco intrínseco; b) risco da operação;
c) risco de concentração; e d) risco da administração do crédito.
a) Risco do cliente ou risco intrínseco
Esse tipo de risco independe da vontade do cliente-tomador de empréstimos/financiamentos do banco. Ele existe devido à possibilidade do não pagamento do valor
ao banco devido a conjunto de fatores associados ao devedor.
O crédito consiste em colocar à disposição do tomador determinado valor sob a
forma de empréstimo ou financiamento mediante promessa de pagamento. Essa promessa de pagamento, em forma de documento, obriga o devedor a devolver os recursos tomados. Silva (2000, p. 78-79) informa que os chamados “Cs do crédito” (Caráter,
Capacidade, Condições, Capital e Conglomerado) contêm as variáveis relacionadas ao
risco do cliente (intrínseco), as quais poderão fornecer a base para a classificação do
risco (rating).
b) Risco da operação
Análise de Risco e Crédito
Silva (2000, p. 80) escreve que os principais elementos integrantes de uma operação são: (I) produto; (II) montante; (III) prazo; (IV) forma de pagamento; (V) garantias; e (VI) preço. Segundo Silva, acima, cada um desses elementos apresenta um potencial de risco. Assim, a inadequação da especificação do produto, ou em seu valor,
pode levar o cliente-tomador a descumprir a promessa de pagamento, ocasionando a
inadimplência.
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Se o montante emprestado for acima da capacidade de pagamento do cliente-tomador, existe aí, também, risco de inadimplência. O mesmo raciocínio vale para o
prazo no caso de ele ser muito longo, num contexto de crescente alta de juros, aumenta-se o risco do não pagamento do empréstimo/financiamento concedido.
A forma de pagamento, associado ao prazo, pode constituir-se em fonte de risco
adicional, na medida em que dificulta o acesso do cliente-tomador aos recursos para
fazer o pagamento.
A garantia exigida do banco ao cliente-tomador tem influência significativa no
risco da operação. Assim, quanto maior for a garantia exigida, menor é o risco, pois
pressupõe-se que a garantia é executável (seu valor recuperável por venda ou utilização) em valor suficiente para ressarcir o banco pelos recursos não devolvidos.
c) Risco de concentração
Silva (2000, p. 80) escreve que o risco de concentração decorre da composição da
carteira de recebíveis do banco quanto ao maior ou menor volume de recursos aplicados em um só produto ou em uma mesma área geográfica.
Uma carteira de recebíveis é o volume de títulos a receber que o banco possui
derivados de operações firmadas com clientes-tomadores e outras contas.
A operação de endividamento de uma instituição dando como garantia títulos a
receber de clientes que ela têm em sua carteira leva o nome de securitização de recebíveis. As operações com recebíveis têm sua origem nos Estados Unidos e Europa. Essa
operação visa captar recursos no mercado, via emissão de títulos próprios, dando-se
como garantia as contas a receber que a instituição possui.
Tais operações oferecem grandes vantagens tanto para o investidor quanto para o tomador
de recursos financeiros. A estruturação destas operações faz com que haja uma venda
dos recebíveis a uma entidade neutra (Trust) que os usa como lastro para a emissão de
endividamento de tal modo que o comprador destes títulos não fique exposto ao risco do
gerador do seu lastro. O Trust, além de isolado do grupo comercial gerador dos recebíveis,
tem seu fluxo de caixa monitorado pelo Trustee (supervisor do “Trust”) o que assegura uma
boa liquidação dos títulos independentemente da necessidade do acionamento jurídico
das garantias constituídas. (pavarini, 2008)
A concentração de operações em um só cliente aumenta o risco da empresa.
Assim, quanto maior for a concentração de empréstimos para capital de giro a poucos
clientes, maior será o risco do não recebimento de valores dessa carteira.
Silva (2000, p. 80) acrescenta que o risco de uma carteira de crédito é diferente
dos riscos de suas operações individuais, em razão das correlações que possa haver
entre os diversos segmentos. Correlação é uma medida estatística padronizada da relação entre duas variáveis. Seu valor varia de –1 a +1. A correlação nunca pode ser maior
do que 1 ou menor do que menos 1.
Intermediação financeira
Uma correlação próxima a zero indica que as duas variáveis não estão relacionadas. Sendo cada variável um segmento de negócio do banco (industrial, comercial,
leasing etc.), uma correlação positiva indica que as duas variáveis (segmentos) movem
juntas, e a relação fica forte quanto mais a correlação se aproxima de um. Uma correlação negativa indica que as duas variáveis movem-se em direções opostas, e que a
relação também fica mais forte quanto mais próxima de menos 1. Duas variáveis que
estão perfeitamente correlacionadas positivamente (r=1) movem-se essencialmente
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em perfeita proporção na mesma direção, enquanto dois conjuntos que estão perfeitamente correlacionados negativamente movem-se em perfeita proporção em direções opostas. Exemplificando: suponha que o Banco Y conceda empréstimos para
clientes do segmento industrial e de leasing em determinado período. Alguns desses
clientes são os mesmos para as duas modalidades de operação e, por isso, as variáveis
(empréstimos) deverão apresentar correlação positiva, próximo de 1 (um), estando positivamente correlacionadas. O valor do índice de correlação é apurado através de uma
planilha estatística (Excel, SPSS, SAS e outras).
Silva (2000, p. 80) acrescenta: “[...] se um banco distribuir suas aplicações em segmentos econômicos que tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de vista de
risco, não representará diversificação”, portanto apresentará maior risco.
d) Risco de administração de crédito
É o risco derivado da gestão indevida dos créditos concedidos. Os recursos humanos e materiais têm papel relevante nos índices de inadimplência apresentados pelo
banco. Schrickel escreve sobre o assunto:
“Se de um lado a incerteza quanto ao futuro torna a análise de crédito extremamente desafiadora e
exige capacitação técnica específica, de outro, tal atividade depende primordialmente do elemento
humano, do profissional da instituição financeira, que, mais que certamente, não poderá ser
suficientemente substituído por qualquer instrumento cibernético, por mais avançado que seja [...]”.
(Schrickel, 2000, p. 36)
A instituição financeira deve munir-se dos melhores recursos humanos disponíveis,
assim como estrutura material e logística para reduzir o nível de risco de suas operações.
Texto complementar
Banco fica com parcela maior do “spread”
Análise de Risco e Crédito
(BALBI, 2006)
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Os cinco maiores bancos do país que já divulgaram os balanços de 2005, exibindo lucros recordes, aumentando seu spread nos últimos cinco anos, segundo estudo
realizado pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) com exclusividade para a Folha.
Bradesco, Itaú, Unibanco, Banespa e o estatal Banco do Brasil obtiveram spread
total de 12,2% no ano passado, enquanto em 2001 essa taxa era de 11%. Ao mesmo
tempo cresceu a parcela do lucro na composição do spread nesse período. Em 2001,
15,6% do spread total eram destinados aos resultados (lucros); no ano passado, essa
mesma parcela chegou a 21,9%.
Em 2005, o Itaú foi o banco com o maior spread total, segundo o Inepad, seguido pelo Banespa, o Unibanco e o Bradesco. O menor spread verificado foi o do Banco
do Brasil, que opera com crédito agrícola a taxas de juro mais baixas.
Spread, na definição corrente no mercado, é a diferença entre a taxa média de
juros que os bancos pagam ao captar recursos e aquela que recebem ao aplicá-los
– seja emprestando ao governo ou ao setor privado (pessoas físicas e jurídicas). No
entanto, o Inepad considera nos cálculos do spread total também as taxas de serviços cobradas pelas instituições financeiras.
“No caso do Brasil, como há mais demanda por crédito do que oferta, os bancos
condicionam a concessão de empréstimos à aquisição de outros produtos como
seguros, títulos de capitalização ou planos de previdência. Assim, na taxa de juro
paga pelo cliente está embutida também a prestação desses produtos. Portanto
o spread deve incluir também as receitas de serviços dos bancos, afirma Alberto
Borges Matias, presidente do Inepad e professor da Faculdade de Economia da USP
de Ribeirão Preto.
O instituto reconhece que adota um conceito polêmico de spread. Por isso,
também calculou o chamado spread financeiro dessas instituições nos últimos cinco
anos. Essa taxa é a diferença entre o juro pago na captação e o recebido na aplicação.
Em 2001, a taxa média do spread financeiro dos cinco maiores bancos era de
7,5% e, no ano passado, foi de 8,4%. Todos os cálculos foram feitos com base nos
balanços das instituições financeiras.
Formação do spread
Ao analisar esses quatro componentes, o Inepad concluiu que o crescimento
do spread total dos bancos ocorreu para sustentar os resultados das instituições financeiras e o aumento dos gastos com impostos, segundo informa Edson Carminatti, analista financeiro do instituto e responsável pelo levantamento.
Intermediação financeira
Entram na formação do spread bancário, a taxa de inadimplência, as despesas
estruturais – pessoal e administrativas –, os gastos com impostos e os resultados do
banco, segundo informa o Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração.
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“Os bancos conseguiram aumentar o spread reduzindo os custos de captação,
pois estão conseguindo levantar recursos a taxas mais baixas no mercado externo e
aplicando aqui a taxas altas”, afirma o analista.
Em 2001, as instituições financeiras captavam a uma taxa média de juros de 9%
ao ano e, no ano passado, a 6,7%. Nesses cálculos estão incluídos desde a captação
mais barata – que é a da caderneta de poupança e a parcela do saldo das contas
correntes que fica no banco sem remuneração – até as taxas dos CDBs (Certificados
de Depósitos Bancários).
“Os resultados dos bancos é um dos formadores do spread que mais cresceu. Só
perde para o crescimento dos impostos”, observa Carminatti.
Em 2001, eles representavam 15,6% dos spread total e pularam para 21,9% no
ano passado.
Já a parcela do spread total que ia para impostos subiu de 8,1% para 16,5%
no mesmo período. “Isso é preocupante, pois o peso dos impostos cresceu muito”,
afirma Carminatti.
Despesas
A maior parte da formação do spread bancário, entretanto, ainda é decorrente
das despesas estruturais – como a de pessoal e as administrativas. As despesas responderam por 45,8% do spread total em 2005 – um forte recuo ante os 61,8% que
representavam em 2001.
Segundo Carminatti, os bancos ganharam eficiência conseguindo operar
melhor com a mesma estrutura. Para Borges Matias, a redução das despesas é conseqüência do aumento da escala na operação bancária.
Análise de Risco e Crédito
“Os bancos aumentaram suas carteiras de crédito e sua base de clientes, enxugaram a estrutura e hoje conseguem ter lucros maiores e despesas menores”, afirma
o presidente do Inepad.
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Já a inadimplência – à qual sempre os bancos atribuem a responsabilidade
pelos juros e spreads elevados – cresceu pouco no período analisado. Em 2001, ela
representava 14,5% do spread e, no ano passado, chegou a 15,8%.
“Como as operações de crédito cresceram muito, era de se esperar um aumento da inadimplência. Mas não foi ela que fez o spread crescer”, diz Carminatti.
Atividades
1. O que é risco de crédito?
2. Para o autor Silva (2000) qual é a definição de crédito em sentido estrito e específico?
3. “São instituições responsáveis pela política de investimento de médio e longo
prazo do governo federal”. Esse conceito refere-se a qual alternativa abaixo?
a) Bancos comerciais.
b) Bancos de investimento.
c) Caixas econômicas.
d) Bancos de desenvolvimento.
4. Qual dessas instituições permite que empresas de um mesmo grupo constituam-se em uma única instituição com personalidade jurídica própria e balanço
único?
a) Sociedades corretoras.
b) Sociedades de arrendamento mercantil.
c) Bancos múltiplos.
d) Associações de poupança e empréstimo.
Ampliando conhecimentos
O autor aborda todas as fases da gestão e análise de crédito, sendo leitura útil no
acompanhamento dos capítulos. Sugere-se que o aluno consulte o livro quando tiver
dúvidas sobre pontos abordados no capítulo.
SCHRICKEL, Kurt W. Análise de Crédito – concessão e gerência de empréstimos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
Intermediação financeira
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2000.
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Obra clássica em Análise de Crédito. Sugere-se que o aluno a use complementarmente à obra de Silva, acima.
FORTUNA. Eduardo, Mercado Financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 1999.
O autor aborda o funcionamento do mercado financeiro como um todo e apresenta um resumo dos principais órgãos responsáveis pela manutenção da política monetária nacional.
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
O autor apresenta o funcionamento e as funções do mercado financeiro e trata
de como a compreensão da economia permite que se estabeleçam relações entre os
resultados agregados e o desempenho dos agentes econômicos (indivíduos, empresa
e governo).
Wall Street – Poder e Cobiça
Análise de Risco e Crédito
O filme ambienta o espectador numa trama em que estão presente o dinheiro, a
negociação, o poder conferido pelo dinheiro e a procura por prestígio. É um filme útil
para ambientar o aluno.
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Intermediação financeira
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