Aula: 24 Temática: Metabolismo dos aminoácidos – parte II Além de serem constituintes das proteínas, os aminoácidos podem ser usados como precursores de moléculas biológicas nitrogenadas. O processo envolve a eliminação do grupo amina (desaminação), incorporação do amônio assim produzido em uréia para posterior excreção e conversão do esqueleto carbonado em intermediários metabólicos. Nesta aula iremos estudar como isto ocorre. Acompanhe! A desaminação é a remoção de um grupo amino (–NH2) de um composto. A desaminação enzimática ocorre no fígado e é importante no metabolismo dos aminoácidos, especialmente na sua degradação e subseqüente oxidação. O grupo amino é removido como amônia e excretado como uréia ou ácido úrico. A desaminação da maior parte dos aminoácidos envolve uma transaminação prévia, que consiste na transferência do seu grupo amino para um α-cetoácido, produzindo o aminoácido correspondente ao α-cetoácido e o α-cetoácido correspondente ao aminoácido original. Geralmente o aceptor do grupo amina é o α-cetoglutarato, que é convertido em glutamato. As aminotransferases usam piridoxal-5'-fosfato, um derivado da vitamina B6. O piridoxal está também envolvido em reações de descarboxilação de aminoácidos e de eliminação das suas cadeia laterais. As aminotransferases são específicas para cada tipo de aminoácido, produzindo os α-cetoácidos correspondentes. No entanto, a maioria só aceita α-cetoglutarato ou oxaloacetato, como aceptor de grupo amina, produzindo glutamato ou aspartato. Por conseguinte, os grupos amina da maior parte dos aminoácidos são utilizados para produzir glutamato ou aspartato, que por sua vez podem ser reconvertidos pela glutamato-aspartato aminotransferase. BIOQUÍMICA Reações Gerais dos Aminoácidos. Transaminação. A reação de transaminação envolve a transferência do aminogrupo de um aminoácido a um cetoácido para formar o aminoácido análogo a este e produzir o cetoácido (esqueleto carbônico) correspondente ao doador de amino original (fig. 1). Fig. 1 – Transaminação: reação geral da transferência do aminogrupo (NH2). Transaminases como as enzimas glutamato-transaminase e a alaninatransaminase, capazes de reagir com quase todos os aminoácidos são extremamente importantes. A glutamato-transaminase é específica para ácido glutâmico e α-cetoglutárico, mas reagirá, em diferentes velocidades, com aproximadamente todos os outros aminoácidos protéicos (fig.2). Fig. 2 – Transaminação, ou seja, transferência do grupo amina (NH2) de um aminoácido doador para o ácido α-cetoglutárico, com intervenção da enzima glutamato-transaminase, originando como produtos um cetoácido e ácido glutâmico. Da mesma forma, alanina-transaminase é específica para alanina e ácido pirúvico, como um dos seus dois pares complementares de substrato, mas reage com quase todos os outros aminoácidos. Finalmente, uma glutamato- BIOQUÍMICA alanina-transaminase altamente específica, encontrada em muitos organismos, catalisa a transaminação entre esses dois aminoácidos (fig. 3). O significado do processo de transaminação é melhor avaliado quando se compreende que a reação da figura 2, juntamente com a reação da figura 3, servem para coletar aminogrupos de muitos outros aminoácidos, sob forma de ácido glutâmico. Essas reações ocorrem, sobretudo, no citoplasma celular. Sendo a membrana mitocondrial permeável ao ácido glutâmico, esse então pode penetrar na matriz mitocondrial, onde pode transaminar novamente por meio de uma aspartato-transaminase mitocondrial ou, alternativamente, ser desaminado oxidativamente pela glutamato-desidrogenase. As transaminases são, portanto, encontradas tanto no citoplasma celular, como dentro da mitocôndria de células eucarióticas, tendo, em cada uma dessas regiões da célula, propriedades características. As reações catalisadas pelas enzimas transaminases são reversíveis. Fig. 3 – Transaminação do grupo amina (ou aminogrupo) da alanina para o ácido αcetoglutárico, transformando-o em ácido glutâmico. As transaminases requerem piridoxal-fosfato como cofator e, na presença da enzima, a coenzima forma uma base de Schiff com o aminoácido. Por rearranjos eletrônicos subseqüentes o aminogrupo é transferido para a coenzima para formar piridoxamina-fosfato. O último composto pode então reagir com o cetoácido aceptor para regenerar o piridoxal-fosfato e produzir o aminoácido. BIOQUÍMICA A base de Schiff é o primeiro produto formado pelo ataque da glicose à proteína. A reação se inicia quando um grupo aldeídico (CHO) de glicose se liga a um grupo amino (NH2) da proteína. As moléculas se combinam formando o que é chamado uma base de Schiff. Esta combinação é instável e rapidamente se rearranja, mas é ainda reversível e produz uma substância conhecida como produto de Amadori. Embora algumas enzimas sejam formadas apenas por proteína, muitas outras são proteínas complexas (heteroproteínas); elas têm um componente de proteína e um cofator. Um cofator pode ser um metal, como ferro, cobre, ou magnésio; uma molécula orgânica firmemente ligada ao corpo da enzima, ou um tipo especial de molécula de substrato conhecido como coenzima. O cofator ajuda a ação catalítica de uma enzima, como fazem os cofatores metálicos e os grupos prostéticos ou tomam parte na reação enzimática, como fazem as coenzimas solúveis. Uma coenzima serve como um tipo de substrato em certas reações enzimáticas e assim reagem nas proporções exatas (estequiometricamente) exigidas pela reação. Podem ser também, consideradas como co-substratos, pois tem tamanho e comportamento semelhantes e são solúveis como os substratos. Por exemplo, uma coenzima pode assumir o papel de um aceptor de hidrogênio, como fazem o NAD (que aceita hidrogênio) ou uma substância doadora de grupamentos químicos, como faz o ATP (que doa ácido fosfórico radical fosforil, grupo fosfato). DESAMINAÇÃO: É a remoção de um grupo amino (–NH2) de um composto. A desaminação enzimática ocorre no fígado e é importante no metabolismo dos aminoácidos, especialmente na sua degradação e subseqüente oxidação. O grupo amino é removido como amônia (NH3) e excretado, como uréia ou ácido úrico. A transaminação do ácido glutâmico (fig. 4) estabelece um mecanismo de desaminação de todos os outros aminoácidos. BIOQUÍMICA Fig. 4 – Esquema da desaminação. A transaminação conserva os grupos amina. A desaminação é levada a cabo principalmente pela glutamato desidrogenase, uma enzima mitocondrial que usa quer NAD+ quer NADP+. O NH3 produzido dessa maneira (amônia) é tóxico e deve ser eliminado. Nos animais, desenvolveram-se mecanismos elaborados para a detoxificação. Nas plantas, que são desprovidas dos órgãos excretores, o NH3 é convertido a amidas não-tóxicas, glutamina e asparagina. Muitos animais aquáticos excretam-no simplesmente sob a forma de amônio. Outros animais, que não têm tanta água à sua disposição, convertem-no em produtos menos tóxicos como a uréia, e que por isso não precisam de tanta água para serem excretados. A uréia é sintetizada no fígado, e levada (secretada) para a corrente sangüínea, de onde será excretada pelo rim. O ciclo da uréia (fig. 5), é uma via metabólica cíclica, que transforma duas moléculas de amônia e uma molécula de gás carbônico em uma molécula de uréia. Possui várias e complexas etapas enzimáticas e gasta três ATPs para cada uréia sintetizada: Compostos como o fumarato, o aspartato, o glutamato e o α-cetoglutarato participam do processo, que envolve também 2 enzimas mitocondriais e 3 citoplasmáticas. BIOQUÍMICA Fig. 5 – Esquema do ciclo da uréia. A hidrólise da arginina produz uréia e ornitina, que depois de reentrar na mitocôndria pode recomeçar o ciclo. O ciclo da uréia tem um elevado custo energético, equivalente à hidrólise de quatro ATP a quatro ADP. No entanto, este custo pode ser recuperado na cadeia transportadora de elétrons, uma vez que um NADH é produzido na desaminação do glutamato e outro NADH na posterior oxidação do fumarato a oxaloacetato, o que é equivalente a cerca de seis ATP. Além da enzima glutâmico desidrogenase, existem outras que também exercem a função de desidrogenação, como a aminoácido-oxidase, que provoca a desaminação oxidativa. Também ocorrem processos de desaminação não-oxidativa, catalisada pelas amônia-liases. A desaminação catalisada por desaminases específicas, com a enzima hepática chamada serina-desidratase (nome sistemático para a L-serinahidrolase) é específica para a L-serina, envolvendo a perda de NH3 e rearranjo dos átomos restantes para liberar piruvato. As desamidases também agem nas desaminações, mas de forma diferente daquelas nas quais os α-aminogrupos dos aminoácidos são libertados como NH3. nNessas reações, o nitrogênio amídico da glutamina e asparagina são liberados como amônia. Enzimas hidrolíticas especificas catalisam a hidrólise dessas duas amidas e produzem NH3. BIOQUÍMICA A glutamina desempenha um papel central no metabolismo do nitrogênio como um percursor de aminogrupos. Ela é também usada para transportar e armazenar NH3 em uma forma não-tóxica antes de ser excretado. Assim, os organismos têm os meios de sintetizar, bem como de degradar esse composto. DESCARBOXILAÇÃO: É um terceiro tipo de reação enzimática sofrida por muitos aminoácidos. Em contraste com as reações de desaminação e transaminação no catabolismo de aminoácidos, devem ser assinalados os aspectos anabólicos das reações de descarboxilação catalisadas por enzimas aminoácidodescarboxilase. Muitas das aminas formadas como resultado da descarboxilação tem importantes efeitos fisiológicos. Assim, uma histidinadescarboxilase, encontrada em tecidos animais, pode produzir histamina, uma substância que, entre outros efeitos, estimula a secreção gástrica. DESTINO METABÓLICO DOS AMINOÁCIDOS: As proteínas e, portanto, os aminoácidos, não são usualmente desdobrados para a produção de energia, se os carboidratos ou os lipídeos estiverem disponíveis ao organismo. Assim, os aminoácidos são normalmente usados: (1) Na síntese de peptídeos e de proteínas; (2) Como uma fonte de átomos de nitrogênio (por transaminação) para a síntese de outros aminoácidos; (3) Na síntese de outros compostos nitrogenados e não-nitrogenados. Qualquer aminoácido em excesso em relação às quantidades requeridas para essas três atividades será desdobrado por desaminação, e o esqueleto carbonado resultante será metabolizado. O NH3 produzido, se em excesso, será eliminado como uma excreta nitrogenada. Todavia o estado dinâmico dos compostos de nitrogênio requer que boa parte do NH3 seja assimilada pela célula na síntese de novos compostos nitrogenados. BIOQUÍMICA