FICHA_Lideranca

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2.
Liderança. Natureza da liderança.
Liderança é um fenômeno de natureza social, existente em diferentes
situações sociais. Seja em um grupo de crianças na escola, seja em
uma equipe esportiva, seja em uma equipe formalmente constituída
na organização, sempre há pessoas que assumem a liderança e que
são reconhecidas como líderes pelas outras pessoas.
No estudo de organizações, que é o que nos interessa, a liderança
também se manifesta, seja institucionalmente, por pessoas colocadas
formalmente em cargos de liderança, seja de forma espontânea, por
pessoas que, por diferentes razões e em diferentes contextos,
assumem o papel de líder.
O conceito de liderança guarda grande semelhança com o conceito de
poder. A liderança pode ser entendida como o exercício, a utilização,
do poder.
3.1. Teoria dos traços
Trata-se de teoria mais antiga, segundo a qual a liderança é dada por
características inatas do indivíduo. Bryman, citado por Ana LimogiFrança e Eliete Arellano1, cita três grandes tipos de traços que
influenciam a liderança:
 Fatores físicos. Tem a ver com características físicas dos
indivíduos, tais como peso, altura, formato dos olhos, formato
do queixo, tipo de voz;
 Habilidades: “inteligência, fluência verbal, escolaridade e
conhecimento são tidos como características facilitadoras da
liderança. Em princípio, quando alguém tem habilidade de se
comunicar ou informar, há maior possibilidade de que atraia a
atenção”;
 Aspectos
da
personalidade:
“moderação,
introversão,
extroversão, dominância, ajustamento pessoal, autoconfiança,
sensibilidade interpessoal e controle emocional são as
características mais atuantes na aceitação ou não de um líder”.
É inegável que estes fatores exercem, de fato, influência na
liderança. Possivelmente um indivíduo extrovertido terá uma
probabilidade maior de assumir um papel de liderança do que um
indivíduo excessivamente tímido. Talvez um indivíduo alto e com voz
grossa chame mais atenção do que um indivíduo baixo e com voz
fina. Esta teoria tem, porém, inúmeras limitações. O que se sabe hoje
é que a liderança é influenciada por diferentes variáveis, inclusive
1
As pessoas na organização, p. 263.
contexto em que ocorre, objetivo do líder, características do grupo
liderado etc. Sabe-se que os fatores físicos não são irrelevantes, mas
não determinantes. Sabe-se, também que as habilidades podem ser
treinadas e os aspectos da personalidade podem ser ajustados e
praticados.
3.2. Estilos de liderança e situações de trabalho.
As teorias mais utilizadas de liderança são aquelas que relacionam os
estilos de liderança com determinadas situações de trabalho.
A teoria mais famosa dos estilos de liderança é aquela que fala da
liderança autocrática, liderança liberal e liderança democrática.
Liderança autocrática é aquela em que as decisões são tomadas
unicamente pelo líder, sem a participação da equipe. O líder
autocrático decide sozinho quais são as metas e objetivos e quais as
maneiras de alcançá-los.
A liderança liberal, ou laissez-faire, é aquela que praticamente não
conta com a participação do líder. Neste estilo de liderança, a equipe
tem total autonomia para decidir quais são os objetivos e as metas e
como eles serão alcançados.
Na liderança democrática, o líder estimula na equipe os
comportamentos desejados. Apesar de a equipe gozar de relativa
autonomia e de decidir coletivamente, o líder encoraja e estimula a
tomada de decisão, e orienta os membros da equipe. Como a equipe
participa da tomada de decisão, ela se reconhece nas metas e
objetivos, e possivelmente irá se sentir mais motivada para alcançálos.
Alguém poderia se perguntar: qual o melhor estilo de liderança? A
verdade é que não existe melhor estilo. Para decidir que estilo usar,
temos que avaliar o contexto, o objetivo, o tipo de equipe.
Certamente, em uma situação de guerra, um batalhão do exército
tem que funcionar com uma liderança autocrática. Se houvesse
liderança liberal, provavelmente ele seria esmagado pelo inimigo. Em
certos contextos, como em organizações públicas, em que a equipe é
suficiente madura, é melhor implementar a liderança democrática.
A liderança deve ser compreendida de acordo com a situação de
trabalho, ou contexto em que ocorre, ou seja, deve-se considerar
características do líder, dos seguidores e da situação. Em relação a
este aspecto, temos as teorias situacionais de liderança.
Existem diferentes teorias situacionais. Uma delas é a teoria de
Fiedler, “que propõe que o desempenho do grupo depende da
combinação entre o estilo do líder de interagir com seus seguidores e
o grau em que a situação dá controle e influência ao líder”2. “Assim, a
eficácia do líder seria determinada pela interação da orientação do
empregado com três variáveis situacionais básicas que influenciam a
favorabilidade de uma situação para um líder:
 Relações entre líder e membros do grupo: relacionamento
pessoal que o líder tem com os membros do grupo, em termos
de confiança e respeito;
 Estrutura da tarefa: definição das metas das tarefas,
procedimentos e orientações no grupo; e
 Posição de poder do líder: grau de poder e influência que um
líder tem sobre seus subordinados.
Com base em estudos empíricos, Fiedler constatou que, quando a
situação geral era muito favorável (boas relações líder-membros,
tarefa estruturada, forte influência do líder) ou muito desfavorável
(relações líder-membros ruins, tarefa não estruturada, posição pouco
influente), o estilo de liderança mais eficaz era o autoritário. No
entanto, quando a situação se caracterizava por favorabilidade
mediana (por exemplo: boas relações entre líder e membros, mas
tarefa pouco estruturada e pouca influência do líder), o estilo mais
eficaz era o democrático”3.
Vamos ver, agora a teoria situacional mais famosa. É a teoria de
Hersey e Blanchard. Esta teoria é melhor compreendida com base na
figura abaixo4:
2
As pessoas na organização, p. 265.
Gil, p. 225-226.
4
Figura extraída de www.scielo.br/img/revistas/rlae/v6n1/13924f1.gif.
3
A teoria é construída com base em quatro estágios da maturidade do
liderado. Percebam que, na parte de baixo do gráfico, vemos o M1,
M2, M3 e M4, que são os quatro estágios por que passa um indivíduo
na organização. Dependendo do estágio de maturidade dos liderados,
o líder deve adotar um estilo de relacionamento diferente.
Na parte de cima da figura, temos um gráfico com dois eixos. O eixo
horizontal é a orientação à tarefa, ou comportamento de tarefa. O
eixo vertical é o comportamento de relacionamento.
O primeiro estágio é o determinar (E1). Nele, o chefe/líder deve se
concentrar no trabalho, na tarefa. Trata-se de equipe que não possui
maturidade (M1) suficiente para tomar decisões sozinha, ou seja, é o
próprio líder que distribui as tarefas e determina como elas serão
feitas. Entenda que, no gráfico, este estágio tem orientação baixa ao
relacionamento e alta à tarefa.
No segundo estágio, o líder deve persuadir (E2). Neste estágio, o
líder deve ter ênfase tanto na tarefa como nas pessoas, no
relacionamento. As pessoas já conhecem os trabalhos, mas ainda não
tem maturidade suficiente para assumi-los sozinhas.
O terceiro estágio é denominado compartilhar (E3). As pessoas já
conhecem bastante do trabalho e já tem vontade de tomar decisões
sozinhas. Nesta fase, o líder e a equipe tomam as decisões juntos.
O quarto e último estágio é o delegar (E4). Nele, o liderado já tem
maturidade suficiente para tomar as decisões sozinho (M4), ou seja,
o líder delega ao liderado as decisões a respeito de como, onde e
quando os trabalhos serão realizados. Neste quadrante, a orientação
é baixa tanto para a tarefa quanto para os relacionamentos.
Conseguiram entender os quatro quadrantes (“quadrados”) do gráfico
(E1, E2, E3 e E4)? Este conteúdo não é fácil, mas costuma ser muito
cobrado em provas de administração e de RH/Gestão de Pessoas.
4.4. Liderança carismática, transformacional e transacional
“A liderança carismática está associada ao carisma [...]. Entre
as características do líder carismático, House aponta confiança
nos seguidores e a similaridade de crenças. Os liderados
apresentam aceitação incondicional dos líderes, obediência
espontânea, envolvimento emocional com a missão, alto nível
de desempenho e crença na capacidade de contribuição.
Na liderança transformacional, de acordo com Burns (1978),
líderes e seguidores elevam um ao outro a níveis mais altos de
moralidade e motivação. Esse tipo de influência aumenta o
grau de conscientização e envolvimento e ativa a busca da
auto-realização. [...]
Na liderança transacional, o processo é compreendido como a
ocorrência de transações mutuamente gratificantes entre líderes e
seguidores em determinado contexto situacional. O líder transacional
guia seus seguidores na direção das metas e esclarece as exigências
de papel e da tarefa”5.
Vamos nos aprofundar nesse ponto sobre a liderança transacional e a
liderança
transformacional
a
partir
dos
ensinamentos
de
Vasconcelos6:
5
6
As pessoas, p. 266-267.
Vasconcelos, Isabela F. Gouveia de. Mascarenhas, André Ofenhejm. Organizações em aprendizagem. São
Paulo: Thomson Learning, 2007.
"A liderança transacional caracteriza-se pela troca não duradoura
entre o líder e o liderado. Essa liderança é marcada pelo
comportamento condicionado, no qual um indivíduo aceita seguir um
líder porque este tem os meios para viabilizar essa troca, seja ela por
meio de remuneração, da influência política etc. No processo de
liderança transacional, o seguidor aceita as ordens do líder por uma
questão de poder formal. O líder geralmente consegue a submissão
das pessoas às suas idéias devido a esse poder formal e à
prerrogativa da reompensa ou da punição. A relação de troca entre o
líder e o seguidor desaparece no momento em que aquele não pode
mais recompensar ou punir os liderados."
"A liderança transformacional é o processo segundo o qual o líder
influencia na definição da realidade dos liderados e caracteriza-se
pela articulação da experiência e dos significados compartilhados pelo
grupo social de modo a viabilizar determinados modos de ação. O
líder transformacional assume a complexidade de motivações e de
interesses que caracteriza os indivíduos e procura motivos potenciais
entre seus seguidores. Em um processo de liderança trasnformacional
o líder não necessita de sua autoridade formal para conseguir a
adesão de seus liderados. Os vínculos entre os dois tornam-se mais
próximos daqueles tipicamente afetivos, o que faz com que o liderado
siga o líder voluntariamente."
Vejamos alguns itens de prova que tratam do assunto Liderança:
Item 45 (Cespe / PGE-PA 2006) Liderança não pode ser imposta
pela organização, pois se trata de um atributo que depende apenas
das características do líder.
Hoje em dia, sabemos que a liderança não depende apenas das
características dos líderes. Ela depende, também, do contexto, das
características dos liderados e do objetivo a ser alcançado. Item,
portanto, errado.
Item 46 (Cespe / TRE-RS 2003) De acordo com o modelo
contingencial desenvolvido por Fiedler, o líder eficaz é aquele que
possui características especiais que o distinguem dos seus liderados,
o que se denomina teoria dos traços.
Item errado. Com base no que vimos em aula, este era fácil, né? O
modelo contingencial desenvolvido por Fiedler é centrado na situação.
O item descreve a teoria dos traços, segundo a qual o melhor líder
tem traços inatos que o fazem ser um bom líder.
Item 47 (Cespe / DFTRANS 2008) A liderança autocrática tem como
foco
a
automatização
dos
processos
de
trabalho
e
o
compartilhamento das decisões com os membros da equipe.
Item errado. Liderança autocrática é aquela em que as decisões são
tomadas unicamente pelo chefe, ou seja, não são compartilhadas.
Além disso, não tem nenhuma relação com automatização de
processos de trabalho.
Item 48 (Cespe / INSS 2008) Na liderança democrática, a equipe
tem total liberdade para tomar decisões e a intervenção do líder é
mínima.
Item errado. O estilo de liderança em que a equipe tem total
liberdade é a liderança liberal, ou laissez-faire.
Item 49 (Cespe / INSS 2008) A liderança exercida em decorrência
de qualidades natas do líder é denominada liderança liberal.
Item errado. Até que é fácil, né? A liderança exercida em decorrência
de qualidades natas do líder é preconizada pela teoria dos traços, e
não tem nada a ver com a liderança liberal.
Item 50 (Cespe / Terracap 2004) Com relação a liderança
situacional, de Hersey e Blanchard, é correto afirmar que são
enfatizados especialmente os seguidores.
Item certo. Segundo a teoria da liderança situacional de Hersey e
Blanchard, a liderança deve ser escolhida com base na maturidade
dos seguidores.
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