CARTA MENSAL ECONOMIA MUNDIAL

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CARTA MENSAL
Fevereiro de 2009
Por George Bezerra
ECONOMIA MUNDIAL
No dia 10 do mês passado, o secretário do Tesouro dos
Estados Unidos apresentou seu, ansiosamente esperado,
Plano de Estabilidade Financeira, que juntamente com o
pacote fiscal já aprovado pelo Congresso, representaria
a primeira ação concreta abrangente do novo governo
para lidar com a crise econômica. Como se sabe, o
Plano foi muito mal recebido pelos agentes econômicos,
em parte por ainda se encontrar incompleto e carente
de algumas definições importantes. Que avanços
ocorreram até o presente momento, quase trinta dias
depois?
Os avanços foram os seguintes:
1º) foi apresentado o plano completo para lidar com a
crise de imóveis residenciais. Os recursos já haviam sido
autorizados pelo Congresso no Emergency Economic
Stabilization Act. Seu principal objetivo é reduzir os
valores dos pagamentos das hipotecas e suas taxas de
juros, de modo a reduzir os foreclosures e tentar segurar
a continuidade da queda dos preços dos imóveis;
2º) foi lançado o plano denominado Consumer and
Business Landing Initiative, destinado a dinamizar
o mercado secundário de empréstimos (através da
securitização), reduzir seus custos e impulsionar
a retomada dos fluxos de crédito. O programa foi
ampliado para beneficiar os mercados de empréstimos
a pequenas empresas, estudantes, consumidores e
hipotecas comerciais. O programa utilizará US$ 200
bilhões oriundos do Term Asset Backed Securities Loan
Facility (TALF) do FED, ampliados com recursos do
Tesouro para até US$ 1 trilhão.
Estão sendo realizados os stress tests em um
conjunto de bancos que poderão necessitar de recursos
adicionais para sua capitalização. Estes testes tentam
avaliar perdas potenciais em um cenário hipotético de
dois anos adicionais de recessão, em que a taxa de
desemprego continue subindo e os preços dos imóveis
continuem caindo. Aqueles bancos para os quais estes
testes indicarem necessidade adicional de capital
poderão tentar obtê-lo de fontes privadas ao longo de um
prazo de até 6 meses. Caso não o consigam, o governo
voltará a suprir estes recursos por meio da compra de
ações preferenciais (conversíveis em ordinárias) que
pagam 9% de dividendos. Este programa deverá ser
financiado com recursos do TARP que serão colocados
em um Financial Stability Trust.
O governo continua trabalhando no plano que prevê
a constituição do Public-Private Investment Fund,
destinado a criar um mercado para os ativos tóxicos que
se encontram nas carteiras dos bancos. Foi anunciada a
intenção de comprometer recursos totais de até US$ 1
trilhão com este programa, que teria início com metade
deste valor. Há informações de que o plano ainda não
está completo em todos os seus detalhes e se verifica
uma dose elevada de ceticismo no mercado acerca da
sua viabilidade e potencial de sucesso.
Tanto o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke,
quanto o secretário do Tesouro, Timothy Geitthner, têm
reafirmado a posição do governo contrária à alternativa
de estatização do sistema bancário. Mas alguns
analistas acreditam que as perdas dos bancos, que até
agora totalizaram algo em torno de US$ 1 trilhão, poderão
alcançar cifras entre US$ 2 e US$ 3 trilhões de dólares.
Diante disso, várias opiniões respeitáveis, incluindo
a de Allan Greenspan, consideram que a alternativa
de estatização ainda poderá se impor ao governo
americano - diante da incapacidade deste conjunto de
medidas em andamento de impedirem a continuidade
das perdas do sistema bancário e seus efeitos danosos
sobre o aprofundamento e prolongamento da recessão.
Em pronunciamento recente Ben Bernanke deixou
claras as suas expectativas de que a atividade econômica
nos Estados Unidos continue enfraquecendo, ao longo
dos próximos meses.
Permanece, portanto, um ambiente de grandes
incertezas sobre a evolução da economia americana
ao longo dos próximos meses. E não são menores os
motivos de preocupação com a economia européia,
particularmente o leste europeu, e suas relações com
bancos da Europa ocidental, destacadamente os da
Itália, Áustria e Suécia.
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CARTA MENSAL
Fevereiro de 2009
ECONOMIA BRASILEIRA
vários países da América Latina, em um passado ainda
recente.
Até que ponto a economia brasileira poderá
manter um relativo descolamento da recessão que se
estabeleceu no mundo desenvolvido é uma questão
ainda em aberto.
Na segunda categoria deve-se incluir o aumento
das exportações e a impressionante melhora dos
indicadores de endividamento externo que resultaram,
predominantemente, do dinamismo da economia
mundial, particularmente do fenômeno China, entre
2003 e 2007. Por uma questão inevitável de simetria,
estes avanços sofrerão uma regressão gradual, que
será tanto maior quanto mais duradoura e aguda for a
crise externa.
A queda da produção industrial já ocorrida,
especialmente no último trimestre do ano passado,
surpreendeu negativamente a todos os analistas.
Porém, quando se examina mais detalhadamente os
fundamentos atuais da economia brasileira, a avaliação
se torna, necessariamente, menos negativa.
Em relação aos fundamentos da economia brasileira
ao longo dos últimos 15 anos, podemos separá-los em
cinco categorias:
1ª) mudanças positivas que resultaram da política
econômica doméstica, marcadamente a partir do Plano
Real, e que têm caráter duradouro;
2ª) mudanças positivas quase inteiramente advindas
do ambiente externo favorável que se observou de 2003
a 2007, e que seriam gradualmente eliminadas, em um
ambiente de crise externa prolongada;
3ª) vantagens relativas importantes e de efeitos
duradouros, que também resultaram, em grande medida,
de fatores exógenos à política econômica doméstica;
4ª) reformas que deveriam ter sido feitas, ou
completadas, e que não o foram;
5ª) inconsistências da política econômica doméstica
ao longo dos últimos anos, que agora contribuem para a
vulnerabilidade da economia, diante da crise externa.
Na primeira categoria estão incluídas as conquistas
do Plano Real, como a vitória sobre o descontrole
inflacionário, a reforma monetária, a desindexação,
a privatização (inclusive dos bancos estaduais), a
posterior adoção de um regime de metas de inflação
com câmbio flexível, a lei de responsabilidade fiscal
e a existência de um Banco Central que desfruta de
credibilidade. A estas variáveis de natureza econômica
deve-se acrescentar a importantíssima característica
de estabilidade política, tão valiosa diante das condições
usualmente observadas não somente no Brasil, mas em
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Na terceira categoria estão incluídas as descobertas
recentes de petróleo e a considerável vantagem relativa
do Brasil no campo da bio-energia. Estas são vantagens
que submergirão temporariamente, ao longo da crise,
mas que voltarão a ter grande importância quando os
preços do petróleo retornarem a níveis mais compatíveis
com a tendência de médio e longo prazos.
Na quarta categoria devem ser incluídas reformas
importantes, como a da previdência, a tributária e a
trabalhista, que não foram completadas, e que impõem
um ônus muito pesado ao desempenho da economia,
especialmente em um momento de crise externa. Estas
e outras deficiências contribuem para que o ambiente
para negócios no Brasil ainda seja, relativamente, muito
desfavorável (num total de 178 países pesquisados pelo
Banco Mundial sobre o ambiente para negócios o Brasil
se encontra na 122ª posição).
Na quinta categoria incluímos a má combinação dos
instrumentos de política monetária e fiscal que tem sido
observada no Brasil há décadas. O contínuo aumento
das despesas correntes do governo em relação ao
PIB; uma carga tributária que já atingiu níveis muito
elevados e que não para de subir; um regime tributário
extremamente complexo e ineficiente; particularmente
uma legislação trabalhista e um volume de encargos
que atuam de forma perversa contra a utilização da mão
de obra, vis a vis do capital, nas atividades produtivas
são exemplos de distorções na economia brasileira. Tais
distorções se acumulam há muito tempo e deixam agora
o governo com uma margem de manobra relativamente
estreita na área fiscal, dificultando uma queda mais
intensa e rápida das taxas reais de juros.
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CARTA MENSAL
Fevereiro de 2009
Quando se leva em conta o vetor resultante desse
conjunto de variáveis, a conclusão é de que o Brasil está
relativamente bem situado, entre os países emergentes,
para lidar com esta crise, originalmente oriunda dos
Estados Unidos e Europa. Não há, desta vez, riscos
de deterioração aguda das condições de solvência da
dívida, tanto externa como interna, em um horizonte
de um ou dois anos. Mas, infelizmente, na hipótese
de uma crise externa mais duradoura, o Brasil ainda
não reúne as condições necessárias para conseguir
substituir parcialmente a demanda por exportações e
o investimento externo, pela demanda doméstica, de
forma a garantir um crescimento próximo do potencial.
Em um cenário como este a posição do Brasil é bem pior,
relativamente, que a da China, por exemplo.
Obviamente, a forma como o Brasil se comportará
frente a esta crise dependerá também, em grande
medida, de como continuarão sendo manejados os
instrumentos de política econômica doméstica. É
importante que a tentativa de implementação de uma
política fiscal anti-cíclica não leve os gastos correntes
a se expandirem a taxas reais ainda maiores que as
observadas nos últimos anos, de forma que exista um
maior espaço para a redução da taxa real de juros e para
a preservação dos investimentos. Acreditamos que esta
combinação de instrumentos deixará muito a desejar.
Mesmo assim, como já dissemos, consideramos muito
baixa a probabilidade de que venha a ocorrer uma
deterioração relevante dos indicadores de solvência, no
curto prazo (até 2010). Porém, quanto mais ineficiente
vier a ser a utilização desses instrumentos de política
econômica, mais o Brasil ficará prejudicado na fase de
recuperação pós-crise.
Perspectivas para a Política Monetária
A consideração das variáveis descritas acima e do
comportamento recente e perspectivas para a atividade
econômica e a inflação nos leva a eleger o seguinte
cenário básico para a trajetória da taxa de juros em
2009: queda de 125 pontos base nesta próxima reunião,
seguida de mais uma queda de 100 pontos na reunião de
março e outra de 75 pontos na reunião de junho, quando
a taxa nominal alcançaria 9,75%. Não descartamos a
possibilidade de alguma pequena queda adicional no
segundo semestre, mas isto só ocorreria se a atividade
econômica mundial vier a se mostrar ainda pior do que a
nossa expectativa no momento.
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