Figura 22. Localização celular de moléculas da família gp82 reconhecidas pelo anticorpo policlonal anti-C03 em cepas do grupo T. cruzi I (262 e 1161) ou II (SC e Y). Tripomastigotas metacíclicos vivos ou permeabilizados foram incubados com o anticorpo anti-C03 e processados para visualização em microscópio de fluorescência. Notar a localização predominantemente flagelar nas cepas do grupo T. cruzi I permeabilizadas. 36 Expressão de moléculas da família gp82 em outras formas do T. cruzi Os genes codificadores de proteínas dos tripanossomatídeos estão organizados em unidades transcricionais policistrônicas, como ocorre nos procariontes (Ullu et al., 1996). Sendo assim, mRNA de proteínas estágioespecíficas podem ser transcritos nas outras formas do parasita. Em análises de transcrição do gene gp82, foram detectadas pequenas quantidades de mRNA em epimastigotas, amastigotas e tripomastigotas (Carmo et al., 1999, Manque et al., 2003, Songthamwat et al., 2007). Restava saber se os transcritos gp82, presentes nas outras formas do parasita além das formas metacíclicas, são traduzidos em proteínas. Para responder a essa pergunta, analisamos a expressão de moléculas da família gp82 nas formas epimastigotas, amastigotas e TCT, das cepas G e CL, por “immunoblot” revelados com os anticorpos indicados (Fig.23). Na cepa CL, o MAb 3F6 reagiu com moléculas gp82 somente das formas metacíclicas, corroborando dados anteriores. O anticorpo policlonal anti-J18, além das formas metacíclicas, reconheceu bandas de 60-100 kDa das formas TCT, uma banda de ~110 kDa de amastigotas intracelulares e bandas de ~70 e 82 kDa de amastigotas extracelulares. O anticorpo policlonal antiC03, além das formas metacíclicas, reconheceu bandas das formas TCT de ~82 e 95 kDa e não reconheceu nenhuma molécula de amastigotas (Fig.23A). Na cepa G, o MAb 3F6 também reagiu com moléculas gp82 somente das formas metacíclicas. O anticorpo policlonal anti-J18, além das formas metacíclicas, reconheceu bandas de 67-100 kDa das formas TCT e bandas de ~70 e 82 kDa de amastigotas extracelulares. O anticorpo policlonal anti-C03, além das formas metacíclicas, reconheceu uma banda de ~95 kDa das formas TCT e uma banda de ~67 kDa de formas amastigotas extracelulares (Fig.23B). Os dados mostram que moléculas da família gp82 sem o epítopo do MAb 3F6 são expressas em todas as formas do T. cruzi, exceto em epimastigotas. Porém, a expressão é diferencial entre as cepas G e CL. Além disso, os anticorpos policlonais anti-J18 e anti-C03, apesar de apresentarem 37 reatividade cruzada (Fig.3 do artigo), reagem com diferentes membros da família gp82 nas formas do parasita analisadas. A Cepa CL B Cepa G Figura 23. Expressão de moléculas da família gp82 em diferentes formas do T. cruzi. Extratos dos parasitas foram analisados por “immunoblot” com os anticorpos indicados. (A) Cepa CL. (B) Cepa G. E, epimastigotas, M, formas metacíclicas, T, tripomastigotas de cultura de tecido, AI, amastigotas intracelulares, AE, amastigotas extracelulares. Os números à esquerda indicam as massas moleculares (kDa). 38 Capítulo 3 Indução de apoptose em células de melanoma pela gp82 em sua forma recombinante Artigo: “A recombinant protein based on Trypanosoma cruzi surface molecule gp82 induces apoptotic cell death in melanoma cells” Atayde, V., Jasiulionis, M.G., Cortez, M., Yoshida, N. Melanoma Research, 2008, 18: 172-183 39 O melanoma inicia-se a partir da transformação maligna do melanócito, célula produtora de pigmento encontrada na lâmina basal da epiderme. Essa transformação ocorre devido a di versos fatores genéticos, epigenéticos e ambientais (Satyamoorthy & Herlyn, 2002, Correa et al., 2005). Normalmente, os melanócitos sintetizam melanina e a transferem em grânulos aos queratinócitos subjacentes, que a armazenam. Essa pigmentação protege contra os danos causados pela radiação ultravioleta solar (Ueda & Richmond, 2006) (Fig.24). Figura 24. Melanócitos na lâmina basal da epiderme. Em destaque está a transferência de grânulos de melanina aos queratinócitos (training.seer.cancer.gov). A linhagem de melanócitos melan-a, derivada de camundongo C57BL, possui características de melanócitos normais, exceto senescência e resposta proliferativa ao PMA (phorbol-12-myristate-13-acetate), ativador da PKC (Bennett et al., 1987, Furstenberger et al., 1981). A partir de melan-a, foi estabelecida a linhagem de melanoma Tm5, que apresenta crescimento independente de PMA, menores tempos de duplicação e diferente adesividade 40 a componentes da matriz extracelular. Além disso, Tm5 é altamente tumorigênica in vivo (Oba-Shinjo et al., 2006). A incapacidade das células em entrar em apoptose (Fig.25) contribui para a patogênese de diversos cânceres, incluindo o melanoma (Hanahan & Weinberg, 2000, Herlyn et al., 2002). Figura 25. Vias clássicas de indução da apoptose. Na via extrínseca, é ativada a caspase-8. Na via intrínseca, é ativada a caspase-9. IAP, c-FLIP, Bcl-2, HSP70 e HSP90 são inibidores endógenos da apoptose. Bax e p53 são indutores (adaptado de Heussler et al., 2001). 41 A morte celular por apoptose é induzida por duas vias principais: uma extrínseca, que envolve os membros da família de receptores do TNF (fator de necrose tumoral) com recrutamento e ativação da caspase-8, e outra intrínseca, através da liberação do citocromo C mitocondrial e sua interação com Apaf-1 no citoplasma, com ativação da caspase-9 (Fig.25). As duas vias, que possuem conexões entre si (Taylor et al., 2008), convergem para ativar as caspases efetoras 3, 6 e 7, responsáveis pelas alterações específicas da apoptose: condensação e clivagem do DNA, exposição da fosfatidilserina na porção externa da membrana plasmática e fragmentação celular em corpos apoptóticos (Fig.26), dentre outras (Heussler et al., 2001, Fulda & Debatin, 2006). A liberação do citocromo C é controlada pela família bcl-2 de proteínas, que tem sua transcrição regulada pelo fator NF-κB, constitutivamente ativo em células de melanoma (Richmond, 2002, Fecker et al., 2005, Amiri and Richmond, 2005, Ueda and Richmond, 2006). Figura 26. Corpos apoptóticos observados por microscopia eletrônica de varredura. Os corpos apoptóticos não permitem o extravasamento do conteúdo intracelular no tecido, protegendo-o de inflamação (mun.ca). Durante a apoptose, o citoesqueleto de actina, responsável pelo formato, motilidade celular e transdução de sinais exteriores (Ho et al., 2008), é alvo das caspases efetoras. Mudanças na dinâmica da actina filamentosa (F-actina), por sua vez, induzem a ativação das caspases (Leadsham & Gourlay, 2008). 42 O aumento do “turnover” da F-actina promove a longevidade celular, enquanto que a diminuição pode induzir a apoptose (Gourlay & Ayscough, 2005, Thomas et al., 2006). Drogas que alteram a dinâmica da F-actina, como a citocalasina D, ativam a apoptose em células humanas e murinas através de uma via caspase-3-dependente (Posey & Bierer, 1999, Yamazaki et al., 2000, Odaka et al., 2000, Boldogh & Pon, 2006). Ainda não se sabe ao certo por qual mecanismo a caspase-3 é ativada nesses casos. A proteína recombinante J18, baseada na molécula de superfície gp82 de formas metacíclicas do T. cruzi (Araya et al., 1994), induz despolimerização do citoesqueleto de actina, efeito análogo ao da citocalasina D (Cortez et al., 2006b) (Fig.27). Esse efeito é dependente da liberação de Ca +2 induzida por J18 na célula hospedeira (Ruiz et al., 1998, Cortez et al., 2006b). Figura 27. Diminuição das fibras de actina em células HeLa tratadas com J18 ou citocalasina D por 30 minutos. Verde: actina, azul: núcleos (Cortez et al., 2006b). As interações entre a actina e as mitocôndrias, que agem como sensores da diminuição do “turnover” da actina, são centrais na regulação da apoptose pelo citoesqueleto. (Gourlay and Ayscough, 2005, Leadsham & Gourlay, 2008). Quando a actina é estabilizada, um canal iônico voltagemdepentente (VDAC) da mitocôndria é aberto, permitindo a liberação de moléculas apoptogênicas como citocromo C, AIF e smac (Gourlay & Ayscough, 43 2005). Além disso, alguns membros da família bcl-2 podem interagir diretamente com VDAC, determinando a permeabilidade da membrana mitocondrial (Tsujimoto, 2002). Transições na permeabilidade alteram o potencial transmembrânico, um dos primeiros sinais apoptóticos de células de mamíferos (Simeonova et al., 2004) (Fig.28). Figura 28. Regulação de VDAC pela actina. A redução na dinâmica da actina pode levar à redução no potencial mitocondrial e indução da apoptose após a liberação de fatores apoptogênicos (adaptado de Gourlay & Ayscough, 2005). Muitas evidências experimentais mostram que infecções com diversos patógenos, como Salmonella typhimurium (Pawelek et al., 1997), Toxoplasma gondii (Hunter et al., 2001) ou Trypanosoma cruzi (Oliveira et al., 2001), podem retardar ou inibir o crescimento de tumores malignos, inclusive dos melanomas, em animais e humanos. Para explicar o efeito antitumoral das infecções pelo T. cruzi, alguns pesquisadores propuseram a existência de uma toxina secretada pelos parasitas, outros a ocorrência de resposta imune contra antígenos das células tumorais (Cabral, 2000). 44 Pouco se sabe sobre a produção de fatores solúveis ou secretados por patógenos que podem agir nas células tumorais, causando sua morte. A proteína azurina, de Pseudomonas aeruginosa, entra em células de melanoma humano e induz apoptose devido ao aumento dos níveis intracelulares de p53 (Yamada et al., 2002). Uma fração rica em lipídeos, isolada de promastigotas de Leishmania donovani, induz apoptose em melanomas de camundongo e humano (Ratha et al., 2006). Evidências sobre as propriedades antitumorais do T. cruzi mostram o efeito citotóxico direto de lisados dos parasitas sobre células tumorai s in vitro (Kallinikova et al., 2001, Sheklakova et al., 2003), efeito que deve existir devido ao potencial pró-apoptótico que é visto em algumas moléculas do T. cruzi contra células do sistema imune. Uma dessas moléculas é a transialidase (Freire-de-Lima et al., 1998, Borges et al., 2005, Mucci et al., 2006). Nosso principal objetivo foi investigar o efeito pró-apoptótico da proteína gp82 recombinante (J18) sobre células do melanoma Tm5, comparado ao efeito sobre a linhagem de melanócitos melan-a. Os resultados mostraram que o tratamento com J18 induz a despolimerização da F-actina somente nas células do melanoma Tm5, levando à indução da apoptose através da ativação da caspase-3. Sinais apoptóticos específicos como encolhimento nuclear e citoplasmático, exposição da fosfatidilserina e fragmentação do DNA nuclear, foram observados. Também notamos a perda do potencial transmembrânico e a localização citoplasmática de NF-kB decorrentes do efeito de J18 no citoesqueleto de actina. 45 Experimentos complementares: Análise da proteína recombinante J18: Uma questão em relação à proteína recombinante J18 que não havia sido ainda determinada é como ela se apresenta na forma purificada, se como monômero, dímero ou aglomerado protéico. Para responder a essa pergunta, purificamos uma preparação de J18 por gel filtração em sistema FPLC e obtivemos três principais picos correspondentes a: proteínas maiores de 160 KDa representando aglomerados de J18, proteínas de aproximadamente 160 kDa representando dímeros de J18, proteínas de aproximadamente 80 kDa representando monômeros de J18 (Fig.29A). Submetemos as frações 11 a 43 à SDS-PAGE em condições desnaturantes, seguido de “immunoblot” revelado com o MAb 3F6. Como mostrado na Figura 29B, bandas de aproximadamente 80 kDa foram detectadas nas frações 14 a 30 e uma maior quantidade de proteína foi detectada nas frações 20 a 24, representando aglomerados e dímeros de J18 (>160 kDa e ~160 kDa). Selecionamos algumas frações representantes dos diferentes picos da gel filtração e submetemos à eletroforese não-desnaturante seguida de “immunoblot” e revelação com o MAb 3F6. Foram detectadas bandas maiores de 80 kDa, atingindo até ~230 kDa, principalmente nas frações 21 e 24, representantes dos picos de proteínas maiores de 160 kD a e de ~160 kDa (Fig.30). O efeito inibitório de J18 sobre a invasão celular de formas metacíclicas é conhecido. Para comparar com o efeito de J18 na sua forma monomérica, dimérica ou oligomérica, realizamos experimentos com as seguintes preparações: frações 11, 21, 24 e 27, a preparação completa de J18, o sobrenadante e o “pellet” de uma preparação de J18 centrifugada a 13.000 rpm por 15 minutos. A inibição da invasão foi semelhante (~40%) para todas as amostras, exceto para a fração 11, que foi utilizada como controle (Fig.31). 46 Figura 29. Purificação da proteína recombinante J18 por gel filtração em sistema FPLC. (A) Uma preparação de J18 foi purificada em coluna cromatográfica de gel filtração Superdex HR200 em sistema FPLC, como descrito (Amino et al., 2002). (B) As frações de 0.5 ml coletadas foram submetidas à SDS-PAGE e “immunoblot” revelado com o MAb 3F6. Notar o reconhecimento das frações 14 a 30 pelo MAb 3F6, de acordo com os picos do gráfico. 47 Figura 30. “Immunoblot” de preparações da proteína recombinante J18 submetidas à SDS-PAGE não-desnaturante. As frações coletadas da gel filtração (11, 21, 24 e 27), a proteína total (J18), a proteína centrifugada (C), ou o “pellet” (P) foram submetidos à SDS-PAGE não-desnaturante, transferidos à membrana de nitrocelulose e revelados com o MAb 3F6. Notar o reconhecimento de bandas maiores de 80 kDa principalmente nas frações 21 (> 160 kDa) e 24 (~160 kDa). Os números à esquerda representam as massas moleculares (kDa). Figura 31. Invasão celular de formas metacíclicas da cepa CL na presença de preparações da proteína recombinante J18. Formas metacíclicas da cepa CL foram incubadas por 1 hora com células HeLa (10: 1) na presença das frações coletadas da gel filtração (11, 21, 24 e 27), da proteína total (J18), da proteína centrifugada (C), ou do “pellet” da centrifugação (P), na concentração final de 40 µg/ml. O total de parasitas em 100 células foi estimado contando-se lamínulas coradas com Giemsa em duplicatas (500 células por lamínula). Experimento representativo de três experimentos independentes. 48 Com esses resultados, mostramos que uma preparação de J18 contém proteínas com diferentes níveis de agregação e que essas diferentes formas têm a mesma capacidade de interagir com a célula hospedeira, competi ndo com os parasitas no momento da invasão. Dessa maneira, obtivemos mais informações em relação ao preparado (J18) utilizado no tratamento das células melan-a e Tm5. Imagens de tumores em camundongos infectados com T. cruzi Camundongos C57BL/6 foram infectados com formas metacíclicas de duas cepas de T. cruzi expressando ou não a gp82 na superfície, cepas G e Y*, respectivamente. Três semanas após a infecção, os camundongos receberam células do melanoma Tm5 (2 x 10 5) por via subcutânea na região dorsal e o desenvolvimento dos tumores foi acompanhado. Os volumes tumorais foram significativamente menores nos animais infectados com a cepa G, comparados aos volumes tumorais dos camundongos infectados com a cepa Y* ou dos camundongos não-infectados, como mostrado na figura 9 do artigo (Fig.32). Y* Figura 32. Desenvolvimento tumoral (20 dias pós-inoculação de células Tm5) em camundongos infectados com T. cruzi. 49 Discussão Nosso principal objetivo foi caracterizar a família gp82 de proteínas do T. cruzi. Até o início desse projeto, somente a gp82 de superfície, identificada pelo MAb 3F6 e envolvida na invasão celular das formas metacíclicas, havia sido descrita. Mostramos que membros da família gp82 são expressos intracelularmente e que alguns têm localização diferenciada em parasitas dos grupos T. cruzi I e II. Ao contrário das glicoproteínas gp82 reativas com o MAb 3F6, específicas das formas metacíclicas (Teixeira & Yoshida, 1986), outras moléculas da família foram detectadas nas formas TCT e amastigotas. Descrevemos ainda o efeito antitumoral da gp82 de superfície em sua forma recombinante, propriedade nunca antes descrita para outro componente do T. cruzi molecularmente definido. Na primeira parte do estudo, investigamos as bases da avirulência das formas metacíclicas do clone CL-14, derivado da cepa CL. Descobrimos que a baixa infectividade desses parasitas está associada com a reduzida expressão da gp82 na superfície, reforçando o papel central da molécula na infecção pelo T. cruzi. Além de invadir cerca de quatro vezes menos do que a cepa CL in vitro, as formas amastigotas do clone CL-14 não foram capazes de se replicar em células HeLa mantidas a 37 oC. Esse resultado está de acordo com achados anteriores onde foi mostrado que a temperatura permissiva para a diferenciação do clone CL-14 em células não-fagocíticas é de 33oC (Almeidade-Faria et al., 1999). A temperatura como um fator do hospedeiro na inibição do desenvolvimento intracelular é compatível com nossa observação de que as formas metacíclicas do clone CL-14 não produzem parasitemia patente em camundongos infectados por via oral. Uma vez que a infecção oral por formas metacíclicas da cepa CL é extremamente eficiente e é dependente da gp82 de superfície (Neira et al., 2003), a deficiência na expressão dessa molécula no clone CL-14 seria o único fator responsável pela baixa infectividade, não fosse seu desenvolvimento limitado pela temperatura. Na infecção oral, além de promover a invasão das 50 células da mucosa gástrica, foi descrito que a interação entre a gp82 e a mucina é fundamental (Neira et al., 2003). No estudo de formas metacíclicas de cepas do T. cruzi gp82-deficientes, observou-se que essas são pouco infectivas em camundongos por via oral, embora a invasão celular in vitro seja eficiente devido à expressão da glicoproteína gp30, que tem características similares à gp82 (Cortez et al., 2003). Gp30 liga-se à célula hospedeira de maneira receptor-dependente e induz sinal de Ca +2, propriedade associada à invasão celular. Entretanto, ao contrário da gp82, a capacidade de ligação da gp30 à mucina gástrica é reduzida (Cortez et al., 2003). No caso do clone CL14, as formas metacíclicas não expressam na superfície nem a gp82 nem a gp30, e são pouco invasivas tanto in vivo como in vitro. As formas metacíclicas do clone CL-14 e da cepa G assemelham-se quanto à baixa infectividade e aparentemente prescindem da gp82 para invadir a célula hospedeira. É possível que o clone CL-14, como a cepa G, faça uso da gp35/50 para interagir com a célula hospedeira. Entretanto, a gp35/50 expressa no clone CL-14 é uma variante da gp35/50 da cepa G, que reage com o MAb 2B10 mas não é reconhecida pelo MAb 10D8 (Mortara et al., 1992). Embora as formas metacíclicas da cepa G expressem gp82 na superfície em níveis comparáveis aos da cepa CL, a interação da gp82 com a célula hospedeira é prejudicada pela gp90, molécula que modula negativamente a penetração do parasita (Málaga e Yoshida, 2001). O clone CL-14 expressa baixos níveis de uma molécula variante da gp90 da cepa G, reconhecida pelo MAb 5E7, mas não pelo MAb 1G7 (Yoshida, 2006). Nesse caso, a gp90 provavelmente não atua como modulador negativo da invasão. Na segunda parte do estudo, analisamos a expressão e a localização de moléculas da família gp82 em formas metacíc licas das cepas G e CL. Para isso, isolamos um novo membro, que não contém o epítopo do MAb 3F6. Quando alinhamos as seqüências de aminoácidos dos clones C03 (gp82) e Tc85 (gp85 das formas TCT), observamos 57,2% de identidade, indicando que o novo clone é parte da família gp85/trans-sialidase. As duas seqüências possuem semelhanças na região N-terminal, que é inexistente no clone J18 (gp82). J18 e Tc-85 apresentam 53,3% de identidade (Fig.33). 51 Figura 33. Alinhamento das seqüências de aminoácidos dos clones J18, C03 e Tc85. J18 (AAA21303), C03 (EF445668) Tc85-11 (AAD13347.1). Preto: representa 100% de identidade, amarelo: motivos Asp, rosa: motivo VTV, verde: sinal de âncora GPI, vermelho: regiões do epítopo do MAb 3F6 e do sítio de adesão celular do clone J18, azul: sítio de ligação à laminina do clone Tc-85. Um achado interessante desse trabalho foi a marcação predominantemente flagelar do anticorpo policlonal anti-C03 em formas metacíclicas de cepas do grupo T. cruzi I. O flagelo dos tripanossomatídeos é único e multifuncional, atuando na motilidade, quimiotaxia, sinalização e invasão celular. Muitas moléculas do T. cruzi associadas ao flagelo têm sido descritas. Uma delas, cuja função ainda não se conhece, tem 160 kDa (FL-160) 52 e é codificada por uma família gênica que é parte da grande família gp85/transsialidase. Essa proteína é expressa em formas TCT, na membrana do bolso flagelar, região de onde emerge o flagelo (Van Voorhis et al., 1993). Um membro dessa família gênica, FL-160-CRP, é expresso na superfície dos parasitas, mas não é expresso no flagelo. Na análise dos transcritos da FL160-CRP, variações nas seqüências foram associadas com a divisão das cepas em grupos T. cruzi I e II (Mathieu-Daudé et al., 2008). Se o anticorpo anti-C03 pode ser usado como um marcador de cepas do grupo T. cruzi I, ainda precisa ser estabelecido. A função dos membros da família gp82 expressos no flagelo é desconhecida. Em comparação com o clone J18, os clones C03 e Tc-85 apresentam diversas substituições de aminoácidos nas regiões do epítopo do MAb 3F6 e do sítio de adesão celular da gp82 (Fig.33). Talvez por isso a gp85 não tenha sido reconhecida pelo anticorpo monoclonal em extratos de formas TCT das cepas G ou CL, nos ensaios de “immunoblot”. Porém, como possuem diversos epítopos comuns, os anticorpos policlonais anti-J18 e anti-C03 reagiram com um conjunto de moléculas dessas formas, que possivelmente inclui a gp85 (Fig.23). Em relação à adesão celular, foi descrito que a molécula de superfície gp85 contém sítios de ligação à laminina e à citoqueratina 18 (CK18) (Giordano et al., 1999, Magdesian et al., 2001), interações que podem promover ou facilitar a invasão das formas TCT. Utilizando peptídeos sintéticos, Giordano et al. (1999) mapearam o sítio de adesão do clone Tc-85 à laminina (peptídeo TGETPLEPFGFCFGA). Dos 15 aminoácidos que compõem a região referente ao peptídeo de ligação à laminina, o clone J18 possui apenas 5 em comum, sugerindo que se essa molécula também interage com a laminina é através de outro sítio (Fig.33). A Tc-85 interage com a CK18 através do motivo VTV, que aumenta a invasão das formas TCT (Magdesian et al., 2007). O clone J18 possui esse motivo na região subterminal (Fig.33), e a sua relevância na adesão do parasita à célula é discutível. 53 Outras moléculas das formas TCT, além da gp85, interagem direta ou indiretamente com moléculas da matriz extracelular (ECM). A gp83, molécula de superfície de 83 kDa, aumenta a expressão da laminina-γ1 em células musculares humanas após a exposição à sua forma recombinante. A superexpressão da laminina torna as células mais susceptíveis à infecção (Nde et al., 2006). A gp83 tem 32,8% de identidade na seqüencia de aminoácidos com o clone J18 e 32,3% com o clone C03. É possível que os anticorpos policlonais anti-C03 e anti-J8 reconheçam epítopos da gp83 das formas TCT das cepas G ou CL, como visto na figura 23. Foram também detectadas, nas formas TCT, proteínas ligantes de heparina e heparan sulfato de aproximadamente 59 e 65,8 kDa, e essa ligação está envolvida na invasão de cardiomiócitos. Uma delas pode ser a penetrina, previamente descrita, que possui as mesmas características (Ortega-Barria & Pereira, 1991, Oliveira Jr. et al., 2008). A serino-protease POP Tc80, hidrolisa colágeno dos tipos I e IV e fibronectina, provavelmente como modo de facilitar a migração através da ECM (Grellier et al., 2001, Bastos et al., 2005). Também foi mostrado que formas TCT possuem um receptor de superfície para a fibronectina (Ouaissi et al., 1984). A ligação de moléculas do T. cruzi à laminina, heparan sulfato, fibronectina e outros componentes, pode ser essencial na migração dos parasitas através da ECM em direção às células-alvo. É importante lembrar que, de maneira similar, a gp82 interage com a mucina gástrica, facilitando o acesso das formas metacíclicas às células do epitélio gástrico durante a infecção oral (Neira et al., 2003). Até o momento, o receptor celular da gp82 de superfície não foi identificado. Além disso, a qual componente da ECM se liga a gp82 também não é conhecido. Foi mostrado que formas TCT entram em células epiteliais preferencialmente pela porção baso-lateral (Schenkman et al., 1991c). Se isso ocorrer também com as formas metacíclicas, uma hipótese seria que a gp82 contém sítios de interação com componentes da lâmina basal, já que essas formas, quando iniciam a infecção no hospedeiro vertebrado, invadem células epiteliais. A gp82 parece não interagir com colágeno tipo IV, 54 presente na lâmina basal (Ramirez et al., 1993). Resta saber se interage com a laminina. Na terceira parte do estudo, ocorreu-nos a idéia de examinar a ação de J18 sobre as células de melanoma, em função das propriedades dessa molécula reveladas em trabalhos anteriores. Cortez et al. (2006b) observaram que J18 induz a despolimerização da F-actina de células HeLa. Levantamos a possibilidade de que o tratamento das células com J18 por tempo prolongado levaria, em última instância, à morte celular. Nos diversos experimentos, J18 mostrou efeito seletivo sobre as células do melanoma Tm5, mas não sobre as células parentais não tumorigênicas, melan-a. Esse efeito não se deve à falta do receptor para essa molécula nas células melan-a, pois J18 liga-se a estas células do mesmo modo que às células Tm5. Uma possibilidade é que, após a ligação de J18 ao seu receptor, vias de sinalização distintas sejam induzidas nas duas linhagens, levando à desestruturação dos filamentos de actina somente nas células de melanoma (Fig.34). Em células HeLa, foi mostrado que a despolimerização da F-actina é dependente de sinal de Ca+2, deflagrado após a ativação de uma via de sinalização ainda desconhecida (Cortez et al., 2006b). Segundo dados da literatura, a citocalasina D induz morte celular por apoptose em células transformadas através da ativação da caspase-3 (Yamazaki et al., 2000) sendo estas mais susceptíveis do que células normais (Odaka et al., 2000). O fato das células tumorais conterem menor quantidade de F-actina do que células e tecidos normais (Verderame et al., 1980, Varani et al, 1983, Rao et al., 1990), poderia explicar a diferença entre as susceptibilidades de melan-a e Tm5 à J18. Como J18 tem ação similar à da citocalasina D (Cortez et al., 2006b), analisamos o tipo de morte induzida por esta molécula nas células Tm5 e encontramos diversas evidências de apoptose. O primeiro evento apoptótico detectado foi a ativação da caspase-3, provavelmente responsável pela ocorrência dos eventos subseqüentes (Fig.34). Não observamos ativação das caspases 8 e 9. Algumas moléculas do T. cruzi apresentam efeito contrário ao de J18. A transialidase inibe a apoptose em células de Schwan humanas, através de uma via ativada pela PI-3 quinase 55 (Chuenkova et al., 2001). A cruzipaína, cisteína protease envolvida na invasão, crescimento e diferenciação do T. cruzi (Murta et al., 1990, Paiva et al., 1998, Meirelles et al., 1992, Scharfstein et al., 2000), quando inativada, promove a sobrevivência de cardiomiócitos de culturas primárias de camundongos através da indução da expressão de Bcl-2, molécula anti-apoptótica (Aoki et al., 2006). Figura 34. Representação esquemática da via apoptótica ativada em células do melanoma Tm5 pelo tratamento com J18. A ligação de J18 com seu receptor (J18R) na célula Tm5 leva à desorganização do citoesqueleto de actina com ativação da caspase-3, responsável pela exposição da fosfatidilserina (PS), perda do potencial da membrana mitocondrial (ψm), inibição da translocação de NF-κB ao núcleo e fragmentação do DNA nuclear, fenômenos apoptóticos. Entre parênteses estão os tempos de tratamento. 56 Uma possibilidade que não foi confirmada em nossos estudos é a ativação da caspase-3 nas células Tm5, via ativação da caspase-12. A caspase12, que está envolvida na indução da apoptose após estresse de retículo endoplasmático (Liu et al., 1998, Rao et al., 2002, Xie et al., 2002, Hitomi et al., 2003) poderia, em seguida, ativar a caspase-3 nas células Tm5. Outra molécula que poderia estar envolvida na ativação da apoptose em células Tm5 é a calpaína, cisteína protease citossólica também intimamente relacionada com a via de estresse de retículo endoplasmático. Essa enzima é ativada por Ca +2 e tem como alvo a caspase-12, ativando-a (Vandenabeele et al., 2005). Investigamos ainda o efeito tumoricida de J18 in vivo. O desenvolvimento do melanoma Tm5 foi significativamente mais lento em camundongos tratados com J18 na região tumoral. Eventualmente, esses resultados poderiam ser melhorados com outras dosagens de J18 e/ou tempo de tratamento. O bloqueio da translocação de NF-kB ao núcleo in vitro pode ser também a causa da inibição do crescimento de células Tm5 in vivo. Esse resultado contrasta com resultados recentes com a transialidase em sua forma recombinante que, ao invés de inibir, ativa a translocação de NF-kB ao núcleo de células endoteliais humanas. Esse resultado é também observado quando as células são tratadas com lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano (Dias et al., 2008). Contudo, não podemos descartar a hipótese de que o J18 tenha outra ação in vivo, diferente da observada in vitro. Talvez o crescimento dos tumores seja reduzido pela indução de alterações importantes no microambiente tumoral que, por sua vez, eliminariam as células tumorais dos tecidos. Quanto à proteção ao desenvolvimento tumoral pela infecção com o T. cruzi, descrita em diversos trabalhos, confirmamos esses achados infectando camundongos com a cepa G, que é pouco infectiva, porém expressa altos níveis de gp82 na superfície, e com a cepa Y*, uma amostra da cepa Y, isolada inicialmente por Silva & Nussenzweig (1953) de um paciente na fase aguda da doença de Chagas. Formas metacíclicas de Y* expressam somente a gp30 na superfície. Apesar das formas metacíclicas existirem por pouco tempo no hospedeiro vertebrado, observamos significativa redução tumoral em camundongos pré-infectados com a cepa G. Em contraste, camundongos pré57 infectados com a cepa Y*, que não expressa a gp82 reativa com o MAb 3F6, mas expressa outros membros da família gp82 reconhecidos pelo anticorpo policlonal anti-J18, foram incapazes de conter o crescimento tumoral. A associação entre esses dados e os dados referentes à gp82 recombinante (J18) não é clara. O que pode ser hipotetizado é que moléculas da família gp85/trans-sialidase, que têm seqüências em comum com a gp82, e que são expressas em tripomastigotas sanguíneos, exerçam o papel de reduzir o desenvolvimento dos tumores. Para citar um exemplo, a trans-sialidase presente na corrente sanguínea, secretada pelos parasitas, possui a característica de induzir a apoptose de células do sistema imune do hospedeiro (Mucci et al., 2006). Outra molécula que poderia ser responsável pela redução tumoral é a gp85 expressa pelas formas sanguíneas da cepa G, uma vez que vimos que as duas moléculas, gp82 e gp85 possuem epítopos comuns. Seria interessante investigar se a gp85 de fato possui efeito antitumoral como observamos com a gp82 recombinante. Outra explicação para a redução tumoral em camundongos infectados com a cepa G seria a de que membros da família gp82 expressos por formas sanguíneas ou amastigotas, quando liberados no meio extracelular ou na corrente sanguínea, pudessem agir nas células tumorais. Os membros da família gp82 expressos por formas metacíclicas da cepa Y* não teriam função antitumoral. Segundo Cabral (2000), a redução dos tumores de camundongos infectados com T. cruzi ocorreria pelo desenvolvimento de uma resposta autoimune contra as células tumorais, devido à lise daquelas infectadas com o parasita. Essa resposta ocorreria devido ao extravasamento e exposição do conteúdo celular no meio extracelular. Alguns estudos mostram a autoimunidade à miosina cardíaca desenvolvida em camundongos ou humanos infectados com T. cruzi. Porém, não se sabe ao certo se é resultado da lise e destruição celular, ou da reatividade cruzada entre antígenos do parasita e do hospedeiro (Engman & Leon, 2002). Dessa maneira, existe a possibilidade de ocorrer reatividade cruzada entre moléculas dos parasitas da cepa G e das células tumorais. 58 Nossos estudos abrem perspectivas para o estudo das proteínas da família gp82, principalmente dos membros que possam ter funções diferentes da função da gp82 de superfície, como por exemplo, os flagelares. Em trabalhos subseqüentes, esses membros devem ser caracterizados funcionalmente. 59 Referências Bibliográficas Acosta-Serrano, A., Schenkman, S., Yoshida, N., Mehlert, A., Richardson, J.M. & Ferguson, M.A., 1995. The lipid structure of the glycosylphosphatidylinositol-anchored mucin-like sialic acid acceptors of Trypanosoma cruzi changes during parasite differentiation from epimastigotas to infective metacyclic trypomastigote forms. J. Biol. Chem., 270: 27244-27253. 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