Aspectos celulares e moleculares da resposta imunitária a

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ARTIGO DE REVISÃO
R E V I S TA P O R T U G U E S A
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
Aspectos celulares e moleculares da resposta imunitária a Leishmania spp
Cellular and molecular aspects of immune response to Leishmania spp
José C.C. de Freitas*, Diana C.S.N. Pinheiro
Faculdade de Veterinária, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-Ceará
Resumo: O sistema imunitário apresenta funcionamento
complexo e envolve interações específicas entre os seus componentes, conferindo imunidade inata e adquirida ao indivíduo.
A integração entre os sistemas inato e adaptativo trabalha de
uma maneira orquestrada para a manutenção da homeostase do
organismo. Dentre os agentes invasores destacam-se parasitos
intracelulares como Leishmania spp. A resposta imunitária a
Leishmania é iniciada no local de entrada do parasito, através
das células sentinelas, onde as formas promastigotas são
interiorizadas, promovendo a ativação da resposta imunitária. A
interação de PAMPs nos patógenos com Toll-Like Receptors
das células sentinelas desencadeará a ativação de fatores de
transcrição, como o NF-κB e NF-AT, que estão envolvidos na
ativação de genes que codificam para citocinas, como TNF-α,
IL-1 e IL-12, quimiocinas, e a óxido nítrico sintetase induzível.
A resposta imune direcionada por Th1, mediada por Interferon-γ
e TNF-α, predominante nos cães assintomáticos tem sido
relacionada à resistência à doença, enquanto que a resposta
imune mediada por Th2, com produção de IL-4 e IL-10, é
relatada nos casos sintomáticos. Embora o papel das citocinas
liberadas por Th2 nos casos sintomáticos seja controverso, há
evidências de sua correlação com a progressão da doença. Vêm
sendo discutidas as atuações dos neutrófilos, mastócitos, basófilos, células natural killer (NK), linfócitos TCD8+ e T regulatórios (Treg) na leishmaniose. O estudo da resposta imunitária
hospedeiro-parasito como fator de desencadeamento e severidade das lesões patológicas é essencial para melhor compreensão e caracterização da doença.
Palavras-chave: Resposta imunitária, Leishmania spp, Células,
Mediadores
Summary: The immune system shows complex operation
and involves specific interactions between its components,
providing innate and acquired immunity to the individual. The
integration between the innate and adaptive systems works in an
orchestrated manner to maintain homeostasis. Among the
invaders agents stand out intracellular parasites like Leishmania
spp. The immune response to Leishmania starts at the entrance
of the parasite, through the sentinel cells, where the
promastigotes are internalized by promoting the activation of
the immune response. The interaction of PAMPs on pathogens
with Toll-Like Receptors of sentinel cells trigger the activation
*Correspondência: [email protected]
Tel: +(55) 85 32818446; Fax: +(55) 85 31019840
of transcription factors such as NF-κB and NF-AT, which are
involved in the activation of genes coding for cytokines such as
TNF-α, IL-1 and IL-12, chemokines, and inducible nitric oxide
synthase. The immune response directed by Th1 mediated by
Interferon-γ and TNF-α, predominantly in asymptomatic dogs
has been linked to disease resistance, while the immune
response mediated by Th2 cells, with production of IL-4 and
IL-10 is reported in symptomatic cases. Although the role of
cytokines released by Th2 cells in symptomatic cases is
controversial, there is evidence of its correlation with disease
progression. Have been discussed the actions of neutrophils,
mast cells, basophils, natural killer cells (NK), TCD8+ lymphocytes and T regulatory (Treg) in leishmaniasis. The study of
immune response host-parasite as a factor in triggering
and severity of pathological lesions is essential for better
understanding and characterization of the disease.
Keywords: Immune response, Leishmania spp, Cells,
Mediators
Introdução
As leishmanioses são antropozoonoses, causadas
por protozoários pertencentes ao gênero Leishmania,
consideradas um problema de saúde pública, representando um complexo de doenças com importante
diversidade epidemiológica e espectro clínico, que
incluem as formas: cutânea, mucocutânea e visceral
(Ministério da Saúde do Brasil, 2006). Leishmania
spp são parasitos digenéticos que se desenvolvem com
a forma promastigota no aparelho digestivo de insetos
flebotomíneos e com a forma amastigota intracelular
no sistema fagocítico mononuclear dos hospedeiros
vertebrados, como os cães e humanos (Awasthi et al.,
2004).
O controle das leishmanioses é feito através do
combate ao inseto vetor, detecção dos reservatórios e
tratamento dos casos humanos (Santiago et al., 2008).
Já o controle da leishmaniose canina (LCan) é baseado na detecção e sacrifício dos cães soropositivos para
a doença, conforme norma da Organização Mundial
de Saúde (OMS).
Numerosos estudos apontam para uma variedade de
fatores que contribuem para o estabelecimento da
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Freitas JCC et al.
leishmaniose como, características do parasito,
relação parasito-hospedeiro e a resposta imunitária ao
parasito. O estudo da resposta imunitária à
Leishmania spp é essencial para a compreensão da
dinâmica do parasito no hospedeiro e caracterização
da doença. As leishmanioses são caracterizadas por
apatia, perda de peso, alopecia, hepato-esplenomegalia,
linfadenopatia, complicações renais e sistêmicas. Esses
sinais e sintomas estão correlacionados às formas
clínicas da doença.
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo fazer
uma revisão descrevendo aspectos celulares e moleculares associados à resposta imunitária à Leishmania
spp.
Resposta imunitária na leishmaniose
canina
O sistema imunitário apresenta funcionamento
complexo e envolve interações específicas entre os
seus componentes e entre os diferentes parasitos. A
atuação do sistema imunitário confere ao indivíduo a
imunidade nas formas inata e adquirida, dirigidas em
resposta a um antígeno. Apesar de a resposta imunitária adaptativa ser induzida especificamente, uma
integração entre o sistema inato e adaptativo trabalha
de uma maneira orquestrada para a manutenção da
integridade do organismo do indivíduo.
Dentre os agentes invasores estão os protozoários
que apresentam uma grande variação estrutural entre
espécies e, por isso, não é surpreendente que ativem
diferentes respostas imunes específicas. Leishmania
spp apresenta uma ampla variedade antigênica que
permite a interação com as células do hospedeiro na
promoção de sinais desencadeadores da liberação de
mediadores e ativação de células da resposta imunitária inata e adaptativa. São parasitos intracelulares
obrigatórios que invadem preferencialmente macrófagos ou células dendríticas, que estão envolvidas não só
na destruição do parasito, mas na liberação de mediadores envolvidos na interação parasito-hospedeiro
(Martinez et al., 2009).
Imunidade inata
A resposta imunitária a Leishmania é iniciada no
local de entrada do parasito através das células
sentinelas, incluindo células dendríticas e macrófagos,
onde as formas promastigotas de Leishmania spp são
interiorizadas por um processo chamado de fagocitose,
formando um fagossomo que se une com lisossomos
para formar um fagolisossomo (Rittig e Bogdan,
2000). Esse processo é realizado por um grupo de
"fagócitos profissionais" e tem como alvo micro-organismos, que são englobados em um compartimento celular no qual os mesmos podem ser mortos
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RPCV (2010) 105 (573-576) 11-20
(Handman e Bullen, 2002). Os patógenos, dentre eles
os protozoários, podem ser reconhecidos por fagócitos
através das proteínas moleculares associadas ao
patógeno (PAMPs) que interagem com receptores de
reconhecimento de patógenos (PPRs) expressos nos
fagócitos. Acredita-se, que esse reconhecimento sirva
para a ativação da imunidade inata, bem como um
sinal para os processos da imunidade adquirida
(Muzio et al., 2000; Ross, 2000; Gordon, 2002;
Janeway e Medzhitov, 2002).
PAMPs estão presentes entre todas as classes de
patógenos e podem representar um sinal em particular
de cada classe. Uma característica comum de todos os
PAMPS é que eles são produzidos por micro-organismos, mas nunca pelas células hospedeiras. Portanto,
a detecção dos PAMPs pelos PPRs, dentre eles os
receptores Toll-like (TLRs) pode representar o
reconhecimento imune, com diferenciação entre "self"
e "nonself" (Medzhitov e Janeway, 1997; Schnare et
al., 2001).
Muitas proteínas de Leishmania spp que já foram
identificadas são expressas na forma amastigota
e na forma promastigota. Essas proteínas contêm
numerosos aminoácidos repetidos que representam
uma alta porcentagem (75%) do total da molécula.
Muitos genes são apresentados em cópias múltiplas,
mas é desconhecido como essas cópias são expressas
e como elas são usadas pelo parasito. Essas cópias
múltiplas são capazes de produzir várias proteínas
isoformes que devem favorecer a adaptabilidade do
parasito. Algumas dessas características podem ser
elucidadas no estudo do proteoma de Leishmania e
relatadas para o genoma (Kubar e Fragaki, 2006).
Portanto, essas proteínas estão relacionadas com a
virulência e a resposta imunitária do hospedeiro ao
parasito.
Proteínas A2 expressas em amastigotas e LMPK
expressas em promastigotas são fatores de virulência
encontrados em várias espécies de Leishmania que
tem papel importante na sobrevivência do parasito no
hospedeiro mamífero, pois na ausência das mesmas os
hospedeiros foram capazes de controlar a infecção
(Wiese e Gorcke, 2001). As promastigotas "lmpk-deleted" podem ser usadas como vacina, principalmente em cães, com infecção causada por L. infantum
(Kubar e Fragaki, 2006).
Outros fatores de virulência estão incluídos no
potencial de sobrevivência do parasito: LPG (Turco et
al., 2001), cisteina proteinase (Mottram et al., 1998),
gp63 (Yao et al., 2003) e CRK3 (Hassan et al., 2001).
O potencial de virulência do Lepp 12 permanece ainda
incerto. Como L. major é a espécie que vem sendo
estudada mais exaustivamente pelos imunologistas,
existem menos informações sobre a forma visceral da
doença do que a forma tegumentar (Fragaki et al.,
2003).
TLRs são uma família de receptores transmembrana
com estrutura altamente conservada que reconhecem
Freitas JCC et al.
produtos do metabolismo microbiano (PAMPS),
ativam uma resposta imunitária específica ao
patógeno (Trinchieri e Sher, 2007). Reconhecimento
de um patógeno único pode envolver a ativação de
múltiplos TLRs. São os únicos receptores que
medeiam diretamente a maturação das células
dendríticas. Além disso, o fato que eles são diferentemente expressos entre os subtipos de células dendríticas sugere que já estão diferencialmente ativados de
acordo com os patógenos desafiados (Kelsall et al.,
2002), induzindo a produção de diferentes citocinas
em um único tipo de célula dendritica ou secretando
diferentes citocinas em distintos subtipos de células
dendríticas (Reis e Sousa, 2004). A interação TLR
com PAMPs desencadeará a ativação de fatores de
transcrição envolvidos na ativação de genes que
codificam para diversas citocinas e síntese de outras
moléculas (Grazzinelli e Denkers, 2006).
Uma resposta imunitária adaptativa eficiente não
requer somente a apresentação do antígeno no
contexto do complexo de histocompatibilidade
principal (MHC), mas também depende da ativação de
sinais acessórios, como fatores co-estimulatórios e
citocinas, nas APCs. TLRs expressos nas APCs
podem regular esses sinais acessórios através do
reconhecimento dos PAMPs e, conseqüentemente,
controlar a ativação da resposta imunitária adaptativa
antígeno-específica (Schnare et al., 2001).
A fagocitose requer uma interação seqüencial e
circunferencial entre receptores especializados na
superfície das células fagocíticas e ligantes complementares na superfície das partículas fagocitadas.
Como as promastigotas de Leishmania spp aderem
aos fagócitos na região polar, pode-se então presumir
que sua internalização é feita pelo alongamento de
pseudópodes em torno do parasito de forma radial. A
localização no sítio intracelular da Leishmania spp é
predominantemente no vacúolo parasitófago (VP),
podendo residir individualmente ou em grandes
vacúolos com várias formas amastigotas (Rittig e
Bogdan, 2000). Entretanto, estudos em pacientes com
a forma cutânea foram observados um pequeno
número de formas amastigotas na região citosólica
da célula, e a partir de então foi verificada a possibilidade, de nesses casos, ser induzida a resposta
imunitária mediada pelo MHC de classe I (Rittig e
Bogdan, 2000).
Uma vez dentro do fagócito mononuclear, as
promastigotas sofrem significantes alterações
bioquímicas e metabólicas, as quais resultam na forma
intracelular obrigatória – a amastigota. As formas
amastigotas de Leishmania spp desenvolveram
mecanismos para subverter e escapar da ação dos
macrófagos, podendo reinvadir células dendríticas e
fibroblastos, bem como novos macrófagos (Rittig e
Bogdan, 2000; Handman e Bullen, 2002).
O principal mecanismo de liberação das formas
amastigotas no meio extracelular é feito de forma
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mecânica, pela elevada multiplicação intracelular
(Handman e Spira, 1977). Por outro lado, também
foi observado que Leishmania, no interior do
fagolisossomo tem a capacidade de influenciar o
sistema vacuolar da célula hospedeira, sugerindo que
as amastigotas recrutem a maquinaria de exocitose
auxiliando a liberação mecânica (Rittig e Bogdan,
2000).
Recentes estudos demonstraram que a entrada
e sobrevivência de Leishmania spp dentro de
macrófagos, só são possíveis com a prévia infecção de
neutrófilos que são recrutados como uma resposta
normal à picada do inseto. Novos achados indicam
que Leishmania spp são capazes de infectar os neutrófilos, sendo estes fagocitados por macrófagos, e assim
desencadear um processo no macrófago conhecido
como modelo "cavalo de Tróia" (Jochim e Teixeira,
2009).
Macrófagos são células frequentes no local da
infecção causada por Leishmania spp e apresentam
múltiplas funções: servem como células hospedeiras
na multiplicação do parasito, como célula apresentadora de antígenos e como células produtoras de citocinas moduladoras da resposta mediada por linfócitos T.
Estas células medeiam a ativação de células Th1 que
agem sobre os macrógafos infectados como efetores
para a morte intracelular do parasito (Zer et al., 2001).
Os macrófagos são oriundos da migração dos
monócitos ao sítio infeccioso, que ocorre nos estágios
iniciais após a picada do inseto, promovida pelos produtos da saliva do inseto vetor. A maturação destas
células se dá pelo processamento antigênico, induzindo sua ativação e produção de mediadores, como as
quimiocinas, dentre elas podemos citar a proteína
inflamatória macrofágica (MIP-1β) (van Zandbergen
et al., 2004). Nessa situação, os macrófagos são
capazes de liberar citocinas que agirão diretamente na
ativação e recrutamento de células T. Essas células
desempenham papel muito importante, tanto diretamente, por mediarem respostas celulares na ativação
dos próprios macrófagos residentes, quanto indiretamente, na regulação e produção de anticorpos
produzidos por plasmócitos que derivam de linfócitos
B (Teixeira et al., 2006; Martinez et al., 2009).
Alguns fatores têm a capacidade de influenciar a
resposta imunitária a Leishmania spp, participando
diretamente na resistência ou susceptibilidade à
doença, dentre eles podemos citar os mediadores
inflamatórios e outras moléculas.
Os leucotrienos (LTB4) e o fator de ativação
plaquetária (PAF) participam diretamente no processo
de resistência à infecção, agindo diretamente nos
macrófagos, estimulando o aumento da produção de
óxido nítrico (Serezani et al., 2006; Santiago et al.,
2006). Já as prostaglandinas (PGE2), o fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), a adenosina
e o fator indutor de hipóxia-1 estão diretamente
relacionados aos processos que desencadeiem suscep13
Freitas JCC et al.
tibilidade a infecção, onde PGE2 e IGF-1 interferem
diretamente na produção do óxido nítrico pelos
macrófagos (Maioli et al., 2004; Guimarães et al.,
2006; Degrossoli et al., 2007; Vendrame et al., 2007).
Outras células apresentadoras de antígenos (APCs),
como é o caso das células dendríticas (CD), são
consideradas importante vínculo entre a resposta
imunitária inata e adaptativa numa infecção causada
por Leishmania spp. CDs são um grupo heterogêneo e
largamente distribuído de células migratórias,
derivadas da medula-óssea, especializadas no reconhecimento, apreensão, transporte e processamento
de antígenos patógenos. Na resposta imunitária inata
e adaptativa ativam as células NK e os linfócitos T
virgens (Granucci et al., 2004) e estão envolvidas na
indução da tolerância periférica aos antígenos
próprios (Steinman et al., 2003). CD possuem
múltiplos mecanismos de sobrevivência que podem
detectar os patógenos direta ou indiretamente; então,
podem representar um importante ponto pelo qual
sinais associados ao patógeno ou à vacina são integrados e transmitidos ao sistema imunitário adaptativo.
Com isso, podem capturar um patógeno invasor e
migrar para os órgãos linfóides de drenagem mais
próximos onde, depois da maturação, apresentam os
antígenos processados para ativar as células T, desse
modo induzindo a diferenciação das células ativadas
em células T efetoras (Biron et al., 2002; Garg et al.,
2007).
As células de Langerhans (CL) são um específico
subtipo de células dendríticas da pele que formam
uma densa rede na camada suprabasal da epiderme.
CL podem atuar como células sentinelas na epiderme
e também parecem possuir funções protetoras numa
infecção causada por Leishmania spp (Moreno, 2007).
Durante muitos anos foi aceite que, numa infecção
microbiana, as CL aprisionavam os antígenos dos
parasitos e migravam para uma área dependente de
células T no linfonodo de drenagem da pele, com o
objetivo de apresentá-los às células T virgens, e esse
ciclo ficou estabelecido como um paradigma para
outras CD (Wilson e Villadangos, 2004). Entretanto,
em estudos recentes, ficou demonstrado que outros
subtipos de CD falharam na atividade do ciclo de vida
tipificado pelas CL (Romani et al., 2006). Tem sido
proposto então que, a resposta imunitária mediada
pelas células T contra L. major é gerada pelas CD
da derme e que as CL tem uma função regulatória
instalada e devem ser responsáveis pela supressão da
resposta inflamatória (Ritter e Osterloh, 2006).
Os macrófagos ativados em função da interação
com o parasito ou através das citocinas secretadas
pelas células efetoras Th1 passam a produzir óxido
nítrico (NO) o qual é requerido para uma efetiva
destruição de um elevado número de patógenos, os
quais podem ser citados: vírus, bactérias, protozoários, fungos e helmintos (Shin et al., 2000). NO é
sintetizado por uma família de enzimas conhecidas
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RPCV (2010) 105 (573-576) 11-20
como óxido nítrico sintetase (NOS), podendo esse
evento ocorrer em diferentes tipos celulares (Bogdan
et al., 2000), como produtos da ativação de genes
relacionados a produção de fatores de transcrição
ativados pela interação celular com o parasito.
Estudos realizados in vitro sugerem que a óxido
nítrico sintetase induzida (iNOS) apresente uma
elevada importância na regulação e no processo
efetivo de controle da multiplicação intracelular das
formas amastigotas de Leishmania spp. Macrófagos
caninos infectados in vitro e ativados por interferon-γ
(INF-γ) apresentaram uma elevada expressão de NO
(Sisto et al., 2001) e ao serem incubados com linfócitos de cães imunizados anteriormente, apresentaram
aumento na produção de NO, subseqüente à liberação
de INF-γ, além de uma significante série de apoptose,
mediada por NO, das formas amastigotas intracelulares (Holzmuller et al., 2006). Já em estudos realizados in vivo, nos quais foram utilizados humanos e
camundongos, foram sugeridos que a expressão de
iNOS pelos macrófagos ativados era o principal
mecanismo efetor no controle das leishmanioses
(Serarslan e Atik, 2005). A síntese de NO pelos
macrófagos ativados é mediada pelas citocinas
derivadas pelas células Th1, dentre elas está principalmente o INF-γ (Bogdan et al., 2000).
Devido a falta de estudos sobre a expressão de iNOS
em testes in vivo utilizando cães infectados com
Leishmania spp, Zafra et al. (2008) avaliaram o efeito
do NO produzido a partir de iNOS em macrófagos
ativados demonstrando um importante papel no
controle da disseminação da infecção por Leishmania
spp nos cães e que a combinação de macrófagos
ativados e a elevada expressão de iNOS são capazes de
destruir ou mesmo inibir a multiplicação de formas
amastigotas, e por outro lado a baixa expressão de
iNOS pelos macrófagos pode facilitar a multiplicação
das formas amastigotas de Leishmania spp. Também
foi sugerido que um mecanismo de escape utilizado
pelos parasitos seria a inibição da expressão de iNOS
nos macrófagos ativados, mas sem apresentar ainda
dados definitivos para a afirmativa (Zafra et al.,
2008).
O reconhecimento do parasito e a produção de
citocinas são os dois principais mecanismos estimulatórios para as células NK, e ambos estimulam suas
respostas efetoras (Alli e Khar, 2004). Muitos avanços
têm sido feitos no entendimento dos receptores que
ativam e inibem a funcionalidade das células NK
maduras, as citocinas iniciando pela produção do
INF-γ e a atividade citolítica. Entretanto, pouco se
sabe sobre outros aspectos da diferenciação das células NK. Estudos in vitro sugerem que as células NK
podem se diferenciar pela produção de interleucina-10
(IL-10) (Grant et al., 2008) e devem apresentar atividades regulatórias (Deniz et al., 2008). Evidências
sobre a regulação inibitória das células NK nas doenças
infecciosas, como as leishmanioses, necessitam de
Freitas JCC et al.
estudos mais aprofundados (Maroof et al., 2008).
Durante infecção causada por L. donovani, o baço
apresenta uma extensiva remodelação associada com a
esplenomegalia, que pode estar associada também ao
aumento do número de células NK (Kaye et al., 2004),
que se acumulam promovendo aumento no número
absoluto considerável no baço e nos granulomas
hepáticos em camundongos infectados, além de
representar outra fonte de IL-10. Além disso, confirmando a hipótese de que a inibição da expressão do
gene da IL-10 seja uma característica encontrada no
momento inicial da ativação das células NK, somente
as células isoladas de organismos com a infecção
estabelecida são capazes de suprimir a resistência do
hospedeiro, função essa que está associada com o
aumento do RNA mensageiro de IL-10 e da secreção
de IL-10 (Maroof et al., 2008). O principal mecanismo de ativação das células NK se dá através de
interação do lipofosfoglicano (LPG) do parasito com
TLR-2, que sinaliza fatores de transcrição para a
síntese de IL-10 (Becker et al., 2003).
A aproximação e fagocitose de partículas são
também facilitadas pelos receptores de complemento
(RC), RC1 e RC3, que participam de ambos os
processos. A interação do parasito com os receptores
de complemento ocorre de três formas: na presença do
soro pela ativação do componente C3 do complemento, através do processo soro-independente com a
aproximação de glicoproteína (gp63) para RC3 e do
LPG do parasito com o sítio específico de RC3 e RC1
(Handman, 1999). RC4 também apresenta papel
importante no processo de fagocitose do parasito
(Alexander e Russell, 1992).
Basófilos e mastócitos são importantes células
efetoras no processo inflamatório mediado por IgE.
Os basófilos são raramente encontrados no sangue
circulante, perfazendo menos de 1% dos leucócitos
sanguíneos, além de normalmente não serem encontrados nos tecidos. Entretanto, eles podem ser recrutados para alguns sítios inflamatórios, como o local da
picada de insetos, onde os antígenos estão presentes
(Kawakami e Galli, 2002), sendo assim capazes
de liberar mediadores pró-inflamatórios no local,
corroborando para o estabelecimento do processo
inflamatório. Sendo assim, os basófilos podem aparecer como auxiliares e subverter a função das CD na
apresentação de antígenos. Quando isso ocorre,
elevadas concentrações de IL-4 são produzidas pelos
basófilos e mastócitos, ocorrem alterações do perfil
imunológico, direcionando o sistema imunitário para
uma resposta mediada por células Th2 e consequentemente por IgE (Yoshimoto et al., 2009).
Durante uma infecção parasitária, o sistema imunitário controla tanto o número de parasitos presentes
no organismo quanto à resistência a infecção, mas
também pode induzir a doença associada ao parasitismo. As células T desempenham papel muito
importante, tanto diretamente, por mediarem respos-
RPCV (2010) 105 (573-576) 11-20
tas celulares, quanto indiretamente, na regulação e
produção de citocinas e anticorpos (Belkaid e Tarbell,
2009). A ativação e diferenciação de células Th1
têm sido associadas à TLR, fato esse ainda não
demonstrado nas respostas mediadas por células Th2.
As respostas mediadas por Th2 podem ser dependentes de outros, ainda não-caracterizados, tipos de
PPRs (Schnare et al., 2001).
O principal mecanismo de defesa contra protozoários que sobrevivem dentro de macrófagos é
através da imunidade mediada por células, principalmente através da ativação dos próprios macrófagos,
por citocinas derivadas das células Th1 (Martinez et
al., 2009).
Imunidade adquirida
Os linfócitos T constituem-se de duas principais
subpopulações: as células T CD4+ e as células T
CD8+. Em resposta aos antígenos protéicos dos
micro-organismos, as células T CD4+ auxiliares
podem se diferenciar em subpopulações de células
efetoras, que produzem distintos grupos de citocinas.
As subpopulações de células T CD4+ auxiliares
efetoras são denominadas de Th1, Th2 e Th17, sendo
o INF-γ, a IL-2 e o TNF as citocinas características
de Th1, e a IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13 as citocinas
características de Th2. O INF-γ secretado pelas
células Th1 promove a diferenciação de Th1 e inibe a
proliferação das células Th2. De outro modo, a IL-4
produzida pelas células Th2 promove a diferenciação
das próprias células Th2 e, juntamente com IL-10,
inibe a ativação das células Th1. A diferenciação para
subpopulações de células Th1 e Th2 está relacionada a
três fatores: as citocinas presentes no ambiente da
estimulação, o tipo de célula apresentadora de
antígeno e a natureza e quantidade do antígeno (Hailu
et al., 2005). A IL-12 é a principal indutora das células Th1, indicando que essa citocina tem participação
no processo de resistência à infecção, com conseqüente aumento da produção de INF-γ (Santos-Gomes
et al., 2002). A principal função das Th1 é a defesa
mediada por fagócitos, especialmente no combate a
micro-organismos intracelulares; enquanto a de Th2
ocorre nas reações imunes mediadas por IgE e pelos
eosinófilos/mastócitos (Hailu et al., 2005).
Animais infectados com Leishmania spp podem
desenvolver uma infecção sintomática resultando em
morte, enquanto outros permanecem assintomáticos,
ou desenvolvem um ou poucos sintomas e são classificados como oligossintomáticos (Barbieri, 2006). Os
animais sintomáticos apresentam algumas alterações
imunológicas que envolvem as células T, dentre elas a
ausência de hipersensibilidade do tipo retardado
(DTH) (Cardoso et al., 1998; Solano-Galego et al.,
2000), diminuição do número de células T no sangue
periférico (Martinez-Moreno et al., 1995; De Luna et
15
Freitas JCC et al.
al., 1999) e ausência de INF-γ e IL-2 (Pinelli et al.,
1995; 1999; Santos-Gomes et al., 2002).
A resistência à infecção está associada à ativação de
células T CD4+ Th1 específicas para Leishmania spp,
que produzem INF-γ, IL-2 e o fator de necrose
tumoral-γ (TNF-α) e, desse modo, ativam os macrófagos para destruírem as amastigotas intracelulares, via
produção de óxido nítrico, como já foi demonstrado
em estudo realizado com cães infectados com L.
infantum (Vouldoukis et al., 1996). Já a participação
das citocinas de Th2 na LCan ainda não foi bem
definida. Entretanto, em infecções humanas com L.
chagasi, o aumento da produção de IL-10 tem
apresentado correlação com patologia (Ghalib et al.,
1993). Fato esse que confirma que, a ativação de
células Th2 resulta no aumento da sobrevivência do
parasito e na exacerbação das lesões, em razão das
ações supressivas de suas citocinas nos macrófagos
(Brachelente et al., 2005). Evidências de uma resposta
mista de Th1 e Th2 têm demonstrado o aparecimento
de cães assintomáticos, com os níveis de IL-2, INF-γ
e IL-10 aumentados. Entretanto, a produção de IL-2 e
INF-γ predominaram nos cães assintomáticos e a
expressão de IL-10 não foi conclusiva para as
infecções sintomáticas (Santos-Gomes et al., 2002;
Chamizo et al., 2005). A expressão aumentada de
mRNA IL-4 não foi observada nas células do sangue
periférico dos cães assintomáticos, contudo essa
citocina foi detectada em cães assintomáticos estimulados por antígeno leishmanial solúvel (SLA)
(Chamizo et al., 2005). Já nos animais sintomáticos,
IL-4 foi detectada em aspirados de medula óssea de
cães que apresentavam os mais severos sinais clínicos
da doença (Quinnell et al., 2001). Essa polarização
não é regra geral para todos os casos de infecções
causadas por Leishmania spp, e isso se deve ao fato da
participação de células T regulatórias (Treg) (Miyara e
Sakaguchi, 2007).
Células Treg são subpopulações de células T que
apresentam atividade supressiva, essenciais na
manutenção da homeostase, através da interação
célula-célula e/ou pela produção de citocinas como a
IL-10 e TGF-β (Miyara e Sakaguchi, 2007, Belkaid e
Tarbell, 2009). Essas células podem ser divididas
em dois tipos principais, de acordo com sua origem,
geração e mecanismo de ação: as células que expressam naturalmente o fator de transcrição forkhead box
P3 (Foxp3+), que se desenvolvem normalmente no
timo e as células Treg induzidas (iTreg), que se desenvolvem no sangue periférico através de uma diferenciação das células CD4+, depois de serem expostas a
alguns sinais como citocinas regulatórias, drogas
imunossupressivas ou a algumas APCs, adquirindo a
capacidade de secretar IL-10 e TGF-β (Sakaguchi et
al., 2008).
Treg são classicamente definidas por expressarem a
cadeia α do receptor para IL-2 (CD25). Além desta,
também expressam membros da família do receptor
16
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para o TNF, CD39 e CD73, além de altos níveis de
receptor para folato (Shevach et al., 2006; Deaglio et
al., 2007; Yamaguchi et al., 2007). Entretanto, nenhum
desses marcadores é especifico para as células Treg,
podendo ser expressos por outras células T ativadas. Já
o fator de transcrição Foxp3 é o principal marcador
para as células Treg (Shevach et al., 2006). Ficou
demonstrado que o Foxp3 orquestra os programas
celulares e moleculares envolvidos na função das
células Treg através da interação com outros fatores de
transcrição como o fator nuclear de células T ativadas
(NFAT) e fator nuclear k de células B ativadas
(NF-κB). A atividade do fator nuclear de células T ativadas (NFAT) é controlada por cálcio e por proteínas
dependentes de cálcio e formam complexos com
NF-κB e promovem a expressão de IL-2 e IL-4, além
de outros genes, que contribuem para a ativação das
células T e sua diferenciação em células T efetoras
(Sakaguchi et al., 2008). IL-2 tem fundamental
importância para as funções das células Treg, propiciando a proliferação e diferenciação das células T. O
receptor de IL-2 tem alta afinidade com o marcador
CD25 que é essencial para o desenvolvimento das
células Treg (Belkaid et al., 2002; Sakaguchi et al.,
2008). A participação das células Treg no controle da
infecção por L. infantum já foi descrita em humanos e
camundongos (Gantt et al., 2003; Campanelli et al.,
2006).
A participação dos linfócitos T CD8+ na resistência
a LCan ainda não está bem documentada. Esses
linfócitos são normalmente detectados em cães assintomáticos e não nos cães sintomáticos, sugerindo que
ocorra lise dos macrófagos pelo linfócito T citotóxico,
representando então um mecanismo adicional na
resistência à infecção (Pinelli et al., 1995).
Colaborando com esse achado, em estudo realizado
com cães infectados com L. infantum, foi observada
uma redução dos níveis de células T CD4+ e T CD8+ e
após o tratamento, os níveis normais dessas células
foram reestabelecidos (Bourdoiseau et al., 1997).
Diversos estudos já foram realizados com o objetivo
de se elucidar o perfil de imunoglobulinas (Ig) nos
cães. Vem sendo estudada o papel da IgG na resposta
imunitária a Leishmania spp , sobretudo às subclasses
de IgG: IgG1 – IgG4. As concentrações séricas de IgG
obedecem a ordem de IgG1 > IgG2 > IgG3 > IgG4,
entretanto esses estudos precisam ser ainda mais
aprofundados, principalmente no que se refere ao
conhecimento da função de cada subclasse, como a
habilidade de carrear proteínas e carboidratos, fixar
complemento, opsonizar, entre outras. Além disso,
ainda não há evidências que associe as subclasses de
IgG caninas com populações imunoregulatórias
específicas (i.e. Th1 versus Th2) ou uma resposta
imunitária dominada por um perfil de citocinas polarizados (Day, 2007).
Entretanto, alguns estudos vêm sendo realizados,
onde se caracteriza o perfil de Ig na LCan. A partir de
Freitas JCC et al.
então, chegou-se a conclusão de que a correlação
direta entre a indução de altos títulos de IgG1
anti-Leishmania e o aparecimento de sinais clínicos
foi demonstrada em cães infectados, enquanto anticorpos IgG2 foram associados com cães assintomáticos
(Iniesta et al., 2005). No entanto, em estudo realizado
em cães com diferentes formas clínicas de LCan, foi
observado que animais assintomáticos possuíam
níveis de IgG1 elevados, que decaíam à medida que
havia progressão dos sintomas, e que níveis elevados
de IgG2 estariam associados com a morbidade (Reis,
2001). Também foi observada forte relação entre
títulos de IgG total e IgG2 em cães sintomáticos
(Almeida et al., 2005). Além disso, sugere-se que a
produção policlonal de anticorpos anti-Leishmania,
que inclui também a produção de IgE, poderia caracterizar a resposta mediada por Th2 na LCan. A
hipótese segundo a qual susceptibilidade e resistência
estão associadas à produção de anticorpos específicos
IgG1 e IgG2 ainda não foi confirmada (Quinnell et
al., 2003). Tem sido sugerido que, cães que desenvolvam resposta imunitária mediada pelas células T
CD4+ são provavelmente capazes de evitar a disseminação do parasito para superfície mucosa e, como
conseqüência, produzem níveis menores ou básicos de
IgA específica, reconhecida como a principal
imunoglobulina componente do sistema imunitário
das mucosas (Rodriguez-Cortes, 2007). As subclasses
de IgG1 e IgG2 têm sido utilizadas como marcadores
para a evolução clínica da LCan, sendo consideradas
mais confiáveis que a determinação de IgG total
(Desplazes et al., 1995).
Conclusões
Durante uma infecção causada por Leishmania spp,
a resposta imunitária é modulada por um sistema integrado que potencializa a imunidade inata e adquirida.
Na última década, uma grande quantidade de
conhecimento tem sido adquirida sobre a participação
dos sinais moleculares na integração da imunidade
inata e adquirida, além do incremento das pesquisas
focadas nos mediadores sistêmicos, os quais têm
crucial participação no direcionamento e controle da
resposta protetora eficiente e nas alterações da sinalização e controle, que podem estar envolvidos na
persistência e/ou aumento da expressão de mediadores
inflamatórios e conseqüentes danos teciduais.
O entendimento da cooperação entre os mediadores
da ativação imune (citocinas) e mudanças celulares
pode propiciar estudos futuros sobre a imunidade do
hospedeiro a parasitas intracelulares.
A compreensão de como o organismo responde a
esse processo infeccioso, além de como esses parasitos
se disseminam nos diferentes órgãos e tecidos, permitirá então diferenciar os casos sintomáticos e assintomáticos nos animais positivos para leishmaniose.
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O conhecimento imunológico das infecções causadas por Leishmania spp poderá fornecer subsídios
para elaboração de fármacos eficazes ao tratamento
dos casos caninos da doença.
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