BRINCAR É MUITO MAIS QUE UMA SIMPLES BRINCADEIRA: É APRENDER LUZ, Marina Cabreira da – UP∗ [email protected] OLIVEIRA, Maria Cristina Alves Ribeiro de – UP∗∗ [email protected] SOUZA, Gelsenmeia Massuquette Romero de – UP ∗∗∗ [email protected] Eixo Temático: Educação da Infância Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo aponta alguns resultados obtidos por meio da pesquisa teórica e prática sobre o papel do brincar na educação infantil em uma escola particular do município de Curitiba. Buscou-se mostrar qual é a função do brincar no desenvolvimento da uma criança em idade pré-escolar, analisando a importância e a contribuição que o simples ato de brincar, contribui no processo de aprender, no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo e na aquisição de novos conhecimentos. Desta forma, os resultados revelaram que as atividades lúdicas do cotidiano estão cheias de significados e reflexões importantes para o processo do desenvolvimento infantil e que brincar é uma atividade fundamental para a criança no que tange ao processo ensino e aprendizagem. Palavras-chave: Brincar. Educação infantil. Aprendizagem. Atividade lúdica. Introdução Este artigo apresenta que brincar é muito mais que uma atividade de diversão, ela é fundamental no processo de desenvolvimento das crianças em idade pré-escolar. Autores que na atualidade escrevem sobre a importância da brincadeira na educação infantil revelam que Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Positivo. Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Positivo. ∗∗∗ Professora do curso de Pedagogia da Universidade Positivo de Curitiba/PR, graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná, Psicopedagoga e Mestre em Educação pela PUC-PR. ∗ ∗∗ 13477 brincar auxilia na formação da criança, porém em décadas anteriores, a brincadeira era considerada como “perda de tempo”. Contudo os tempos mudaram e as crianças e seus desenvolvimentos passaram a ser o foco de estudos por muitos especialistas que descobriram que as atividades lúdicas, praticadas pelas crianças, possibilitam grandes avanços no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo. O mundo da fantasia proporciona à criança habilidades para vivenciar, criar e recriar cenas vividas no seu cotidiano e que irão dar alternativas e possibilidades para que venham a entender o mundo o qual fazem parte. Assim, a escola como ambiente de desenvolvimento deve utilizar deste artifício, auxiliando no momento da educação infantil, fase em que as crianças estão sendo preparadas e estimuladas para um desenvolvimento futuro, propiciando por meio das brincadeiras momentos lúdicos no desenvolvimento do raciocínio lógico para a matemática, coordenação motora para a escrita, noção de espaço e tempo para história e geografia. Porém, os educadores devem estar cientes de que não é somente o brincar pelo brincar, é necessário que ocorra uma mediação e um brincar direcionado para determinados momentos. Logo, o artigo revelará sobre o brincar e apresentará alguns resultados de uma prática vivida em que brincar é parte da aprendizagem da criança e que faz toda a diferença para o seu desenvolvimento bem como da importância que o profissional da educação deverá ter ao propor esta atividade em sala de aula. Desenvolvimento A criança e o brincar Brincar é um ato universal, que é praticado por adultos e crianças, e sempre fez parte da história da humanidade. Apesar de ser algo que sempre existiu, a brincadeira nem sempre foi considerada uma atividade que ajudaria no desenvolvimento de uma criança, mas sim por muito tempo foi considerada “perda de tempo”. Como ressalta Wajskop (2001 p.19) “[...] a brincadeira era geralmente considerada como fuga ou recreação e a imagem social da infância não permitia a aceitação de um comportamento infantil, espontâneo, que pudesse significar algum valor em si.”. 13478 No entanto, com o passar do tempo e da ruptura de um pensamento romântico, como menciona Wajskop (2001 p.19), a brincadeira passa a ser valorizada e conquista espaço dentro do desenvolvimento da criança. Essa passa a ser entendida, como algo muito além de meras “brincadeiras”, mas sim como situações que ganham significados na vida real, pois é por meio das quais, que as crianças buscam se identificar e aprender a lidar com as situações da vida adulta. Moyles afirma que “o brincar é sem dúvida um meio pelo qual os seres humanos e os animais exploram uma variedade de experiências em diferentes situações, para diversos propósitos” (2002 p. 11). Deste modo, começa haver um entendimento que no contínuo processo de desenvolvimento, as crianças buscam maneiras de entrar em contato com os adultos ou até mesmo com outras crianças, e é neste momento que a brincadeira entra em ação, possibilitando um envolvimento das emoções, da afetividade e da diversão. Dentro deste mundo do brincar as crianças combinam ficção com a realidade, tornamse criativas, experimentam personagens, funções a partir da observação do seu mundo e do mundo dos adultos. Por exemplo, ao observar sua professora explicando algo ou ensinando, automaticamente elas a imitam em suas brincadeiras. O simples ato de brincar passa a ser visto então como uma atividade dotada de significados sociais, ou seja, na brincadeira o mundo da fantasia pode se realizar, porém no real não permite-se viver de tudo, acertar e errar quantas vezes quiser, resolver problemas que o mundo real não admite, pois não existe julgamento, assim sendo, torna-se mais fácil para a criança se expressar na vida real. Sendo assim, o brincar expressa as várias fases da criança que, organiza, desorganiza, constrói, destrói e reconstrói o seu mundo. O brincar proporciona um desenvolvimento dos processos de interação social tanto na escola como na própria família, desenvolvendo as diferentes capacidades, como a coordenação motora, concentração, criatividade, auto-estima e permite a criança ser livre usando e abusando da sua imaginação. Ou seja, a criança que brinca e vive a sua infância, tornar-se-á um adulto mais equilibrado fisicamente e emocionalmente, com capacidade de enfrentar as diversidades do mundo adulto. Conforme Valesco (1996 p. 43), “na criança em que é privada essa atividade, por condições de saúde, financeiras ou sociais, ficam “marcas” profundas dessa falta de vivência lúdica”. Desta forma, na visão da autora fica visível que o envolvimento das crianças em 13479 atividades lúdicas, possibilitará o crescimento saudável tanto emocionalmente quanto fisicamente de um adulto que vivenciou na sua infância as etapas do brincar. Crianças que frequentam ambientes que proporcionam o brincar, estão aprendendo a lidar com as situações que irão sempre aparecer na sua vida, sendo de extrema importância os pais e professores, pois são os intermediários da brincadeira, porque é por meio das mesmas que irão ensinar os limites, regras e entre outros. Assim a brincadeira passa a ser levada como uma atividade importante na vida da criança e não como “perda de tempo” ou simples atividade. Aprendizagem e o brincar na escola A importância da brincadeira dentro das instituições de educação infantil desperta uma nova concepção de aprendizagem lúdica dentro da escola. Sabe-se, porém que há muitos desafios a serem enfrentados pela educação antes de ser considerada geradora dos avanços científicos. De acordo com Santos, (1997 p. 11), “ao compará-la com outros setores (medicina, engenharia, informática...), onde as inovações aparecem com freqüência, percebemos que nos últimos 50 anos pouco aconteceu, e os avanços ocorridos não chegam a reverter o processo como um todo”. Contudo foi necessário mudar o pensamento em relação às crianças para que pudesse associar o brincar, elemento presente na vida delas como a aprendizagem, deixando de ser visto como fútil e com objetivo apenas de recreação, visando compreender que brincar proporciona aprendizado. Assim o brincar torna-se fator importante e decisivo no desenvolvimento infantil, evidenciando-se como um campo amplo de estudo na área educacional. É oportuno destacar que o brincar possibilita e auxilia no desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e social das crianças principalmente dentro do universo da sala de aula. As crianças em idade escolar geralmente têm dificuldades de expressar ou dominar sua linguagem, dificultando o contato em sala de aula, por vezes, o ato de brincar auxilia na visualização deste problema, e na busca de soluções. Todavia, analisando o ato de brincar na sala de aula torna necessário entender, e deixar claro que existe uma relação entre o brincar e aprender, e que esse visa o desenvolvimento e aprendizagem da criança, como Moyles (2006 p. 14) afirma “[...] o conceito de brincar em 13480 ambientes educacionais deveria ter conseqüências de aprendizagem. É isso que separa o brincar nesse contexto educativo do brincar recreacional [...]”. Porém, em muitas escolas o brincar ainda é tratado como mera distração para os alunos, possibilitando ao professor cuidar de outras atividades. O investimento nesta prática ainda é considerado pequeno diante dos benefícios que são alcançados dentro do ensinoaprendizagem, fica evidente que para um desenvolvimento maior desta prática os profissionais também devem se munir de conhecimentos, onde possam entender, interpretar e utilizar no auxílio da construção do aprendizado da crianças. Para Santos (1997 p. 11). “Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, [...] mas é ajudar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade [...].” Sabemos que para o ser humano a ludicidade tornou-se algo necessário independente da idade, não como mera diversão, mas como fonte de desenvolvimento do aprendizado, pessoal, social, cultural e mental. Pois é por meio do brincar que as crianças formarão conceitos, ideias, expressão oral e corporal, reduzirão a agressividade construindo o seu próprio conhecimento possibilitando assim mediar à relação entre o real e o imaginário. O professor e o brincar O profissional da educação infantil deve saber utilizar o brincar em sala de aula, sendo necessário primeiramente saber definir o que é brincar, pois tendo claro o que é essa atividade tão complexa do mundo infantil, poderá aplicá-la em sala de aula. Há essa necessidade, para que o professor se aproxime do mundo da criança e não torne o brincar uma atividade tediosa e que faça a criança perder o interesse rapidamente. Até porque muitas vezes o brincar está ligado à liberdade, entretenimento, espontaneidade, diversão, entre outros, que são características que em sala de aula necessitam de certo controle. O professor, ao entender e levar em conta o significado do brincar para a criança poderá utilizar desta nova metodologia de ensino que é o lúdico em sala de aula. Mas cabe a ele organizar suas atividades de maneira a qual possibilite ao aluno um aprendizado progressivo, selecionando e utilizando meios mais significativos para realizá-los. Destacando o trabalho em grupo, o qual facilitará o ensino- aprendizagem e o desenvolvimento individual de cada aluno. 13481 O brincar deve ocorrer de forma a agregar aprendizagem na sala de aula, e quem deve criar oportunidades é o professor, mas não somente em recreios ou outros momentos semelhantes, deve ser feito de maneira a integrar a disciplina e o brincar, ambas são importantes para se chegar ao objetivo maior que é o ensinar de maneira a enriquecer seus conhecimentos. O professor ao proporcionar o brincar, deverá atentar-se ao seu papel, pois poderá ser o mediador da brincadeira, utilizando de estratégias para que as crianças cheguem ao objetivo de aprendizagem proposto por ele. Ou ser observador e por meio da sua observação perceber o comportamento de seus alunos e avaliar seu desenvolvimento. Moyles (2002, p.37) afirma com propriedade que: “Parte da tarefa do professor é proporcionar situações de brincar livre ou dirigido que tente atender às necessidades de aprendizagem das crianças e, neste papel, o professor poderia ser chamado de um iniciador ou mediador da aprendizagem. Entretanto, o papel mais importante do professor é de longe [...], quando ele deve tentar diagnosticar o que a criança aprendeu – o papel de observador e avaliador”. Para muitos educadores fica claro que o brincar/ludicidade tornaram-se uma alavanca para o processo educacional das novas gerações. O educador deve buscar uma formação de qualidade, para que como profissional trabalhe de maneira prazerosa com as crianças, deve ainda ter um visão diferenciada referente ao brincar e compreender a real importância do brincar em sala de aula. Para Moyles (2002 p.37) “o treinamento inicial e prático dos professores precisa assegurar que eles adquiram mais competência nessa área a fim de acompanhar as tendências nacionais e manter vivo o papel vital do brincar no desenvolvimento das crianças”. A afirmação da autora revela com propriedade a importância do trabalho do docente como mediador do aluno no processo do brincar como alternativa de aprendizagem Brincar: alguns resultados vivenciados na pesquisa Dentro das observações e práticas que foram obtidas em sala de aula com crianças de 2 a 3 anos, em uma escola particular em Curitiba, pode-se perceber o real significado de brincar para eles. O brincar é interagir, motivar, criar, e principalmente desenvolver seu “eu” interior. 13482 Em sala de aula alguns momentos foram de simples brincadeiras sem orientação direcionada, onde o professor era somente o observador da ação dos alunos. Já em outros ocorreram atividades ligadas ao brincar, onde o professor era quem mediava a brincadeira. Vários foram esses momentos como brincar de estátua, onde as crianças desenvolviam suas habilidades motoras como pular, cantar, dançar e também a concentração de ficar parado conforme a música parava de tocar. Entre outras tantas brincadeiras observadas como: Dança da cadeira, coelho sai da toca, pimenta – pimentinha - pimentão e sapatinho de algodão, entre outras. A relação brincar e ensinar ficaram evidentes no primeiro contato com as crianças, quando participamos de uma aula de artes, observando as crianças brincarem com objetos recicláveis, explorando estes de diversas maneiras, como amassar, colocar um objeto dentro do outro, etc. Visto à importância do brincar com a educação infantil em momentos de observações pelas pesquisadoras, as atividades aplicadas foram ligadas ao brincar. Na primeira atividade foi explorado a imaginação das crianças e seu desenvolvimento motor, sendo criado um circuito como sendo a floresta da Branca de Neve. Observou-se que as crianças entraram na fantasia e brincando realizaram atividades motoras que foram de extrema importância para seu desenvolvimento. Na outra atividade aplicada, o dançar com as parlendas e o brincar de quebra-cabeça, também proporcionaram às crianças a desenvolverem a concentração, lógica, raciocínio, coordenação entre outros. É oportuno referendar, que o brincar ganhou espaço dentro do aprendizado dos alunos que estão em completo desenvolvimento de seus conceitos de vida, ideias, conhecimento de si, entre tantas outras habilidades. Dentro do brincar pode-se trabalhar de várias maneiras, como formas geométricas, cores, tamanho entre outros, isto ficou evidente nos momentos de observação, quando a professora ao observar um aluno brincando com o lego sentou-se ao seu lado e de maneira simples, mais objetiva foi perguntando: “Que cor é esta? Com o que se parece? Que formato tem?”. O aluno sem perceber foi respondendo e aprendendo, também se percebeu que outros alunos aos poucos se aproximavam da professora e participavam do brincar, evidenciando-se pelas pesquisadoras um momento de aprendizagem das crianças. 13483 Destaca-se também, que a escolha do material utilizado nas aulas é uma forma de ensinar/brincando. Isso foi evidenciado quando a professora mostrava aos alunos, de que forma seria a rotina durante aquele dia, cada horário de aula era apresentado em formato de placa, onde os alunos ajudam a montar respondendo as perguntas da professora. Assim sendo, por meio das observações e atividades práticas aplicadas, ficou claro que o brincar cada vez mais ganha espaço dentro dos estabelecimentos de educação infantil como uma alternativa de aprendizagem. Considerações finais O brincar é fundamental na construção do conhecimento da criança, não podendo ficar de fora da sala de aula. Utilizar esta ferramenta é saber trabalhar com a criança da melhor forma possível, pois é trazer o mundo dela para dentro da escola, desta forma se explora a maior riqueza que a criança pode passar, a sua contribuição por meio da expressão do brincar. Dentro da perspectiva do brincar, ele auxilia um maior entendimento na formação da criança e seu desenvolvimento no âmbito escolar, mas este conhecimento deve ser utilizado e proporcionado com a intenção do aprendizado e não o mero brincar por brincar. O professor é o responsável por fazer esta relação do brincar e aprender com as crianças. Cabe a ele explorar o faz-de-conta, onde a criança cria um universo com suas vivencias do real misturado com o do imaginário. O mundo do brincar é construído a partir do cotidiano que as crianças vivem e suas experiências, e nele aprendem a se relacionar com o mundo, pois lá criam os experimentos que podem dar certo ou errado, pode-se começar de novo ou tudo terminar, o importante é a contribuição desse brincar ao ser expresso na vida real que ajudará na formação do conhecimento. E esta característica tão forte da criança de construir e desconstruir tudo no imaginário e projetar na vida real deve ser utilizado dentro da escola, para que esta venha a se aprimorar e expressar da melhor forma possível seu papel mais importante que é contribuir na produção do conhecimento. REFERENCIAS MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002. 13484 MOYLES, Janet. A excelência do brincar. Porto Alegre: Artmed, 2006. SANTOS, Santa Marli Pires (org.). Brinquedoteca o lúdico em diferentes contextos. 3ª ed. Petrópolis, Vozes, 1997. SANTOS, Santa Marli Pires (org.). O lúdico na formação do educador. 2ª ed. Petrópolis, Vozes, 1997 VALESCO, Cacilda Gonçalves. Brincar o despertar psicomotor. Rio de Janeiro, Editora Sprint, 1996. WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.