A Neurociência e sua aplicação na Psicopedagogia

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I Encontro de Confraternização dos Alunos do Curso de Psicopedagogia
Resumo da Palestra:
A Neurociência e sua aplicação na Psicopedagogia
Ministrante: Marcela Mansur Alves1
O conhecimento na área das neurociências cresceu muito nos últimos anos,
principalmente devido à chamada “década do cérebro” (1990-1999). No início dos anos
90 do século XX, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, sancionou lei
instituindo que as instituições governamentais norte-americanas ligadas à pesquisa
deveriam destinar a maior fatia do seu orçamento ao estudo do sistema nervoso,
enquanto as escolas e empresas privadas que financiassem essa investigação pagariam
menos impostos. Com isso, a meta era injetar recursos nos estudos sobre o cérebro. O
volume de pesquisas na área das neurociências tornou-se incomparável e descobertas
importantes sobre o funcionamento do sistema nervoso foram obtidas. Pesquisadores e
profissionais de diversas áreas do conhecimento começaram a vislumbrar nas
descobertas feitas pela neurociência possibilidades de aplicação em campos até então
inimagináveis, tais como a Educação. Mesmo assim, a penetração da neurociência na
Educação tem sido feita de forma gradativa devido a empecilhos, tais como o
desconhecimento por parte dos profissionais da educação sobre o funcionamento do
cérebro e a falta de uma terminologia comum aos dois campos. No entanto, esse
panorama vem se alterando, em grande parte, como resultado do esforço de sociedades
internacionais de pesquisa e divulgação, como a International Mind, Brain, and
Education Society. Em âmbito regional, projetos como o “Neuroeduca: o cérebro vai à
escola”, coordenado pela professora Leonor Guerra da UFMG, têm se destinado a
divulgar as descobertas da neurociência para os profissionais de educação nas escolas e
a tornar o conhecimento sobre o sistema nervoso humano mais acessível a tais
profissionais. Assim, pois, sabe-se que as estratégias pedagógicas utilizadas pelo
educador no processo ensino-aprendizagem são estímulos que levam à reorganização do
sistema nervoso em desenvolvimento. Sabe-se, também, que há diferenças individuais
nas competências cognitivas e formas de processamento da informação, estas, fruto da
ativação de redes neuronais diferenciadas entre os indivíduos. Nesse sentido, as pessoas
reagem diferencialmente às estratégias e conteúdos vistos em sala de aula, apresentando
desempenhos condizentes com sua maior ou menor facilidade a nível cortical.
Outras descobertas, como os neurônios-espelho, têm lançado luz para a
compreensão de fenômenos como a empatia, a qual está na base de vários transtornos
do desenvolvimento, dentre eles o autismo. Perguntas frequentes feitas por educadores,
tais como saber o melhor momento para se aprender uma segunda língua, têm obtido
1
Doutoranda em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento
Humano pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em
Psicologia das Diferenças Individuais, Avaliação Psicológica e Psicologia do Desenvolvimento Humano, atuando
principalmente nos seguintes temas: personalidade, inteligência, comportamento anti-social e desenvolvimento infantil.
Visitas Técnicas (2009) na Universidad de Rosário (Argentina) e na Karl-Franzens University Graz (Austria).
respostas baseadas em estudos sobre o funcionamento do sistema nervoso. Sabe-se,
atualmente, que o cérebro abre janelas, em momentos distintos do ciclo vital, para
receber informação ambiental de determinada natureza. Nesse período, nosso cérebro
direciona a sua energia e conexões neuronais para o aprendizado de certa habilidade,
como a linguagem. Pesquisas sobre o aprendizado de uma segunda língua sugerem que
a aquisição de gramática/pronúncia é parcialmente condicionada ao tempo. Quanto mais
cedo, mais fácil e mais rápido. Esta descoberta sugere que o aprendizado de uma
segunda língua poderia ser mais efetivo na escola primária, ao invés da secundária.
Muito embora, o cérebro continue a ser receptivo a novas informações semânticas para
o resto da vida.
Essas e outras descobertas da neurociência têm aberto inúmeras possibilidades
de aplicação para os profissionais que trabalham com educação e fornecido respostas,
pelo menos preliminares, a perguntas frequentes feitas pelos mesmos, como:
* Crianças desnutridas apresentam necessariamente dificuldades escolares?
* As habilidades para matemática, linguagem, música, entre outras, são determinadas
geneticamente?
* Criança e adulto aprendem em qualquer idade qualquer assunto?
* Há estratégias pedagógicas mais eficientes do que outras?
A neurociência tem, portanto, produzido conhecimento extenso e
multidisciplinar sobre o nosso cérebro. Dessa forma, à medida que os processos
cerebrais se tornam visíveis e conhecidos, pesquisadores e educadores podem começar a
observar os efeitos neurobiológicos das intervenções nas salas de aula e relacioná-las ao
aprendizado. No entanto, seria enganoso pensar que as pesquisas em neurociência, por
si mesmas, responderão todas as questões do contexto educacional. Importantes
decisões sobre como conduzir o processo educativo e sobre o que é ou não efetivo
requerem não apenas conhecimento científico, mas, sobretudo, uma compreensão mais
profunda sobre o que deve ser valorizado e ensinado e sobre como as escolas e
sociedades devem organizar as instituições envolvidas com o aprendizado.
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