Monografia O Teorema de Wedderburn Charles Paula Daniel Lucas Almeida Moreira Fadel Glazar Dezembro de 2012 Resumo Neste trabalho, expomos brevemente a teoria de corpos finitos e damos uma demonstração, seguindo [1], do teorema de Wedderburn, que diz respeito a uma condição suficiente para que um anel de divisão seja um corpo (comutativo), a saber a condição de ser finito. O texto segue de perto, expondo alguns detalhes omitidos pelo livro, a seção Selected Topics de [1]. Outra referência foi [2]. 1 Introdução Para fixar terminologia, começamos com um apêndice de algumas definições básicas. Uma operação binária em um conjunto A é uma função da forma · : A × A −→ A. Quando denotarmos (A, ·) será para enfatizar que queremos nos referir ao conjunto A munido da operação binária · : A×A −→ A. Ademais, a·b será denotado por justaposição, i.e., a · b := ab. Definição 1. Um anel associativo é um conjunto A munido de duas operações binárias + : A × A 3 (a, b) 7−→ a + b ∈ A (soma) e · : A × A 3 (a, b) 7−→ ab ∈ A (multiplicação) satisfazendo: • (A, +) é um grupo abeliano, cujo elemento neutro será denotado por 0; • (ab)c = a(bc), ∀a, b, c ∈ A (i.e. · é associativa); 1 • (a + b)c = ac + bc e c(a + b) = ca + cb, ∀a, b, c ∈ A (i.e. · é distributiva com relação à +). Se, além disso, a operação de multiplicação em A for comutativa, i.e., ab = ba ∀a, b ∈ A, então dizemos que A é um anel comutativo. Ademais, um anel é dito finito quando o conjunto subjacente A tem finitos elementos. Definição 2. Seja (A, +, ·) um anel. Dizemos que A é um anel de divisão quando (A\{0}, ·) é um grupo. Se existem a, b ∈ A não-nulos tais que ab = 0, dizemos que a e b são divisores de zero do anel A. Além disso, A é dito um domı́nio de integridade quando não possui divisores de zero e é comutativo. Por fim, diremos que A é um anel com elemento unidade quando existe (sempre que existe é único) o elemento neutro multiplicativo 1 ∈ A. Talvez a definição básica mais importante deste trabalho é a de um corpo. Definição 3. Um corpo é um anel de divisão comutativo. Em geral, denotaremos um corpo por F ou K. 2 Corpos Finitos Antes de iniciarmos a demonstração do teorema de Wedderburn, que diz respeito a anéis de divisão finitos, vamos estudar a natureza dos corpos finitos. Iremos classificar todos os corpos finitos (a menos de isomorfismo) e expor algumas de suas propriedades mais importantes. Os corpos finitos têm muitas aplicações em vários ramos da matemática tais como em teoria dos números, grupos e geometria projetiva. Nos restringiremos aqui ao necessário para o entendimento da demonstração do teorema principal deste trabalho. Começamos a seção com alguns resultados preliminares e logo em seguida desenvolvemos alguns resultados importantes para classificação de corpos finitos. Teorema 1. O anel Zn é um corpo se, e somente se, n é primo. Demonstração. (⇒) Suponha que n não é primo. Se n = 1 então Zn = Z/Z que tem apenas um elemento e então não pode ser um corpo. Se n > 1 então n = rs com r e s inteiros menores que n. Colocando I = nZ temos: (I + r)(I + s) = I + rs = I. 2 Mas I é o elemento zero de Z/I, enquanto I + r e I + s não o são. Como em um corpo o conjunto dos divisores de zero é vazio, segue que Z/I não é um corpo. Em ambos os casos obtemos contradição, pois estamos supondo que Zn é corpo; logo n é primo. (⇐) Agora suponha que n é primo. Seja I + r um elemento não-nulo de Zn = Z/I, onde I = nZ. Ora, podemos supor que 1 ≤ r < n. Assim, como n é primo, r e n são coprimos e portanto existem inteiros a e b tais que ar + bn = 1. Daı́, temos que (I + a)(I + r) = (I + 1) − (I + n)(I + b) = (I + 1), e de modo análogo (I + r)(I + a) = I + 1. Agora, como I + 1 é o elemento identidade de Z/I, encontramos um inverso multiplicativo para um dado elemento I + r. Como cada elemento não nulo de Zn tem inverso, e Zn é comutativo, segue que Zn é um corpo. Definição 4. Um subcorpo primo de um corpo K é a interseção de todos os subcorpos de K. Lema 1. Seja F um corpo finito com q elementos e suponha que F ⊂ K, onde K também é um corpo finito. Então K possui q n elementos onde n = [K : F ]. Demonstração. K é um espaço vetorial de dimensão finita [K : F ] := n sobre F , já que K é finito. Assim, K possui uma base com n elementos sobre F ; sejam {v1 , . . . , vn } uma tal base. Então, todo elemento em a ∈ K tem uma única representação na forma a1 v1 + . . . + an vn com ai ∈ F para todo i ∈ {1, . . . , n}. Como cada coeficiente pode ter q valores, concluimos que K possui q n elementos. Teorema 2. Se F é um corpo finito, então F tem caracterı́stica p > 0, e o número de elementos em F é pn , onde n é o grau de F sobre seu corpo primo. Demonstração. Seja P o subcorpo primo de F . Certamente, P não é isomorfo a Q, uma vez que Q é infinito, mas então P deve ser isomorfo a algum Zp , com p primo, onde estamos utilizando o fato de que todo corpo infinito contém uma cópia isomorfa de Q como subcorpo e todo corpo finito contém uma cópia de Zp para algum p primo e, por definição, P é a interseção de todos os subcorpos de F . Agora, como F é isomorfo à Zp , este deve ter caracterı́stica p. Como F é um espaço vetorial sobre P , que possui um 3 número finito de elementos, segue que F deve ser finitamente gerado. Logo, existe n ∈ N tal que [F : P ] = n (finito). Sejam x1 , . . . , xn uma base de F sobre P . Assim, cada elemento de F pode ser expresso de forma única como a1 x 1 + . . . + an x n , com ai ∈ P cada ai pode ser escolhido dentre p elementos e, como |P | = p, temos pn expressões deste tipo, logo |F | = pn . Segue deste teorema que não existem corpos finitos com 6, 10, 12, 14, 18, 20 . . . elementos (note que nenhum desses números são produtos repetidos de um único primo). É importante ressaltar uma diferença com a teoria de grupos finitos: dado qualquer inteiro positivo n é possı́vel encontrar um grupo com n elementos, mas do que vimos isto não acontece para corpos. Por outro lado, grupos de mesma ordem podem ser não isomorfos, mas para corpos isso não ocorre, como veremos mais adiante. m Corolário 1. Se o corpo finito F tem pm elementos, então todo a ∈ F satisfaz ap = a. Demonstração. Se a = 0, o resultado é trivial. Agora, para o caso em que a 6= 0, basta observar que todos elementos não nulos de F formam um grupo mulltiplicativo de ordem pm − 1, e assim temos que ap m −1 = 1 para todo a não nulo em F . Donde o resultado segue multilicando-se por a ambos os lados da igualdade. Deste corolário temos o seguinte lema: m Lema 2. Se o corpo finito F tem pm elementos, então o polinômio xp − x em F [x] Q m decompõe-se em F [x] como xp − x = λ∈F (x − λ). m Demonstração. Como F é corpo finito com pm elementos, então o polinômio xp − x tem no máximo pm raı́zes em F . Mas pelo corolário anterior, segue que todo elemento m de F é raı́z desse poliômio, pois ap − a = 0 para todo a ∈ F . Assim, temos que Q m xp − x = λ∈F (x − λ). m Corolário 2. Se F tem pm elementos então F é o corpo separante para xp − x. m Demonstração. Pelo lema anterior xp − x decompõe-se em F . No entanto ele não se decompõe em nenhum corpo menor, pois tal corpo teria de conter todas as raı́zes deste polinômio e assim deveria possuir pelo menos pm elementos. Assim, F é o corpo separante m de xp − x. 4 Lema 3. Quaisquer dois corpos finitos com o mesmo número de elementos são isomorfos. Demonstração. Ora, de teorema anterior, por serem corpos finitos, existem inteiros positivos p e m, com p primo, de tal forma que o número de elementos destes corpos é pm . m Assim, pelo corolário anterior, ambos são corpos separantes de xp − x sobre Zp , logo são isomorfos. Combinando os últimos resultados, Teorema 3. Para todo p primo, e todo inteiro positivo m, existe um corpo com pm elementos. m Demonstração. Consideremos o polinômio xp − x em Zp [x]. Seja K o corpo separante de m m xp − x. Em K seja F = {a ∈ K: ap = a }. Os elementos de F são, portanto, as raı́zes m de xp − x, as quais pelo corolário 2 do lema 2 são distintas, logo F possui pm elementos. m m Mostremos que F é um corpo. Se a, b ∈ F , então ap = a e bp = b e assim: m m m (ab)p = ap bp = ab, e então ab ∈ F . Além disso, como K tem caracterı́stica p, segue que m m m (a ± b)p = ap ± bp = a ± b . Logo a ± b ∈ F . Logo F é um subcorpo de K, portanto é um corpo. Como F tem pm elementos, segue o resultado. Vamos provar agora um resultado que vamos utilizar na demonstração que apresentaremos do Teorema de Wedderburn. Lema 4. Se F é um corpo finito e k 6= 0, l 6= 0 são dois elementos de F , então podemos determinar elementos a e b em F tais que 1 + ka2 + lb2 = 0 Demonstração. Se a caracterı́stica de F é 2, F tem 2n elementos e todo elemento x ∈ F satisfaz x2n = x. Assim, todo elemento em F é um quadrado. Em particular k −1 = a2 para algum a ∈ F . Usando tal a e b = 0, temos 1 + ka2 = 1 + 1 = 0, pois F é de caracterı́stica 2. Se a caracterı́stica de F é um número ı́mpar p, F possui pn elementos. Seja Wk = {1+kx2 : x ∈ F }. Para determinar a cardinalidade de Wk , precisamos verificar quantas vezes é que 1 + kx2 = 1 + ky 2 desta relação temos kx2 = ky 2 que implica x2 = y 2 . 5 Daı́ x = ±y. Assim para cada x 6= 0, obtemos a partir de cada par x e −x um elemento em Wk , e para x = 0 obtemos 1 ∈ Wk . Assim Wk tem 1 + (pn − 1)/2 = (pn + 1)/2 elementos. Analogamente, Wl = {−lx2 : x ∈ F } possui (pn + 1)/2 elementos. Como Wl e Wk possuem, cada um, mais da metade dos elementos de F , necessariamente Wl ∩Wk 6= ∅. Seja c ∈ Wl ∩ Wk . Segue que c = 1 + ka2 , para algum a ∈ F , e c = −lb2 . Assim, igualando as relações, temos 1 + ka2 + lb2 = 0. Em suma, os resultados apresentados nesta seção ilustram a forte relação entre a finitude do número de elementos de um corpo e a complexidade de sua estrutura algébrica. De fato, a hipótese de finitude do número de elementos de um corpo foi essencial para podermos classificá-los completamente. O resultado que mostraremos na seção seguinte, que é tema central deste trabalho, é surpreendente neste sentido, pois relaciona duas coisas à prióri não relacionadas: o número de elementos de um conjunto com uma certa estrutura algébrica e sua multiplicação. Em verdade, o teorema de Wedderburn dirá basicamente que a condição de uma anel de divisão ser finito garante a comutatividade do mesmo, sendo necessariamente um corpo. 3 O Teorema Começaremos a seção expondo mais alguns aparatos necessários no desenvolvimento da prova do teorema de Wedderburn. Ao final, demonstraremos o resultado. Primeiramente, vamos recapitular, sem vistas a fazer uma exposição completa (já pressupondo conhecimentos prévios da teoria), algumas definições e alguns resultados sobre grupos finitos que serão úteis no decorrer da prova. Em seguida, damos algumas definições à respeito da teoria dos polinômios ciclotômicos, conceitos que serão utilizados na demonstração do teorema. Definição 5. Seja (G, ·) um grupo. O conjunto Z(G) := {g ∈ G : gx = xg, ∀x ∈ G} é dito o centro de G. Analogamente, dado um elemento a ∈ G diremos que o conjunto Za (G) := {g ∈ G : ga = ag} é o centralizador de a em G. Assim, o centro de um grupo é o conjunto dos elementos de G que comutam com todos os elementos de G e, de modo análogo, o centralizador de um elemento a do grupo é o conjunto de todos os elementos deste que comutam com a. Segue da definição que Z(G) e Za (G), ∀a ∈ G, são subgrupos de G. 6 Definição 6. Se H é um subgrupo de G então o ı́ndice de H em G, denotado por [G : H], é o número de classes laterais à direita de H em G. Teorema 4 (Lagrange). Se G é um grupo e H é um subgrupo de G, então |H|[G : H] = |G| .Em particular, |H| divide |G|. Definição 7. Dado G grupo, para cada a ∈ G, definimos a classe de conjugação de a como sendo o conjunto Ca := {x−1 ax : x 6= 0, x ∈ G} Dado G um grupo finito, podemos particioná-lo em classes de conjugação de elementos g ∈ G. De fato, a conjugação de a ∈ G por um elemento não-nulo de G dá origem a uma relação de equivalência, a saber àquela onde a ∼ b se, e somente se, ∃x ∈ G, x 6= 0, tal que b = x−1 ax. Assim, se H é um subconjunto de G que contém um único elemento a de cada partição, podemos escrever a ordem de G como a soma do número de elementos de Ca para cada a ∈ H. O seguinte teorema será de extrema importância e dará uma maneira prática de calcular o número de elementos de uma classe de conjugação. Teorema 5. Se G é um grupo finito e a ∈ G, então o número de elementos conjugados de a, i.e., a ordem de Ca , é igual ao ı́ndice de Za (G) em G; em sı́mbolos |Ca | = [G : Za (G)] = |G|/|Za (G)|. Corolário 3. Se G é um grupo finito, então |G| = X |G| , |Za (G)| onde a soma se estende sobre um subconjunto de G que contém um único elemento a de cada classe de conjugação de G. Assim como em grupos, podemos definir as noções análogas de centro de um anel A, centralizador de um elemento a ∈ A, e de classe de conjugação sem nenhuma mudança apenas utilizando a operação de multiplicação da estrutura do anel. Doravante, utilizaremos as notações Z(A), Za (A) e Ca para o centro do anel A, centralizador de um elemento a ∈ A e a classe de conjugação de a, respectivamente. Note ainda que A é um anel comutativo se, e somente se, A = Z(A). Além disso, dados x, y, z ∈ Z(A), com z 6= 0, então x ± y, xy e (se ∃z −1 ∈ A) z −1 são elementos de Z(A) trivialmente; portanto, Z(A) herda estrutura de subanel de A e, se A é um anel de divisão, Z(A) é um subanel 7 de divisão de A. Observe também que, para cada a ∈ A, Za (A) também é um subanel de divisão de A, e este contém o centro Z(A) de A. Antes de finalizar o trabalho com a demonstração do teorema, seguem algumas definições que serão úteis no decorrer da prova. Seja C o corpo dos números complexos. Uma raı́z n-ésima da unidade em C é um número complexo λ tal que λn = 1; uma n-ésima raı́z primitiva da unidade é um número complexo θ tal que θn = 1 e θm 6= 1, para todo inteiro positivo m < n. A existência de raı́zes primitivas pode ser assegurada de várias formas, um exemplo é tomar θ = exp( 2πi ). n É imediato verificar que de fato θn = 1 e que para todo inteiro positivo m < n, θm 6= 1. Q Um polinômio do tipo (x − θ) ∈ C[x], onde o produto se estende sobre todas as n-ésimas raı́zes primitivas da unidade, é dito um polinômio ciclotômico. Agora, estamos prontos para enunciar e demonstrar o teorema central deste trabalho: Teorema 6 (Wedderburn). Um anel de divisão finito é um corpo. Demonstração. Seja A um anel de divisão finito; queremos mostrar que A é comutativo. Para tanto, consideremos Z(A) e suponha que este contenha q elementos. Se A é um espaço vetorial de dimensão n sobre Z(A), segue de lema anterior que A tem q n elementos e, portanto, que A é comutativo se, e somente se, n = 1. Agora, para cada a ∈ A, como Za (A) é um subanel de divisão de A que contém o centro Z(A), este deve conter q n(a) elementos, onde n(a) é a dimensão de Za (A) sobre Z(A) como espaço vetorial. Afirmação 1. n(a) divide n. De fato, os elementos não-nulos de Za (A) formam um subgrupo de ordem q n(a) − 1 do grupo multiplicativo de elementos não-nulos de A, cuja ordem é q n − 1 e, portanto, pelo teorema de Lagrange, q n(a) − 1 divide q n − 1. Ora, mas isso força n(a) dividir n. Pelo teorema 5 desta seção, o número de elementos em A que é conjugado à a, para cada a ∈ A, é o ı́ndice do centralizador de a como subgrupo do grupo multiplicativo dos elementos não-nulos de A, i.e., |Ca | = |A|/|Za (A)| = qn − 1 . q n(a) − 1 Agora, a é um elemento do centro de A se, e somente se, Za (A) é o próprio A ou, equivalentemente, n(a) = n (pelo que vimos até então). Portanto, como há q−1 elementos 8 no centro do grupo multiplicativo dos elementos não-nulos de A, tem-se pelo corolário do teorema 5 X n q −1=q−1+ n(a)|n,n(a)6=n qn − 1 , q n(a) − 1 (1) onde a soma se estende sobre um subconjunto de G contendo um único elemento de cada classe de conjugação desde que este elemento não esteja no centro de A \ {0}. Em suma, conseguimos reduzir o problema de mostrar que A é comutativo para o de mostrar que a equação (1) só tem solução quando n = 1. Agora, queremos achar um inteiro positivo que divida (q n − 1)/(q n(a) − 1), para todos divisores n(a) de n, exceto n(a) = n, e que não divida q − 1. Assim, a equação (1) não será satisfeita qualquer que seja n inteiro positivo, a menos quando n = 1. De fato, se n 6= 1 um inteiro que divida cada termo do somatório do lado direito de (1) dividirá o lado esquerdo da equação e, portanto, deveria dividir q − 1; no caso em que n = 1, temos Z(A)=A, logo o termo do somatório não existe e a equação é satisfeita trivialmente. Assim, terı́amos forçosamente A comutativo, i.e., o teorema estará provado. Para tanto, vamos utilizar um pouco da teoria de polinômios ciclotômicos introduzida anteriormente. Consideremos o polinômio xn − 1 em C[x]. Como C é algebricamente fechado, xn − 1 = Y (x − λ), onde o produto é tomado sobre cada λ raı́z n-ésima da unidade, i.e., λn = 1. Considere Q também o produto sobre todas as n-ésimas raı́zes primitivas da unidade, i.e., (x − θ) =: Φn (x), onde θn = 1 e θm 6= 1, para todo m < n. Afirmação 2. Φn (x) é um polinômio mônico com coeficientes inteiros. Com efeito, note que com a ajuda de polinômios ciclotônicos, podemos escrever Y xn − 1 = Φd (x). d|n Agora, por indução, podemos assumir que Φd (x) é um polinômio mônico com coeficientes inteiros para d|n, d 6= n. Então, xn − 1 = Φn (x)g(x) onde g(x) é um polinômio mônico com coeficientes inteiros, o que implica (dividindo e comparando os coef.) que Φn (x) é um polinômico mônico com coeficientes inteiros. Afirmação 3. Para qualquer divisor (inteiro positivo) d de n, onde d < n, Φn (x)| xn − 1 xd − 1 9 e o quociente é um polinômio com coeficientes inteiros. Assim, uma vez provada esta afirmação, dado qualquer m inteiro positivo, encontramos um inteiro Φn (m) que divide (mn − 1)/(md − 1), pra qualquer divisor d de n, com d 6= n, restaria portanto mostrar que Φn (m) não divide porém m − 1, e assim o teorema estará provado pelo que foi feito até então. Provemos a afirmação 3. Primeiramente, notemos que xd − 1 = Y Φk (x), k|d e, por hipóstese d|n, portanto todo divisor de d é divisor de n, assim reagrupando os termos Q do lado direito da expressão xn − 1 = Φm (x) (∗), fatoramos o produtório nos produtos m|n de Φk (x), para todo k divisor de d, e Φl (x) para todo l divisor de n que não é divisor de d, aparecendo o termo xd − 1 do lado direito de (∗); ainda, como d < n, xd − 1 não contém o termo Φn (x), e assim a fatoração do produto fica da forma xn − 1 = Φn (x)(xd − 1)f (x), onde f (x) = Y Φk (x), com o produto varrendo os inteiros positivos k tais que k|d e k não divide n, possui coeficientes inteiros, o que prova a afirmação. Afirmação 4. Se n > 1 e q é um inteiro positivo, então Φn (q) > q − 1. Em particular, Φn (q) não divide q − 1. De fato, como |q − θ| > |q − 1|, para todo θ 6= 1 raı́z primitiva n-ésima da unidade, Q segue que |Φn (x)| = |q − θ| > q − 1. Portanto, do que provamos no inı́cio, a equação em (1) só pode ser satisfeita quando n = 1, o que prova o teorema. Referências [1] I. N. Herstein. Topics in Algebra. John Wiley and Sons, 1975. [2] I. STEWART. Galois Theory. Chapman and Hall, 1973. 10