UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL – PGDR CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL E AGROECOLOGIA [Convênio UFRGS / PGDR – ASCAR / EMATER – RS] ESTUDO DE CASO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES ECOLÓGICOS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO SUL – RIO GRANDE DO SUL PEDRO AUGUSTO RÜCKER Monografia de Conclusão de Curso Orientador: Prof. Dr. Jalcione Almeida Porto Alegre, novembro de 2001 2 AGRADECIMENTOS Aos associados e familiares da Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo- ASPEDD que contribuíram de forma simpática para a realização da presente monografia. Ao Professor Dr. Jalcione Almeida, pela especial dedicação, incentivo e orientação r ecebidos sem o qual não teria sido possível realizar este trabalho. À EMATER/RS, através de sua direção, pela oportunidade de realização do curso. Aos colegas de curso, professores e funcionários do IEPE / PGDR / UFRGS, pelo convívio, ensinamentos e apoio. Aos colegas dos Escritórios Municipais da EMATER/RS de Salvador do Sul e de Montenegro, que se dispuseram a dar suporte para a consecução dos trabalhos. Aos colegas do Escritório Regional da EMATER/RS de Estrela e do Escritório Central da EMATER/RS, pela atenção e apoio dispensados. À Prefeitura Municipal de São José do Sul, entidades representativas de agricultores e outras pessoas, pela colaboração. Aos familiares, pelo estímulo recebido e pela compreensão da ausência. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 5 1 REFERENCIAL CONCEITUAL ................................................................................................ 1.1 Sustentabilidade .............................................................................................................................. 1.2 Agricultura sustentável.................................................................................................................. 1.3 A crise do padrão convencional de agricultura .................................................................... 1.4 Agricultura alternativa ................................................................................................................. 1.4.1 Agricultura natural ..................................................................................................................... 1.4.2 Agricultura biológica ................................................................................................................ 1.4.3 Agricultura biodinâmica .......................................................................................................... 1.4.4 Agricultura nasseriana .............................................................................................................. 1.4.5 Agroecologia ............................................................................................................................... 1.4.6 Agricultura orgânica ................................................................................................................. 9 9 10 11 13 13 14 14 15 15 16 2 METODOLOGIA ............................................................................................................................. 18 3 CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO E ANTECEDENTES HISTÓRICOS .............. 3.1 O município de São José do Sul – aspectos e caracterização do cenário atual ........... 3.2 A transição à agricultura ecológica .......................................................................................... 3.3 A situação/caracterização das famílias .................................................................................... 3.4 A comercialização associativa ................................................................................................... 21 21 30 34 39 4 O SISTEMA DE PRODUÇÃO ECOLÓGICO PRATICADO PELOS AGRICULTORES DA ASPEDD .................................................................................................... 4.1 O sistema de criação de bovinos de leite ................................................................................ 4.2 O sistema de cultivo de olerícolas ............................................................................................ 4.3 O sistema de cultivo de citros .................................................................................................... 4.3.1 Operações ou práticas citrícolas do primeiro ao quarto ano ........................................ 4.3.2 Operações ou práticas para pomares citrícolas com mais de quatro anos de idade 42 45 51 64 65 67 4 4.4 O sistema de cultivo do aipim .................................................................................................... 4.5 O sistema de cultivo da acácia-negra ...................................................................................... 73 76 CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 81 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 88 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................. 90 ANEXOS ................................................................................................................................................. 94 5 INTRODUÇÃO Na região do Vale do Caí, onde se encontra situado o município de São José do Sul, é significante o número de agricultores familiares que vêm implementando a agricultura ecológica. Considerando essa realidade, constata-se a carência do registro sobre a dinâmica dos processos e das práticas adotados. Verificam-se, com relativa freqüência, manifestações divergentes quanto ao modo de aplicação dessas práticas e processos. Procurou-se através desse trabalho realizar um diagnóstico sistematizado dos procedimentos tecnológicos e dos processos de produção adotados pelos agricultores da Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo – ASPEDD, em suas inúmeras atividades, que pode contribuir para a troca de experiências e para a difusão a outros grupos ecológicos, para agricultores ecológicos que não participam de associações e até mesmo para agricultores que praticam uma agricultura convencional. Também se procurou identificar as principais razões pelas quais os agricultores da ASPEDD decidiram substituir as práticas convencionais por uma agricultura ecológica,1 a 1 Entendida como uma agricultura praticada com métodos e processos alternativos aos praticados pela agricultura moderna, produzindo sem comprometer a preservação ou renovação dos recursos naturais ao longo do tempo e que coloca o homem em harmonia com a natureza, assumindo este um papel ético perante o consumidor de dar o máximo em qualidade e segurança ao alimento. 6 partir da análise das manifestações dos membros do grupo, bem como de documentação existente. O problema de pesquisa, afinado no contato com os agricultores, pode ser sintetizado através dos seguintes questionamentos: 1- O que determina a conversão ou a passagem dos agricultores de uma agricultura convencional a uma agricultura ecológica? 2- Como se caracteriza, em um contexto específico, esta transição? 3- Quais as dificuldades e avanços deste novo tipo de agricultura? Para responder a estes questionamentos, parte-se da seguinte hipótese: os agricultores, quando ainda jovens, vivenciaram formas de praticar a agricultura em que a ênfase era o uso de equipamentos construídos pelas próprias mãos do trabalhador rural, as formas simples de manejar as suas criações, os insumos para fertilização das terras eram buscados dentro da propriedade e, reciclados, proporcionavam a própria produção de fertilizantes. Resgatando esse modo de cultivar as terras e de criar os animais, esses agricultores exercitaram um modo de fazer agricultura que parte da agricultura natural, usada pelos antepassados, e que, integrado a outros processos e métodos, desenvolveram, com o decorrer do tempo inúmeras maneiras de produzir alimentos com baixo impacto ambiental, com reduzidas conseqüências na contaminação de alimentos destinados ao consumidor e com melhorias nas condições de trabalho. Inúmeras dificuldades foram se apresentando diante dos agricultores em função do modelo de agricultura implantado no país, como custos elevados de insumos, redução das rendas, esgotamento da fertilidade natural dos solos, levando-os a experimentar novas práticas agrícolas e novas formas de comercialização. 7 Assim os objetivos específicos deste estudo são: 1- Conhecer a experiência de um grupo de agricultores e seus familiares que busca a construção de um estilo de agricultura familiar com base ecológica, ao desenvolvimento rural sustentável, e que, em maior ou menor grau, se enquadra num processo que pode considerar-se como de transição agroecológica; 2- Identificar e registrar o cenário social e produtivo anterior aos dos dias atuais que pode ter contribuído na decisão do grupo em optar por praticar uma agricultura diferenciada, não-convencional; 3- Sistematizar as atividades relevantes, descrevendo os principais sistemas de produção, sua lógica de produção, os métodos, insumos e técnicas de produção de caráter ambiental que vêm sendo adotados pelos agricultores, de tal forma que possam ser reproduzidos por outros interessados; 4- Levantar, entender e descrever a origem, trajetória e as motivações dos agricultores e de suas famílias, suas realizações e empreendimentos, as perspectivas e aspirações, potencialidades e limitações, bem como as suas relações com o meio. Na primeira parte, o estudo buscou os antecedentes históricos e o cenário onde os agricultores desenvolvem suas atividades. Apresenta o grupo objeto do trabalho, sua inserção no município e no contexto da m odernização da agricultura brasileira a partir da década de 50, caracteriza a crise da agricultura brasileira nos anos 80 e seus reflexos no Estado do Rio Grande do Sul, bem como identifica as saídas encontradas pelos agricultores da região para contornar esta situação crítica. 8 Num segundo instante são tecidas considerações sobre a metodologia empregada para compreender aquela realidade microssociológica, optando-se pelo estudo de caso com as técnicas complementares da observação-participante, da historiografia, da entrevista e da pesquisa bibliográfica. A terceira parte do trabalho destina-se a uma breve descrição e apresentação dos conceitos chave neste estudo. Na última parte são apresentados os dados e informações empíricas, são caracterizados a produção, as práticas implementadas pelos membros da associação e os resultados obtidos pelos agricultores, relacionando com o referencial conceitual e bibliográfico. A análise da situação transitória da associação objeto do estudo é colocada em perspectiva com as dificuldades que uma nova agricultura sofre em relação ao modelo convencional, ao padrão moderno da “Revolução Verde”, e quais as saídas para o enfrentamento desta situação e a contribuição para que ocorra a generalização desta nova agricultura. 9 1 REFERENCIAL CONCEITUAL A Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo demonstra atuar num padrão de agricultura denominado como “orgânica”, situando-se em transição para a agricultura ecológica, cujos princípios são aqueles da conservação e regeneração dos recursos naturais; do manejo dos recursos produtivos através da diversificação; da reciclagem de nutrientes; da reciclagem de matéria orgânica e regulação biótica; da preservação da diversidade cultural e da integração harmônica entre o homem, agroecossistemas e o ambiente. 1.1 SUSTENTABILIDADE O desenvolvimento e a sustentabilidade planetária foi concebida a partir do Relatório Brundtland: “desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades” (Nosso Futuro Comum, 1991, p.46). 10 O conceito de sustentabilidade tem significados distintos para cada indivíduo, dependendo da classe social a que pertence. Cada um usa e aplica essa terminologia como lhe parece mais conveniente e apropriado. Sustentável, para a maioria, é algo que busca se manter, é algo que tem caráter de imutabilidade (Carmo & Salles, 2001, p.2). Para muitos, a sustentabilidade, enquanto bandeira, serve para se contrapor à expressão e intensificação do processo de acumulação. Enquanto processo, seria algo dado, algo natural, um retorno à lógica da natureza, descartando a visão de sustentabilidade fundada na racionalização dos recursos, sejam naturais, culturais ou humanos (Becker, 2001, p.74). Gliesmman (2000, p.565) descreve um agroecossistema sustentável como aquele que mantém os recursos naturais, conta com o mínimo de insumos artificiais externos e é capaz de se recuperar de perturbações ocasionadas pelo manejo. 1.2 AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Segundo Almeida (1999, p. 117) o agrupamento das intenções, referentes às agriculturas “alternativas” e seus princípios ecológicos, de maneira geral (conforme os propósitos de cada ator/grupo social), forjaram a noção de agricultura sustentável. Para Ehlers (1999, p. 121) agricultura sustentável proposta pela FAO contempla posições conservadoras; já o CNP/EUA (Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos da América) propõe mudanças mais significativas. A primeira corrente clama por um simples 11 ajuste, em busca da racionalidade a curto prazo: redução de insumos industriais, aplicação mais eficiente dos agroquímicos ou substituição por insumos biológicos. Já a segunda corrente é uma alternativa para todo o sistema de produção alimentar a longo prazo: menor impacto ambiental, redução da fome e da miséria e ética social mais igualitária. A agricultura sustentável, na sua concepção mais idealista, baseia-se num enfoque técnico-produtivo (que envolve o econômico) mas que não pode prescindir dos enfoques ambiental (associado à exploração dos recursos naturais), e social (ligado à concentração dos meios de produção). Nesses termos, fala-se de um paradigma inserido num modelo de desenvolvimento, onde o tripé economicamente viáve l-socialmente e justo-ecologicamente equilibrado tenha força para sobrepor a dinâmica acumulação-concentração de capital-lucro (Carmo & Salles, 2001, p.2). Para Gliessman (2000, p. 53) a agricultura do futuro deve ser tanto sustentável quanto altamente produtiva para poder alimentar a crescente população humana. Requer uma nova abordagem da agricultura e do desenvolvimento agrícola construídos sobre aspectos de conservação de recursos da agricultura tradicional local, enquanto, ao mesmo tempo, se exploram conhecimento e métodos ecológicos modernos. 1.3 A CRISE DO PADRÃO CONVENCIONAL DE AGRICULTURA Segundo Ehlers (1999, p. 128), “nas monoculturas de grãos, os fatores desestabilizadores são amplificados, obrigando os agricultores a recorrer a técnicas intensivas 12 para manter as condições necessárias ao desenvolvimento vegetal ...”. Além do elevado custo para os agricultores e dos problemas ambientais, os organismos que se quer combater ficam mais resistentes. De acordo com Almeida (1999, p. 58), dentre outros fatores que denotam a crise do padrão convencional de agricultura, pode-se destacar: - um fator socioeconômico: destruição do policultivo, da rotação de cultivo/pecuária e dos tratamentos ecológicos do solo, acarretando perda de autonomia financeira e de subsistência dos agricultores; - a concentração da terra, da renda e do acesso ao crédito, gerando êxodo e sem-terras; - a degradação ambiental. Para Almeida e Navarro (1997), o padrão convencional reduziu os agricultores a meros consumidores de insumos; e é reconhecidamente concentrador, ao exigir grande quantidade de capital, equipamentos e insumos. Goodman (1990) apud Costabeber (2000, p. 68) enfatiza a inovação trazida pela “Revolução Verde” de utilização de variedades de cultivos positivamente sensíveis ao uso de fertilizantes e, com isso, servindo de “principal veículo para a transformação da agricultura do Terceiro Mundo por parte dos capitais agro-industriais multinacionais”, tornando o agricultor convencional cada vez mais dependente de tecnologia importada e cara. 13 1.4 AGRICULTURA ALTERNATIVA Segundo Ehlers (1996, p. 139), o termo alternativo aparece como o contrário de agricultura convencional. Alternativa tem significação na dimensão política (Almeida, 1999, p. 65), por uma confrontação acerca das contradições da sociedade capitalista destinada, inclusive, a fundar uma nova sociedade. O agricultor alternativo, em relação à tecnologia, processos e métodos de produção opta por soluções que lhe garantam autonomia. Há um rompimento com as técnicas e processos convencionais de produção agrícola. Para Graziano da Silva (1999, p. 55), a importância de um “movimento por uma agricultura alternativa não está ao nível da ‘produção da produção’, mas da ‘produção da consciência’”. 1.4.1 Agricultura Natural O bojo da discussão é o quanto mais natural é a agricultura em relação ao uso de artificialidades. O alicerce desse tipo de agricultura é o respeito às leis da natureza. Ao contrário da agricultura convencional e até mesmo da chamada agricultura orgânica e biodinâmica, essa se baseia na mínima intervenção nos sistemas naturais, propostos por Mokiti Okada e Masanobu Fukuoka. (Ehlers, 1999, p.63). 14 1.4.2 Agricultura Biológica Visa garantir maior qualidade biológica para os alimentos, contrapondo-se àqueles que comportam resíduos de produtos sintéticos de procedimentos artificiais de fabricação química . Para isso, é contra a utilização de qualquer tipo de agrotóxico e de fertilizantes sintéticos, e a favor da fertilização orgânica e da reconstituição biológica do solo (Almeida, 1999, pp. 94-95). 1.4.3 Agricultura Biodinâmica Segundo Ehlers (1999, pp. 129-130), a agricultura biodinâmica prima por sistemas produtivos eficientes que contemple a diversificação/sistema rotacional integrado à produção animal e vegetal: “as rotações bem controladas e combinadas com a produção animal diminuem muito a necessidade de insumos externos, como as rações para alimentação animal, os agrotóxicos e os fertilizantes”. Almeida (1999, p. 95), ressalta que alguns dos aspectos técnicos que a diferencia de outros tipos de agricultura é o uso de preparados ecológicos à base de esterco, bem como leva em consideração a influência da lua (astrologia) na agricultura. 15 1.4.4 Agricultura Nasseriana Segundo Wolff (1994), trata-se de uma nova corrente da agricultura ecológica desenvolvida por Nasser Youssef Nasa, que prega o estímulo e manejo de ervas nativas e exóticas junto com os cultivos, de maneira que mantenham o solo protegido e façam a adubação verde. Defende, também, a diversidade biológica de insetos e plantas, uso de estercos e resíduos ecológicos na base das plantas. 1.4.5 Agroecologia A síntese das diversas proposições em torno de uma agricultura alternativa ao padrão dominante, tradicional e convencional está na agroecologia, (Almeida, 1999, p. 141), apoiando-se muito mais “no uso potencial da diversidade social e dos sistemas agrícolas” mais próximos dos modelos camponês e indígena, espacial e culturalmente circunscritos. Gliesmman (2000, p. 609) enfatiza que a agroecologia em seus princípios contribuim para os respectivos contextos sociais: diminuição da dependência; valorização do conhecimento prático; maior interesse pessoal à integridade ecológica; visão de longo prazo; maior eqüidade na distribuição fundiária; entre outros fatores. 16 1.4.6 Agricultura Orgânica Segundo Ehlers (1999, p. 129), é uma alternativa para o sistema convencional, principalmente pela diversificação. Para Almeida (1999, p. 95), a agricultura orgânica obedece a certos valores e crenças relacionados a uma ética orgânica, como a preocupação com os recursos naturais nãorenováveis; a preservação do solo como “fonte de vida”; a diversificação da produção sob o ponto de vista do policultivo ; independência a fontes de energia; proteção do meio ambiente; conservação dos alimentos e a saúde. O Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 1984)) apud Ehlers (1999, p.55) define agricultura orgânica como um sistema de produção que evita ou exclui os fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento, aditivos elaborados sinteticamente e que se baseia na rotação de cultivos, uso de estercos animais, resíduos ecológicos vindos de fora da propriedade, cultivos mecânicos, uso de minerais naturais e controle biológico de pragas. Altieri (2000, p. 61) considera a agricultura orgânica como um dos tipos de sistemas diversificados de produção ecológica. Segundo Altieri (2000, p. 68) a agricultura orgânica baseia-se, principalmente, em: rotações de cultivo, resíduos de lavouras, esterco, cultivo mecânico e uso de minerais, com o fito de aumentar a matéria orgânica do solo, eliminar agrotóxicos, combater pragas e doenças biologicamente e estocar água da chuva. 17 A Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo enquadra-se na categoria de “agricultor orgânico” ou “ecológico” que, segundo Almeida (1999, p. 165), tem as seguintes características: - trabalha individualmente; - recorre essencialmente à mão-de-obra familiar; - tem uma agricultura diversificada; - produz para subsistência e para os mercados tradicional e ecológico; - possui pequeno conhecimento dos mercados, adaptando-se, principalmente, ao mercado ecológico; - possui área reduzida; - começou a modernização, mas interrompeu, tendendo à utilização de práticas orgânicas - uso de compostagem e não-uso de pesticidas; - tenta acessar um mercado de produtos ecológicos; - faz parte de associação de produtores, encarregando-se da comercialização; - possui estrutura insuficiente em termos de máquinas e equipamentos; - a sensibilidade ecológica está muito ligada à venda de um produto diferenciado; - esta sensibilidade tem relação com os agrotóxicos e solos muito erodidos; - predomina a racionalidade econômica; intensa preocupação em constituir uma marca orgânica; Estas estratégias buscam depender menos de insumos de crédito e contar com uma estrutura mais estável de comercialização, visando vencer a crise econômica. 18 2 METODOLOGIA A metodologia escolhida foi o estudo de caso da Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo – ASPEDD. Segundo Richardson (1985, p. 282), o estudo de caso tem como objetivos “analisar detalhadamente o passado, presente e as intenções sociais de uma unidade social”, no caso um grupo social de agricultores organizados em uma associação ecológica. Inicialmente, constituiu-se um grupo de apoio envolvendo extensionistas da EMATER/RS, lideranças da associação e pessoas de outras entidades. Isso permitiu organizar o planejamento das visitas, entrevistas e coleta de dados, como também contar com o apoio logístico para a execução dos trabalhos. Para o presente estudo de caso lançou-se mão de algumas técnicas complementares: a) A observação participante aconteceu muito mais com o objetivo de estar junto à comunidade observada e descrevê-la em suas ações do que propriamente, como o termo implica, participar como se nativo fosse. O papel do observador participante pode ser tanto formal como informal, encoberto ou revelado, podendo dispensar muito ou pouco tempo na situação pesquisada; 19 b) A historiografia, diretamente obtida por entrevistas junto aos agricultores e pela utilização de fontes secundárias (publicações locais). Conforme Roese (1998, p. 192), discorrendo sobre o estudo de caso, a partir dos problemas de pesquisa (questionamentos teóricos), torna-se indispensável a transformação destas questões em um roteiro de pesquisa, entrevista ou questionário; c) As entrevistas foram aplicadas de maneira informal, dentro de um roteiro nãopadronizado (semi-estruturado), onde se visou coletar dados históricos da trajetória da comunidade, bem como dados atuais. Foram também realizadas visitas a todas as famílias, com aplicação de questionários para identificar as características das unidades de produção (estrutura, funcionamento, atividades econômicas, composição da renda, envolvimento da mão-de-obra, etc.), bem como as atividades sócio-culturais e os aspectos ambientais. Os questionários proveram a base para a realização do estudo de caso e permitiram a abordagem com maior profundidade. O trabalho concentrou-se na pesquisa investigativa do processo produtivo em determinados cultivos, criações ou sistemas de produção que se caracterizam como de maior renda e que contam com o maior número de envolvidos. Através das entrevistas também se procurou identificar as atividades principais desenvolvidas pelas famílias dos agricultores, a renda bruta de cada atividade e o grau de envolvimento nas atividades; d) A coleta de dados secundários foi realizada através de informações contidas em bibliografia buscada junto a instituições de pesquisa, extensão rural, cooperativas, agroindústrias, universidades, prefeituras municipais, sindicatos rurais, associações, comércio de insumos e de produtos agrícolas; 20 e) O uso do diagnóstico “leitura da paisagem”, realizado anteriormente pelo Fórum de Agricultura Familiar do Vale do Caí, foi instrumento auxiliar na identificação da heterogeneidade sócio-econômica-ambiental da região onde está inserida a associação; e f) A análise dos dados coletados foi amparada pela pesquisa bibliográfica, quando foram utilizados não somente os periódicos e livros específicos sobre a realidade microssocial do grupo estudado, mas também comparativamente a outras experiências semelhantes. 21 3 CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO E ANTECEDENTES HISTÓRICOS 3.1 O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO SUL – ASPECTOS HISTÓRICOS E CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO ATUAL. O Município de São José do Sul, cuja emancipação ocorreu em 16 de abril de 1996, e a instalação do primeiro governo, em 1º de janeiro de 2001, encontra-se situado na região denominada Encosta Inferior da Serra do Nordeste, tendo como limites os municípios de Salvador do Sul, Harmonia, Pareci Novo, Maratá, Tupandi e Montenegro. Possui uma área de 70 km² e uma população de 2.400 habitantes. A Prefeitura Municipal de São José do Sul estima uma população rural de 2.280 habitantes, representada por 570 famílias de agricultores. Caracteriza-se como um município essencialmente agrícola, onde predomina a produção de laranja, bergamota, limão, acácia-negra (lenha, casca e carvão vegetal), suínos, leite, milho e aves de corte. 22 Observa-se na paisagem da região, características introduzidas pelos imigrantes e seus descendentes, onde se pode verificar a influência de seus valores. Na arquitetura das casas, de enxaimel, ainda se nota a cozinha separada do bloco principal da casa, mostrando vestígios de que aquela nada mais era do que a primeira habitação, e a presença de sótão, utilizado como alojamento, armazenagem de cereais ou depósito de objetos diversos. As benfeitorias construídas para abrigar as criações de animais são erguidas bem próximas às residências, ainda arraigado na memória o objetivo de salvaguarda dos animais domésticos contra os ataques de índios e de animais ferozes. Em termos de sociabilidade, a população mantém o mesmo espírito sadio e alegre dos imigrantes, primeiros moradores, cultivando algumas tradições que têm elevado cunho aglutinador, recreativo e solidário. Destaca-se a festa do “Kerb realizada por ocasião do dia onomástico do padroeiro da paróquia e que se resume em dois a três dias de reunião e divertimento, quando a população recorda as tradições com cantos, culto religioso, bailes, encontros de amigos e parentes, sem falar da variada gastronomia. Atualmente, existem duas associações comunitárias, dois grupos de senhoras, dois grupos de agricultores, uma sociedade cultural e esportiva, um centro de tradições gaúchas e uma filial de cooperativa. O município pode ser delimitado em duas zonas (Região Baixa e Região Alta). Na Região Baixa, situada mais ao sul do município, encontram-se as comunidades de São José do Maratá, Morro do Cedro e Linha Dom Diogo Baixo. Na Região Alta, situada mais ao norte, encontram-se as comunidades de Linha Canavial, Linha Bonita, Linha Progresso, Linha Lerner e Dom Diogo (sede municipal). 23 O sistema agrícola da Região Alta, onde se inserem os agricultores da associação, caracteriza-se pelo policultivo. Os agricultores dessa região dedicam-se a uma diversidade de cultivos, principalmente o milho, acácia-negra, cana-de-açúcar, aipim, feijão, forragem para animais, batatinha, batata-doce e, entre as criações animais, os suínos, bovino de leites e aves de corte. Parte da superfície da região é formada por potreiros com pastagens naturais constituídas por gramíneas. Mais recentemente, os cultivos de laranja e bergamota vêm sendo introduzidos, tornando-se cultivos de expressão nas propriedades rurais. A mudança de matriz produtiva se deve à rentabilidade do mercado para essas ativi dades. Essa região apresenta um relevo forte, de ondulado a montanhoso. Os solos derivados de rochas basálticas são classificados como Brunizem, Litólitos e Lateríticos e pertencem às Unidades de Mapeamento Associação Ciríaco – Charrua, Associação Caxias – Farroupilha – Carlos Barbosa e Pituva. Em termos de potencial ao uso agrícola esses solos apresentam fertilidade natural moderada, limitado em parte no que diz respeito à mecanização por serem rasos, pedregosos e às vezes com afloramento de rochas. Somente algumas áreas podem ser usadas para a mecanização tratorizada. A paisagem florestal está completamente mudada em relação ao período da colonização, antes com matas naturais abundantes, hoje reflorestadas com acácia-negra, permanecendo pequenas áreas isoladas de mata natural acompanhando as margens de arroios e riachos onde não é possível cultivar. Já o sistema agrícola da Região Baixa se caracteriza pelo monocultivo de citros – laranja, bergamota e limão, intercalado ou não com o cultivo de aipim, ambos com o objetivo 24 de alcançar o mercado consumidor. Esses cultivos contribuem para a formação de maior parte do valor bruto da produção dos agricultores inseridos nessa região. Também se caracteriza pela produção de aves de corte e suínos sob a forma de integração com agroindústrias da região. Além dessas, existe ainda o cultivo da acácia-negra. Nessa região, o relevo predominante é composto por várzeas e elevações curtas, podendo ocorrer em algum local relevo mais acentuado. Os solos, derivados de rochas basálticas, arenito Botucatu e materiais sedimentares são classificados como Lateríticos , Podzólico e Brunizem e pertencem às Unidades de Mapeamento Pituva, Bom Retiro e Vila. Em termos de potencial no uso agrícola, esses solos apresentam fertilidade natural baixa a moderada, com exceção dos solos de classificação Vila que tem boas propriedades físicas e fertilidade natural alta. Uma característica dessa região é a ocorrência intensa de palmeiras, conhecidas popularmente por gerivá ou coqueiro, de 10 a 15 metros de altura, com frutas comestíveis, do gênero Arecastrum, que sobrevivem às derrubadas da mata original e se encontram associadas às lavouras, potreiros e pomares de citros. Os agricultores da Região Baixa praticamente se dedicam ao monocultivo de citros, conseguindo usufruir os resultados que esta atividade conquistou, pois tem boa rentabilidade. A situação sócio-econômica das famílias dessa região é reconhecida pelo restante da população do município, a tal ponto que os agricultores da Região Alta fazem referências “elogiosas”, 25 destacando a região como próspera e que “em pouco tempo também chegaremos lá.” Pode-se dizer que se trata de agricultores consolidados 2 . Os agricultores da região Alta, como já visto dedicam-se mais a uma diversidade de cultivos e criações. Observa-se que a partir da década de 80, gradualmente, vem se intensificando o cultivo do citros com tendência a se tornar um monocultivo nessa região, aparecendo os demais como lavouras secundárias, e desaparecendo, inclusive, as frutas e hortaliças. No início da colonização, a homogeneidade cultural foi muito importante, permitindo aos imigrantes e seus descendentes organizarem-se segundo seus costumes e tradições (Costa da Silveira, 1985). Os primeiros habitantes foram os índios guananás, conforme relato de Lermen & Specht (1999, p.17). A região foi colonizada por imigrantes alemães, entre os anos de 1855 e 1875, oriundos do sul da Alemanha, principalmente da região de Hunsrüch, contribuindo de forma bastante significativa no processo de ocupação. O povoamento da região foi logo se expandindo, dado que as famílias de origem germânica tinham como tradição uma prole numerosa. No início do processo de colonização, o sistema de uso do solo para implantar as lavouras era baseado na derrubada das matas e a subseqüente queimada dos restos de cultivo, 2 Considera-se agricultura em transição (Min. Agric. Abastecimento, 1996; FAO/INCRA, 1994) os estabelecimentos com acesso parcial aos circuitos da inovação tecnológica e do mercado, sem acesso à maioria das políticas e programas governamentais e não consolidados como empresas, mas possuindo amplo potencial para sua viabilização econômica. A agricultura familiar consolidada é aquela constituída por estabelecimentos familiares integrados ao mercado e com acesso a inovações tecnológicas e a políticas públicas. 26 não respeitando as elevações e as margens dos cursos d’água. Este processo perdurou por mais de cem anos e se mantém até os dias de hoje em algumas propriedades rurais. Os imigrantes e seus descendentes desenvolviam inúmeras atividades proporcionadas pela diversidade de profissões dos primeiros colonizadores. Houve progresso nas áreas tecnológicas, com a confecção de equipamentos para a agricultura e um relativo desenvolvimento da indústria artesanal, principalmente moinhos e processamento de produtos agrícolas (banha de porco, oleaginosas, etc). Até a década de 50, a economia era caracterizada como de produção para consumo próprio e venda do excedente. A agricultura colonial produzia uma diversidade enorme de alimentos e produtos. Era auto-suficiente e quase nada dependente de insumos externos. A criação de suínos, que se desenvolveu para trazer fartura à região, proporcionou a indústria de banha de porco e de variados subprodutos, assegurando a base de uma alimentação rica em proteínas. A sociedade colonial manteve esse modo de vida por muitos anos, vindo a ser desarticulado a partir de meados de 1950. No período de 1945 a 1956, conforme Schneider (1999, p. 84-85), a agricultura gaúcha passou por uma estagnação, levando muitos colonos a migrar em busca de novas terras. A suinocultura, que era o principal produto comercial dos colonos, perdeu seu dinamismo em função da substituição da banha por cultivos vegetais de oleaginosas (soja, principalmente), pela perda de mercados para os agricultores catarinenses e mineiros e pela exigência de um novo tipo de rebanho suíno destinado à produção de mais carne. 27 A partir da década de 50, surge uma época (período) de especialização da agricultura, da produção especializada com a forte intenção de exportar em detrimento da produção para o mercado interno. Nesse período se deu o crescimento da indústria e o conseqüente êxodo rural emergente com a lavoura se mecanizando. A partir daí até os dias, atuais os processos industriais de produção agrícola foram introduzidos no meio rural da região.3 Em 1965, o país implantou medidas de modernização da agricultura, e com a implantação do crédito rural, passa a desenvolver o sistema de pesquisa e de assistência técnica e extensão rural, o seguro rural, e a política de preços mínimos. Impulsionadas por essas políticas públicas, as tecnologias ditas modernas foram sendo introduzidas e transformando o outrora bucólico mundo rural. O saber dos agricultores foi gradativamente substituído pelo saber das universidades, dos órgãos de pesquisa oficiais e privados, da extensão rural oficial e da assistência técnica privada, ocorrendo uma mudança econômica, social e material na vida do agricultor familiar. Em nome da necessidade de aumentar a produtividade das lavouras, privilegiando o cultivo de produtos para a exportação, a modernização da agricultura acabou promovendo uma mudança na base técnica da produção, com custos mais elevados, afetando profundamente as relações de trabalho no campo (a lavoura tecnificada é liberadora de mão-deobra). Enquanto se estimulava o plantio de produtos para exportação (soja, por exemplo) a produção de alimentos para o mercado interno diminuía. Com a modernização restou à agricultura familiar a atividade periférica de produção de alimentos a um custo barato para o mercado interno e à base do sobre-trabalho e da mão-de-obra familiar. 3 Segundo Almeida (2001, p. 16-17) “a via de desenvolvimento proposta ao Terceiro Mundo foi tomada emprestada daquela seguida pelas nações ocidentais, hoje consideradas ricas ou avançadas, industrialmente. Aos países mais pobres, para se tornarem também ricos e avançados, era preciso imitar o processo de industrialização desenvolvido nos países ocidentais” (Almeida, 2001 p.16-17). 28 A máquina, representando o elemento tecnologia, foi desenvolvida para aumentar a produtividade, poupar mão-de-obra, reduzindo custos e a penosidade e melhorando o conforto do trabalho rural. É um período de exclusão do agricultor familiar e de todo o assalariado que vivia da agricultura. As medidas governamentais proporcionaram todos os elementos necessários ao desenvolvimento do agronegócio, mas erraram no momento em que cada elemento ficou dissociado do outro, quando a eficiência e a qualidade total se instalaram nas propriedades rurais dos denominados agricultores modernos. A agricultura familiar que era autônoma e independente muito sofreu com a Revolução Verde, não somente ocorrendo a erosão do solo mas também uma erosão social que provocou a fuga dos campos para as cidades. A violência e as favelas no meio urbano dão a dimensão deste processo. Na política de modernização da agricultura houve a participação da assistência técnica e da extensão rural desenvolvida pela rede privada e governamental. entendendo-se esse processo pelo uso de insumos modernos, máquinas e equipamentos que pouco contribuem em mudanças qualitativas. Na região, como em qualquer lugar desse estado ou país, a política para o setor agrícola não ocorreu de forma neutra. Observa-se aí uma forte atuação de grupos de interesses tentando interferir no rumo das medidas instauradas, resultando em políticas discriminatórias, que passam a atender os aliados mais próximos e a grupos com maior poder de pressão. Na região, em conseqüência dessa situação, houve um grande incremento da produção de soja a partir dos anos 70. Esta, em função dos preços pagos, passou a representar a poupança 29 do agricultor, enquanto que outros produtos como o leite, ovos, galinha, lenha e casca de acácia-negra ajudavam a manter o “rancho” da família. Na década de 80 inicia-se o processo de consolidação das atividades suinícola, avícola e leiteira no modelo de integração industrial. Os complexos agroindustriais timidamente se instalam na região, e com o decorrer do tempo, vão se impondo ao mercado. O agricultor integrado, que era dono do seu trabalho, passa a ser um dependente dos complexos agroindustriais, não sendo mais o proprietário do seu tempo, perdendo sua autonomia. As decisões acontecem fora da propriedade, sem sua participação. Ocorre também incremento na produtividade e na produção, provocando uma diferenciação entre os agricultores com a especialização, por exemplo os “granjeiros”, que representam o modelo capitalista de produção. Nos anos 80 e 90 a agricultura na região entra em crise, à semelhança do que ocorreu no Estado. Tomando-se como base o ano de 1980, observa-se que a participação do setor agrícola no PIB estadual decresceu consideravelmente, passando de 15,08% naquele ano para 10,57 % em 1995 (FEE, 1997, p.7). Segundo relato de agricultores entrevistados, esse período se caracterizou pela alta dos preços dos insumos e a não correspondência de alta nos produtos do agricultor, fazendo-o plantar ou criar apenas para seu sustento, vislumbrando um horizonte de incerteza e de angústia. Com a modernização, restou à pequena propriedade a atividade periférica de produção de alimentos a um custo barato para o mercado interno, à base do sobre-trabalho e da mão-de-obra familiar. Boa parte dos filhos adultos foram trabalhar nas indústrias ou ateliês de calçados da região e fora dela, dedicando tempo parcial à agricultura, ou seja, trabalhando fora mas morando no meio rural. A agricultura e o modo de vida que o 30 agricultor levava foram truncados a partir dos anos 60 com a revolução verde, a quimificação da agricultura, a mecanização. A denominada modernização da agricultura conduziu a uma desestruturação da agricultura familiar e, em certos aspectos a uma diferenciação social que permanece até nossos dias, com a exclusão de significativa parcela de agricultores familiares que encontram na pluriatividade uma alternativa viável de permanecer no meio rural e garantir sua reprodução social (Schneider, 1999. p. 115) 4 . 3.2 A TRANSIÇÃO À AGRICULTURA ECOLÓGICA. A partir de 1984, surgem na região alguns movimentos, liderados por pessoas como o ecologista José Lutzemberger, que na época trabalhava como consultor da empresa TANAC S/A, contrários ao uso da adubação química e de agrotóxicos e valorizando o uso da matéria orgânica e de outras práticas culturais favoráveis aos processos biológicos. Na década de 90 grupos organizados pela Harmonicitrus – Associação de Citricultores Harmonia, com apoio do PRORENDA – Programa de Viabilização dos Espaços Econômicos das Populações de Baixa Renda, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado do Rio Grande do Sul e da EMATER/RS, já vinham atuando na citricultura de forma a buscar uma maior sustentabilidade na atividade. Daí 4 (¹) Segundo Schneider (1999) a pluriatividade é entendida como sendo o exercício de mais uma atividade remunerada. Ela se manifesta através de uma multiplicidade de formas, em situações de tempo e esforço distintos e como uma estratégia de reprodução da unidade familiar de produção. A combinação permanente de atividades agrícolas e não agrícolas em uma mesma família caracteriza e define a pluriatividade que tanto pode ser um recurso do qual a família faz uso, como representar uma estratégia individual dos membros que constitui a unidade doméstica. A adesão à pluriatividade algumas vezes provoca modificações na organização da unidade produtiva agrícola, estimulando o uso da terra para cultivos permanentes, como o reflorestamento ou a agricultura de subsistência. Outras vezes a pluriatividade de membros da família não afeta a produção agrícola, caracterizando-se basicamente como estratégia de emprego, de mão-de-obra excedente. 31 “surgiu a ECOCITRUS, uma associação que se propunha a melhorar a agroecologia na região, que é formada por um grupo de agricultores ecologistas, no início todos vindos de grupos do projeto ... e foi se formando uma consciência coletiva. Aí surgiu a oportunidade de fazer composto, vendo os resíduos das agroindústrias de tanino e outros dejetos da região” (Mendel, 1999, p.275). A ECOCITRUS e os grupos de citricultores passam a promover uma mudança de consciência não somente dos citricultores, mas de grupos de produtores de olerícolas, mais tarde redundando na instalação das feiras de produtos ecológicos na região. Por volta de 1997/98, um agricultor de Linha Lerner, atraído por uma proposta de intermediários exportadores, vê frustrada a possibilidade de exportar minhocas. Estando estruturado para esse fim e com farto volume de composto ecológico de minhoca, foi buscar orientação no sentido de dar um destino para esse material. Nesta oportunidade, recebeu um convite do escritório da EMATER, de Salvador do Sul, para participar de um curso sobre produção orgânica de hortaliças, sendo estendido o convite aos demais integrantes da associação que naquele momento ainda não estava organizada como tal. Foi durante o curso que se iniciou uma manifestação a fim de experimentar uma nova matriz produtiva para as propriedades, que atendesse às expectativas de obtenção de maior renda numa perspectiva de agricultura sustentável, esta entendida como o “modelo que deve combinar elementos do conhecimento tradicional e do científico moderno, complementando-se o uso de variedades e insumos convencionais com tecnologias de cunho ecológico, garantindo uma produção agrícola mais acessível e sustentável” (Altieri, 1989, p. 208). 32 No retorno às suas atividades, os agricultores resolveram estabelecer um plano de trabalho que os ajudasse a definir os rumos futuros. Foi assim que decidiram pela formação de uma associação, com o “objetivo de produzir e comercializar produtos olerícolas ecológicos, diretamente ao consumidor, baseados em melhorar a qualidade de vida.” Segundo a Ata nº 1, a associação deveria se chamar Grupo de Produtores Ecológicos de Linha Lerner – GPELL. Posteriormente, através da Ata nº 18, ficou definida como Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo - ASPEDD. O que pode ter contribuído, também, para a adesão do agricultor a um novo padrão de agricultura mais sustentável, é a tendência cada vez mais forte na região de uma crescente exigência de parcela do consumidor por produtos alimentícios naturais. Um novo mercado de produtos agrícolas, que apresentasse características de produção diferenciada, aliado às dificuldades de renda que não atendia às expectativas das famílias, contribuíram na determinação dos agricultores em sair em busca de uma nova maneira de produzir alimentos nas unidades de produção. Surge aí uma nova matriz produtiva e novas fontes de renda influenciadas por uma faixa de público consumidor. Decorrência desta determinação é a grande variedade de produtos hoje processados e comercializados nas feiras da associação, a qual promove aumentos de receita familiar. Um exemplo disso é a venda de produtos de fabricação artesanal, tendo a receita se situado em torno de um salário mínimo mensal, por família (pesquisa de campo-2001). Também se verifica um comportamento de consciência para a necessidade de adotar formas de produção e estilos de vida compatíveis com a sustentação dos recursos do planeta Moreira (1993) citado em EMATER/RS (1997). Percebe-se que há de parte dos agricultores da 33 ASPEDD uma sensibilidade ecológica, uma tomada de consciência dos problemas gerados a partir da instalação da agricultura convencional, insurgindo-se contra os processos aí executados, e que foram os promotores de crises ocorridas com a agricultura familiar, e buscando sistemas agrícolas sustentáveis, com baixo uso de insumos externos, diversificados e eficientes em termos energéticos. Apesar da introdução da agricultura moderna no meio rural onde hoje se inserem os agricultores do grupo, esses despertaram para os seus efeitos, procurando desenvolver, de modo consciente, sistemas de cultivo ou de criação pouco dependentes de insumos ditos modernos. Através do uso de métodos de cultivo que substituam os fertilizantes químicos pelos fertilizantes ecológicos, reduzindo o trabalho de revolvimento dos solos, eliminando totalmente a utilização de agrotóxicos e procurando integrar de modo racional e eficiente as atividades dentro da unidade de produção, esses agricultores vêm executando processos de produção mediante sistemas agrícolas que podem ser qualificados como orgânicos, alternativos, biológicos, ecológicos, etc. Percebe-se de parte dos componentes da associação, uma tendência de trabalho não-penoso. Não se trata aqui de penosidade vista sob o aspecto do trabalho mecânico do trabalhador, mas sob o aspecto de alcançar um bem-estar humano. Esse bem-estar é conseguido libertando-se do uso de inúmeras técnicas e processos usados e difundidos pela agricultura convencional, como é o caso de aplicação de pesticidas para pragas e ervas daninhas. Verifica-se durante as entrevistas com os agricultores e suas famílias, que as mudanças ocorreram devido a uma soma de fatores: momento de crise coletiva, tendo em vista a situação da agricultura familiar, já relatado anteriormente; a forte influência das experiências de outros 34 grupos de produção ecológica existentes na região; frustrações financeiro-econômicos que propiciaram uma reflexão do indivíduo inserido num contexto de dificuldades e, ainda, o incentivo ou motivação provocada por parte de agentes externos como, por exemplo, o serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural da EMATER/RS. 3.3 A SITUAÇÃO / CARACTERIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS. No ano de 1998, quando do início da organização da Associação, eram nove famílias, sendo que quatro desistiram de acompanhar as atividades do grupo. As cinco famílias que hoje compõem a Associação estão distribuídas nas comunidades de Linha Lerner (quatro famílias) e Linha Progresso (uma família), que distam entre si aproximadamente 4 km. Essas famílias possuem propriedades que totalizam 64,2 hectares. O grupo é formado pelas seguintes famílias com seus respectivos membros: ♦ Família de Aloísio e Márcia Führ, moradora em Linha Lerner. Possuem dois filhos menores. Com os mesmos moram o casal Waldomiro e Imelda Führ, pais de Aloísio. Apenas Aloísio e Márcia se envolvem nas atividades de produção agrícola. Os serviços de casa recebem o apoio do segundo casal; ♦ Família de Pedro Jandir e Adriane Führ, moradora em Linha Lerner. Possuem dois filhos menores. Com os mesmos moram o casal Arlindo Aloísio Führ e Elma Olidia Führ, pais de Pedro Jandir. Todos, com exceção de um filho do primeiro casal, se envolvem com a produção agrícola; 35 ♦ Família de Reneu Egídio e Noeli Nied Führ, moradora em Linha Lerner. Possuem dois filhos adultos. Com os mesmos mora Lauro Nied, sogro de Reneu Egídio. Envolvem-se nas atividades agrícolas o casal e um dos filhos; ♦ Família de Roque Oscar e Jaqueline Wollman, moradora em Linha Lerner. Possuem uma filha menor. Apenas o Senhor Roque se envolve nas atividades agrícolas; ♦ Família de Rudi e Maria Schuster, moradora em Linha Progresso. Possuem três filhos adultos, sendo que somente um mora com os pais. Envolve -se nas atividades somente o casal. Participavam do grupo as famílias de João Beno Lottermann, moradora em Linha Canavial, e Paulo Claus, Elton Müller e Martim Von Mühlen moradores de Linha Lerner. Durante as entrevistas junto a esses agricultores, pode-se verificar um aspecto importante, que motivou a sua organização como grupo ou associação. Diante da difícil situação econômico-financeira das famílias, o grupo refletiu sobre a possibilidade de inovar, buscando diversificar mais ainda a produção agrícola, desde que as atividades se mostrassem mais rentáveis e lucrativas, como o caso das olerícolas, e que fosse adotado um novo modelo de agricultura onde se gerasse renda com menos custos e se promovesse melhor qualidade de vida humana. A mudança de uma matriz produtiva foi a alternativa para superar os problemas que punham em risco a sua reprodução social. Isso exigiu por parte dos agricultores uma readaptação às novas atividades, uma mudança radical no que vinham fazendo durante anos e que herdaram de seus antepassados. Foi necessária uma dedicação especial para poder conciliar as tradicionais atividades com as novas. 36 Apesar de que as novas atividades representassem uma aspiração das famílias para a solução de seus problemas, houve dificuldade em viabilizar e operacionalizar os novos sistemas de cultivo; afinal, estes exigem a passagem do “modelo camponês” de agricultura de subsistência a um modelo que imprime outra rotina de trabalho, tornando-a mais complexa, considerando o alto risco e a natureza de exploração de hortaliças, cuja característica básica é a sua alta pericibilidade. Outro aspecto a ser ressaltado é que a falta de experiência na comercialização veio à tona, demandando rapidez no escoamento e mobilização em busca de mercado. Assim sendo, a opção por outros sistemas de cultivo passou a se tornar conflitante com suas tradições e modo de trabalhar. A proposta, que a princípio era aparentemente simples, acabou virando um pesadelo, sendo fator preponderante na decisão de não m ais prosseguir com essas atividades, o que provocou o desligamento de algumas famílias da associação. Em relação à posse de terra, a média de área entre os componentes do grupo situa-se em 12,8 hectares próprios, não se fazendo uso de terras arrendadas ou em parceria. A receita monetária bruta anual (produção agropecuária) de cada família situa-se em R$13.666,00. Possuem uma infra-estrutura relativamente adequada às suas necessidades. Todas as famílias têm boas moradias, contando com luz, telefone, equipamentos para o trabalho, benfeitorias para a criação de animais, depósito e cobertura para máquinas. Um problema é a água, pois a região tem deficiência de vertentes. Essa situação será em breve resolvida, com a distribuição de água encanada a todos os moradores, a partir de um poço artesiano existente em uma comunidade próxima. 37 Os agricultores não se restringem a produzir alimentos oriundos de suas lavouras e criações para fazer frente as suas necessidades, melhorar suas economias e, por fim, manter a reprodução das unidades familiares. Como estratégia individual na busca de novas alternativas, procuram permanentemente combinar as atividades agrícolas com a agroindústria caseira, mais uma atividade remunerada que compõe a renda familiar. Assim são produzidas, semanalmente, uma quantidade variada de produtos como pães, bolachas, biscoitos, rosca de polvilho, cucas, bolos, doces de frutas (schmier) e melado. Abre-se aí um espaço como alternativa de trabalho e renda diante da crise vivida pela agricultura familiar. Ressalte-se que a transformação de produtos de origem vegetal ou animal é parte do cultivo da agricultura familiar Entre as pessoas ou instituições com quem conversam para auxiliar na tomada de decisões a respeito da produção ou de mudanças na unidade de produção são citados a EMATER de Salvador do Sul e de Maratá; a Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior Ltda.; a Secretaria Municipal de Agricultura; o SEBRAE; o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e os vendedores de insumos, máquinas e equipamentos. Também é citado por um dos componentes do grupo o Eng.Agro. Sebastião Pinheiro e parentes com formação agronômica. Interessante citar que uma fonte de busca de informações são alguns programas de televisão onde se veiculam matérias sobre agricultura geral. Também foi citada a troca de experiência que ocorre entre os agricultores da associação. Os agricultores entrevistados demonstraram preocupação com as limitações que o novo município tem, principalmente quanto ao aspecto de transferência de tecnologia na área de cultivos. A principal instituição envolvida nesse processo era o Escritório Municipal da 38 EMATER de Salvador do Sul que, devido ao convênio existente com esse município, não mais permite fornecer o apoio necessário aos agricultores de São José do Sul. A figura apresentada a seguir, mostra, pela percepção dos agricultores, quais as instituições ou pessoas presentes na sua atividade de produção e qual a força desta relação. EMATER COOPERATIVA AGRICULTOR Secretaria Municipal de Agricultura SEBRAE Sindicato dos Trabalhadores Rurais Vendedores Vizinhos A grande maioria das informações e/ou apoio que os agricultores almejam das instituições ou pessoas de suas relações refere-se a novos mercados para a venda de seus produtos, formas de comercialização, técnicas de irrigação, recursos para aquisição de máquinas e equipamentos como semeadeiras de hortaliças, tratores e equipamentos de irrigação e orientações específicas sobre técnicas de cultivo de olerícolas. A percepção dos agricultores é de que essas são aspectos que exigem muita atenção por parte do agricultor, e que se tornam decisivos na regularidade de entrega dos produtos no mercado. 39 3.4 A COMERCIALIZAÇÃO ASSOCIATIVA Um dos aspectos que se destaca no grupo é a proposta de comercialização associativa utilizada para comercializar a produção, tanto de origem agrícola e pecuária como da indústria artesanal. Reconhecendo que parcela expressiva da produção tem sido apropriada por intermediários, que se valem dos mecanismos tradicionais de exploração do agricultor familiar, e a inexistência de agroindústrias que possam absorver a produção de olerícolas, os agricultores do grupo resolveram investir na venda direta ao consumidor. É importante destacar a forma de atuação coletiva na comercialização. Desde que iniciaram as primeiras colheitas de olerícolas, foi realizado um levantamento do mercado para os produtos diferenciados, isentos de agroquímicos, como é o caso das olerícolas produzidas pelo grupo. A procura desse mercado ocorreu dentro do município e fora dele, os agricultores vendendo sua produção de duas formas, através de feiras fixas e feira móvel. Após resolvidas as questões burocráticas de instalação de feiras no município de Montenegro, foram instalados dois postos de venda que ocorrem todas as quintas e sextasfeiras pela manhã. Além destes, todos os sábados é realizada uma feira móvel que percorre a sede municipal de São José do Sul e algumas comunidades do interior.5 5 Esse fato também demonstra o nível de especialização de alguns agricultores do município, quando preferem comprar as hortaliças a plantá-las em suas propriedades. 40 A forma adotada para comercializar demonstra o nível de organização e administração interna do grupo. O seu funcionamento exigiu criação do agente ou dos agentes de comercialização dentro do grupo, indispensáveis para que os produtos deixem as unidades produtivas e cheguem à feira, na forma e no tempo desejados pelo consumidor. No sentido de dar equilíbrio entre a eficiência do sistema de comercialização e a permanência do agricultor no campo de produção, não se ausentando da lavoura, foi instituído um rodízio entre três componentes do grupo que mais condições apresentam (a questão primordial era a disponibilidade de um veículo para transporte) e que seriam os responsáveis pela comercialização. Desse modo, a cada feira, o responsável tem o compromisso de receber os produtos dos fornecedores, registrar a quantidade recebida, transportar até o destino e fazer a venda. No retorno, cada fornecedor recebe o dinheiro da venda, subtraído em 20% referente aos serviços realizados e despesas com transporte. É importante observar que essa proposta de comercialização associativa estimulou a organização da produção de tal modo que um componente do grupo tem o compromisso de se dedicar, aperfeiçoar e se especializar em determinados produtos, de tal forma que não faça falta durante o ano. É o compromisso do atendimento da demanda regular junto ao mercado comprador. Esta iniciativa demonstra que essa tarefa pode ser assumida pelo próprio agricultor, não devendo ser deixada necessariamente para outros tipos de profissionais (intermediários). O agricultor demonstra também que não se tornou alienado em relação às complexidades da comercialização; muito ao contrário, foi em busca de seu espaço, defendendo seus interesses, 41 conquistando um novo mercado e principalmente mantendo uma relação direta com o consumidor. 42 4 O SISTEMA DE PRODUÇÃO ECOLÓGICO PRATICADO PELOS AGRICULTORES DA ASPEDD Os resultados apresentados a seguir englobam a descrição sumária das características técnicas de produção. Os dados levantados pelas entrevistas serviram para identificar o sistema de produção das cinco famílias de agricultores do grupo. O sistema de produção identificado é composto por quatro sistemas de cultivo e um sistema de criação. As cinco famílias apresentam uma lógica de produção voltada quase que exclusivamente para a produção vegetal, a exceção fica por conta da criação animal de bovinos de leite. A situação no sistema de produção é bastante dinâmica, não existindo uma consolidação permanente dos sistemas de cultivo. Assim como atualmente foram identificados estes sistemas, no futuro pode ser mudado face às constantes necessidades econômicas dos agricultores e às oportunidades que surgem. Foram levadas em consideração para a sua identificação as atividades que mais contribuem para a formação do valor bruto da produção e onde ocorre um maior número de agricultores envolvidos, conforme mostram os dados do quadro abaixo. Os sistemas de cultivo e de criação encontrados podem ser assim expressos: 43 - Sistema de cultivo de olerícolas: abrangendo os cultivos de alface, alho, cenoura, couve brócolo, couve -folha, couve -flor, morango, repolho e rabanete; - Sistema de cultivo da acácia-negra; - Sistema de cultivo de citros: abrangendo as espécies de bergamota e de laranja; - Sistema de cultivo de aipim; - Sistema de criação de bovinos de leite. 44 Quadro 1.Atividades de produção vegetal/animal, atividades processadas na propriedade, renda, envolvimento da mão-de-obra, número de agricultores envolvidos na atividade, destino da produção. Atividades Área Produção Anual Renda Época de Agriculto Destino da (ha/m²) Unidade de bruta maior -res Produção/ Cabeças venda aproxima- concentração Envolvi - Comerciali(nº) da do trabalho dos zação (R$) (meses) Laranja 5 ha 1.750 caixas 4.375,00 Março a 4 Feiras, outubro Fruteiros (intermediário s) Bergamota 19 ha 11.480 caixas 28.700,00 Fevereiro a 4 Feiras, novembro Indústria de sucos e óleos essenciais, Fruteiros (intermediário s) Bovino15 vacas 36.000 litros 11.160,00 Todo ano 4 Cooperativas de-leite / venda direta ao consumidor / processament o (queijo e requeijão) Acácia1,7 ha 170 m de lenha 4.760,00 Maio a 4 Compradores negra 26.000 kg casca 2.600,00 setembro diversos (intermediário s) Aipim 2,5 ha 15.500 kg 4.300,00 Março a 5 Feiras, novembro consumo na propriedade Milho 8 ha 20.000 espigas 2.000,00 Agosto a 1 Feiras verde julho Rabanete 1.300 2.800 molhos 1.680,00 Todo ano 4 Feiras m² Repolho 2.000 1.500 cabeças 1.500,00 Todo ano 4 Feiras m² Alface 550 m² 6.500 pés 1.300,00 Todo ano 4 Feiras Couve -flor 800 m² 1.500 cabeças Morango 160 m² 440 kg 1.125,00 1.100,00 Cenoura 1.000,00 500 m² 2.000 molhos Todo ano Abril a dezembro Todo ano 4 4 Feiras Feiras 4 Feiras 45 Beterraba 2.000 1.000 molhos m² Couve 2.000 1.000 molhos m² Alho 400 m² 100 kg 750,00 Todo ano 4 Feiras 500,00 Todo ano 4 Feiras 400,00 4 Feiras Brócolo Batatadoce Feijão 240 m² 400 molhos 0,50 ha 600 kg 160,00 300,00 Abril e novembro Todo ano Todo ano 4 1 Feiras Feiras 0,60 ha 450 kg 300,00 2 Feiras, consumo próprio Milho 3,5 ha 4 Consumo na propriedade Aves de postura 30 aves 215 dúzias 1 Feira, consumo próprio 10.500 kg Agosto e dezembro Janeiro e abril ------------- Agosto/sete --mbro Dezembro/ja neiro 320,00 Todo o ano Fonte: Pesquisa de campo – 2001. 4.1 O SISTEMA DE CRIAÇÃO DE BOVINOS DE LEITE. No grupo, quatro agricultores têm a produção de leite como uma das atividades. O rebanho varia de 3 a 4 vacas por propriedade, sendo a produção anual de 2.400 litros de leite por unidade animal. A renda bruta anual com o leite é de aproximadamente R$ 2.790,00 por propriedade. A atividade é considerada familiar de mercado, considerando-se que a maior parte da produção é destinada às usinas beneficiadoras de duas cooperativas (Cooperativa Mista de Leite e Derivados de Montenegro Ltda. – COOPERMONTE, com sede em Montenegro; e Cooperativa de Laticínios Glória – COOLAG, com sede em Fazenda Vila Nova). Além destas, o leite também é recolhido pela Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior Ltda., com sede em Harmonia, mas encaminhado a COOLAG. 46 A situação do agricultor é de um pequeno proprietário de terras com poucas possibilidades de expandir a área destinada a essa atividade. Pequena quantidade de leite é vendida diretamente ao consumidor ou processada na propriedade, t ransformando-se em queijo e requeijão, que são vendidos nas feiras de produtos coloniais. As instalações destinadas à atividade leiteira são rústicas, com a sala de ordenha junto ao galpão onde ficam os terneiros, depósito de forragem e abrigo para máquinas e equipamentos. Sua localização é próxima à casa onde residem os agricultores. O local onde se realiza a ordenha é mantido limpo. Todo o esterco é retirado do estábulo logo após os animais por ali passarem, depositando-o ao ar livre, uma camada sobre a outra. É ali mesmo que o material fica em fermentação e curtimento. Alguns agricultores têm esterqueiras construídas para este fim. Considerando-se que a topografia das propriedades apresenta relevo forte ondulado e montanhoso, os potreiros ficam localizados onde a declividade é mais forte. As vacas são ordenhadas duas vezes por dia, e a ordenha é realizada manualmente por uns e mecanicamente por outros. Todos os agricultores são sócios de cooperativas com sede em Harmonia e Montenegro, recebendo de seus departamentos técnicos o apoio e assistência quando necessários. As terneiras, ao nascerem recebem alguns cuidados como limpeza e secagem do corpo e do focinho, corte do cordão umbilical e desinfecção deste com uma solução à base de iodo. São fornecidos diariamente de 3 a 5 litros de colostro divididos em três vezes ao dia. As 47 terneiras são separadas da mãe e isoladas em uma baia (encerra). Gradualmente vai sendo substituído o colostro por leite (2 a 4 litros/dia) e ração à base de milho (30%), de farelo de trigo ou de arroz (40%) e concentrado protéico de soja (30%). A quantidade varia, iniciando com um punhado, aumentando gradualmente até mais ou menos 1 a 1,5 kg. Esses ingredientes são adquiridos de cooperativas onde os agricultores são sócios. Posteriormente, vai sendo permitido à terneira o acesso ao pasto e ao sol. É fornecido também capim cortado no cocho, em quantidade variada, não havendo controle do volume ou peso. As novilhas, assim como as vacas, ficam a campo durante todo o dia e noite. Nos últimos dois a três meses de gestação, as novilhas recebem de 1 a 2 quilos de ração por dia, à base de milho (50%), farelo de trigo ou de arroz (30%), e farelo ou massa de soja (20%). Essas são inseminadas aos dois a três anos de idade e peso de aproximadamente 300 quilos. A base da alimentação da novilha é a pastagem nativa e forragem picada no cocho ou fornecida ao ar livre. Assim como para os terneiros, a quantidade é variada, não havendo o controle do volume e peso do alimento, estimando-se o consumo de volumoso no cocho em torno de 10 a 20 quilos/dia/animal. O forrageamento é feito com cana-de-açúcar, baraço de batata-doce, rama e raiz de aipim, aveia, azevém, capim-elefante, capim cameron, vica e teocinto. As vacas vivem em regime aberto, ou seja, ficam a campo durante o dia e a noite. As mesmas são recolhidas duas vezes por dia ao estábulo, onde recebem alimentação no cocho e se aproveita para realizar a ordenha. É também o momento em que se recolhe a urina para ser usada posteriormente nos biofertilizantes e preparados contra pragas e doenças. A prática de 48 recolher urina tem caráter “agroecológico”, o que não se vê nas criações convencionais e que o os diferencia destas. As vacas permanecem no estábulo o tempo necessário para a ordenha e para largar o esterco. Todos os animais recebem mineral à vontade num cocho coberto e localizado no potreiro. A água fica disponível através de pequenos córregos ou açudes. A base de sua alimentação é muito semelhante ao que a novilha recebe ou tem disponível. Durante os dois últimos meses de gestação, é normal o uso da prática de secar a vaca. É um período em que a vaca não produz leite, a fim de se recuperar para o próximo parto. Ainda dentro da área de alimentação, deve -se destacar uma prática adotada pelos agricultores. Trata-se do uso do tronco (pseudocaule) e folhas de bananeira picadas e fornecidas no cocho para a alimentação de animais adultos. Não é realizada sistematicamente mas quando há disponibilidade deste material. Os agricultores desconhecem as razões mas dizem ser uma prática passada de pai para filho. Para o melhoramento do rebanho é usada a inseminação artificial com sêmen de reprodutores de comprovada capacidade melhoradora da aptidão leiteira. O rebanho é constituído de animais da raça holandesa. Esse trabalho fica ao encargo de inseminadores indicados pelos técnicos das cooperativas. Eventualmente, fazem a seleção de novilhas e matrizes. As inseminações são realizadas quando ocorre o primeiro cio, normalmente 60 dias após o parto; não havendo fecundação, é aguardado o próximo cio para novamente inseminálas. 49 Nas novilhas são observados se há problemas de reprodução ou algum defeito grave de qualquer espécie. Nas vacas, é observada sua capacidade de lactação, sua rusticidade, problemas de reprodução ou se apresentam qualquer problema que dificulte sua permanência no rebanho. Na área de reprodução, os agricultores utilizam-se da prática de fornecer um chá de arruda quando ocorre dificuldade de uma vaca ser fecundada. O chá é fornecido ao animal logo após o cio. Na bibliografia há referências do uso dessa planta para eliminar a placenta, usando-se uma bebida elaborada com 60 a 120 gramas de folhas em um litro de água (Burg e Mayer, 1998). O manejo sanitário conta da vacinação contra a aftosa, do controle de carrapatos e de tratamento contra mamite e vermes. Em princípio, não fazem tratamento sistemático contra vermes, carrapato e mamite. Os tratamentos são realizados quando surgem os problemas. A justificativa do agricultor é que a ocorrência é rara em virtude da alimentação que recebem, do respeito aos limites de lotação dos potreiros, do manejo dos animais evitando os maus tratos e abusos da exploração e, ainda, o regime aberto de criação, não estando os animais em confinamento ou semiconfinados. As condições de criação no sistema ecológico proporcionam uma redução de medidas curativas e preventivas nos aspectos de sanidade (exploração confinada ou semiconfinada) em que as condições ambientais favorecem a ocorrência de estresse. 50 De fato, as condições ambientais oferecidas nos sistemas de confinamento ou semiconfinamento favorecem a incidência de vários estados de estresse oriundos dos numerosos estímulos ou agressões com diversos graus de intensidade e duração. A maneira como os animais são alojados interfere com os mecanismos que controlam o comportamento normal e induzem a estados de conduta que podem ser interpretados como: frustração, medo, ansiedade, depressão e aborrecimento (Bottechia et all., 2000). Em casos especiais, diante da ocorrência de mamite, utilizam-se de um método alternativo de controle. Trata-se da injeção subcutânea de 25 mililitros do leite retirado de uma teta infectada com mamite. Como medida preventiva, utilizam-se de uma solução de iodo c om água a 10%. Após a ordenha, as tetas da vaca são mergulhadas nesta solução. As medidas preventivas e tratamento para a mamite promoveram a total substituição do uso de bactericidas que antes eram aplicados nas tetas. A ausência do ataque de carrapato ao gado bovino é explicada pelos agricultores como efeito ao trabalho de seleção de matrizes que vêm sendo realizado, onde observam o nível de rusticidade que um animal apresenta e sua resistência de ser molestado por carrapato. Sob o aspecto de sustentabilidade do processo produtivo, o sistema de criação ainda deixa a desejar, pois princípios básicos de menor dependência apresentam algumas restrições, como, por exemplo, a aquisição de fora da propriedade dos insumos básicos que servem à alimentação do rebanho (milho, proteína de soja). Ao mesmo tempo, verifica-se que a ração dos animais, por ser elaborada na propriedade, tem seu custo reduzido por ocupar mão-de-obra familiar, ficando com o valor agregado que pertencia à indústria de ração. 51 4.2 O SISTEMA DE CULTIVO DE OLERÍCOLAS As olerícolas respondem por 17,3% da renda obtida entre os sistemas de cultivo, sendo as que mais renda geram por unidade de área ocupada. Praticamente 100% da produção é comercializada nas feiras. Segundo informações colhidas junto aos agricultores, a produção anual, em peso, atinge 13.000 quilos com a venda de cenoura, couve, alface, couve -flor, rabanete, couve brócolo, repolho, morango e alho. A produção de olerícolas é regular durante todo o ano. No que diz respeito à dificuldade para o abastecimento do mercado, essa ocorre na presença de fatores climáticos excepcionais, como forte geadas, acúmulo de água no solo (excesso de precipitações pluviométricas), verões muito quentes e secas prolongadas. Todas as propriedades estão razoavelmente estruturadas para essa atividade. Apresentam, no entanto, algumas dificuldades na área de irrigação, necessitando de algumas melhorias, principalmente com equipamentos de recalque e distribuição, devendo fazer alguns investimentos a curto e em longo prazo. Nas propriedades, são escolhidas as melhores áreas para essa atividade. Na escolha da área o agricultor leva em consideração alguns fatores, como disponibilidade de água próximo à horta; distância em relação a florestas, para garantir uma boa luminosidade; locais que sabidamente têm menos probabilidade de ocorrência de geadas; solos com boa fertilidade (rico em matéria orgânica, com teores elevados de macronutrientes e bem suprido de micronutrientes), boa textura, como os areno - argilosos , profundidade superior a 0,5 metros, 52 que tenham boa drenagem e que não apresentem pedregosidade; pouca declividade, de preferência planos. É importante destacar um sistema de cultivo usado que é a intercalação dessa atividade com a citricultura, possibilitando o melhor aproveitamento de áreas. Esse sistema é utilizado em pomares de laranja ou bergamota quando apresentam de um a quatro anos de idade. A rotação de cultivos é uma prática seguida religiosamente. O rodízio entre espécies diferentes é realizado a cada duas ou três safras de uma mesma cultivo. Os agricultores observaram que uma planta cultivada sempre no mesmo lugar apresenta uma queda no rendimento, o que é explicado pela liberação de substâncias metabólicas. De Candole (1932), citado por Medeiros (1990), afirma que o cansaço das terras, decorrente da monocultivo durante anos seguidos, é ocasionado pelo acúmulo de alguma substância exsudada pelas plantas a qual passava a afetar o próprio desenvolvimento. Da mesma forma, os agricultores consideram a rotação uma medida profilática contra a ocorrência de pragas e doenças. Observa-se, por parte dos agricultores, uma preocupação com o futuro êxito da horta, pois colocam como primordial as características de fertilidade natural, drenagem e rotação de espécies, o que contrasta com o produtor convencional que busca viabilizar uma produção em qualquer tipo de solo, redundando em dificuldade para controlar doenças e pragas e o uso cada vez maior de fertilizantes. 53 Uma vez escolhido o terreno da futura lavoura, passam a executar o preparo da terra, que inicia com a retirada de pedras que possam prejudicar as operações ou o desenvolvimento das plantas. Sobre a terra é espalhado esterco de gado e cama de aviário (aves de corte) ou composto de esterco de gado (75%) e serragem (25%) em quantidade que varia de 10 a 30 quilos por metro quadrado, conforme a espécie a ser cultivada. Em alguns casos acrescentam cinza de madeira à base de meio quilo por metro quadrado. A cinza tem a finalidade de reduzir a acidez do solo e melhorar a fertilidade. Após esta operação são feitas uma ou duas lavrações para afofar a terra e incorporar o adubo ecológico. Segue-se a construção dos canteiros e o destorroamento da superfície com uso de ancinhos e enxadas. O calcário é usado eventualmente, com moderação, sem seguir recomendação de análise. A prática do uso da análise do solo não é feita, a acidez do solo é observada através de plantas indicadoras. Nas áreas que apresentam maior declividade os canteiros são construídos atendendo às curvas de nível, prática conservacionista. A semeadura das espécies que exigem formação de mudas é feita principalmente em caixas de madeira ou em bandejas de isopor divididas por células. Ainda pode ser encontrada 54 sementeira em canteiros, ao ar livre, com as mais variadas medidas, no qual as sementes são lançadas diretamente na terra. As sementeiras de caixa de madeira ou de isopor são as mais usadas, pois apresentam vantagens sobre a semeadura no solo. As mesmas são cheias com um s ubstrato elaborado com diferentes materiais e quantidades que permita a muda se formar forte e sadia, com boa drenagem e um bom arejamento para raízes. O substrato mais comumente usado é composto por 30 a 50% de húmus de minhoca e 70 a 50% de terra de mato, respectivamente. As sementeiras são deixadas ao ar livre ou no interior de pequenas estufas onde se pode melhor controlar os fatores climáticos. Nas sementeiras não é realizada nenhuma adubação complementar. No entanto, alguns agricultores as colocam dentro de uma solução nutritiva à base de biofertilizante (fórmula 1 abaixo) durante duas horas por dia, a cada dois ou três dias, até o transplante. Fórmula 1 - biofertilizante. Colocar num recipiente de 200 litros: ü 50 Kg de esterco fresco de gado ou de suíno; ü 15 Kg de esterco fresco de galinha poedeira ou 30 Kg de esterco de ave de corte (cama de aviário); ü 1,5 litros de melado, ou 8 a 15 litros de guarapa de cana-de-açúcar; ü Completar o recipiente com água até 20 cm da borda; ü Mexer de 4 a 5 vezes por dia, durante 4 dias, até encerrar a fermentação; ü Esperar 7 a 10 dias. 55 As sementes, de modo geral são adquiridas no comércio e produzidas por empresas especializadas. A exceção fica por conta do cultivo de morango cujas mudas são adquiridas de produtores especializados ou reproduzidas na propriedade. Alguns agricultores fizeram uma tentativa de produzir a semente, mas não foram bem sucedidos. A justificativa é de que a qualidade, o potencial genético e a adaptabilidade dos cultivares para determinada época do ano são fatores decisivos no êxito da atividade. Por outro lado, os agricultores enfrentam problemas com os vendedores que costumam misturar sementes, gerando inconfiabilidade no cultivar próprio para a época desejada. Para o plantio ou semeadura direta os canteiros são preparados de acordo com a espécie a ser plantada. Para algumas são abertas covas onde é colocada a muda. Para outras são abertos sulcos paralelos ao canteiro. Dependendo da espécie, poderá ser feita uma adubação na cova ou no sulco no dia do plantio ou semeadura. Esta adubação é realizada com biofertilizante preparado pelos agricultores (vide Fórmula 1), ou também esterco líquido proveniente de criações de suínos integrados às agroindústrias da região. A quantidade é de meio litro a um litro por cova ou metro linear de sulco. Após a adubação, a cova ou sulco é coberto por tênue camada de solo, vindo a seguir a semeadura ou plantio das mudas. Quando as plantas se encontram no estágio de desenvolvimento, algumas espécies exigem a amontoa, que serve para dar suporte para a planta. O desbaste ou raleamento das plantas que estão em excesso também é procedido nesse período. As capinas são realizadas uma só vez para a retirada dos primeiros inços que surgem. Esta é feita através do arranquio manual ou com enxada. Para algumas espécies é praticada a técnica do convívio, deixando o inço crescer naturalmente, sendo entretanto necessário controlá-los através de roçadas ou 56 acamamentos para que não limitem a incidência de luz solar sobre os cultivos. É a aplicação da técnica desenvolvida pela agricultura nasseriana. Este procedimento tem uma grande diferença em relação ao dos olericultores convencionais que se utilizam do controle químico ou que, quando capinam, fazem-na por três ou quatro vezes durante uma safra, deixando à mercê das chuvas o solo nu e à mercê das pragas os cultivos. Enquanto os agricultores convencionais precisam fazer uso de agrotóxicos para controlar todo o tipo de pragas e doenças, os agricultores ecológicos têm nos inços as plantas protetoras, pois as mesmas formam uma diversidade vegetal que dá aos insetos, ácaros, etc, uma boa fonte de alimento. Além desse aspecto, ainda servem como repelência de pragas nocivas. A adubação da cobertura é realizada em uma só vez para a maioria das espécies, através da aplicação do biofertilizante (Fórmula 1) à base de 0,25 a 0,50 litro/planta ou 1(um) litro por metro linear, aplicado com regador ou balde, ao lado das plantas. Há exceções, como o cultivo da beterraba, que recebe a mesma quantidade em 3 (três) aplicações durante a safra. Também o morango recebe, semanalmente, pulverizações do composto MB-4 (Fórmula 2 abaixo), diluído em água a 1%. Além disso, o morango é pulverizado com um biofertilizante denominado de Supermagro (Fórmula 3 abaixo), na concentração de 1 a 1,5%, aplicado alternadamente com o composto anterior, até o fim da safra. O uso dessas fórmulas no morango tem dupla finalidade, como adubação foliar e ação de repelência à pragas ou prevenção contra doenças. 57 Fórmula 2 – Composto MB – 4 Colocar num recipiente de 200 litros: ü 4 Kg de MB – 4 (pó); ü 4 Kg de açúcar mascavo; ü 5 copos de cinza; ü 25 Kg de batata doce cozida e picada; ü 40 litros de soro de leite; ü completar o recipiente com água até 20 cm da borda; ü mexer por 4-5 dias. Fórmula 3 – Supermagro INGREDIENTES: -2,0 kg de sulfato de zinco -2,0 kg de sulfato de magnésio -0,3 kg de sulfato de manganês -0,3 kg de sulfato de cobre -0,3 kg de sulfato de ferro -0,05 kg de sulfato de cobalto -0,1 kg de molibidato de sódio -1,5 kg de bórax -2,0 kg de cloreto de cálcio -2,6 kg de fosfato natural(de Araxá, Patos, etc.) 58 -1,3 kg de cinza -28 litros de leite, que pode ser substituído pelo soro de leite. -14 litros de melado de cana, ou 28, de caldo de cana. MODO DE PREPARAR: 1ºdia - Em um recipiente de 250 litros, colocar 30 litros de esterco, 60 litros de água, 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou a chuva. 4ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de zinco, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 7ºdia- Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de zinco, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana . Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 10ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de cloreto de cálcio, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 13ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de magnésio, 200gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de 59 melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar sem contato direto com o sol ou chuva. 16ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de magnésio, 200gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 20ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de cloreto de cálcio, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 23ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 300 gramas de sulfato de manganês, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 26ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 50 gramas de sulfato de cobalto, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 29ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 100 gramas de molibdato de sódio, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato com o sol ou chuva. 32ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 750 gramas de bórax, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de 60 cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 35ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 750 gramas de bórax, 200 gramas de fosfato natural e 100gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 38ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 300 gramas de sulfato de ferro, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva. 41ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 300 gramas de sulfato de c obre, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem, completar o recipiente com água e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva, por dez a quinze dias. Ainda como trato cultural são realizadas as irrigações. No período entre semeadura / plantio, até as plantinhas tornarem-se resistentes, são realizadas duas a três irrigações ao dia. Quando as plantas estão com 10 (dez) ou mais centímetros de altura, o intervalo entre irrigações é de dois a três dias. De acordo com a pesquisa de campo, não se verificam sérios problemas fitossanitários. Eventualmente ocorre a presença de insetos sugadores e mastigadores. Como medida preventiva e de controle, os agricultores usam os mais variados recursos, entre os quais destacam-se: 61 • próximo aos canteiros, evita-se o acúmulo de material (tábuas, tijolos, pedras e semelhantes) que possam servir de abrigo e criação de roedores, formigas, lesmas, grilos e outros animais nocivos; • próximo aos canteiros, plantam-se espécies vegetais atrativas para os insetos que agem como armadilhas, onde é realizada a catação; • todo material ecológico usado em adubações sofre uma fermentação prévia (curtimento) para evitar vermes e ervas daninhas, além de proporcionar uma melhor assimilação dos nutrientes, sem causar as conseqüências semelhantes aos adubos solúveis. As plantas são mantidas com uma boa nutrição; • ao observar plantas atacadas por algum animal, estas são retiradas da lavoura e lançadas em montes contendo outros restos de cultivos; • dentre as medidas de prevenção, salienta-se o que já foi mencionado no manejo do inço. Nos espaços entre as plantas nos canteiros permite-se o desenvolvimento de toda espécie de vegetação, visando oferecer alimento para as pragas, desviando-as das plantas de objeto econômico. Quando as medidas preventivas não são suficientes, os agricultores se utilizam do controle integrado como caldas protetoras, plantas-armadilhas, plantas defensivas, c oleta de insetos (catação) e outros. A seguir relacionam-se as receitas ou alternativas mais comumente usadas: 62 Extrato de alho: (ação de controle e repelente de insetos e prevenção contra fungos e bactérias). ü 200 gramas de alho; ü 5 litros de água; ü amassar o alho e deixar em maceração durante 3 a 4 dias; pulverizar as plantas na concentração de 10 a 12% (sozinho) ou misturado com Supermagro a 3-5%. Chá – de – arruda: (ação de repelência a insetos e ácaros). ü 100 gramas de folhas de arruda; ü 1 litro de água; ü picar as folhas e deixar em maceração durante 1 dia; pulverizar as plantas na concentração de 5%; Bálsamo alemão: (ação de repelência para insetos e ácaros). - colocar 5 mililitros em 300 litros de água; - aplicar com regador ou através do sistema de irrigação (microaspersor ou gotejador); 63 Cinza de madeira: (ação de repelência e efeito abrasivo sobre insetos). ü 2 Kg de cinza de madeira; ü 10 litros de água; ü deixar a mistura descansar por um dia; ü pulverizar a solução de cinza e água sobre as plantas procurando atingir os insetos; ü também usam cinza seca polvilhada manualmente, sobre os insetos. De preferência quando as plantas estão úmidas. Solução de Creolina: (usada para desalojar os grilos do solo). ü esta solução é usada na concentração de 0,025% em água; Supermagro (Fórmula 3) ü aplicar semanalmente uma concentração de 1%, conciliado com as adubações foliares com o mesmo produto. Composto MB – 4 (Fórmula 2) ü este composto é usado semanalmente na cultivo do morango, como preventivo à ocorrência de Mancha de Micosferela, Mancha de Verticilium e podridões. ü A dose usada é de 1% em pulverização. Observa-se que o itinerário técnico é totalmente diferenciado de uma horta convencional. A diversidade de cultivos é o ponto que caracteriza o método empregado, encontrando-se um variado número de espécies hortícolas, intercaladas, notando-se a presença generalizada de vegetação nativa, ou seja, o inço presente nas proximidades dos canteiros, e até 64 coexistindo eventualmente com as hortaliças. O planejamento da horta é realizado prevendo deixar parte da vegetação intacta como abrigo para as várias espécies de predadores de insetos. Contribui ainda no manejo da erosão, segurando o solo e reduzindo o impacto das chuvas, além de poder incorporar o material vegetativo quando do processo de preparo do solo, o que significa um aproveitamento de nutrientes nele contido. 4.3 O SISTEMA DE CULTIVO DE CITROS O cultivo de bergamota e de laranja respondem pelo maior volume de produção e pela maior renda entre os sistemas de cultivo. Também, é destacadamente, o cultivo de maior expressão em área plantada. A colheita de citros se realiza de meados de abril até o final do mês de outubro, conforme vão amadurecendo os diversos cultivares. A produção tem um destino diversificado. Parte dela se destina às feiras que o grupo mantém. O restante é vendido a compradores intermediários, que na região são conhecidos por fruteiros, e às indústrias de sucos e de óleos essenciais. É importante destacar que uma pequena parte da produção é destinada à agroindústria artesanal (familiar) para fabricação de doces (schmiers e geléias). O sistema de cultivo se caracteriza por apresentar, durante os primeiros três ou quatro anos de idade, o uso da área entre as linhas de plantas, intercalando-se (consorciação) cultivos 65 dos mais variados, onde se destacam o aipim, feijão para consumo e as hortaliças. A produção de cultivos de ciclo curto, consorciados aos pomares, constitui-se em importante estratégia de sobrevivência dos produtos e de ocupação de área livre para ampliar a oferta de alguns produtos e melhorar as suas rendas. A partir do 3º ou 4º ano de idade, as entrelinhas são ocupadas por cobertura permanente de vegetação. Eventualmente, por necessidade extemporânea, a área de entrelinhas é ocupada por cultivos de objeto econômico ou alimentar. Os pomares de bergamota são constituídos predominantemente pelos cultivares Satsuma, Caí, Ponkan, Murcott e Montenegrina, e os de laranja pelos cultivares Céu, Bahia, Monteparnaso e Valência. A maioria obedece a um espaçamento de 4m x 5m. As mudas são provenientes de viveiristas da região. Em razão do sistema apresentar diferentes procedimentos na condução dos pomares em relação a sua idade, o itinerário será descrito separadamente do primeiro ao quarto ano de idade, e do quinto ano em diante. 4.3.1 Operações ou práticas citrícolas do primeiro ao quarto ano. Uma vez implantado o pomar, os agricultores providenciam os cuidados iniciais para o crescimento normal da muda. Procuram manter livre de ervas a área na projeção da copa através da capina (manual com enxada) ou roçadas. Esta prática é realizada duas vezes ao ano, nos meses que vão de agosto a março. 66 Nos meses de abril/maio e julho/agosto, a terra é preparada para o plantio de cultivos anuais de inverno e verão, respectivamente. No caso de cultivos de ciclo curto, como olerícolas, a terra é preparada conforme a necessidade de cada espécie que se deseja cultivar. A formação das árvores é controlada através de podas que se realizam nos meses de junho a agosto, quando há necessidade e tempo disponível. Aproveitam essa oportunidade para fazer a desbrota de ramos dispensáveis para o desenvolvimento da copa. Para a melhoria do nível de fertilidade do solo e para nutrição das plantas são usados fertilizantes ecológicos, sendo os mais usados o esterco de aves (cama de aviário) à base de 1.500 a 2.000 quilos por hectare. Outro produto usado é o biofertilizante Supermagro (Fórmula 3) em tratamento foliar, de duas a três vezes por ano, na concentração de 2%. Outra alternativa usada para a adubação de pomares é a distribuição de um resíduo líquido (lodo) da usina de compostagem da cooperativa ECOCITRUS, que é aplicado à base de 2.000 a 3.000 litros por hectare. Os agricultores raramente realizam análise de solo como referência para adubação e, quando o fazem, amostram somente a área das entrelinhas das plantas. Com relação aos aspectos fitossanitários, constata-se com mais freqüência a ocorrência de pragas do que moléstia nesse período. As mais freqüentes são o pulgão preto, cochonilha verde e o minador do broto. De modo geral, o agricultor adota uma postura de convivência com essas pragas, apoiadas no efeito fertiprotetor do biofertilizante Supermagro e no seu efeito 67 repelente a insetos. O cancro cítrico, por estar ocorrendo na região, é uma das grandes preocupações. Como preventivo ao cancro cítrico fazem monitoramento das plantas. Caso surja a presença da bactéria, pensam em adotar a prática da retirada de folhas e ramos com sintomas, realizar tratamentos sistemáticos bimestrais com Supermagro a 2% mais calda bordalesa na concentração de 1%. 4.3.2 Operações ou práticas para pomares citrícolas com mais de quatros anos de idade. As práticas adotadas no pomar com mais de 4 anos de idade têm o objetivo de melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; de proteger o solo das chuvas de elevada intensidade, erosão superficial e lixiviação de nutrientes; de controlar pragas e doenças para não atingir níveis prejudiciais à produção e que as plantas se desenvolvam produzindo frutos regularmente e o maior tempo possível. Para alcançar esses objetivos, os agricultores enfatizam os cuidados com o solo e a nutrição das plantas, que têm no manejo das ervas uma ação decisiva e primordial. Os procedimentos se baseiam na lógica de que a planta de citros tem raízes superficiais e que na camada superior do solo ocorre uma atividade microbiana intensa. Assim, todas as ações que envolvem o uso desta camada de solo prevêem reflexão antecipada de qual alternativa será usada para trabalhar a terra. 68 O uso de implementos como grades, arados, enxadas rotativas e o uso de herbicidas, admitidos anos atrás para o cultivo e limpeza do solo não são mais considerados. Agora, o processo se modificou no sentido de favorecer o desenvolvimento de uma grande variedade de vegetais no interior do pomar, que fazem a cobertura do solo, promovendo o aumento do teor de matéria orgânica e húmus, reciclagem de nutrientes, proteção à erosão, formando um ambiente 6 propício para a biodiversidade vegetal. Com a biodiversidade, ocorre a coexistência de plantas que exploram diferentes horizontes do solo, o que permite um maior uso dos recursos naturais do mesmo. Esta mistura de várias espécies no pomar pode dar uma idéia de “desordem”, mas na realidade reflete a busca de um equilíbrio natural, através da diversidade da flora e da fauna. O sistema torna-se eficaz para manter as plantas sadias, resistentes a ataques descontrolados de pragas e patógenos, além de permitir a proliferação benéfica da população de inimigos naturais – os predadores e parasitas (Guazelli, 1985, p.46). O manejo das ervas, desse modo, se resume em realizar duas roçadas anuais na entrada do inverno (maio/junho) e na primavera (setembro/novembro). Na lógica dos agricultores as roçadas conciliam o controle do inço para não atingir uma altura indesejada, favorecem o agricultor para realizar a colheita de forma mais cômoda e ajudam na prevenção a doenças. Destaca-se a iniciativa de um agricultor do grupo que vem praticando, ainda em estágio inicial, um sistema integrado de uso da terra no qual árvores lenhosas perenes crescem deliberadamente com o cultivo de citros. Trata-se de uma tentativa de se aproximar do sistema 6 Entende-se como biodiversidade vegetal o conjunto de espécies e variedades de plantas adaptadas ao ambiente de determinado lugar, ou seja, ao solo, clima, altura, declividade, etc. (Primavesi, 1999, p. 10). 69 agroflorestal, assemelhando-se a um consórcio de espécies agrícolas (citros) e outras como vassoura, uva – do – japão, capororoca, etc.7 Para a manutenção da fertilidade do solo e da nutrição das plantas, além de propiciar o desenvolvimento de vegetação que produz farta matéria orgânica, os pomares ainda recebem uma adubação de duas toneladas de esterco de frango (cama – de – aviário) por hectare aplicado depois que já encerrou a colheita. Uma segunda adubação é realizada nos meses de maio ou junho, quando são aplicados 1.000 a 1.500 litros por hectare de esterco líquido de suínos proveniente de criadores próximos. Se forem observados sinais de deficiência, os agricultores fazem uso de adubação foliar a partir de um composto elaborado com esterco de porco (30%), água (70%), mais 3 quilos de cinza para cada 100 litros. A concentração usada é de 1% desse composto. Com relação aos aspectos fitossanitários, existem doenças consideradas limitantes à produção ou que repercutem na rentabilidade dos cultivos. Os tratamentos preventivos adotados pelos agricultores passam, primeiramente, como já visto, por um processo de melhoria dos níveis de fertilidade do solo. Além disso, usam uma variedade de procedimentos para o controle das doenças. Para a rubelose são feitas podas de limpeza nos pomares, retirando os ramos que apresentam sintomas. Para a antracnose são utilizados o biofertilizante Supermagro, na proporção de 1% e, ainda, um Elixir Floral, na dose 7 Segundo Macedo (1992), os sistemas agroflorestais se baseiam no princípio ecológico denominado “Biodinâmica da Sobrevivência”, que otimiza o máximo aproveitamento da energia solar vital através da multiestratificação diferenciada de uma grande diversidade de espécies que exploram os perfis vertical e horizontal da paisagem, visando a utilização e recirculação dos potenciais produtivos dos ecossistemas. 70 de 5 (cinco) gotas em cada 100 litros de água. Esses são aplicados durante a florada. Como medida preventiva à pinta preta, adotam as práticas de manter o pomar roçado nas entrelinhas e de tratamentos com Supermagro, na concentração de 2%. Entre as pragas, constata-se que a mosca – dos – frutos é considerada o principal problema enfrentado. Esta é controlada com tratamentos de biofertilizante (Fórmula 2 – Composto MB – 4) em pulverização, na concentração de 1%. As demais ocorrências de pragas são consideradas normais, procurando o agricultor conviver com as mesmas. A cada dois ou três anos, os agricultores realizam podas para que as plantas mantenham um crescimento vegetativo e uma produção equilibrada, como também procuram através desta facilitar o arejamento e a luminosidade adequada no interior da copa. As podas também têm o objetivo de retirar ramos secos, ramos ladrões e efetuar um raleio de frutos. O período em que se realizam as podas vai de setembro a dezembro. Essa prática contribui enormemente para a prevenção de doenças como rubelose e a presença de camurça que causam o secamento de ramos. Durante o período que vai do primeiro ano de desenvolvimento da planta até o quarto ano não se verifica o uso de práticas como as adotadas pelos agricultores convencionais. Estes usam sistematicamente uma gama de agrotóxicos para controlar pragas que ocorrem nesse período, como por exemplo, os pulgões, cochonilhas, minador-do-broto. Segundo Paschoal e Paschoal, (1999, p. 16), ao usar esses produtos o agricultor jamais consegue resolver o problema de forma permanente, uma vez que, por assim agir, está apenas combatendo os efeitos (as pragas e os patógenos) e não as causas do problema (os fatores do ambiente 71 responsáveis pelas erupções das pragas e patógenos). Assim, o controle químico apresenta-se como solução temporária, requerendo novas e repetidas aplicações que acabam por desequilibrar ainda mais os agroecossistemas, provocando resistência aos produtos químicos, ressurgimento de populações a níveis mais altos do que aquelas que existiam antes das interferências químicas e, o que é pior, ao surgimento de novas espécies potencialmente prejudiciais aos cultivos. Também se utilizam de quantidades expressivas de fertilizantes químicos fosfatados, nitrogenados e potássicos, e para controlar os inços usam herbicidas ou passadas em excesso de enxadas rotativas, arados, grades. Manter o solo limpo significa o emprego destes implementos ou herbicidas com suas inúmeras conveniências e conseqüências. O primeiro prejuízo é com o sistema radicular da planta cítrica que se encontra nos primeiros quinze centímetros do solo, responsáveis pela absorção de água, nutrientes e oxigênio. A poeira produzida por grade ou enxada rotativa favorece o surgimento de pragas e doenças como cochonilhas, ácaro-de-leprose, cancro cítrico. Pomares de citros mantidos com vegetação nas entrelinhas têm um ambiente propício para aumentar a abundância e a eficiência dos inimigos naturais, incrementando-se assim o controle biológico de pragas e doenças. Os agricultores da Associação, como já foi mencionado, fornecem adubos para as plantas sob a forma orgânica (pouco solúveis), quando observam que as plantas estão dando sinais de debilidade. Esta forma de dar nutrição às plantas melhora as suas condições e não provoca acúmulo de aminoácidos, que são os alimentos básicos das pragas e doenças; conseqüentemente, a incidência destes é menor ou quase nula. A prática de nutrir as plantas através de formas equilibradas ou que não contêm nutrientes na forma solúvel vai ao encontro da Teoria da Trofobiose, de Francis Chabousou. 72 Esta, resumidamente, segundo Paulus et al (2000), propõe que os “insetos e microorganismos só sobrevivem onde existe alimento para eles; assim, uma planta que se deixa devorar por insetos ou que é atacada por doenças é uma fonte de alimento para seus parasitas.” Em solos desprovidos de cobertura vegetal, os frutos maduros próximos ao solo, por ocasião das chuvas, são atingidos por partículas de terra que podem conter inóculos de doenças, causando queda acentuada de frutos maduros. As ervas que crescem no pomar não são consideradas prejudiciais pois estas têm um importante papel no manejo integrado de pragas, que é de conferir mais estabilidade ecológica do agroecossistema. É inegável o efeito dos fertiprotetores contribuindo na convivência com pragas, pois, segundo D’Andrea (1999, p.18), trata-se do não-uso da tecnologia de produto mas sim da tecnologia de processo, que é o manejo dos fatores que interagem no metabolismo vegetal, e com ações fertiprotetoras e fitoprotetoras geram equilíbrio biológico nos ciclos produtivos. O que se pode constatar é que, na área fitossanitária os agricultores têm na convivência com doenças e pragas o diferencial com os agricultores convencionais. Estes, mesmo não apresentando ocorrência de anomalias, usam quantidade enorme de agrotóxicos de forma preventiva e de uso tópico. Esta situação gera efeitos colaterais, aumentando a suscetibilidade a outras pragas e doenças, sem contar o gasto de energia, a poluição ambiental e os efeitos negativos na saúde humana de quem aplica os venenos e de quem consome os produtos 73 contaminados. Verifica-se assim que a adoção de práticas adequadas de manejo se reflete em um equilíbrio do estado nutricional das plantas e na qualidade dos frutos. 4.4 O SISTEMA DE CULTIVO DO AIPIM. Esta atividade vem sendo desenvolvida por 80% dos agricultores da Associação. A área total com aipim totaliza 2,5 hectares, gerando uma renda bruta anual de R$ 4.600,00. O sistema de cultivo aipim emprega mão-de-obra familiar com mais intensidade nos meses de março a julho e de setembro a novembro. O produto é consumido na propriedade (alimentação animal e da família) e seu excedente vendido nas feiras. Diversos são os fatores que estimulam o cultivo dessa espécie. Entre eles se destaca a necessidade de alimento para o rebanho leiteiro das propriedades. Para esse fim o aipim se apresenta como excelente alternativa de alimento com aproveitamento das raízes e da parte aérea (folhas e ramos), em períodos de inverno ou seca. As raízes têm um alto nível energético e as folhas e ramos um elevado teor de proteína, com valor nutritivo semelhante ao da alfafa. O aipim também pode ser destacado pelo potencial de venda para mesa, alcançando bons preços no mercado. Aliado a esses fatores ainda se deve considerar a sua adaptabilidade como planta que pode ser intercalada com outros cultivos, principalmente os citros nos três ou quatro primeiros anos de desenvolvimento. Serve assim como uma boa alternativa de ocupação do solo e de sua conservação contra erosão e de proteção direta das chuvas (cobertura vegetal). 74 As áreas utilizadas para o cultivo são geralmente escolhidas em função da possibilidade de conciliá-lo com outros, como os citros. Nesse caso, as características de aptidão do solo nem sempre são consideradas, com exceção de manchas de solo que contenham um maior teor de argila, ou que apresentam umidade em excesso (deficiência de drenagem). Estes tipos de solos são evitados por apresentar maior dificuldade na operação de colheita e tendência à ocorrência de doenças de raízes. Além dessas medidas, é feita a rotação de cultivo, não repetindo o plantio do aipim na mesma área onde tenha sido cultivado no ano anterior, o que beneficia as condições sanitárias da planta e melhora o uso racional de nutrientes do solo. O solo é preparado com uma leve lavração com arado sulcador puxado a boi ou com enxada rotativa mecanizada, aproximadamente uma semana antes do plantio, e às vezes até no mesmo dia. Antes de plantar, abrem-se sulcos distanciados de um metro, com arado sulcador ou arado pé de pato. No sulco colocam fertilizante ecológico (esterco de aves de corte) à base de um quilo por metro linear ou meio quilo por cova, o que representa aproximadamente 10.000 quilos por hectare. O plantio é realizado preferencialmente nos meses de agosto a outubro e se resume na distribuição de mudas, chamados de manivas, no fundo do sulco em posição horizontal, sendo logo após coberta com uma camada de 5 a 7 centímetros de terra. As mudas (manivas) são preparadas a partir de ramos obtidos, durante o outono de plantas com idade compreendida entre 10 a 12 meses. No período que vai da emergência da planta até a colheita os agricultores realizam, em média, duas capinas manuais. O número está diretamente relacionado com o grau de infestação 75 das ervas daninhas, além das condições climáticas. É corrente a prática de não exceder o número de capinas para manter o solo coberto com vegetação no período de pré-colheita. Ao se aproximar o inverno, realizam-se os trabalhos de poda ou decepação, que consiste no corte da haste principal à altura de um palmo do solo (aproximadamente 20 centímetros). Este trabalho é realizado manualmente. A partir daí, encerram-se os serviços e trabalhos com este cultivo. Durante o período vegetativo, os agricultores nada mais fazem, aguardando a época de colheita, em que o repouso vegetativo do aipim coincide com sua maturação fisiológica. A colheita é procedida parceladamente, de acordo com a necessidade de uso das raízes. No sistema de cultivo ecológico, executado pelos agricultores do grupo, verifica-se uma integração com outros cultivos, o que na maneira convencional não se mostra dessa forma. No sistema de cultivo convencional do aipim observa-se elevado grau de artificialização. Enquanto que no sistema de cultivo ecológico há uma redução significativa de insumos, no convencional é o contrário. Antes mesmo de ser realizado o plantio, este já lança mão de fertilizantes corretivos e de calcário. Adubação com fertilizantes químicos é usada em quantidade apreciável no sulco de plantio, como em cobertura, durante o desenvolvimento da planta. No preparo do solo é gasto energia desnecessária através de duas ou mais lavrações, mais gradagem aos seis a oito meses antes do plantio. Nas capinas são usados equipamentos mecânicos que desestruturam a camada superior do solo, sem falar no uso de herbicidas com suas conseqüências ao ambiente. Durante o crescimento vegetativo há uma preocupação com ataque de pragas e doenças, mobilizando insumos químicos e realizando gastos inúteis que 76 aumentam as despesas e quase sempre não havendo correspondência na produtividade e nas receitas. 4.5 O SISTEMA DE CULTIVO DA ACÁCIA-NEGRA. O sistema de cultivo da acácia - negra participa com 13,4% da renda bruta obtida entre os sistemas de cultivo, ficando em terceiro lugar na geração de renda por unidade de área. No momento, segundo os agricultores entrevistados, vem ocorrendo uma boa remuneração pela casca e lenha, produtos que vêm sendo aproveitados por fábricas de papel, madeira aglomerada e celulose, fornos de indústrias e empresa do setor terciário, carvoeiros da região, indústrias de fabricação de tanino e derivados e, ainda, para o consumo próprio. O cultivo se caracteriza por ser pouco exigente em tempo de trabalho durante o ciclo. Esta característica é confirmada por Schneider (1995), quando faz uma análise da agricultura em tempo parcial no Rio Grande do Sul. Após o plantio, a acácia-negra não necessita de cuidados específicos. Durante algum tempo, que varia de sete a oito anos, a terra permanece produzindo sem que o agricultor se envolva com o cultivo e o manejo. Os dados do quadro 1 indicam que a área anualmente cultivada por cada agricultor é de aproximadamente 4.250 metros quadrados, o que equivale dizer que, durante um ciclo de sete anos, a área cultivada atinge no máximo três hectares. Esta área de plantio, considerando a situação fundiária dos agricultores, é perfeitamente conciliável, tendo em vista que a acácia – 77 negra entra como recurso para utilização de terras impróprias para o cultivo de espécies que se destinam à produção de alimentos. Segundo os agricultores da Associação a acacicultura também tem uma importante função econômica e financeira na propriedade, na medida em que gera renda sem ter despesas, uma espécie de poupança que deverá ser usada em situações de emergência. Cabe destacar que esse cultivo substitui o sistema de pousio com capoeiras e que durante o ciclo vegetativo que é de sete ou oito anos, possibilita o “repouso remunerado” do solo, isto é, por ser uma espécie da família das leguminosas, tem boa capacidade de recuperação da fertilidade da terra. Um dos métodos adotados com esse cultivo é a consorciação com cultivos de pequena expressão (abóbora, moranga, milho) conjuntamente, na mesma área, no primeiro ano de desenvolvimento, o que permite o aproveitamento dos espaços intermediários. O preparo da área em que será plantada a acácia-negra inicia com uma lavração profunda com arado sulcador em faixa de plantio ou em toda a área, dependendo da intenção de consorciar ou não com cultivos anuais intercalares no primeiro ano. Durante a lavração, os agricultores fazem a observação da presença de formiga cortadeira. Trata-se de uma prática pouco executada, considerando que o número de formigueiros é insignificante. Entre as pragas que ocorrem durante o desenvolvimento estão as formigas cortadeiras e o cascudo serrador. Para o controle das formigas, prevalece o sistema de perseguição ou procura de olheiros e montes, dependendo da espécie existente. Para as formigas de monte, são 78 realizadas duas ou três passadas de arado sobre o formigueiro para seu revolvimento e, no caso de formiga de olheiro, é derramado óleo diesel com água quente. Após a terra lavrada, processa-se o plantio que é realizado com mudas adquiridas de produtores especializados. O plantio é executado entre agosto e outubro. Caso ocorram falhas no crescimento é realizado um replantio. As mudas são colocadas no fundo de sulcos preparados para este fim, com um espaçamento variando de 1,5 a 2 metros entre sulcos e 1,30 a 1,60 metros entre plantas no sulco de plantio, correspondendo a uma densidade de 5.128 para 3.125 árvores por hectare, respectivamente. Esse sistema de cultivo não recebe em momento algum corretivos de solo nem tampouco adubação de manutenção. Considerando que o cultivo é pouco competitivo com gramíneas, principalmente na fase inicial de crescimento, é realizada uma capina (manual) em torno da muda e, eventualmente, uma roçada (manual) nas entrelinhas das plantas. Com relação à situação fitossanitária, os agricultores ecológicos não têm presenciado ocorrência de pragas e doenças, como é comum acontecer na maior parte dos cultivos convencionais, quando surgem pragas como o cascudo serrador, lagartas desfoliadeiras, grilos, cochonilhas e uma doença fisiológica conhecida por gomose. A única providência que os agricultores executam, e somente na eventualidade da ocorrência do cascudo, é o recolhimento de galhos infestados, caídos ao chão, e sua posterior queima. Essa medida é realizada 79 normalmente durante os meses de fevereiro a maio e tem amparo legal através de legislação específica. O diferencial entre agricultores ecológicos e convencionais é que esses, antes do preparo do solo, realizam o combate à formiga de forma sistemática e preventiva. Um método muito praticado é combater a formiga com “microporta-iscas”, que consiste na distribuição espaçada de embalagens plásticas, banhados com atrativos contendo isca formicida de efeito retardado. Esse método permite consumir dois quilos e meio de formicidas químicos por hectare que, se não levados pelas formigas, permanecem sobre o solo prejudicando o meio ambiente. Além desse método, usa-se distribuir formicida granulado próximo aos caminhos das formigas, consumindo também razoável quantidade de formicida. Já no preparo do solo são realizadas, às vezes, queimadas para limpeza da área e logo após arações seguida de gradagem, em áreas sem tocos. Em áreas de antigos acaciais é feita uma operação de lavra e gradagem com enxada rotativa no meio das linhas de tocos. A operação de queimada prejudica enormemente a biodiversidade superficial do solo e até de camadas abaixo da superfície. O agricultor ecológico, ao contrário, aproveita os restos culturais e a vegetação existente para favorecer a reciclagem de nutrientes. As adubações no sistema convencional são realizadas no primeiro ano de implantação, no momento do plantio, e durante as capinas. São usados adubos químicos em quantidade que varia de 200 a 250 quilos por hectare em cada aplicação. Esta prática difere de modo 80 significativo do agricultor ecológico que não tem custo nenhum com adubação, dependendo minimamente da mobilização de recursos externos. Com relação aos tratos culturais, a partir do primeiro ano de implantação os agricultores convencionais exageram no uso de máquinas. O coroamento é feito à semelhança do agricultor ecológico, mas depois ainda são feitas capinas mecânicas complementadas com roçadas manuais ou mecanizadas. A comercialização da acácia-negra é realizada diretamente junto aos compradores de lenha e casca que se caracterizam como comerciantes intermediários, entre o agricultor e os consumidores (indústria de tanino, papel e celulose; fábricas de madeira aglomerada; padarias; hospitais; restaurantes; fornos de secagem de fumo; e outros). 81 CONCLUSÃO As tecnologias agrícolas intensivas e altamente mecanizadas com base no modelo da Revolução Verde (agricultura moderna ou convencional), muito utilizadas durante os últimos anos, causaram aumentos de produtividade e eficiência no trabalho mas também provocaram um esgotamento de recursos, comprometendo a produtividade futura e promovendo a exclusão de agricultores familiares no processo de desenvolvimento. Existe uma preocupação crescente sobre os efeitos adversos da produção conseguida com base no modelo acima citado e que promove, entre muitas fatores: dependência de insumos; aumento de custos; aumento da resistência de ervas daninhas e insetos aos pesticidas; declínio na produtividade do solo pela erosão e do nível de fertilidade; poluição das águas; riscos à saúde humana e animal; efeitos danosos na qualidade dos alimentos; exaustão das reservas finitas de nutrientes; e o desaparecimento do número de propriedades rurais, particularmente do tipo familiar. O primeiro resultado concreto que se apresenta no trabalho é a descrição de sistemas ecológicos de produção, enfocando num primeiro momento o resgate de técnicas e processos 82 utilizados pelos agricultores no período que precedeu a instalação da chamada agricultura moderna na região. Embora excluam de suas práticas o uso de fertilizantes químicos e pesticidas, ainda apresentam indícios de práticas da agricultura moderna, como o uso de implementos mecânicos surgidos nos últimos anos, sementes certificadas, aquisição de insumos produzidos por indústrias. Num segundo momento, o trabalho também faz um registro das técnicas e processos usados de forma inovadora, sob a ótica de um sistema alternativo de produção, que não vinha sendo usado pelos agricultores e que foram introduzidos na medida em que surgiram as demandas e necessidades. A produção orgânica se tornou uma saída para a crescente descapitalização da agricultura familiar, gerando empregos, baixando custos de produção e melhorando a qualidade de vida dos agricultores, abrindo caminhos para a prática de uma agricultura mais sustentável (Burg & Mayer, 1998). Práticas consideradas no passado como bastante utilizadas, são hoje pouco usadas, sendo algumas totalmente erradicadas em função de conscientização dos problemas que causam ao solo e nas relações planta, pragas, doenças e inimigos naturais. São mudanças de postura e atitudes em relação ao manejo e cuidados com os cultivos e criações. Não é somente a preocupação de produzir para mais renda ou para atender o mercado, mas há uma vontade de contribuir na melhoria do meio ambiente e da sociedade, ao mesmo tempo em que produz alimentos sadios. Entretanto, o que se vê nesses sistemas é uma grande mobilização de mão-de-obra, semelhante ao que acontece com os agricultores que praticam a agricultura convencional, e ambos procuram alcançar produtividades que lhes dêem garantias de maior renda por unidade de área. Quando perguntado se atualmente a família tem mais trabalho, a resposta foi positiva, confirmando um estudo realizado por Bertrand (1979), citado por Brasil (1984), de que as propriedades orgânicas exigem mão-de-obra mais intensiva, porém usam 83 menos energia do que as convencionais. Todavia, os dados são limitados e é preciso um estudo mais aprofundado dos aspectos de trabalho e energia da agricultura convencional e orgânica. No entanto, o agricultor ecológico se encontra mais inserido no conceito moderno de produtividade condicionada à eficiência energética e à qualidade biológica dos produtos agrícolas. Segundo Paschoal (1998, p.20), sistemas energeticamente eficientes são aqueles que produzem economicamente a baixo custo, otimizando o fluxo de energia e os ciclos de nutrientes, buscando a sustentabilidade. Nutrição e sanidade de plantas estão intimamente relacionadas. Grande parte dos adubos minerais solúveis e dos agrotóxicos podem interferir com a bioquímica das plantas, provocando acúmulos de nitrogênio e aminoácidos livres no suco celular e na seiva, responsáveis por erupções de pragas e patógenos. Adubações orgânicas e de minerais pouco solúveis tendem, por outro lado, a aumentar a síntese de proteínas, reduzindo assim as substâncias nitrogenadas livres, que constituem o alimento básico para os organismos daninhos. O que os agricultores ecológicos da ASPEDD estão na realidade tentando praticar é o resgate do modelo de agricultura usada antes da agricultura moderna, acrescentando um novo ingrediente, como a adoção, e por que não dizer, a construção de processos, práticas e métodos capazes de substituir os “pacotes” tecnológicos da agricultura convencional. Segundo Altieri (1989, p.207), a compreensão de produção tradicional pode revelar dicas ecológicas importantes para o desenvolvimento de uma produção alternativa e de um sistema de manejo. À medida que os agricultores se afastam da agricultura convencional, inúmeros problemas se apresentam, como: a necessidade de um maior conhecimento da comercialização 84 dos produtos, disponibilidade de cultivares adaptados aos diferentes sistemas ecológicos, ausência de crédito rural, uma necessidade de acompanhamento nos processos de cultivo e de criação e, dificuldades no suprimento de insumos não convencionais. Os agricultores do grupo estudado reconhecem que necessitam de melhorias para consolidar os sistemas adotados. Entre essas se destacam uma capacitação técnica e gerencial dos agricultores envolvidos; a busca permanente de canais de crédito para seus investimentos e custeio das atividades; a possibilidade de beneficiamento de alguns produtos considerados perecíveis, mas que podem ser transformados em conservas (pickles, por exemplo); a produção coletiva de mudas, especializando um integrante do grupo, assim como já vem ocorrendo com a produção de biofertilizantes; a procura por integração com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cooperativas e outros, para envolvê-los, mostrando o que fazem e comprometê-los a defender programas em nível municipal, regional e estadual indispensáveis e generalização deste modo de produzir alimentos. Há um enorme potencial de desenvolvimento da pequena agroindústria associada à agricultura familiar, permitindo que os agricultores se apropriem de uma parte maior do valor gerado nas propriedades. Os problemas de produção em escala podem ser equacionados pelo esforço associativo e a integração com outras organizações de agricultores que têm um mercado consolidado. Segundo Costabeber & Moyano (2000, p. 51), o associativismo vem sendo utilizado por agricultores familiares para enfrentar problemas que surgem ao introduzirse novas práticas agrícolas e de gestão de suas propriedades, problemas estes que não podem 85 ser solucionados pela via da ação individual e que a ação coletiva se converte em motor para pôr em marcha projetos da agricultura ecológica. Complementando, é de real importância que a municipalidade de São José do Sul se mobilize no sentido de buscar uma solução para a deficiência que ocorre no processo de transferência de tecnologia e apoio aos agricultores do grupo ecológico. Todos os agentes envolvidos no processo deverão ser consultados e motivados a contribuir na construção, em conjunto, de um efetivo de apoio, onde se inclui a transferência de tecnologia, respeitando as ansiedades e desejos dos agricultores e suas reais necessidades. Verifica-se que vem sendo oportuno estender aos agricultores o potencial de programas oficiais, como o programa Rio Grande Ecológico, que tem como objetivo oferecer apoio aos agricultores que buscam uma nova forma de produzir em sintonia com a natureza. Acredita-se que trabalhos descrevendo o funcionamento de sistemas de cultivo e de criação sob o enfoque ecológico de produção possam ser úteis a um grande número de interessados nesse modo de se fazer agricultura, destacando-se a grande contribuição que traz esse estudo de caso na troca de experiências e na difusão para outros agricultores ecológicos, aos agricultores que praticam uma agricultura convencional, às agências de assistência técnica, aos serviços de extensão rural, e a outros interessados. Pode-se também verificar que o enfoque ecológico de produção apresenta como característica marcante uma abordagem sensível à diversidade ambiental e às relações que ocorrem entre os seres vivos. Através da descrição dos sistemas observados se verifica nitidamente que os resultados conseguidos pelos agricultores comprovam que “uma agricultura 86 bem feita, ecologicamente equilibrada, com adubação orgânica de qualidade, diversificação e rotação de cultivos, não apresenta problemas maiores devido ao ataque de pragas e m oléstias. Estas estarão presentes, mas os danos serão isolados, sem significação econômica, localizadas sobre as plantas frágeis, com o desenvolvimento abaixo do normal Guazelli (1985, p. 45). Recomenda-se que esses produtores se integrem à rede de produtos ecológicos para buscar junto a esta a solução para a compra de sementes de boa qualidade. Observando a intensa mobilização de recursos, pode-se concluir que se trata de uma agricultura em transição à forma ecológica de produção, principalmente quando se veêm referências como de Masanobu Fukuoka (1985) citado por Vivan (1998): “mesmo a agricultura orgânica, da qual se faz uma grande apologia nos dias atuais, é apenas outro ramo da agricultura científica moderna. São muitos os problemas em mover materiais ecológicos de lá para cá, processá-los e tratá-los. Muitos ganhos obtidos com esta atividade são ganhos locais e temporários”. Analisando a dependência real que existe com relação ao uso de insumos de fora da propriedade, principalmente biofertilizante oriundo de criações integradas, pode-se afirmar, dadas estas condições, que há possibilidade de ser adotado pelos agricultores o sistema de produção integrada de suínos, principalmente, para sanar a deficiência de material ecológico para as lavouras. Certamente essa questão passa por uma análise crítica em relação ao abastecimento de água na propriedade. A implantação futura da criação de suínos sobre resíduos vegetais o que já vem sendo discutido e ventilado na região, poderá facilitar em muito a entrada dos agricultores nesta atividade. Ainda, segundo Baldasso (1999, p. 28), essas 87 atividades, que são na realidade terceirizações de um processo, são, por essência, intensivas em trabalho, aumentando as possibilidades de remuneração de mão-de-obra familiar. De fato, as informações coletadas junto aos agricultores do grupo nos dão base para afirmar que o mesmo se encontra numa transição, isto é, enquanto buscam uma maior aproximação e integração com uma agricultura voltada à natureza, ainda permanecem dependentes da compra de insumos, como sementes de que não se conhece com certeza a idoneidade genética e o processo de conservação nas embalagens, a aquisição de fertilizantes ecológicos, como o esterco líquido que, provenientes de criações intensivas, não têm segurança quanto à qualidade em termos da presença de antibióticos e outras substâncias. À primeira vista, o sistema de produção orgânica ou ecológica parece não ter futuro como alguns avaliam e o percebem, sugerindo ser inadaptável ao uso generalizado. Esta questão precisa ser mais aprofundada e discutida. Segundo Paulus et al (2000, p. 81), o modelo sugere alguns pré-requisitos para ser implementado. Entre esses pré-requisitos destacam-se alguns que vêm sendo utilizados pelos agricultores. Esses têm como característica, antes de tudo, garantir a subsistência da família para resolver as questões econômicas que assolam as propriedades familiares. A subsistência é garantida na medida em que procura produzir aqueles alimentos básicos para a sobrevivência, e que não apresentam dificuldades para sua produção. Em princípio, são sistemas sustentáveis, transparentes, simples, podendo ser adaptados e aperfeiçoados de acordo com as várias condições ambientais, locais, sendo quase sempre baseados em experiências e fundamentos tradicionais. É uma tecnologia de processo, em contraposição à tecnologia de produtos, gerando independência, poder de decisão, conhecimento e controle dos meios de produção. 88 CONSIDERAÇÕES FINAIS O conhecimento dos sistemas de cultivo e de criação desenvolvidos pelos agricultores da ASPEDD permite identificar, compreender, avaliar e propor melhorias para os processos de produção em nível de propriedade rural. Com base no conhecimento empírico dos agricultores dessa associação e nos processos e técnicas consagradas por esses, abre-se espaço para que os centros de pesquisa realizem um monitoramento científico, das técnicas e processos que contribuem para dar sustentabilidade e estabilização à atividade produtiva. Da mesma forma, a pesquisa pode se encarregar de buscar explicação científica ou a comprovação dos efeitos de inúmeras técnicas adotadas, bem como encaminhar estudos, sob o enfoque ecológico, de alguns problemas de mais difícil solução identificados pelos agricultores da associação. O trabalho também sugere ampliar os estudos no sentido de diagnosticar o modo de agricultura praticada pelos agricultores ditos convencionais, para verificar o nível de difusão e de apropriação das técnicas e processos ecológicos ocorridos na região, a partir da experiência bem sucedida com os agricultores da ASPEDD. Outrossim, considera-se como de importância proceder a um comparativo da renda bruta alcançada pelos agricultores da associação e dos agricultores convencionais, como também identificar alguns indicadores sociais, econômicos, ambientais que permitam fornecer indícios de sustentabilidade agrícola, eficiência dos sistemas 89 de cultivo e de criação e da capacidade de geração de recursos energéticos. Todas essas indagações não foi possível serem diagnosticadas pela delimitação do universo da pesquisa, expressa nos questionários semi-estruturados, e pelo tempo escasso para o levantamento de campo. Considerando que o agricultor geralmente não tem o costume de fazer anotações de suas atividades, isso dificultou sobremaneira o registro das práticas, métodos, técnicas e procedimentos adotados, determinando destinar mais tempo para esta tarefa e exigindo do entrevistador percorrer toda a área de cultivo para efetuar as observações pertinentes, e não poucas vezes, refazer os passos para a elaboração de insumos e de emprego de algum método. Para o resgate do processo histórico sócio-cultural, ambiental e econômico da região encontraram-se alguns obstáculos: poucos foram os agricultores mais antigos que se dispunham a dar informações, o idioma alemão, nesse caso, um empecilho; e os entrevistados apresentaram alguma dificuldade em lembrar fatos ou transformações importantes ocorridas na região nas últimas décadas. Mas, certamente, não teria sido possível realizar o aprofundamento a que se propôs o estudo se não fosse o positivo empenho, esforço, paciência e participação dos agricultores e seus familiares. 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, J. A problemática do desenvolvimento sustentável. In: BECKER, D.F. Desenvolvimento Sustentável: necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2001. p. 17. ALMEIDA, J. Da ideologia do progresso à idéia de desenvolvimento (rural) sustentável. In: ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. Reconstruindo a agricultura. Porto Alegre: Editora da Universidade /UFRGS, 1997. pp 33-55. ALMEIDA, J. A construção social de uma nova agricultura: tecnologia agrícola e movimentos sociais no sul do Brasil. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999. 214 p. ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000. ALTIERI, M.A. Bases agroecologicas para una produccion agricola sustentable. 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