1 Manual de assistência a pacientes dependentes Carta do Vera Cruz aos cuidadores e aos pacientes dependentes. O Hospital Vera Cruz faz uso de todos os recursos técnicos e humanos da medicina moderna para manter a saúde das pessoas. Assim, essas pessoas poderão desfrutar em sua plenitude a sua vida pessoal, familiar, profissional e social em todas as etapas, com a máxima qualidade possível, do início ao fim de sua vida. Este manual foi elaborado pelo grupo de apoio e orientação aos cuidadores de pacientes dependentes conveniados ao Hospital Vera Cruz, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes dependentes, minimizar o estresse dos cuidadores e familiares, diminuir o grau de dependência do paciente e aumentar a confiança e a autoestima do paciente e de seus cuidadores. Este grupo é formado por uma equipe multiprofissional que realiza o curso de cinco palestras direcionadas a uma pessoa da família que possui um paciente dependente. As palestras são gratuitas e têm duração de uma hora aproximadamente, e acontecem nas dependências da Fundação Roberto Rocha Brito, no Hospital Vera Cruz, sendo necessária a inscrição antecipada. A equipe é composta pelo médico coordenador Dr. Carlos Eduardo Sampaio e pelas áreas de enfermagem, nutrição, fisioterapia respiratória e fisioterapia motora. O curso é organizado pela Fundação Roberto Rocha Brito, mantida pelo Hospital Vera Cruz. Para agendar a participação no curso: Fundação Roberto Rocha Brito Rua Onze de Agosto, 495 - 2º andar Campinas - SP - CEP 13013-900 Tels.: 19 3734-3196 / 3231-0877 e-mail: [email protected] Para informações sobre suporte domiciliar: Hospital Vera Cruz Rua Onze de Agosto, 495 - 3º andar Tel.: 19 3734-3354 e-mail: [email protected] Índice Cuidados: pág. 5 Médicos Enfermagem pág. Nutricionais pág. Fisioterapia Respiratória Fisioterapia Motora Psicológicos pág. 7 20 24 28 40 pág. pág. Cuidados: médicos Cuidador Toda pessoa responsável por suprir as necessidades básicas e vitais de indivíduos enfermos, atuando nas áreas de higiene, nutrição, oferecendo medicação prescrita, mobilização, curativos, etc. O cuidador pode ser Leigo: familiares, elementos da comunidade ou grupo religioso de auxílio, que correspondem à grande maioria, sendo necessário treinamento e orientação para que possam executar essas tarefas. Profissional: profissionais da área de saúde que são contratados para prestar assistência domiciliar. O ato de cuidar requer disposição, atitude, coragem, compaixão, doação e, principalmente, amor pelo enfermo. Dois conceitos básicos devem ser enfocados Autonomia: capacidade de governar sua própria vida. Tomar decisões de forma coerente, racional. Independência: capacidade de poder realizar pelos próprios recursos, por exemplo, não depender de outros para tarefas motoras. Muito importante: todo cuidador deve, dentro do possível, respeitar a autonomia e estimular a independência do paciente. Grupos de pacientes e enfermidades mais comuns: • Sequelados de patologias neurológicas (AVCI, traumas de crânio, hemorragias cerebrais); • Doenças degenerativas cerebrais: Alzheimer, Parkinson; • Idosos doentes; Hospital Vera Cruz 5 • • • • Deficientes físicos; Portadores de câncer em fase avançada; Doenças em geral que cursem com sequelas motoras ou cerebrais; Cuidados dispensados englobam as áreas: médica, de enfermagem, fisioterápica, de nutrição e psicologia. Problemas complexos Identificar os novos agravos à saúde do paciente: • Alteração comportamental aguda do enfermo, com dados como desorientação, agitação, agressividade, sonolência, sempre é um sinal de alerta, sendo a maioria dos episódios provocada por doenças orgânicas, como infecções (pneumonia, urina, pele), alterações metabólicas, efeitos colaterais de medicamentos, elevações pressóricas, etc. Neste caso sempre é necessário avaliação médica; • Presença de quadros depressivos: no paciente, mas principalmente no cuidador; • Estruturação de um ambiente familiar adequado, em que um maior número de pessoas se envolva no ato de cuidar, evitando sobrecarregar um único indivíduo; • Ambiente domiciliar organizado, com disposição de móveis, como cama e poltrona. E ambientes adaptados, como banheiro, que sejam satisfatórios ao paciente e facilitem ao cuidador; • Estar consciente do grau de limitação do enfermo e das características próprias da(s) doença(s): isso faz com que possamos entender e aceitar certos padrões comportamentais do paciente; • Atentar para o fato de que as doenças evoluem (manter contato em caso de dúvida com o médico responsável); • Criar recursos alternativos, a fim de oferecer os cuidados necessários de forma pouco dispendiosa. 6 Manual de assistência a pacientes dependentes Cuidados: enfermagem Cuidados de higiene aos pacientes dependentes A necessidade de higiene está intimamente ligada à recuperação da saúde do paciente. Não só a higiene corporal, que proporciona maior conforto e bem-estar, como também a higiene do ambiente, que protege o doente contra outras doenças, evitando o aparecimento de infecções e controlando sua disseminação. O ambiente onde permanece o paciente deve ser limpo, arejado e com o mínimo necessário para o atendimento às suas necessidades. Isso evita o acúmulo de poeira e facilita a limpeza diária. A higiene pessoal é uma maneira de proporcionar conforto físico. Banho A higiene corporal (banho) deve ser realizada respeitando-se o horário de preferência, a cultura e a privacidade do paciente. Deve-se optar sempre pelo banho de chuveiro e deixar o banho no leito apenas para ocasiões nas quais o paciente esteja impossibilitado de sair da cama. Deve-se estar atento quando da locomoção do paciente ao banheiro, podendo ser necessárias, às vezes, algumas adaptações ambientais, com o objetivo de prevenir quedas e acidentes no percurso ou durante o banho. Entre as adaptações, podemos citar a necessidade de: • • • • • • Barra de proteção sólida; Cadeira de banho ou de plástico (tipo de jardim); Piso não escorregadio ou tapete antiderrapante; Boa iluminação; Suporte de sabonete alcançável; Ausência de degraus no trajeto e no banheiro; Hospital Vera Cruz 7 • Torneiras tipo alavanca. Existem outros cuidados importantes que devem ser levados em consideração para a realização da higiene corporal, como, por exemplo, não permitir que: • A porta do banheiro seja trancada por dentro; • Existam correntes de ar; • A temperatura da água não esteja adequada (considera-se ideal a temperatura entre 26 e 30 graus). Com todos esses cuidados, evitaremos possíveis acidentes e suas complicações. Banho no leito O banho no leito, como já vimos, deve ser realizado quando o paciente estiver impossibilitado de sair dele, como, por exemplo, após derrame, fratura da perna, etc. Se o paciente for muito pesado ou sentir muita dor ao mudar de posição, deve-se contar sempre que possível com a ajuda de outra pessoa, para evitar acidentes e cansaço excessivo do cuidador, além de proporcionar maior segurança e conforto ao doente. Esse é também o momento do cuidador avaliar a integridade da pele, dos cabelos, das unhas e da higiene oral. O primeiro passo importante é organizar todo o material necessário, como: bacia, comadre, água morna, sabão suave, toaIhas, escova de dentes, pasta dental, lençóis, forros plásticos e roupas, evitando assim a interrupção do banho. A higiene dos cabelos é outro aspecto a ser mencionado. Muitos pacientes dependentes, como os idosos, têm a crença de que lavar os cabelos com frequência não faz bem. É importante oferecer orientações a respeito dessa higiene, que serve também como estímulo para a circulação sanguínea do couro cabeludo, além de auxiliá-Ios a secar bem os cabelos. A higiene deve sempre se iniciar pela sequência cabeça-pés: primeiro os olhos, rosto, ouvidos, pescoço. Lavar os braços, o tórax e a barriga, 8 Manual de assistência a pacientes dependentes secando-os e cobrindo-os. Cuidado especial na região sob as mamas nas mulheres, enxugando bem para evitar assaduras e micoses. A seguir passa-se às pernas, secando-as e cobrindo-as. No decorrer do banho colocar um forro plástico e apoiar a bacia com água morna sobre a cama, lavando os pés com água e sabão, realizando a higiene entre os dedos. Observar as alterações físicas na pele e na área entre os dedos dos pés e as condições das unhas. A secagem deve ser rigorosa. As costas deverão ser lavadas, secadas e massageadas com óleos ou cremes hidratantes para ativar a circulação. A higiene dos genitais e da região anal deve acontecer diariamente e após as eliminações urinária e fecal, procurando evitar umidade e assaduras. Se você perceber que o momento do banho é difícil para seu paciente (observar manifestações como gemidos, dor, testa franzida ou agressividade), peça ao médico para avaliar a necessidade de usar um medicamento analgésico, para facilitar o cuidado e diminuir o sofrimento e as contraturas do paciente. Higiene oral A higiene oral deve ser realizada sempre pela manhã, quando o paciente acordar, após as refeições e antes dele dormir, independente se o paciente tiver dentes naturais ou não. A limpeza da boca tem a finalidade de eliminar restos de alimentos, prevenir problemas nos dentes e infecções, estimular a circulação do sangue e deixar uma sensação agradável na boca. Se o paciente tem condições de realizar sozinho a sua higiene oral, você deve providenciar uma escova, um creme dental, um copo com água e uma bacia para ele cuspir. Se o paciente não ajudar na limpeza, o cuidador deverá: • Posicioná-Io adequadamente no leito (sentado num ângulo de 45 graus ou deitado, com a cabeça lateralizada); • Realizar a escovação dos dentes naturais com movimentos firmes, de varredura, num ângulo de 45 graus entre as cerdas da escova e a gengiva, tanto na arcada superior como também na inferior, com Hospital Vera Cruz 9 o intuito de limpar os dentes e massagear a gengiva. Para a parte de cima dos dentes, o movimento deve ser de vaivém. Não se esquecer de limpar e massagear a língua e a mucosa oral. Em seguida, enxaguar com água limpa, desprezando-a no recipiente próprio, repetindo esse procedimento quantas vezes for necessário, até que os dentes, a língua e a mucosa oral estejam limpos; • Realizar a limpeza dos espaços interdentais com fio dental, onde a escova não promove limpeza eficiente, não esquecendo de lubrificar os lábios ao término do procedimento; • Observar durante a realização desse procedimento a cor, a sensibilidade e a integridade dos lábios, gengiva, dentes e mucosa oral, além da presença ou não de mau hálito e adaptação de próteses. Quando o paciente não possuir dentes próprios, é importante lembrar que a higiene da boca é necessária e o cuidado com as dentaduras consiste em escová-Ias após as refeições. Quando a dentadura não estiver em uso, deve ser guardada em um copo com água limpa, em local seguro. Higiene íntima A higiene íntima deve ser realizada sempre após o ato de urinar ou evacuar. Para isso, coloque uma comadre sob as nádegas do paciente. Em seguida, deve-se ensaboar a região genital, no sentido do púbis para o ânus, e então jogar água com um jarro para enxaguá-Ia. Caso os pelos estejam grandes ou muito volumosos, devem ser aparados para facilitar a limpeza. Secar cuidadosamente, evitando assim irritações, prurido e umidade, que podem contribuir para o aparecimento de lesões ou assaduras. Se o paciente realizar ou auxiliar em sua higiene íntima, lavar as mãos dele ao término do procedimento. 10 Manual de assistência a pacientes dependentes O autocuidado Você estará estimulando o autocuidado em seu paciente se: • Observá-Io bem, tentando identificar suas potencialidades; • Dividir o cuidado com ele, fazendo com que o paciente planeje os seus próprios tratos; • Der a ele a oportunidade de realizar alguma tarefa em seu benefício; • Apoiá-Io e elogiá-lo pelo esforço despendido na realização das tarefas. Curativos Toda vez que ocorre a ruptura da pele, surge uma ferida. A ferida mais comum em pacientes dependentes é a úlcera por pressão (também conhecida como escara). O que é uma úlcera por pressão? É uma ferida causada por pressão constante da área do corpo sobre a superfície do colchão, cadeira ou aparelho de gesso. Essa pressão diminui a chegada de sangue na área, prejudicando a nutrição e a oxigenação local. O paciente que fica muito tempo imóvel tem grandes chances de desenvolver escaras ou úlceras por pressão. Úlceras por pressão Fases de formação • Vermelhidão no local da pressão; • Inchaço local com calor, podendo haver a formação de bolha de água; • Destruição das camadas da pele. Áreas em que as escaras aparecem com maior frequência 1. Nos pacientes deitados em decúbito dorsal (costas no colchão) • Atrás da cabeça; • Nas escápulas; Hospital Vera Cruz 11 • • • • Nos cotovelos; No sacro e cóccix; Na coluna vertebral; Nos calcanhares. 2. Nos pacientes deitados em decúbito lateral (Iado esquerdo ou direito) • • • • • • • Nas orelhas; Na face; Nos ombros; Nas costelas; Nas faces laterais da coxa; Nos joelhos; Nos tornozelos. 3. Nos pacientes deitados em decúbito ventral (barriga para baixo) • • • • • • • • • • • 12 Nas orelhas; Na face; Nas mamas; No pênis; Nos joelhos; Nos dedos dos pés; No dorso dos pés; Nas escápulas; Na região sacral; Nos trocanteres; Nos calcanhares. Manual de assistência a pacientes dependentes Fatores que favorecem o aparecimento das úlceras por pressão • • • • • • • • • • • • • • • • Longa permanência no leito; Pressão constante ou prolongada sobre as saliências ósseas; Estado de coma ou inconsciência; Umidade no leito; Pele frágil e debilitada; Circulação sanguínea debilitada; Imobilidade no leito; Idade avançada; Perda involuntária da urina ou das fezes; Emagrecimento ou obesidade; Uso de instrumentos ortopédicos; Falta de cuidado ao colocar comadre; Condições inadequadas de higiene corporal; Desnutrição; Dobras, rugas e migalhas no lençol; Edema (inchaço). Como podemos prevenir as úlceras por pressão • Vigiar constantemente a pele para detectar possíveis alterações (inchaço, vermelhidão, calor local, etc.); • Realizar higiene corporal adequada, através de banhos no leito ou de chuveiro com sabonete neutro; • Manter a higiene do local onde o paciente permanece sentado ou deitado (cama, cadeira de rodas ou poltronas); • Passar creme hidratante na pele do paciente (tipo SANISKIN ou similar) e não usar talco, pois resseca a pele; • Trocar as roupas de cama sempre que necessário. Os lençóis devem estar sempre bem esticados e livres de dobras; • Evitar a presença de objetos pontiagudos junto ao paciente (tesouras, facas, garfos, alfinetes, etc.); Hospital Vera Cruz 13 • Realizar higiene íntima adequada sempre que o paciente evacuar ou urinar; • Usar fraldas descartáveis ou forros de pano, principalmente no período noturno; • Colocar comadre ou papagaio com cuidado para não machucar a pele do paciente; • Promover o alívio da pressão local com travesseiros, almofadas, luvas de água; • Comunicar alterações de pele em pacientes que usem instrumentos ortopédicos; • Levar o paciente aos banhos de sol, sempre que possível, no período da manhã, antes das 10 horas, ou à tarde, após as 16 horas, durante 15 a 30 minutos; • Manter colchão caixa de ovo na cama ou cadeira de rodas; • Cortar e lixar as unhas logo após o banho; • Oferecer água, sucos e chás várias vezes ao dia e em pequenas quantidades; • Manter o bom alinhamento de todas as partes do corpo no paciente acamado ou sentado por longos períodos; • Realizar mudanças de posição e proteger as saliências ósseas; • Realizar massagens de conforto. Como devemos tratar as úlceras por pressão • Uma avaliação médica e de enfermagem faz-se necessária para a definição do tratamento das úlceras por pressão; • O importante é que o paciente, a família e os cuidadores sigam corretamente as orientações fornecidas pelo médico e/ou pela enfermeira; • O tratamento não deve ser interrompido ou suspenso sem autorização; • O curativo deve ser trocado de acordo com a necessidade de cada paciente; • É importante evitar a presença de fezes ou urina diretamente sobre a ferida; 14 Manual de assistência a pacientes dependentes • Toda e qualquer dúvida deve ser esclarecida junto à equipe. Atualmente, o curativo de uma úlcera por pressão se processa basicamente da seguinte forma: Limpar o local com soro fisiológico a 0,9%, em jato direto na ferida; Secar delicadamente com gaze estéril; Aplicar solução de Dersani ou similar; Ocluir o local com gaze e micropore; As grandes áreas de necrose (destruição das camadas da pele) serão debridadas pelo médico ou pelo enfermeiro; As pequenas áreas de necrose serão debridadas com o uso de produtos químicos, como, por exemplo, a papaína a 2%, após a avaliação do enfermeiro ou do médico. Cuidados com medicações Orais • Os medicamentos de uso oral devem ser tomados com água e não com outro tipo de bebida (leite, suco, chá, café ou bebidas alcoóIicas); • Os medicamentos não devem ser manipulados (esvaziar as cápsulas) sem consultar o médico; • Os medicamentos devem ser tomados em pé ou sentado, engolindo sem mastigar, a não ser que seja indicado; • Os medicamentos de uso sublingual devem ser colocados debaixo da língua e deixados até que se dissolvam, não devendo ser ingeridos com água. Hospital Vera Cruz 15 Via sonda nasoenteral É a introdução de comprimidos e medicamentos Iíquidos pela sonda enteral (usada também para alimentos). Os comprimidos deverão ser triturados e misturados em um copo de água. • Com uma seringa de 20 ml, passar o medicamento pela sonda e, após, utilizar mais duas seringas de água filtrada. Fechar a sonda para que o remédio não volte e a sonda não se obstrua. Formas oftalmológicas São colírios e pomadas para aplicação nos olhos. • Deve-se ter cuidado para que a extremidade do frasco não toque nos olhos, para não contaminar; • As preparações oftálmicas, uma vez abertas, devem ser usadas e não é conveniente que sejam aproveitadas novamente; • Para aplicar um colírio, deve-se inclinar a cabeça ligeiramente para trás. Deve-se então baixar a pálpebra inferior, colocando as gotas na cavidade assim formada; • Para aplicar pomadas nos olhos, deve-se inclinar a cabeça para trás, baixar a pálpebra inferior e colocar a pomada na cavidade, nunca diretamente nos olhos. Manter os olhos fechados por um ou dois minutos, para que a pomada possa espalhar-se por igual. Formas para ouvido São formas farmacêuticas para serem aplicadas no ouvido. • Como primeira medida, o frasco deve ser aquecido entre as mãos, devendo-se então reclinar a cabeça com suavidade e virar a orelha para cima e para trás, para que o medicamento penetre; • O conta-gotas deve ser colocado sobre a orelha com cuidado, procurando não encostar. A gota deve cair de modo que deslize pelas paredes do ouvido; • Uma vez colocadas as gotas, é aconselhável permanecer inclinado por alguns minutos; não tampar o ouvido com algodão seco, para não absorver as gotas. 16 Manual de assistência a pacientes dependentes Formas tópicas Consiste na aplicação de medicamentos sobre a pele em forma de pomadas, cremes e outros. Para conseguir um efeito local, a pele deve ser lavada antes de cada aplicação. Depois de cada aplicação, o cuidador deve lavar as mãos cuidadosamente para evitar que o medicamento chegue aos olhos e à boca. Formas de uso retal Consiste na introdução de preparados sólidos (supositórios), cremes ou pomadas no ânus. • Os supositórios devem ser colocados na geladeira para endurecer; • Retirar a embalagem do supositório e introduzi-Io no ânus com a parte mais fina para dentro; juntar as nádegas, fazendo força por alguns instantes; • Evitar as evacuações por uns vinte minutos depois da aplicação, a não ser que o supositório tenha efeito laxante; caso o supositório saia por inteiro, é necessário colocar outro; • Com respeito à aplicação de cremes e pomadas, é necessário primeiramente lavar e secar a área retal. A quantidade a ser aplicada deve ser pequena e distribuída adequadamente. Preparados vaginais São preparados para serem utilizados na vagina. Podem ser de pomadas sólidas (óvulos, comprimidos) ou cremes. • Lembre-se de tirar as embalagens que envolvem os óvulos; • A paciente deve deitar-se e separar as pernas; o remédio deve ser colocado na vagina o mais profundamente possível. Durante uns cinco minutos depois da aplicação, é importante que os quadris continuem um pouco levantados; • Deve-se usar um aplicador para as formas de creme e, uma vez utilizado, limpá-Io com água quente e depois guardá-Io; • Usar de preferência à noite. Hospital Vera Cruz 17 Preparados de uso nasal São medicamentos para serem colocados no nariz. • Antes da aplicação do medicamento, deve-se assoar levemente o nariz. Quando for colocado é preferível respirar pela boca, sentar-se e inclinar a cabeça para trás. Colocar o conta-gotas em um dos orifícios do nariz, sem respirar, apertar o conta-gotas e pingar o número correto de gotas recomendado; • Repetir o mesmo processo no outro orifício nasal; • Manter a cabeça inclinada alguns instantes para que o produto penetre nos pulmões, respirar pela boca e não procurar assoar o nariz nesse tempo. É possível perceber um gosto de medicamento na boca. Dicas gerais • O indivíduo deve ser estimulado a assumir a responsabilidade pelo tratamento, tomando os medicamentos sozinho ou sob orientação, passando os cuidados para outra pessoa somente quando estiver impossibilitado (por exemplo: quando apresentar falhas de memória, deficiência visual e outras limitações); • Caso haja mais de um cuidador responsabilizando-se pela administração de medicamentos, é conveniente anotá-Ios em um papel diariamente e riscá-Ios conforme forem sendo ministrados; • O prazo de validade deve ser observado; • Devem ser utilizados somente medicamentos recomendados por médicos; • As doses devem ser seguidas rigorosamente; • Programe o horário dos medicamentos com atividades do dia (café da manhã, almoço, jantar, etc.); • Lave as mãos com água e sabão antes de pegar nos medicamentos. 18 Manual de assistência a pacientes dependentes Cuidados com pacientes inconscientes A inconsciência é uma condição em que a função cerebral está deprimida. As causas mais comuns são de natureza neurológica, como, por exemplo, traumatismo craniano e derrame. • A acumulação de secreções na faringe representa um sério problema. Como o paciente é incapaz de deglutir e os reflexos faríngeos estão ausentes, essas secreções devem ser retiradas para eliminar o perigo de aspiração; • A elevação da cabeceira do leito a 30 graus ajuda a prevenir a aspiração de secreções; • É necessário realizar aspirações frequentes e também higiene oral; • Para evitar o ressecamento dos lábios, recomenda-se a aplicação de uma fina camada de vaselina; • A mudança frequente de posição é necessária para evitar formação de úlceras de pressão. É indicado também o colchão caixa de ovo; • Toda alimentação e toda medicação oral devem ser oferecidas por sonda enteral; • Deve-se ficar atento aos sinais de constipação intestinal ou diarreias. Se isso ocorrer, procure o médico. Hospital Vera Cruz 19 Cuidados: nutricionais Uma dieta balanceada deve conter alguns nutrientes essenciais para uma boa saúde, sendo eles: 1. Carboidratos - açúcar, pão, batata, macarrão, arroz, etc. 2. Proteínas - carnes, leite, ovos, queijos, feijão, soja. 3. Gorduras - óleos, margarina, azeite. 4. Vitaminas e minerais - frutas e verduras. Para que esses alimentos fossem ingeridos de uma forma equilibrada, foi criada a pirâmide dos alimentos. 20 Manual de assistência a pacientes dependentes Dicas da pirâmide 1. GRUPO DOS CARBOIDRATOS: 6 a 11 porções/dia. Consuma carboidratos de preferência integrais (arroz integral - 50 g, 1 fatia de pão, biscoitos, cereais). São boas fontes de vitaminas e evitam a obstipação intestinal. 2. GRUPO DAS VERDURAS E LEGUMES: 3 a 5 porções/dia (2 colheres de sopa de legumes = 1 porção). Siga as porções estabelecidas usando sua criatividade, colocando as verduras e legumes em suflês, purês e sopas. 3. GRUPO DAS FRUTAS: 2 a 4 porções/dia (1 maçã = 1 porção). Acrescente as frutas em vitaminas, mingaus e purês. 4. GRUPO DOS LATICÍNIOS: 1 a 3 porções/dia (100 ml de leite = 1 porção). 5. GRUPO DAS CARNES: 2 a 3 porções/dia (1 bife de 100 g = 1 porção). Acrescente caldo natural de carne em sopas, feijão e outras preparações. 6. GRUPO DOS ÓLEOS E GORDURAS: Usar em pequena quantidade, evitando a gordura de origem animal e dando preferência para o óleo de canola associado ao óleo de soja. A quantidade que uma pessoa deve ingerir desses nutrientes depende de vários fatores, como: idade, sexo, altura, atividade física, tipo de doença e as condições do paciente: mastigação, deglutição e digestão. Hospital Vera Cruz 21 Cuidado para não sobrecarregar a capacidade digestiva da pessoa. Procure dividir a dieta em pequenas porções durante o dia. Quando a ingestão alimentar por via oral (boca) não estiver sendo satisfatória, há a necessidade de suplementação através de dietas específicas – suplementos nutricionais – ou mediante alimentação por sonda (dieta enteral). Isso é feito para evitar perda de peso, má cicatrização de feridas, diarreia, obstipação, inchaços e vômitos. A nutrição enteral é o fornecimento de nutrientes em forma Iíquida diretamente no tubo digestivo, sem depender do apetite e da colaboração do paciente. Esses nutrientes são absorvidos na corrente sanguínea e utilizados pelo corpo. Os materiais necessários para a nutrição enteral são: 1 - Sonda jejunal; 2 - Equipo simples; 3 - Frasco descartável; 4 - Seringa (20 ml). Obs.: Bomba de infusão apenas em situações especiais. Alguns cuidados são importantes na infusão da dieta enteral, como: 1 - Manter o paciente sentado ou com a cabeceira da cama elevada; 2 - Infundir a dieta lentamente para evitar diarreia, distensão abdominal, vômitos e má absorção; 3 - Fracionar a dieta durante o dia (de acordo com orientação do nutricionista); 4 - Infundir água filtrada nos intervalos - quantidade a ser definida pelo médico ou pelo nutricionista; 5 - Limpar a sonda com seringa com água morna nos intervalos da dieta. 22 Manual de assistência a pacientes dependentes A dieta enteral pode ser preparada de várias maneiras, podendo ser caseira ou industrializada. Porém, atualmente não há mais indicação de dieta caseira, somente quando a família não dispuser de condições socioeconômicas para adquirir. Quando o paciente não aceita a dieta enteral ou em casos específicos determinados pelos médicos, é prescrita a dieta parenteral, que consiste na oferta de nutrientes através da veia. A nutrição parenteral só é utilizada quando não houver outra alternativa para alimentação e seu controle deverá ser rigoroso. Hospital Vera Cruz 23 Cuidados: fisioterapia respiratória O objetivo da fisioterapia respiratória é proporcionar aos cuidadores informações básicas dos cuidados respiratórios considerados importantes para o bem-estar do paciente. Adequação ambiental 1 - O quarto deve estar sempre bem arejado e ser higienizado corretamente para não acumular poeira. 2 - Manter no quarto apenas o que for necessário para utilização do paciente e do cuidador. 3 - Receber sol com moderação em algum período do dia. Higiene das vias aéreas superiores Solicitar ao paciente que assoe o nariz. Se ele não conseguir, limpar com cotonetes as crostas que costumam acumular (no nariz) , com cotonetes. Em pacientes com muita idade ou que tenham alguma patologia cuja deglutição é mais lenta, o cuidador deve higienizar também a boca do paciente, impedindo que se acumulem resíduos que poderiam provocar uma possível microaspiração de alimento. Depois de realizada higiene do nariz e da boca, se possível solicitar tosse e observar se há coloração na secreção. Higiene brônquica Mudanças de decúbito São importantes para evitar acúmulo de secreção. Devemos, portanto, ter a preocupação de proporcionar posições em que o tórax esteja sempre livre, visando favorecer a ventilação do paciente. 24 Manual de assistência a pacientes dependentes • A orientação acima deve ser observada quando sentamos o paciente; • Movimentar braços e pernas respeitando a amplitude de movimento do paciente aumenta o fluxo respiratório. Isso favorece a tosse quando a secreção se encontra em vias aéreas mais proximais; • As manobras de higiene brônquica devem ser feitas quando o paciente apresentar um quadro de hipersecreção pulmonar com dificuldade de tossir e expectorar. COMO FAZER? As manobras devem ser feitas sempre sob a orientação do fisioterapeuta. Essas manobras são: tapotagem, vibração, tosse assistida e aspiração (quando necessária). A aspiração pode ser: Nasotraqueal, orotraqueal e traqueal Aspiração nasotraqueal ou orotraqueal: A sonda é introduzida pelo nariz ou pela boca do paciente, respectivamente. Este procedimento deve ser realizado de maneira correta, evitando stress respiratório ao paciente. Devemos tomar alguns cuidados quanto a estas aspirações em pacientes com uso de sonda enteral para alimentação. Aspiração traqueal: Ao iniciar a aspiração a sonda deve estar aberta, e a aspiração deve ser realizada somente no momento da expiração do paciente. • No caso de pacientes que fazem uso de oxigênio, o mesmo deve estar sempre perto da traqueo no momento da aspiração. Hospital Vera Cruz 25 Higiene do mandril Manter sempre o mandril da traqueostomia bem limpo (mandril é a peça que se encaixa dentro da traqueostomia e que deve ser retirada para a higiene). Essa limpeza deve ser feita duas vezes ao dia em paciente sem muita secreção, podendo ser intensificada a partir do momento em que a secreção aumente. COMO FAZER? Limpeza do mandril: depois de retirado, o cuidador deve colocá-lo embaixo de uma torneira com água corrente para deixar que a água limpe a secreção. Após isso, deve passar uma gaze de um lado para o outro do mandril, limpando as secreções ressecadas, que obstruem a luz do mesmo. Após a aspiração nunca devemos aproveitar a mesma sonda, pois a sonda que fica em qualquer recipiente, seja este com água ou não, pode estar favorecendo uma infecção. • Não é necessário o uso de luvas estéreis para estes procedimentos. Exercícios respiratórios • • • • Utilização de incentivadores respiratórios (Respiron); Respiração diafragmática; Exercícios de braço associados à respiração; Estimular caminhadas , se for possível ao paciente, em ambientes arejados. Caminhadas proporcionam um treinamento no qual a frequência cardíaca do paciente aumenta e, consequentemente, sua frequência respiratória, estimulando assim um treinamento aeróbico; • Se o paciente estiver fazendo o uso de inaladores, estar atento à melhor posição em que ele deve estar durante esse procedimento, conforme orientação do fisioterapeuta; • Sentado com o corpo ereto, solicitar que ele respire profundamente durante a inalação. 26 Manual de assistência a pacientes dependentes Inaladores Existem vários tipos de inaladores no mercado. Caso o cuidador tenha dúvidas, solicitar orientação à equipe de fisioterapia. Aspiradores Existem vários modelos no mercado, porém o mais indicado é o AspiraMax. Oxigênio Pacientes que fazem uso de oxigênio devem seguir rigorosamente a orientação prescrita pelo médico. Quando procurar um médico Toda vez que o cuidador observar: 1. Que o paciente se apresenta agitado; 2. Que aumenta a frequência respiratória; 3. Que aumenta a frequência cardíaca; 4. Que aumenta a secreção ou há mudança de coloração; 5. Sensação de cansaço; 6. Sudorese; 7. Febre. Orientação ao cuidador O paciente deve receber todas estas solicitações (tosse, exercícios respiratórios, inalação, etc.) de uma maneira respeitosa e objetiva, jamais como uma ordem, pois isso fará com que ele se sinta inútil. Tratá-lo sempre pelo nome e nunca infantilizá-lo. Hospital Vera Cruz 27 Cuidados: fisioterapia motora Adequação ambiental: adequação da mobília 1) A escolha do quarto Este deve estar em um local de fácil acesso e comunicação com os outros cômodos da casa, que facilite o deslocamento dos cuidadores e do paciente. • O quarto do paciente deve conter apenas o necessário, ou seja, móveis e utensílios para o uso do paciente. Retirar tapetes, cortinas, tudo o que prejudique a saúde do paciente e dificulte o trabalho do cuidador; • A cama deve estar posicionada de maneira que o paciente possa acompanhar toda a movimentação do ambiente, e no caso de paciente com “derrame”, que ele olhe pelo lado “afetado” para as atividades gerais ou de seu próprio interesse. Exemplo: TV, porta do quarto e outros; • O quarto deve permanecer sempre com ventilação e iluminação adequadas. É necessário que haja uma cômoda ou mesa próxima à cama, onde estarão os objetos de uso diário do paciente e do cuidador, facilitando o seu trabalho rotineiro, bem como em uma emergência. Exemplo: medicamentos, luvas, sondas de aspiração, gazes, etc; • O quarto deve conter também uma poltrona para que o paciente não permaneça o tempo todo deitado, permitindo assim uma maior integração dele com o ambiente. De preferência a poltrona deve ser confortável e favorecer a postura mais adequada possível. Ela deve estar próxima à cama, facilitando a mudança da cama para a poltrona e vice-versa. 28 Manual de assistência a pacientes dependentes Hospital Vera Cruz 29 2) Banheiro Devem ser feitas algumas modificações e adequações do ambiente, como, por exemplo: colocação de barras de proteção ao redor do vaso sanitário e do bidê e próximo ao box, para o paciente se deslocar com segurança e o máximo de independência. 3) Outros cômodos Recomendações Gerais Os outros cômodos da casa não devem possuir pisos escorregadios, nem deve ser passada cera no chão. Os pisos devem ser, preferencialmente, porosos, que não escorreguem muito. Os ambientes não devem conter muita mobília. Devem ser mais largos, maiores, bem arejados e ventilados. A distribuição dos móveis deve ser feita de maneira a possibilitar o fácil deslocamento do paciente e do seu cuidador, seja andando com andador ou bengala, seja na cadeira de rodas. 4) Posicionamento do paciente no leito Introdução O posicionamento ideal deve proporcionar ao paciente conforto, comodidade, segurança e liberdade aos movimentos, para que possam ser realizados o mais cedo possível. O paciente deve estar sempre em posições que facilitem o seu manuseio pelo cuidador, evitando assim complicação na postura de ambos (paciente e cuidador), como, por exemplo, luxações de ombro, quadril, coluna, dores musculares, etc. Ao posicionar o paciente, o cuidador deve fazê-Io com cautela e, se possível, com a ajuda de outra pessoa, sendo necessário orientá-Io a respeito do que está sendo feito o tempo todo (ex.: “agora a senhora vai sentar-se na cama e depois vai para a cadeira”). 30 Manual de assistência a pacientes dependentes Dicas de posicionamento Deitado de costas O braço “afetado” deve estar estendido sempre com um travesseiro embaixo, para seu relaxamento; e a perna “afetada” deve estar fletida (joelho dobrado) e também com um travesseiro ou almofada embaixo dela, para um melhor relaxamento. Deitado de lado (em cima do lado “afetado”) O paciente deve ficar com o braço “afetado” em extensão (esticado) à frente do seu corpo, com apoio total no leito (apoiado sempre por um travesseiro ou almofada). As pernas devem permanecer dobradas, com travesseiro entre os joelhos. Hospital Vera Cruz 31 Deitado em cima do lado não “afetado” O paciente deve ficar com o braço estendido à frente do seu corpo, por cima do outro e com um travesseiro entre eles. Sentado em cadeira ou poltrona A coluna do paciente deve estar em posição correta (alinhada), totalmente apoiada no encosto da poltrona (desde o pescoço até o bumbum); Pernas fletidas (dobradas), com quadris e joelhos fletidos (a 90°) e os pés totalmente em contato com o chão; Braços apoiados nos “braços” da poltrona ou cadeira, com os cotovelos dobrados e os ombros alinhados, próximos ao corpo do paciente. Obs.: O posicionamento dos braços na poltrona pode ser reforçado por travesseiros ou almofadas do mesmo tamanho, favorecendo um bom alinhamento. Esse posicionamento é válido também para quando o paciente estiver na cadeira de rodas. 32 Manual de assistência a pacientes dependentes 5) Manuseio do paciente na mudança dos decúbitos Para o manuseio do paciente durante as mudanças de posição ou lugar, é necessário que o cuidador seja cauteloso e explique a ele tudo o que está sendo feito, a fim de evitar colocar em risco sua saúde e a do paciente. Transferência da cama para a poltrona ou cadeira Muitas lesões podem ser provocadas no ombro e na coluna do paciente se essa transferência for realizada de maneira errada. • A cadeira deverá ser colocada ao lado da cama. O paciente é rolado sobre o lado em que ele tem maior dificuldade de movimentação; • O cuidador coloca uma das mãos sobre o ombro comprometido do paciente, leva suas pernas para a borda da cama com a outra mão e coloca-o sentado; • O paciente pode apoiar-se sobre o cotovelo “comprometido”, colocando seu peso sobre ele. O paciente, com as mãos entrelaçadas à sua frente, ajuda a se mover para a borda da cama, escorregando sobre o bumbum; Hospital Vera Cruz 33 • O cuidador coloca os braços sobre os ombros do paciente, com as mãos apoiadas nas costas do mesmo, na altura dos ombros, enquanto as pernas calçam os pés e os joelhos do paciente. Os braços do paciente são colocados em torno da cintura do cuidador ou nos seus ombros, não devendo entrelaçar as mãos. Seu tronco é puxado para a frente e para baixo, a fim de que o peso se distribua igualmente nas pernas; • Sem levantar o paciente, o cuidador fixa os ombros e os joeIhos dele, girando-o para colocá-Io sentado na cadeira. Obs.: O mesmo procedimento acima descrito é utilizado também para transferir o paciente da cama para a cadeira de rodas, ou da cadeira de rodas para a poltrona, ou de volta para a cama. 34 Manual de assistência a pacientes dependentes 6) Orientações aos cuidadores no sentido de prevenção de úlceras por pressão, vícios posturais e deformidades a) Prevenção de úlceras por pressão O mais importante na prevenção de úlceras por pressão é a mudança de posição. O paciente deve ser mudado de posição de hora em hora. À medida que ele consiga permanecer mais tempo na mesma posição, pode-se mudá-Io de 2 em 2 horas ou até de 3 em 3 horas. Um outro item importante na prevenção de escaras é o posicionamento, já citado anteriormente. Uma dica importante para prevenir escaras é utilizar apoios para evitar o atrito da cama ou da cadeira com as áreas mais propensas ao desenvolvimento de escaras, como, por exemplo: • ombros, cotovelos; • base da cabeça (próximo à nuca); • nádegas; • região lateral das nádegas; • ossos do tornozelo e calcanhares. Esses apoios podem ser: • Almofadas para desencostar essas regiões da cama, da cadeira, etc. • É muito importante e fundamental que os cuidadores observem constantemente, nas regiões já citadas, o aspecto da pele (cor, textura, brilho, etc.); • se ela se apresenta avermelhada; • se a vermelhidão concentra-se em uma grande região ou apenas em pequenos pontos; • se a coloração da pele permanece igual, no mesmo tom, após a manipulação, se escurece ou se desaparece; • se existem bolhas. Nesse caso é necessário muito cuidado para que elas não se rompam, formando feridas que podem ser contaminadas e causar dor ao paciente; Hospital Vera Cruz 35 • É necessário também observar as condições do lençol, forro e vestuário do paciente. Eles devem ser mantidos sempre Iimpos, secos e sem dobras, a fim de evitar o desconforto e/ou prejudicar a circulação da pele do paciente. b) Vícios posturais O que é um vício postural? É quando o indivíduo permanece em posições erradas, prejudicando ou aumentando ainda mais suas dores e/ou limitações de movimentos. Se esses vícios não forem corrigidos a tempo, podem causar deformidades irreversíveis, prejudicando até mesmo o tratamento dos fisioterapeutas. c) Deformidades As deformidades ocorrem quando o indivíduo adota vícios de postura, provocando o encurtamento dos tecidos moles (isto é, dos tendões e Iigamentos) e o alongamento de outros nas articulações (nas juntas). Dessa maneira, as juntas ficam rígidas (duras), provocando assim deformidades de difícil correção. Prevenção As deformidades podem ser prevenidas com um posicionamento cuidadoso do paciente dependente: na cama, poltrona e cadeira de rodas (como já foi descrito no item sobre posicionamento). Esse posicionamento deve ser feito de maneira que o paciente não permaneça por um período prolongado em uma mesma posição. Os membros e o tronco devem ser colocados em uma variedade de posições durante o dia, procurando alternar as posições de braços e pernas durante a permanência do paciente em uma mesma postura (sentado ou deitado). 36 Manual de assistência a pacientes dependentes 7) Prevenção de lesões nos cuidadores Este item visa orientar os cuidadores quanto à prevenção de lesões e maus hábitos de postura. A seguir, encontram-se algumas orientações quanto à postura do cuidador durante a mudança de posição do paciente no leito ou fora dele. Nas mudanças de posição do paciente no leito, o cuidador deve estar: próximo à cama, do lado oposto para o qual irá virar o paciente. Por exemplo: ao virar o paciente para o lado esquerdo, o cuidador coloca-se à direita do paciente. Suas pernas devem estar afastadas de tal modo que ele consiga maior equilíbrio e sustentação. Os joelhos devem estar levemente flexionados, permitindo que o cuidador se movimente para baixo e para cima, como se fosse uma alavanca que impulsiona seu corpo durante a transferência, não muito inclinado, permitindo assim que o mesmo gire livremente com os braços durante a mudança de posição. Essa postura permite ao cuidador realizar as mudanças de posição sem grandes esforços e prevenir lesões e/ou alterações posturais. Durante as transferências do paciente da cama para a cadeira de rodas ou para a poltrona, o cuidador deve primeiramente posicioná-Ia próximo à cama e, em seguida, colocar o paciente sentado no leito. O cuidador deve permanecer sempre à frente do paciente, mantendo durante todo o tempo a coluna alinhada, o quadril encaixado (glúteos contraídos), as pernas afastadas e os joelhos semiflexionados. Os braços devem estar soltos, favorecendo maior liberdade de movimentos. Hospital Vera Cruz 37 Alongamentos da cervical e de membros superiores Circular (rodar) a cabeça, dando uma volta inteira, e repetir para o outro lado (faça 3 vezes) Pender a cabeça para a frente e contar até 15, depois para trás e para o lado (faça 3 vezes) Trazer o braço fletido contra o peito (tórax). Com a mão oposta colocada sobre o cotovelo, empurre o braço em direção ao peito, alongando-o. Repetir com o outro braço. Mantenha a posição, contando até 15, sem sentir dor, somente um leve estiramento. Não flexione a coluna cervical para a frente. Tente ficar reto (faça 3 vezes). 38 Manual de assistência a pacientes dependentes Alongamento da cervical e membros Estenda o braço esquerdo à frente do corpo e coloque a mão direita sobre a esquerda, empurrando-a para baixo em direção ao corpo. Faça o mesmo com a mão esquerda voltada para cima. Repita o alongamento com o braço direito. Execute cada um dos dois movimentos separadamente. Mantenha cada posição, contando até 15, sem sentir dor, somente um leve estiramento (faça 3 vezes). Alongamento da lombar Paciente deitado de costas (decúbito dorsal) 1° Flexionar as duas pernas (membros inferiores), até apoiar os pés no colchão. 2° Faz-se o alongamento puxando uma das pernas contra o peito (tórax) e mantendo a outra flexionada e o pé de apoio no colchão. 3° Puxar as duas pernas juntas contra o peito (tórax), devendo permanecer flexionadas. O alongamento deve ser feito com 3 repetições de cada um, contando-se 15 segundos para cada alongamento, e deve-se manter a perna ou pernas alongadas em flexão ao retornar ao colchão (ao fim do alongamento); não se deve estender (esticar) a perna alongada. Hospital Vera Cruz 39 Cuidados: psicológicos Dentro dos aspectos psicológicos veremos o que é ser um cuidador, qual o perfil e as características psicológicas necessárias, bem como do seu paciente, com o objetivo de realizar um auxílio no relacionamento, para o restabelecimento da saúde aos pacientes dependentes. 1. O que é ser um cuidador? • Ao sermos um cuidador, não podemos nos limitar a servir algumas horas, segundo o que consideramos nossa disponibilidade; • É imperioso que nos disponhamos a servir sempre, onde estivermos, com a gloriosa iniciativa de fazer o que geralmente esperamos que os outros façam conosco; • Ser cuidador não se trata de um comportamento para determinadas situações, e sim de uma atitude perante a VIDA; • Os cuidadores têm que desenvolver algumas aptidões, como a CONVIVÊNCIA E O AMOR, para exercitar as excelências da CARIDADE. É preciso também: • Ter cuidado com as palavras e os gestos, pois eles são muito sentidos; • Evidenciar o ambiente do lar, porque é sempre mais restabelecedor; • Solicitar a participação familiar, para melhor divisão das tarefas de cuidar; • Saber e ter paciência para ouvir o paciente. SER PERSEVERANTE. Essa característica: Não se instala do dia para a noite; Nem desaparece da noite para o dia; Demanda tempo e vontade do cuidador. 40 Manual de assistência a pacientes dependentes 2. O que é ser um paciente dependente? • É a pessoa que vivencia a ocorrência da transformação dos órgãos e de todo o sistema do corpo humano; • Tem que aprender a lidar com a situação de tomar remédio todos os dias; • Na maioria das vezes, não tem condições de tomar decisões; • Às vezes apresenta dificuldades para dormir; • Muitas vezes questiona os acontecimentos difíceis e dolorosos, enveredando por caminhos de rebeldia. Missão do cuidador: Combater a DEPRESSÃO do paciente dependente. 3. Dicas para o sucesso entre cuidadores e pacientes dependentes • • • • • • • • • Não ter segredos, porque gera desconfiança; Incentivá-Io a ficar ao lado da natureza; Incentivá-Io a passear, se possível; Incentivá-Io a permanecer ao lado de pessoas queridas, pois é mais restabelecedor; Incentivá-Io a rezar constantemente, se for hábito pessoal; Incentivá-Io a usar roupas alegres, ouvir música; Incentivá-Io a fazer o que gosta; Incentivá-Io a escrever, documentar a sua vivência; Incentivá-Io a ler, pois ocupa a mente, ou ler para ele. Hospital Vera Cruz 41 4. Mensagem final Ser um cuidador não pode ser um problema. Deve ser uma bênção. Cuidar de alguém que não tem condições de cuidar de si mesmo é, sobretudo, uma rara oportunidade de realizarmos todos os dias um grande e verdadeiro ato de amor. Se hoje temos saúde e energia de sobra para ajudar a um próximo que está tão próximo, como nada acontece por acaso, é legítimo imaginar que esta missão possa merecer como recompensa a ajuda futura de mãos tão preciosas quanto as nossas. Aqui, ou mesmo em outras dimensões, cuja magnitude e beleza transcendem nossos conhecimentos, compreensão, entendimento e sabedoria. Vocês, Cuidadores e Pacientes Dependentes, não estão sozinhos. Estão com o Hospital Vera Cruz. Cuidemo-nos. 42 Manual de assistência a pacientes dependentes Anotações __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ Hospital Vera Cruz 43