probióticos e prebióticos na alimentação de aves

Propaganda
1
PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS NA ALIMENTAÇÃO DE AVES
Edir Nepomuceno da Silva
Bio Camp
Introdução
Os pintos utilizados na produção avícola industrial são “quase estéreis do
ponto de vista microbiológico. São produzidos em sistemas artificiais (incubatórios)
que procuram reduzir sua contaminação microbiana em todos as fases do processo.
A ausência de contato com uma microbiota natural, logo após o nascimento, afeta
muito o seu desenvolvimento intestinal e geral. Os efeitos negativos deste processo
tem sido contornados, em parte, com o uso dos chamados “promotores de
crescimento”. Geralmente, são drogas antibióticas utilizadas de forma contínua na
ração, em doses subterapêuticas, respeitando-se os períodos legais de retirada. Por
outro lado, é cada vez maior o aparecimento de cepas bacterianas, responsáveis por
infecções avícolas, resistentes às drogas terapêuticas e, consequentemente, menor a
disponibilidade das mesmas para tratamento. Agregam-se os fatos da pressão por
desempenho através de melhoramento genético, nutricional e ambiência (aumento da
densidade, reutilização de cama e menor vazio sanitário), principalmente para frangos
de corte, que têm tornado as aves cada vez mais susceptíveis às síndromes de
desenvolvimento.
É fato crescente a restrição, em todo o mundo, ao uso de antibióticos na
forma terapêutica e como promotores de crescimento em animais destinados à
produção de alimentos. O uso racional de Probióticos e Prebióticos na produção
animal representa uma alternativa natural à substituição de antibióticos além de
outras vantagens como o aumento da resistência natural ( modulação de respostas
imunes sistêmicas ) do hospedeiro e de produtividade. Portanto, Probióticos e
Prebióticos representam um avanço tecnológico, transferindo e aplicando os efeitos
benéficos propiciados pela natureza às criações industriais.
Probióticos na alimentação de aves
Em 1907, Metchnikoff (Prolongation of Life, Putnam & Sons, New
York) já havia observado que camponeses da Bulgária que bebiam resíduo de leite
fermentado com Lactobacillus acidophilus, utilizado na produção de iogurte, tinham
uma sobrevida maior. O efeito benéfico foi atribuído a ação colonizadora intestinal
dos camponeses por esses microrganismos, prevenindo o efeito maléfico de
patógenos intestinais. Somente em 1965 o termo “Probiótico” foi formalmente
introduzido para descrever os fatores promotores de crescimento produzidos por
microrganismos.
O marco do uso de Probióticos em aves foi dado por pesquisadores
finlandeses ( Nurmi & Rantala, Nature, 1973). Em seus experimentos, os autores
observaram que o conteúdo intestinal de aves adultas normais, administrados
oralmente às aves com um dia de idade, alterava sua sensibilidade à infecção por
2
Salmonella spp., prevenindo o estabelecimento desta no intestino. Esta idéia foi
conceituada com “Exclusão Competitiva” , tornou-se conhecida como “conceito de
Nurmi”. A princípio, a idéia era só a proteção intestinal contra enteropatógenos sem
se verificar o aspecto “saúde” geral e produtividade animal. Posteriormente,
verificou-se que a colonização intestinal por outros patógenos como Escherichia coli
e Campylobecter spp., também, que a aplicação de Probiótico constituído por L.
acidophilus melhorava a conversão alimentar e o ganho de peso em aves tratadas
(Tortuero, Poult. Sci. 1973).
Microbiota Intestinal de aves
A microbiota intestinal das aves é composta de inúmeras espécies
bacterianas, formando um sistema complexo e dinâmico. Aquelas que colonizam o
trato intestinal no início, tendem a persistir ao longo da vida da ave, passando a
compor a microbiota intestinal. A formação desta microbiota se dá imediatamente
após o nascimento das aves e aumenta durante as primeiras semanas de vida, até se
tornar uma população predominantemente de bactérias anaeróbias.
Os principais gêneros identificados na microbiota cecal de aves são: Bacillus,
Bacteróides, Bifidobacterium, Citrobacter, Clostridium, Enterobacter, Enterococcus,
Escherichia, Eubacterium, Fusobacterium, Lactobacillus, Lactococcus, Pediococcus,
Peptostreptococcus, Propionibacterum, Ruminococcus, Serratia, Veillonella e
Atreptococcus. O metabolismo destas bactérias no trato intestinal gera a produção
ácidos graxos de cadeia curta (acético, propiônico e butírico), álcoois, amoníaco,
aminas, sulfeto de hidrogênio, peróxido de hidrogênio, metano, mercaptanos, dióxido
de carbono e outros produtos. Nos cecos as bactérias produzem ácido butírico que
servem como substrato metabólico para as células epteliais e ácido propiônico que
inibe certos enteropatógenos, como as salmonelas. Pode-se encontrar de 200 a 400
espécies diferentes de bactérias no trato digestivo de uma ave. Há de considerar que
menos de 25% de todas as bactérias intestinais foram identificadas; portanto,
desconhecidas. Sua quantidade pode variar de 5 a 7 (Log10) no duodeno, a 9 a 11
(Log10) nos cecos. Muito pouco se sabe sobre a interação entre elas. Estima-se que há
10 vezes mais bactérias no trato digestivo que células do corpo do hospedeiro.
A persistência e manutenção destas bactérias no trato intestinal se faz de
duas formas principais: (1) fixadas ou em íntima associação com o epitélio intestinal,
se multiplicando mais rapidamente do que sua eliminação pelo peristaltismo
intestinal. É o caso típico de algumas espécies de Lactobacillus e Enterococcus.
Outras (2) se encontram livres na luz intestinal, pela sua incapacidade de aderir ao
epitélio intestinal. Neste caso, sua permanência se dá pela agregação a outras
bactérias, que por sua vez estão aderidas a mucosa entérica.
Qualquer fator que leve ao desequilíbrio da microbiota intestinal, como o
uso de antimicrobianos e estresse de qualquer natureza, poderá permitir a instalação e
a multiplicação de microorganismos patogênicos. Logo, fica evidente que o equilíbrio
da microbiota intestinal, reflete diretamente em um bom estado de saúde do
hospedeiro.
3
O que são Probióticos
O termo Probiótico foi proposto, pela primeira vez em 1965.
Atualmente, utiliza-se o termo probiótico para designar “suplemento alimentar
composto de cultura pura ou composta de microorganismos vivos com a capacidade
de se instalar e proliferar no trato intestinal, com ação de promotores de crescimento,
beneficiando a saúde do hospedeiro pelo estímulo às propriedades existentes na
microbiota natural”.
Os Probióticos podem conter bactérias totalmente conhecidas e
quantificadas ou, culturas bacterianas não definidas. Enterococcus, Bacteróides,
Eubacterium e especialmente Lactobacillus e Bifidobacterium estão presentes em
todas as misturas de culturas definidas. Quando as bactérias com capacidade
Probiótica, são retiradas (isoladas) do seu habitat convencional e subcultivadas e/ou
liofilizadas, algumas das suas propriedades são perdidas. Por outro lado, não se
conhece, ainda, nem a composição total, nem a perfeita combinação entre elas que
melhor estimula as propriedades Probióticas “in vivo”. Estas são as razões, pelas
quais, os produtos com culturas não definidas ou, fezes frescas, tem melhor ação
Probiótica que as culturas definidas.
Aparentemente, um número maior de espécies bacterianas determina um
Probiótico mais efetivo. Somente a partir de quatro espécies de bactérias é que se
evidencia alguma proteção. Nas misturas contendo mais de 20 espécies, a proteção
tende a ser mais efetiva. Culturas contendo, em torno de, 50 espécies bacterianas
teriam mais chance de manter o equilíbrio da microbiota intestinal. As culturas
definidas procuram combinar diversos espécies de bactérias que mostram ação
sinérgica “in vitro”. Estas combinações variam de 28 até 65 espécies bacterianas. Há
necessidade que as bactérias sejam hospedeiros-específicas, a fim de que a máxima
eficácia do produto seja atingida. Ou seja, bactérias com ação Probiótica em suínos
pode não ter ação em aves.
Propriedades desejáveis de um Probiótico
 Possa ser estocado e com sua viabilidade mantida até o momento de uso;
 Tenha condições de permanecer no ecossistema intestinal;
 Hospedeiro animal seja beneficiado pelo seu uso.
Como agem os Probióticos
A ação benéfica dos probióticos de uso em avicultura se faz em duas
ações principais: (1) Determinado melhores índices zooeconômicos, maior
produtividade, aumento no ganho de peso e melhor conversão alimentar; (2) redução
da colonização intestinal por alguns patógenos, como as salmonelas, p.ex.
Estes benefícios são resultantes da criação de uma barreira intestinal
física e química às bactérias patogênicas e suas toxinas para que o trato digestivo
exerça adequadamente todo o seu papel de digestão e absorção. Adicionalmente, as
bactérias probióticas devem exercer um papel de produção de enzimas, outros fatores,
4
como o abaixamento do pH, auxiliando na digestão e, estimular o sistema imune
inespecífico das aves.
Algumas ações benéficas atribuídos ao uso dos Probióticos são
apontadas no Quadro 1. Entretanto, seu mecanismo de ação ainda não está
inteiramente elucidado. Sabe-se que há um sinergismo entre elas.
Os resultados zooeconômicos positivos do uso de “promotores de
crescimento antibióticos” de uso contínuo em aves seriam os mesmos que os dos
Probióticos. Considerando, apenas, suas ações preventivas sobre pequenas e
freqüentes infecções intestinais que interferem com a digestão e absorção de
alimentos. Desta maneira, estas infecções intestinais alteram o metabolismo do
hospedeiro, através do aumento de atividade do sistema imune da mucosa intestinal,
liberando citocinas na circulação geral. Estas, elevam a taxa metabólica basal,
aumentando os níveis de degradação de proteína e reduzindo a síntese protéica. O
aumento da taxa de atividade metabólica reduz a energia metabólica disponível para
o crescimento, reduzindo a eficiência alimentar ( ganho de peso e conversão).
Entre os principais modos de ação dos Probióticos, estão descritos:
(a) Competição por sítios de ligação;
(b) Produção de substâncias antibacterianas e enzimas;
(c) Competição por nutrientes;
(d) Estímulo do sistema imune.
(a) Competição por sítios de ligação. Este conceito ficou conhecido, também, com o
nome de “Exclusão Competitiva”. As bactérias Probióticas ocupam sítios de
ligação ( receptores ou pontos de ligação) na mucosa intestinal formando uma
barreira física às bactérias patogênicas. É necessário em torno de 40 bactérias para
recobrir a superfície de uma célula intestinal. Assim, as bactérias patogênicas
seriam excluídas pela competição. Fímbrias são os elementos de aderência
bacteriana mais conhecidos e estudados. São estruturas como “pêlos” compostos
por fosfoglicoproteínas que se projetam do corpo bacteriano. Seus receptores são
específicos e diferem entre espécies de aves e os diferentes lugares anatômicos, ao
longo do trato intestinal. Desta maneira algumas bactérias só colonizam o papo
enquanto outras colonizam somente cecos. Algumas bactérias somente se aderem
à superfície superior (glicocalix) dos enterócitos, enquanto que outras residem
somente nas criptas onde são produzidas as novas células epiteliais que migram
até as vilosidades. Algumas destas fímbrias podem ser bloqueadas pela manose
(fímbria manose-sensível). Assim, o uso de mananoligossacarídeos no alimento
animal pode bloquear a aderência das bactérias com este tipo de fímbria.
(b) Produção de substâncias antibacterianas.( ácidos orgânicos e bacteriocinas) e
Enzimas. Bactérias dos Probióticos produzem ácidos graxos voláteis de cadeia
curta que deixam um pH e/ou um ambiente químico desfavorável às bactérias
patogênicas, especialmente, em relação ao Campylobacter, Clostridium e
Salmonelas. Produzem, também, peróxido de hidrogênio e sulfito de hidrogênio.
A presença de uma microbiota normal é fundamental na prevenção da Candidíase
5
e das lesões fúngicas (erosões de moela) em aves. As bactérias probióticas
produzem, também, bacteriocinas ( antibióticos bacterianos de ação local) que
inibem o crescimento de patógenos intestinais. As bactérias ácido lácticas
produzem Nisina. Diplococcina, Lactocidina, Bulgaricina e outras. Um exemplo é
o L. reuteri que produz a reuterina (3-hidroxipropionaldeido) que inibe ou mata
muitas outras bactérias inclusive protozoários ( Chung et al. Microb. Ecol. Health,
1989). Algumas bactérias secretam enzimas como a b-glucoronidase e hidrolases
de sais biliares que liberam compostos como ácidos biliares com ação inibitória
sobre outras bactérias.
(c) Competição por nutrientes. As bactérias dos Probióticos se nutrem de
ingredientes que não foram total ou parcialmente degradados pelos enzimas
digestivos normais das aves ou, foram intencionalmente adicionados à dieta. Estas
substâncias, intencionalmente adicionadas, com a finalidade de “alimentar” as
bactérias dos Probióticos, são conhecidas com Prebióticos e serão motivo de
discussão mais detalhada, adiante. A competição por nutrientes não ocorre entre a
ave e a bactéria; ela ocorre entre as bactérias intestinais por seus nutrientes
específicos. A escassez destes nutrientes disponíveis na luz intestinal que possam
ser metabolizados pelas bactérias patogênicas é um fator limitante de manutenção
das mesmas neste ambiente. Ou ainda, pode-se “alimentar” qualitativamente as
bactérias probióticas intestinais em detrimento das patogênicas.
(d) Estímulo do sistema imune. As bactérias probióticas têm a capacidade de
modulação de respostas imunes sistêmicas aumentando o número e atividade de
células fagocíticas do hospedeiro. Um animal ou homem, simplesmente, não
consegue sobreviver se não desenvolver uma microbiota intestinal normal. A
maior parte deste conhecimento veio de experimentos com animais desprovidos e
criados em condições de absoluta esterilidade; os chamados animais axênicos ou
gnotobióticos. O trato intestinal das aves é o órgão de maior responsabilidade no
desenvolvimento de imunidade geral inespecífica. Diferentemente de todas as
outras espécies animais, as aves não apresentam linfonados. Seus órgãos linfóides
estão espalhados ao longo do trato intestinal. São as placas de Peyer, tensilas
cecais e, inclusive, a Bolsa de Fabrício que é uma invaginação da parte final do
trato digestivo. Estes tecidos captam antígenos disponibilizados no trato digestivo
que estimulam as células B precursoras de IgA e, células T colaboradoras das
placas de Peyer, para o desenvolvimento de uma imunidade geral e inespecífica.
Através do estímulo imunológico de mucosa, há a produção de anticorpos tipo
IgA que bloqueiam os receptores e reduzem o número de bactérias patogênicas na
luz intestinal. O estímulo imune, também, produz ativação de macrófagos,
proliferação de células T e produção de interferon, entre outros. Assim, há
aumento da imunidade de mucosas refletindo numa maior resistência a problemas
respiratórios.
6
Quadro 1 – Ações benéficas atribuídas ao uso de Probióticos em aves.
1) Auxílio na digestão e absorção de nutrientes ( envolvimento na bioquímica
intestinal, especialmente em relação à ação sobre os sais biliares);
2) Produzem nutrientes para a célula da mucosa intestinal;
3) Reduzem a produção de amoníaco e auxiliam na eliminação de aminas biogênicas
tóxicas;
4) Ação inibitória no crescimento de bactérias patogênicas ( produção de
bacteriocinas que agem inibindo o crescimento de outras bactérias);
5) Produção de lactato e acetato que reduzem o pH do meio, exercendo efeito
antibacteriano;
6) Produção de metabólicos que inibem bactérias Gram negativas e positivas
patogênicas;
7) Produção de vitaminas do grupo B;
8) Estímulo do sistema imune através da ativação dos macrófagos;
9) Ativação do sistema imune contra células malignas;
10) Restauração da microbiota intestinal após antibioterapia.
Ações Nutricionais dos Probióticos
A microbiota intestinal pode ser modulada pela composição da dieta e
alimentação das aves. Entretanto, a ação das bactérias intestinais sobre o alimento
ingerido pelas aves é quase sempre sinérgica não havendo prejuízo ou competição
entre a nutrição animal e a multiplicação das bactérias intestinais. Elas auxiliam na
digestão e absorção de nutrientes ( envolvimento na bioquímica intestinal,
especialmente em relação à ação sobre os sais biliares).
Várias ações intestinais dos Probióticos podem ser classificadas como
“nutricionais”. Muitas delas são observações “in vitro” sem, ainda, a devida
comprovação “in vivo”. A microbiota tanto pode atuar no metabolismo intermediário
como final. No primeiro caso, atua sobre substratos que as enzimas naturais das aves
não agem, produzindo substâncias que são absorvidas ou secundariamente
metabolizadas. No segundo caso, atua na transformação de substâncias que, de
alguma forma, interferem com o rendimento animal.
Nas aves com microbiota estabelecida, os lactobacilos ( L. salivarius, L.
acidophilus, L. reuter) e estreptococos predominam no papo; no intestino delgado há
predominância de lactobacilos; nos cecos predominam lactobacilos, enterococos e
clostrídios. Os cecos contém, aproximadamente, 30% de cecos anaeróbicos Grampositivos; 20% de bastonetes Gram negativos não formadores de esporos; 16% de
bastonetes Gram positivos não formadores de esporos ( incluindo Eubacterium); e,
menores quantidades de bifidobactérias, clostrídios e Escherichia coli ( veja Quadro
2).
Uma dieta alta em carboidratos favorece a quantidade de lactobacilos no
papo. Uma dieta alta em proteína pode aumentar a quantidade de coliformes,
clostrídios e estreptococos no intestino. A retirada de alimentação, seja devido a
7
restrição alimentar, na muda forçada e no jejum pré-abate por mais de 10 horas, pode
favorecer a multiplicação de salmonelas no trato digestivo.
A fermentação de extrato aquoso de soja por culturas mistas de L.
acidophilus. L. bulgaricus e Streptococcus termophilus, aumenta os teores de
aminoácidos essenciais, sendo notável o acréscimo de lisina, hitidina e de
fenilalanina; e, também, nos teores de metionina ( Rao et at. CRC Press, 1986).
Bactérias dos probióticos produzem ácidos graxos voláteis de cadeia
curta ( propiônico, acético e, principalmente butírico) que podem ser usados como
fonte de energia para as células epiteliais na síntese de poliaminas esperminas e
espermidinas; substâncias que estão associadas com os ácidos nucleicos celulares na
divisão celular e síntese protéica.
Enzimas, como as amidolíticas, produzidas no inglúvio (papo) das aves
por lactobacillus sp. (cepas homofermentadoras como L. salivarius), conjuntamente
com o abaixamento do pH ( menor que 6,0) determinado pelo metabolismo da glicose
e ácido láctico, auxiliam na digestão do alimento.
As bactérias probióticas reduzem a produção de amoníaco e auxiliam na
eliminação de aminas biogênicas tóxicas. Atuam na produção de vitaminas do
complexo B. Atuam sobre as substâncias prebióticas como alguns carboidratos,
peptídeos, proteínas não digeridas, várias fibras, vegetais e lipídeos.
Quadro 2 – Principais bactérias no trato intestinal das aves adultas.
Bactérias
Papo
Moela
Seg. do Intestino Delgado
1
2,0
4,0
8,0
1,7
-
E. coli
1,7*
1
Clostrídios
1
1
Enterococos
4,0
3,7
Lactobacilos
8,7
7,3
Leveduras
2,7
Estreptococos
anaer.
(*) Log10 (-) Não detectado
In: Garlich, J.D. XVI Cong. Lat. Avic. 1999.
2
1,7
3,7
8,2
-
3
1,7
3,7
8,2
1,7
-
4
2,7
4,2
8,6
-
Cecos
Fezes
5,6
9,0
6,7
8,7
2,0
10,0
6,1
2,0
6,5
8,5
1,7
8,7
Como aplicar os Probióticos
Independente da via, os Probióticos devem ser administrados às aves o
mais precocemente possível, a fim de que as bactérias presentes no produto,
colonizem e se multipliquem no trato intestinal do hospedeiro, iniciando suas ativides
benéficas antes deste ser contaminado por algum patógeno. A via de administração
dos Probióticos pode, também, determinar uma melhor ou pior capacidade de
colonização intestinal pelas bactérias presentes no produto utilizado.
8
Os Probióticos podem ser administrados às aves de várias maneiras:







Adicionando às rações;
Pela adição em água de bebida;
Pulverização sobre as aves;
Inoculação em ovos embrionados;
Através da cama usada;
Em cápsulas gelatinosas;
Experimentalmente, via intra-esofagiana.
Prebióticos na alimentação de aves
O termo Prebiótico foi empregado para designar um ou grupo de
ingredientes alimentares que não são digeridos pelos enzimas digestivos normais mas
que atuam estimulando ( alimentando) seletivamente o crescimento e/ou a atividade
de bactérias benéficas no intestino que têm, por ação final, melhorar a saúde do
hospedeiro. Gibson & Roberfroid ( J. Nut. 1995) conceituaram estas substâncias
como “Ingredientes nutricionais não digeríveis que afetam beneficamente o
hospedeiro estimulando seletivamente o crescimento e atividade de uma ou mais
bactérias benéficas do cólon, melhorando a saúde de seu hospedeiro”. Alguns
açúcares absorvíveis ou não, fibras, álcoois de açúcares e oligossacarídeos estão
dentro deste conceito de prebióticos. Destes, os oligossacarídeos – cadeias curtas de
polissacarídeos compostos de três a 10 açúcares simples ligados entre si – tem
recebido mais atenção pelas inúmeras propriedades prebióticas atribuídas a eles. A
mistura de probióticos e prebióticos tem sido referida como Simbióticos e
representam uma nova linha de alimentos funcionais animais.
A principal ação dos Prebióticos é estimular o crescimento e/ou ativar o
metabolismo de algum grupo de bactérias benéficas do trato intestinal. Desta
maneira, os Prebióticos agem intimamente relacionados aos Probióticos; constituem o
“alimento” das bactérias probióticas.
O uso de produtos denominados Prebióticos em associação como os
Probióticos apresenta benéficas superiores aos antibióticos promotores de
crescimento, notadamente, não determinando resíduos nos produtos de origem animal
não induzindo o desenvolvimento de resistência às drogas, por serem produtos
essencialmente naturais.
Características gerais dos Prebióticos:
 Não devem ser metabolizados ou absorvidos durante a sua passagem pelo trato
digestivo superior;
 Devem servir como substrato a uma ou mais bactérias intestinais benéficas ( estas
serão estimuladas a crescer e/ou tornarem-se metabolicamente ativas);
9
 Possuir a capacidade de alterar a microbiota intestinal de maneira favorável à
saúde do hospedeiro;
 Devem induzir efeitos benéficos sistêmicos ou na luz intestinal de maneira
favorável à saúde do hospedeiro.
Substâncias Prebióticas
Alguns carboidratos, peptídios, proteínas não digeridas, várias fibras e
vegetais e lipídeos podem ser inseridos no conceito de Prebióticos. Entretanto, os
carboidratos denominados de oligossacarídeos – cadeias curtas de polissacarídeos
compostos de 3 a 10 açucares simples ligados entre si – são os que mais se
enquadram na definição e nas carcterísticas dos Prebióticos.
Os frutoligossacarídeos são polissacarídeos que têm demonstrado
excelentes efeitos prebióticos, “alimentando”, seletivamente, algumas espécies de
Lactobacillus e Bifidobacterium e, desta maneira, reduzindo a quantidade de outras
bactérias como Bacteróides, Clostridium e coliformes.
Arabinose, galactose, inulina, rafinose, manose e, principalmente,
lactose, são outros carboidratos utilizados com efeito Prebiótico em aves. Lactose
adicionada à ração, juntamente com Probiótico, reduz a colonização por salmonelas.
A associação de Prebiótico e Probiótico é sempre benéfica, como mostram os
Quadros 3 e 4.
Quadro 3 – Eficácia da associação da microbiota cecal com oligossacarídeos (FOS)
em reduzir a quantidade de S. Enteritidis nos cecos de aves desafiadas aos 21 dias de
idade.
Tempo após desafio com S. Enteritidis
Tratamento
1 dia
7 dias
14 dias
UFC/g* %posa UFC/g* 5 Pos** UFC/g* %Pos**
Controle
4,31
100%
3,47
80%
1,54
40%
Microbiota
4,04
100%
1,83
60%
0,40
10%
FOS
2,45
100%
1,76
80%
0,30
20%
Microbiota + FOS
1,76
80%
0,45
30%
0
0%
(*) Quantidade de SE/ grama de conteúdo cecal – Log10;
(**) Percentagem de positivos num total de 10 pintos desafiados.
Adaptado de: Fukuta et al. J Food Protec, 1999.
Fontes de Oligossacarídeos
Os Prebióticos podem ser obtidos na forma natural em sementes e raízes
de alguns vegetais como a chicória, cebola, alho, alcachofra, aspargo, cevada,
centeio, grãos de soja, grão-de-bico e tremoço. Também, podem ser extraídos por
cozimento ou através de ação enzimática ou alcóolica. Há, também, os
oligossacarídeos sintéticos obtidos através da polimerização direta de alguns
10
dissacarídeos da parede celular de leveduras ou fermentação de polissacarídeos. Os
oligossacarídeos sintéticos têm apresentado melhores resultados como Prebiótico e
menos efeitos colaterais.
Quadro 4 – Efeito da administração de Probiótico ( cultura anaeróbica cecal) a pintos
no primeiro dia de vida associado ou não à lactose sobre a colonização intestinal de
aves por Salmonella Enteritidis (SE)
Tratamento
Dose de desafio de
SE (UF/ave)**
Controle
Probiótico
Lactose
Prob + Lact.
106
106
106
106
Positividade para SE / total 15 aves
(Percentagem de aves positivas)
10º dia
21º dia
100
100
80
40
100
100
73
47
Controle
104
Probiótico
104
Lactose
104
Prob + Lact.
104
(*) Lactose fornecida a 5% na ração até o 21º dia;
(**) Desafio com SE no segundo dia de idade.
Adaptado de Corrier et al. Avian Dis. 1991.
93
93
86
0
93
27
87
7
Como agem os Prebióticos?
Como já mencionado, as substâncias prebióticas agem alimentando e
estimulando o crescimento de diversas bactérias intestinais benéficas, cujos
metabólicos atuam, também, reduzindo o pH através do aumento de quantidade de
ácidos orgânicos presentes nos cecos. Por outro lado, atuam bloqueando os sítios de
aderência (principalmente a D-Manose), imobilizando e reduzindo a capacidade de
fixação de algumas bactérias patogênicas na mucosa intestinal. Especula-se que os
oligossacarídeos possam atuar, também, estimulando o sistema imune, através da
redução indireta da translocação intestinal por patógenos, que determinariam infeções
após atingir a corrente sangüínea.
A manutenção de uma população bacteriana benéfica no trato intestinal
através da inoculação contínua de probióticos e prebióticos ( Simbióticos) reduz a
incidência de enterites, controla patógenes intestinais como as Salmonelas,
Clostridium sp., Capylocacter sp., melhorando a absorção de nutrientes, a eficiência
alimentar, taxa de crescimento e uniformidade dos lotes.
Download