Estudo de caso de uma associação de agricultores

Propaganda
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL – PGDR
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL E AGROECOLOGIA
[Convênio UFRGS / PGDR – ASCAR / EMATER – RS]
ESTUDO DE CASO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES ECOLÓGICOS NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO SUL – RIO GRANDE DO SUL
PEDRO AUGUSTO RÜCKER
Monografia de Conclusão de Curso
Orientador: Prof. Dr. Jalcione Almeida
Porto Alegre, novembro de 2001
2
AGRADECIMENTOS
Aos associados e familiares da Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo- ASPEDD
que contribuíram de forma simpática para a realização da presente monografia.
Ao Professor Dr. Jalcione Almeida, pela especial dedicação, incentivo e orientação r ecebidos
sem o qual não teria sido possível realizar este trabalho.
À EMATER/RS, através de sua direção, pela oportunidade de realização do curso.
Aos colegas de curso, professores e funcionários do IEPE / PGDR / UFRGS, pelo convívio,
ensinamentos e apoio.
Aos colegas dos Escritórios Municipais da EMATER/RS de Salvador do Sul e de Montenegro,
que se dispuseram a dar suporte para a consecução dos trabalhos.
Aos colegas do Escritório Regional da EMATER/RS de Estrela e do Escritório Central da
EMATER/RS, pela atenção e apoio dispensados.
À Prefeitura Municipal de São José do Sul, entidades representativas de agricultores e outras
pessoas, pela colaboração.
Aos familiares, pelo estímulo recebido e pela compreensão da ausência.
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................
5
1 REFERENCIAL CONCEITUAL ................................................................................................
1.1 Sustentabilidade ..............................................................................................................................
1.2 Agricultura sustentável..................................................................................................................
1.3 A crise do padrão convencional de agricultura ....................................................................
1.4 Agricultura alternativa .................................................................................................................
1.4.1 Agricultura natural .....................................................................................................................
1.4.2 Agricultura biológica ................................................................................................................
1.4.3 Agricultura biodinâmica ..........................................................................................................
1.4.4 Agricultura nasseriana ..............................................................................................................
1.4.5 Agroecologia ...............................................................................................................................
1.4.6 Agricultura orgânica .................................................................................................................
9
9
10
11
13
13
14
14
15
15
16
2 METODOLOGIA .............................................................................................................................
18
3 CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO E ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..............
3.1 O município de São José do Sul – aspectos e caracterização do cenário atual ...........
3.2 A transição à agricultura ecológica ..........................................................................................
3.3 A situação/caracterização das famílias ....................................................................................
3.4 A comercialização associativa ...................................................................................................
21
21
30
34
39
4 O SISTEMA DE PRODUÇÃO ECOLÓGICO PRATICADO PELOS
AGRICULTORES DA ASPEDD ....................................................................................................
4.1 O sistema de criação de bovinos de leite ................................................................................
4.2 O sistema de cultivo de olerícolas ............................................................................................
4.3 O sistema de cultivo de citros ....................................................................................................
4.3.1 Operações ou práticas citrícolas do primeiro ao quarto ano ........................................
4.3.2 Operações ou práticas para pomares citrícolas com mais de quatro anos de idade
42
45
51
64
65
67
4
4.4 O sistema de cultivo do aipim ....................................................................................................
4.5 O sistema de cultivo da acácia-negra ......................................................................................
73
76
CONCLUSÃO .......................................................................................................................................
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................
88
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................
90
ANEXOS .................................................................................................................................................
94
5
INTRODUÇÃO
Na região do Vale do Caí, onde se encontra situado o município de São José do Sul, é
significante o número de agricultores familiares que vêm implementando a agricultura
ecológica. Considerando essa realidade, constata-se a carência do registro sobre a dinâmica dos
processos e das práticas adotados. Verificam-se, com relativa freqüência, manifestações
divergentes quanto ao modo de aplicação dessas práticas e processos. Procurou-se através
desse trabalho realizar um diagnóstico sistematizado dos procedimentos tecnológicos e dos
processos de produção adotados pelos agricultores da Associação de Produtores Ecológicos
Dom Diogo – ASPEDD, em suas inúmeras atividades, que pode contribuir para a troca de
experiências e para a difusão a outros grupos ecológicos, para agricultores ecológicos que não
participam de associações e até mesmo para agricultores que praticam uma agricultura
convencional.
Também se procurou identificar as principais razões pelas quais os agricultores da
ASPEDD decidiram substituir as práticas convencionais por uma agricultura ecológica,1 a
1
Entendida como uma agricultura praticada com métodos e processos alternativos aos praticados pela agricultura
moderna, produzindo sem comprometer a preservação ou renovação dos recursos naturais ao longo do tempo e
que coloca o homem em harmonia com a natureza, assumindo este um papel ético perante o consumidor de dar o
máximo em qualidade e segurança ao alimento.
6
partir da análise das manifestações dos membros do grupo, bem como de documentação
existente.
O problema de pesquisa, afinado no contato com os agricultores, pode ser sintetizado
através dos seguintes questionamentos:
1- O que determina a conversão ou a passagem dos agricultores de uma agricultura
convencional a uma agricultura ecológica?
2- Como se caracteriza, em um contexto específico, esta transição?
3- Quais as dificuldades e avanços deste novo tipo de agricultura?
Para responder a estes questionamentos, parte-se da seguinte hipótese: os agricultores,
quando ainda jovens, vivenciaram formas de praticar a agricultura em que a ênfase era o uso de
equipamentos construídos pelas próprias mãos do trabalhador rural, as formas simples de
manejar as suas criações, os insumos para fertilização das terras eram buscados dentro da
propriedade e, reciclados, proporcionavam a própria produção de fertilizantes. Resgatando esse
modo de cultivar as terras e de criar os animais, esses agricultores exercitaram um modo de
fazer agricultura que parte da agricultura natural, usada pelos antepassados, e que, integrado a
outros processos e métodos, desenvolveram, com o decorrer do tempo inúmeras maneiras de
produzir alimentos com baixo impacto ambiental, com reduzidas conseqüências na
contaminação de alimentos destinados ao consumidor e com melhorias nas condições de
trabalho. Inúmeras dificuldades foram se apresentando diante dos agricultores em função do
modelo de agricultura implantado no país, como custos elevados de insumos, redução das
rendas, esgotamento da fertilidade natural dos solos, levando-os a experimentar novas práticas
agrícolas e novas formas de comercialização.
7
Assim os objetivos específicos deste estudo são:
1- Conhecer a experiência de um grupo de agricultores e seus familiares que busca a
construção de um estilo de agricultura familiar com base ecológica, ao
desenvolvimento rural sustentável, e que, em maior ou menor grau, se enquadra
num processo que pode considerar-se como de transição agroecológica;
2- Identificar e registrar o cenário social e produtivo anterior aos dos dias atuais que
pode ter contribuído na decisão do grupo em optar por praticar uma agricultura
diferenciada, não-convencional;
3- Sistematizar as atividades relevantes, descrevendo os principais sistemas de
produção, sua lógica de produção, os métodos, insumos e técnicas de produção de
caráter ambiental que vêm sendo adotados pelos agricultores, de tal forma que
possam ser reproduzidos por outros interessados;
4- Levantar, entender e descrever a origem, trajetória e as motivações dos
agricultores e de suas famílias, suas realizações e empreendimentos, as perspectivas
e aspirações, potencialidades e limitações, bem como as suas relações com o meio.
Na primeira parte, o estudo buscou os antecedentes históricos e o cenário onde os
agricultores desenvolvem suas atividades. Apresenta o grupo objeto do trabalho, sua inserção
no município e no contexto da m odernização da agricultura brasileira a partir da década de 50,
caracteriza a crise da agricultura brasileira nos anos 80 e seus reflexos no Estado do Rio
Grande do Sul, bem como identifica as saídas encontradas pelos agricultores da região para
contornar esta situação crítica.
8
Num segundo instante são tecidas considerações sobre a metodologia empregada para
compreender aquela realidade microssociológica, optando-se pelo estudo de caso com as
técnicas complementares da observação-participante, da historiografia, da entrevista e da
pesquisa bibliográfica.
A terceira parte do trabalho destina-se a uma breve descrição e apresentação dos
conceitos chave neste estudo.
Na última parte são apresentados os dados e informações empíricas, são caracterizados
a produção, as práticas implementadas pelos membros da associação e os resultados obtidos
pelos agricultores, relacionando com o referencial conceitual e bibliográfico. A análise da
situação transitória da associação objeto do estudo é colocada em perspectiva com as
dificuldades que uma nova agricultura sofre em relação ao modelo convencional, ao padrão
moderno da “Revolução Verde”, e quais as saídas para o enfrentamento desta situação e a
contribuição para que ocorra a generalização desta nova agricultura.
9
1 REFERENCIAL CONCEITUAL
A Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo demonstra atuar num padrão de
agricultura denominado como “orgânica”, situando-se em transição para a agricultura
ecológica, cujos princípios são aqueles da conservação e regeneração dos recursos naturais; do
manejo dos recursos produtivos através da diversificação; da reciclagem de nutrientes; da
reciclagem de matéria orgânica e regulação biótica; da preservação da diversidade cultural e da
integração harmônica entre o homem, agroecossistemas e o ambiente.
1.1 SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento e a sustentabilidade planetária foi concebida a partir do Relatório
Brundtland: “desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades”
(Nosso Futuro Comum, 1991, p.46).
10
O conceito de sustentabilidade tem significados distintos para cada indivíduo,
dependendo da classe social a que pertence. Cada um usa e aplica essa terminologia como lhe
parece mais conveniente e apropriado. Sustentável, para a maioria, é algo que busca se manter,
é algo que tem caráter de imutabilidade (Carmo & Salles, 2001, p.2).
Para muitos, a sustentabilidade, enquanto bandeira, serve para se contrapor à expressão
e intensificação do processo de acumulação. Enquanto processo, seria algo dado, algo natural,
um retorno à lógica da natureza, descartando a visão de sustentabilidade fundada na
racionalização dos recursos, sejam naturais, culturais ou humanos (Becker, 2001, p.74).
Gliesmman (2000, p.565) descreve um agroecossistema sustentável como aquele que
mantém os recursos naturais, conta com o mínimo de insumos artificiais externos e é capaz de
se recuperar de perturbações ocasionadas pelo manejo.
1.2 AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Segundo Almeida (1999, p. 117) o agrupamento das intenções, referentes às
agriculturas “alternativas” e seus princípios ecológicos, de maneira geral (conforme os
propósitos de cada ator/grupo social), forjaram a noção de agricultura sustentável.
Para Ehlers (1999, p. 121) agricultura sustentável proposta pela FAO contempla
posições conservadoras; já o CNP/EUA (Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos
da América) propõe mudanças mais significativas. A primeira corrente clama por um simples
11
ajuste, em busca da racionalidade a curto prazo: redução de insumos industriais, aplicação mais
eficiente dos agroquímicos ou substituição por insumos biológicos. Já a segunda corrente é
uma alternativa para todo o sistema de produção alimentar a longo prazo: menor impacto
ambiental, redução da fome e da miséria e ética social mais igualitária.
A agricultura sustentável, na sua concepção mais idealista, baseia-se num enfoque
técnico-produtivo (que envolve o econômico) mas que não pode prescindir dos enfoques
ambiental (associado à exploração dos recursos naturais), e social (ligado à concentração dos
meios de produção). Nesses termos, fala-se de um paradigma inserido num modelo de
desenvolvimento, onde o tripé economicamente viáve l-socialmente e justo-ecologicamente
equilibrado tenha força para sobrepor a dinâmica acumulação-concentração de capital-lucro
(Carmo & Salles, 2001, p.2).
Para Gliessman (2000, p. 53) a agricultura do futuro deve ser tanto sustentável quanto
altamente produtiva para poder alimentar a crescente população humana. Requer uma nova
abordagem da agricultura e do desenvolvimento agrícola construídos sobre aspectos de
conservação de recursos da agricultura tradicional local, enquanto, ao mesmo tempo, se
exploram conhecimento e métodos ecológicos modernos.
1.3 A CRISE DO PADRÃO CONVENCIONAL DE AGRICULTURA
Segundo Ehlers (1999, p. 128), “nas monoculturas de grãos, os fatores
desestabilizadores são amplificados, obrigando os agricultores a recorrer a técnicas intensivas
12
para manter as condições necessárias ao desenvolvimento vegetal ...”. Além do elevado custo
para os agricultores e dos problemas ambientais, os organismos que se quer combater ficam
mais resistentes.
De acordo com Almeida (1999, p. 58), dentre outros fatores que denotam a crise do
padrão convencional de agricultura, pode-se destacar:
- um fator socioeconômico: destruição do policultivo, da rotação de cultivo/pecuária e
dos tratamentos ecológicos do solo, acarretando perda de autonomia financeira e de
subsistência dos agricultores;
- a concentração da terra, da renda e do acesso ao crédito, gerando êxodo e sem-terras;
- a degradação ambiental.
Para Almeida e Navarro (1997), o padrão convencional reduziu os agricultores a meros
consumidores de insumos; e é reconhecidamente concentrador, ao exigir grande quantidade de
capital, equipamentos e insumos.
Goodman (1990) apud Costabeber (2000, p. 68) enfatiza a inovação trazida pela
“Revolução Verde” de utilização de variedades de cultivos positivamente sensíveis ao uso de
fertilizantes e, com isso, servindo de “principal veículo para a transformação da agricultura do
Terceiro Mundo por parte dos capitais agro-industriais multinacionais”, tornando o agricultor
convencional cada vez mais dependente de tecnologia importada e cara.
13
1.4 AGRICULTURA ALTERNATIVA
Segundo Ehlers (1996, p. 139), o termo alternativo aparece como o contrário de
agricultura convencional.
Alternativa tem significação na dimensão política (Almeida, 1999, p. 65), por uma
confrontação acerca das contradições da sociedade capitalista destinada, inclusive, a fundar
uma nova sociedade. O agricultor alternativo, em relação à tecnologia, processos e métodos de
produção opta por soluções que lhe garantam autonomia. Há um rompimento com as técnicas e
processos convencionais de produção agrícola.
Para Graziano da Silva (1999, p. 55), a importância de um “movimento por uma
agricultura alternativa não está ao nível da ‘produção da produção’, mas da ‘produção da
consciência’”.
1.4.1 Agricultura Natural
O bojo da discussão é o quanto mais natural é a agricultura em relação ao uso de
artificialidades. O alicerce desse tipo de agricultura é o respeito às leis da natureza. Ao
contrário da agricultura convencional e até mesmo da chamada agricultura orgânica e
biodinâmica, essa se baseia na mínima intervenção nos sistemas naturais, propostos por Mokiti
Okada e Masanobu Fukuoka. (Ehlers, 1999, p.63).
14
1.4.2 Agricultura Biológica
Visa garantir maior qualidade biológica para os alimentos, contrapondo-se àqueles que
comportam resíduos de produtos sintéticos de procedimentos artificiais de fabricação química .
Para isso, é contra a utilização de qualquer tipo de agrotóxico e de fertilizantes sintéticos, e a
favor da fertilização orgânica e da reconstituição biológica do solo (Almeida, 1999, pp. 94-95).
1.4.3 Agricultura Biodinâmica
Segundo Ehlers (1999, pp. 129-130), a agricultura biodinâmica prima por sistemas
produtivos eficientes que contemple a diversificação/sistema rotacional integrado à produção
animal e vegetal: “as rotações bem controladas e combinadas com a produção animal
diminuem muito a necessidade de insumos externos, como as rações para alimentação animal,
os agrotóxicos e os fertilizantes”.
Almeida (1999, p. 95), ressalta que alguns dos aspectos técnicos que a diferencia de
outros tipos de agricultura é o uso de preparados ecológicos à base de esterco, bem como leva
em consideração a influência da lua (astrologia) na agricultura.
15
1.4.4 Agricultura Nasseriana
Segundo Wolff (1994), trata-se de uma nova corrente da agricultura ecológica
desenvolvida por Nasser Youssef Nasa, que prega o estímulo e manejo de ervas nativas e
exóticas junto com os cultivos, de maneira que mantenham o solo protegido e façam a
adubação verde. Defende, também, a diversidade biológica de insetos e plantas, uso de estercos
e resíduos ecológicos na base das plantas.
1.4.5 Agroecologia
A síntese das diversas proposições em torno de uma agricultura alternativa ao padrão
dominante, tradicional e convencional está na agroecologia, (Almeida, 1999, p. 141),
apoiando-se muito mais “no uso potencial da diversidade social e dos sistemas agrícolas” mais
próximos dos modelos camponês e indígena, espacial e culturalmente circunscritos.
Gliesmman (2000, p. 609) enfatiza que a agroecologia em seus princípios contribuim
para os respectivos contextos sociais: diminuição da dependência; valorização do
conhecimento prático; maior interesse pessoal à integridade ecológica; visão de longo prazo;
maior eqüidade na distribuição fundiária; entre outros fatores.
16
1.4.6 Agricultura Orgânica
Segundo Ehlers (1999, p. 129), é uma alternativa para o sistema convencional,
principalmente pela diversificação.
Para Almeida (1999, p. 95), a agricultura orgânica obedece a certos valores e crenças
relacionados a uma ética orgânica, como a preocupação com os recursos naturais nãorenováveis; a preservação do solo como “fonte de vida”; a diversificação da produção sob o
ponto de vista do policultivo ; independência a fontes de energia; proteção do meio ambiente;
conservação dos alimentos e a saúde.
O Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 1984)) apud Ehlers (1999,
p.55) define agricultura orgânica como um sistema de produção que evita ou exclui os
fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento, aditivos elaborados sinteticamente e que
se baseia na rotação de cultivos, uso de estercos animais, resíduos ecológicos vindos de fora da
propriedade, cultivos mecânicos, uso de minerais naturais e controle biológico de pragas.
Altieri (2000, p. 61) considera a agricultura orgânica como um dos tipos de sistemas
diversificados de produção ecológica.
Segundo Altieri (2000, p. 68) a agricultura orgânica baseia-se, principalmente, em: rotações de
cultivo, resíduos de lavouras, esterco, cultivo mecânico e uso de minerais, com o fito de
aumentar a matéria orgânica do solo, eliminar agrotóxicos, combater pragas e doenças
biologicamente e estocar água da chuva.
17
A Associação de Produtores Ecológicos Dom Diogo enquadra-se na categoria de
“agricultor orgânico” ou “ecológico” que, segundo Almeida (1999, p. 165), tem as seguintes
características:
- trabalha individualmente;
- recorre essencialmente à mão-de-obra familiar;
- tem uma agricultura diversificada;
- produz para subsistência e para os mercados tradicional e ecológico;
- possui pequeno conhecimento dos mercados, adaptando-se, principalmente, ao
mercado ecológico;
- possui área reduzida;
- começou a modernização, mas interrompeu, tendendo à utilização de práticas
orgânicas - uso de compostagem e não-uso de pesticidas;
- tenta acessar um mercado de produtos ecológicos;
- faz parte de associação de produtores, encarregando-se da comercialização;
- possui estrutura insuficiente em termos de máquinas e equipamentos;
- a sensibilidade ecológica está muito ligada à venda de um produto diferenciado;
- esta sensibilidade tem relação com os agrotóxicos e solos muito erodidos;
- predomina a racionalidade econômica; intensa preocupação em constituir uma marca
orgânica;
Estas estratégias buscam depender menos de insumos de crédito e contar com uma
estrutura mais estável de comercialização, visando vencer a crise econômica.
18
2 METODOLOGIA
A metodologia escolhida foi o estudo de caso da Associação de Produtores Ecológicos
Dom Diogo – ASPEDD. Segundo Richardson (1985, p. 282), o estudo de caso tem como
objetivos “analisar detalhadamente o passado, presente e as intenções sociais de uma unidade
social”, no caso um grupo social de agricultores organizados em uma associação ecológica.
Inicialmente, constituiu-se um grupo de apoio envolvendo extensionistas da
EMATER/RS, lideranças da associação e pessoas de outras entidades. Isso permitiu organizar
o planejamento das visitas, entrevistas e coleta de dados, como também contar com o apoio
logístico para a execução dos trabalhos.
Para o presente estudo de caso lançou-se mão de algumas técnicas complementares:
a) A observação participante aconteceu muito mais com o objetivo de estar junto à
comunidade observada e descrevê-la em suas ações do que propriamente, como o termo
implica, participar como se nativo fosse. O papel do observador participante pode ser tanto
formal como informal, encoberto ou revelado, podendo dispensar muito ou pouco tempo na
situação pesquisada;
19
b) A historiografia, diretamente obtida por entrevistas junto aos agricultores e pela
utilização de fontes secundárias (publicações locais). Conforme Roese (1998, p. 192),
discorrendo sobre o estudo de caso, a partir dos problemas de pesquisa (questionamentos
teóricos), torna-se indispensável a transformação destas questões em um roteiro de pesquisa,
entrevista ou questionário;
c) As entrevistas foram aplicadas de maneira informal, dentro de um roteiro nãopadronizado (semi-estruturado), onde se visou coletar dados históricos da trajetória da
comunidade, bem como dados atuais. Foram também realizadas visitas a todas as famílias, com
aplicação de questionários para identificar as características das unidades de produção
(estrutura, funcionamento, atividades econômicas, composição da renda, envolvimento da
mão-de-obra, etc.), bem como as atividades sócio-culturais e os aspectos ambientais. Os
questionários proveram a base para a realização do estudo de caso e permitiram a abordagem
com maior profundidade. O trabalho concentrou-se na pesquisa investigativa do processo
produtivo em determinados cultivos, criações ou sistemas de produção que se caracterizam
como de maior renda e que contam com o maior número de envolvidos. Através das entrevistas
também se procurou identificar as atividades principais desenvolvidas pelas famílias dos
agricultores, a renda bruta de cada atividade e o grau de envolvimento nas atividades;
d) A coleta de dados secundários foi realizada através de informações contidas em
bibliografia buscada junto a instituições de pesquisa, extensão rural, cooperativas,
agroindústrias, universidades, prefeituras municipais, sindicatos rurais, associações, comércio
de insumos e de produtos agrícolas;
20
e) O uso do diagnóstico “leitura da paisagem”, realizado anteriormente pelo Fórum de
Agricultura Familiar do Vale do Caí, foi instrumento auxiliar na identificação da
heterogeneidade sócio-econômica-ambiental da região onde está inserida a associação; e
f) A análise dos dados coletados foi amparada pela pesquisa bibliográfica, quando
foram utilizados não somente os periódicos e livros específicos sobre a realidade microssocial
do grupo estudado, mas também comparativamente a outras experiências semelhantes.
21
3 CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO E ANTECEDENTES
HISTÓRICOS
3.1 O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO SUL – ASPECTOS HISTÓRICOS E
CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO ATUAL.
O Município de São José do Sul, cuja emancipação ocorreu em 16 de abril de 1996, e a
instalação do primeiro governo, em 1º de janeiro de 2001, encontra-se situado na região
denominada Encosta Inferior da Serra do Nordeste, tendo como limites os municípios de
Salvador do Sul, Harmonia, Pareci Novo, Maratá, Tupandi e Montenegro. Possui uma área de
70 km² e uma população de 2.400 habitantes. A Prefeitura Municipal de São José do Sul estima
uma população rural de 2.280 habitantes, representada por 570 famílias de agricultores.
Caracteriza-se como um município essencialmente agrícola, onde predomina a
produção de laranja, bergamota, limão, acácia-negra (lenha, casca e carvão vegetal), suínos,
leite, milho e aves de corte.
22
Observa-se na paisagem da região, características introduzidas pelos imigrantes e seus
descendentes, onde se pode verificar a influência de seus valores. Na arquitetura das casas, de
enxaimel, ainda se nota a cozinha separada do bloco principal da casa, mostrando vestígios de
que aquela nada mais era do que a primeira habitação, e a presença de sótão, utilizado como
alojamento, armazenagem de cereais ou depósito de objetos diversos.
As benfeitorias construídas para abrigar as criações de animais são erguidas bem
próximas às residências, ainda arraigado na memória o objetivo de salvaguarda dos animais
domésticos contra os ataques de índios e de animais ferozes.
Em termos de sociabilidade, a população mantém o mesmo espírito sadio e alegre dos
imigrantes, primeiros moradores, cultivando algumas tradições que têm elevado cunho
aglutinador, recreativo e solidário. Destaca-se a festa do “Kerb realizada por ocasião do dia
onomástico do padroeiro da paróquia e que se resume em dois a três dias de reunião e
divertimento, quando a população recorda as tradições com cantos, culto religioso, bailes,
encontros de amigos e parentes, sem falar da variada gastronomia. Atualmente, existem duas
associações comunitárias, dois grupos de senhoras, dois grupos de agricultores, uma sociedade
cultural e esportiva, um centro de tradições gaúchas e uma filial de cooperativa.
O município pode ser delimitado em duas zonas (Região Baixa e Região Alta). Na
Região Baixa, situada mais ao sul do município, encontram-se as comunidades de São José do
Maratá, Morro do Cedro e Linha Dom Diogo Baixo. Na Região Alta, situada mais ao norte,
encontram-se as comunidades de Linha Canavial, Linha Bonita, Linha Progresso, Linha Lerner
e Dom Diogo (sede municipal).
23
O sistema agrícola da Região Alta, onde se inserem os agricultores da associação,
caracteriza-se pelo policultivo. Os agricultores dessa região dedicam-se a uma diversidade de
cultivos, principalmente o milho, acácia-negra, cana-de-açúcar, aipim, feijão, forragem para
animais, batatinha, batata-doce e, entre as criações animais, os suínos, bovino de leites e aves
de corte. Parte da superfície da região é formada por potreiros com pastagens naturais
constituídas por gramíneas. Mais recentemente, os cultivos de laranja e bergamota vêm sendo
introduzidos, tornando-se cultivos de expressão nas propriedades rurais. A mudança de matriz
produtiva se deve à rentabilidade do mercado para essas ativi dades.
Essa região apresenta um relevo forte, de ondulado a montanhoso. Os solos derivados
de rochas basálticas são classificados como Brunizem, Litólitos e Lateríticos e pertencem às
Unidades de Mapeamento Associação Ciríaco – Charrua, Associação Caxias – Farroupilha –
Carlos Barbosa e Pituva. Em termos de potencial ao uso agrícola esses solos apresentam
fertilidade natural moderada, limitado em parte no que diz respeito à mecanização por serem
rasos, pedregosos e às vezes com afloramento de rochas. Somente algumas áreas podem ser
usadas para a mecanização tratorizada.
A paisagem florestal está completamente mudada em relação ao período da
colonização, antes com matas naturais abundantes, hoje reflorestadas com acácia-negra,
permanecendo pequenas áreas isoladas de mata natural acompanhando as margens de arroios e
riachos onde não é possível cultivar.
Já o sistema agrícola da Região Baixa se caracteriza pelo monocultivo de citros –
laranja, bergamota e limão, intercalado ou não com o cultivo de aipim, ambos com o objetivo
24
de alcançar o mercado consumidor. Esses cultivos contribuem para a formação de maior parte
do valor bruto da produção dos agricultores inseridos nessa região. Também se caracteriza pela
produção de aves de corte e suínos sob a forma de integração com agroindústrias da região.
Além dessas, existe ainda o cultivo da acácia-negra.
Nessa região, o relevo predominante é composto por várzeas e elevações curtas,
podendo ocorrer em algum local relevo mais acentuado. Os solos, derivados de rochas
basálticas, arenito Botucatu e materiais sedimentares são classificados como Lateríticos ,
Podzólico e Brunizem e pertencem às Unidades de Mapeamento Pituva, Bom Retiro e Vila.
Em termos de potencial no uso agrícola, esses solos apresentam fertilidade natural baixa a
moderada, com exceção dos solos de classificação Vila que tem boas propriedades físicas e
fertilidade natural alta.
Uma característica dessa região é a ocorrência intensa de palmeiras, conhecidas
popularmente por gerivá ou coqueiro, de 10 a 15 metros de altura, com frutas comestíveis, do
gênero Arecastrum, que sobrevivem às derrubadas da mata original e se encontram associadas
às lavouras, potreiros e pomares de citros.
Os agricultores da Região Baixa praticamente se dedicam ao monocultivo de citros,
conseguindo usufruir os resultados que esta atividade conquistou, pois tem boa rentabilidade. A
situação sócio-econômica das famílias dessa região é reconhecida pelo restante da população
do município, a tal ponto que os agricultores da Região Alta fazem referências “elogiosas”,
25
destacando a região como próspera e que “em pouco tempo também chegaremos lá.” Pode-se
dizer que se trata de agricultores consolidados 2 .
Os agricultores da região Alta, como já visto dedicam-se mais a uma diversidade de
cultivos e criações. Observa-se que a partir da década de 80, gradualmente, vem se
intensificando o cultivo do citros com tendência a se tornar um monocultivo nessa região,
aparecendo os demais como lavouras secundárias, e desaparecendo, inclusive, as frutas e
hortaliças.
No início da colonização, a homogeneidade cultural foi muito importante, permitindo
aos imigrantes e seus descendentes organizarem-se segundo seus costumes e tradições (Costa
da Silveira, 1985). Os primeiros habitantes foram os índios guananás, conforme relato de
Lermen & Specht (1999, p.17). A região foi colonizada por imigrantes alemães, entre os anos
de 1855 e 1875, oriundos do sul da Alemanha, principalmente da região de Hunsrüch,
contribuindo de forma bastante significativa no processo de ocupação. O povoamento da região
foi logo se expandindo, dado que as famílias de origem germânica tinham como tradição uma
prole numerosa.
No início do processo de colonização, o sistema de uso do solo para implantar as
lavouras era baseado na derrubada das matas e a subseqüente queimada dos restos de cultivo,
2
Considera-se agricultura em transição (Min. Agric. Abastecimento, 1996; FAO/INCRA, 1994)
os
estabelecimentos com acesso parcial aos circuitos da inovação tecnológica e do mercado, sem acesso à maioria
das políticas e programas governamentais e não consolidados como empresas, mas possuindo amplo potencial
para sua viabilização econômica. A agricultura familiar consolidada é aquela constituída por estabelecimentos
familiares integrados ao mercado e com acesso a inovações tecnológicas e a políticas públicas.
26
não respeitando as elevações e as margens dos cursos d’água. Este processo perdurou por mais
de cem anos e se mantém até os dias de hoje em algumas propriedades rurais.
Os imigrantes e seus descendentes desenvolviam inúmeras atividades proporcionadas
pela diversidade de profissões dos primeiros colonizadores. Houve progresso nas áreas
tecnológicas, com a confecção de equipamentos para a agricultura e um relativo
desenvolvimento da indústria artesanal, principalmente moinhos e processamento de produtos
agrícolas (banha de porco, oleaginosas, etc).
Até a década de 50, a economia era caracterizada como de produção para consumo
próprio e venda do excedente. A agricultura colonial produzia uma diversidade enorme de
alimentos e produtos. Era auto-suficiente e quase nada dependente de insumos externos. A
criação de suínos, que se desenvolveu para trazer fartura à região, proporcionou a indústria de
banha de porco e de variados subprodutos, assegurando a base de uma alimentação rica em
proteínas.
A sociedade colonial manteve esse modo de vida por muitos anos, vindo a ser
desarticulado a partir de meados de 1950. No período de 1945 a 1956, conforme Schneider
(1999, p. 84-85), a agricultura gaúcha passou por uma estagnação, levando muitos colonos a
migrar em busca de novas terras. A suinocultura, que era o principal produto comercial dos
colonos, perdeu seu dinamismo em função da substituição da banha por cultivos vegetais de
oleaginosas (soja, principalmente), pela perda de mercados para os agricultores catarinenses e
mineiros e pela exigência de um novo tipo de rebanho suíno destinado à produção de mais
carne.
27
A partir da década de 50, surge uma época (período) de especialização da agricultura,
da produção especializada com a forte intenção de exportar em detrimento da produção para o
mercado interno. Nesse período se deu o crescimento da indústria e o conseqüente êxodo rural
emergente com a lavoura se mecanizando. A partir daí até os dias, atuais os processos
industriais de produção agrícola foram introduzidos no meio rural da região.3
Em 1965, o país implantou medidas de modernização da agricultura, e com a
implantação do crédito rural, passa a desenvolver o sistema de pesquisa e de assistência técnica
e extensão rural, o seguro rural, e a política de preços mínimos. Impulsionadas por essas
políticas públicas, as tecnologias ditas modernas foram sendo introduzidas e transformando o
outrora bucólico mundo rural. O saber dos agricultores foi gradativamente substituído pelo
saber das universidades, dos órgãos de pesquisa oficiais e privados, da extensão rural oficial e
da assistência técnica privada, ocorrendo uma mudança econômica, social e material na vida do
agricultor familiar. Em nome da necessidade de aumentar a produtividade das lavouras,
privilegiando o cultivo de produtos para a exportação, a modernização da agricultura acabou
promovendo uma mudança na base técnica da produção, com custos mais elevados, afetando
profundamente as relações de trabalho no campo (a lavoura tecnificada é liberadora de mão-deobra). Enquanto se estimulava o plantio de produtos para exportação (soja, por exemplo) a
produção de alimentos para o mercado interno diminuía. Com a modernização restou à
agricultura familiar a atividade periférica de produção de alimentos a um custo barato para o
mercado interno e à base do sobre-trabalho e da mão-de-obra familiar.
3
Segundo Almeida (2001, p. 16-17) “a via de desenvolvimento proposta ao Terceiro Mundo foi tomada
emprestada daquela seguida pelas nações ocidentais, hoje consideradas ricas ou avançadas, industrialmente. Aos
países mais pobres, para se tornarem também ricos e avançados, era preciso imitar o processo de industrialização
desenvolvido nos países ocidentais” (Almeida, 2001 p.16-17).
28
A máquina, representando o elemento tecnologia, foi desenvolvida para aumentar a
produtividade, poupar mão-de-obra, reduzindo custos e a penosidade e melhorando o conforto
do trabalho rural. É um período de exclusão do agricultor familiar e de todo o assalariado que
vivia da agricultura. As medidas governamentais proporcionaram todos os elementos
necessários ao desenvolvimento do agronegócio, mas erraram no momento em que cada
elemento ficou dissociado do outro, quando a eficiência e a qualidade total se instalaram nas
propriedades rurais dos denominados agricultores modernos. A agricultura familiar que era
autônoma e independente muito sofreu com a Revolução Verde, não somente ocorrendo a
erosão do solo mas também uma erosão social que provocou a fuga dos campos para as
cidades. A violência e as favelas no meio urbano dão a dimensão deste processo.
Na política de modernização da agricultura houve a participação da assistência técnica e
da extensão rural desenvolvida pela rede privada e governamental. entendendo-se esse
processo pelo uso de insumos modernos, máquinas e equipamentos que pouco contribuem em
mudanças qualitativas.
Na região, como em qualquer lugar desse estado ou país, a política para o setor agrícola
não ocorreu de forma neutra. Observa-se aí uma forte atuação de grupos de interesses tentando
interferir no rumo das medidas instauradas, resultando em políticas discriminatórias, que
passam a atender os aliados mais próximos e a grupos com maior poder de pressão.
Na região, em conseqüência dessa situação, houve um grande incremento da produção
de soja a partir dos anos 70. Esta, em função dos preços pagos, passou a representar a poupança
29
do agricultor, enquanto que outros produtos como o leite, ovos, galinha, lenha e casca de
acácia-negra ajudavam a manter o “rancho” da família.
Na década de 80 inicia-se o processo de consolidação das atividades suinícola, avícola e
leiteira no modelo de integração industrial. Os complexos agroindustriais timidamente se
instalam na região, e com o decorrer do tempo, vão se impondo ao mercado. O agricultor
integrado, que era dono do seu trabalho, passa a ser um dependente dos complexos
agroindustriais, não sendo mais o proprietário do seu tempo, perdendo sua autonomia. As
decisões acontecem fora da propriedade, sem sua participação. Ocorre também incremento na
produtividade e na produção, provocando uma diferenciação entre os agricultores com a
especialização, por exemplo os “granjeiros”, que representam o modelo capitalista de
produção.
Nos anos 80 e 90 a agricultura na região entra em crise, à semelhança do que ocorreu no
Estado. Tomando-se como base o ano de 1980, observa-se que a participação do setor agrícola
no PIB estadual decresceu consideravelmente, passando de 15,08% naquele ano para 10,57 %
em 1995 (FEE, 1997, p.7). Segundo relato de agricultores entrevistados, esse período se
caracterizou pela alta dos preços dos insumos e a não correspondência de alta nos produtos do
agricultor, fazendo-o plantar ou criar apenas para seu sustento, vislumbrando um horizonte de
incerteza e de angústia. Com a modernização, restou à pequena propriedade a atividade
periférica de produção de alimentos a um custo barato para o mercado interno, à base do
sobre-trabalho e da mão-de-obra familiar. Boa parte dos filhos adultos foram trabalhar nas
indústrias ou ateliês de calçados da região e fora dela, dedicando tempo parcial à agricultura,
ou seja, trabalhando fora mas morando no meio rural. A agricultura e o modo de vida que o
30
agricultor levava foram truncados a partir dos anos 60 com a revolução verde, a quimificação
da agricultura, a mecanização. A denominada modernização da agricultura conduziu a uma
desestruturação da agricultura familiar e, em certos aspectos a uma diferenciação social que
permanece até nossos dias, com a exclusão de significativa parcela de agricultores familiares
que encontram na pluriatividade uma alternativa viável de permanecer no meio rural e garantir
sua reprodução social (Schneider, 1999. p. 115) 4 .
3.2 A TRANSIÇÃO À AGRICULTURA ECOLÓGICA.
A partir de 1984, surgem na região alguns movimentos, liderados por pessoas como o
ecologista José Lutzemberger, que na época trabalhava como consultor da empresa TANAC
S/A, contrários ao uso da adubação química e de agrotóxicos e valorizando o uso da matéria
orgânica e de outras práticas culturais favoráveis aos processos biológicos.
Na década de 90 grupos organizados pela Harmonicitrus – Associação de Citricultores
Harmonia, com apoio do PRORENDA – Programa de Viabilização dos Espaços Econômicos
das Populações de Baixa Renda, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado do
Rio Grande do Sul e da EMATER/RS, já vinham atuando na citricultura de forma a buscar
uma maior sustentabilidade na atividade. Daí
4
(¹) Segundo Schneider (1999) a pluriatividade é entendida como sendo o exercício de mais uma atividade
remunerada. Ela se manifesta através de uma multiplicidade de formas, em situações de tempo e esforço distintos
e como uma estratégia de reprodução da unidade familiar de produção. A combinação permanente de atividades
agrícolas e não agrícolas em uma mesma família caracteriza e define a pluriatividade que tanto pode ser um
recurso do qual a família faz uso, como representar uma estratégia individual dos membros que constitui a
unidade doméstica. A adesão à pluriatividade algumas vezes provoca modificações na organização da unidade
produtiva agrícola, estimulando o uso da terra para cultivos permanentes, como o reflorestamento ou a agricultura
de subsistência. Outras vezes a pluriatividade de membros da família não afeta a produção agrícola,
caracterizando-se basicamente como estratégia de emprego, de mão-de-obra excedente.
31
“surgiu a ECOCITRUS, uma associação que se propunha a melhorar
a agroecologia na região, que é formada por um grupo de
agricultores ecologistas, no início todos vindos de grupos do projeto
... e foi se formando uma consciência coletiva. Aí surgiu a
oportunidade de fazer composto, vendo os resíduos das
agroindústrias de tanino e outros dejetos da região” (Mendel, 1999,
p.275).
A ECOCITRUS e os grupos de citricultores passam a promover uma mudança de
consciência não somente dos citricultores, mas de grupos de produtores de olerícolas, mais
tarde redundando na instalação das feiras de produtos ecológicos na região.
Por volta de 1997/98, um agricultor de Linha Lerner, atraído por uma proposta de
intermediários exportadores, vê frustrada a possibilidade de exportar minhocas. Estando
estruturado para esse fim e com farto volume de composto ecológico de minhoca, foi buscar
orientação no sentido de dar um destino para esse material. Nesta oportunidade, recebeu um
convite do escritório da EMATER, de Salvador do Sul, para participar de um curso sobre
produção orgânica de hortaliças, sendo estendido o convite aos demais integrantes da
associação que naquele momento ainda não estava organizada como tal. Foi durante o curso
que se iniciou uma manifestação a fim de experimentar uma nova matriz produtiva para as
propriedades, que atendesse às expectativas de obtenção de maior renda numa perspectiva de
agricultura sustentável, esta entendida como o “modelo que deve combinar elementos do
conhecimento tradicional e do científico moderno, complementando-se o uso de variedades e
insumos convencionais com tecnologias de cunho ecológico, garantindo uma produção
agrícola mais acessível e sustentável” (Altieri, 1989, p. 208).
32
No retorno às suas atividades, os agricultores resolveram estabelecer um plano de
trabalho que os ajudasse a definir os rumos futuros. Foi assim que decidiram pela formação de
uma associação, com o “objetivo de produzir e comercializar produtos olerícolas ecológicos,
diretamente ao consumidor, baseados em melhorar a qualidade de vida.” Segundo a Ata nº 1, a
associação deveria se chamar Grupo de Produtores Ecológicos de Linha Lerner – GPELL.
Posteriormente, através da Ata nº 18, ficou definida como Associação de Produtores
Ecológicos Dom Diogo - ASPEDD.
O que pode ter contribuído, também, para a adesão do agricultor a um novo padrão de
agricultura mais sustentável, é a tendência cada vez mais forte na região de uma crescente
exigência de parcela do consumidor por produtos alimentícios naturais. Um novo mercado de
produtos agrícolas, que apresentasse características de produção diferenciada, aliado às
dificuldades de renda que não atendia às expectativas das famílias, contribuíram na
determinação dos agricultores em sair em busca de uma nova maneira de produzir alimentos
nas unidades de produção. Surge aí uma nova matriz produtiva e novas fontes de renda
influenciadas por uma faixa de público consumidor. Decorrência desta determinação é a
grande variedade de produtos hoje processados e comercializados nas feiras da associação, a
qual promove aumentos de receita familiar. Um exemplo disso é a venda de produtos de
fabricação artesanal, tendo a receita se situado em torno de um salário mínimo mensal, por
família (pesquisa de campo-2001).
Também se verifica um comportamento de consciência para a necessidade de adotar
formas de produção e estilos de vida compatíveis com a sustentação dos recursos do planeta
Moreira (1993) citado em EMATER/RS (1997). Percebe-se que há de parte dos agricultores da
33
ASPEDD uma sensibilidade ecológica, uma tomada de consciência dos problemas gerados a
partir da instalação da agricultura convencional, insurgindo-se contra os processos aí
executados, e que foram os promotores de crises ocorridas com a agricultura familiar, e
buscando sistemas agrícolas sustentáveis, com baixo uso de insumos externos, diversificados e
eficientes em termos energéticos.
Apesar da introdução da agricultura moderna no meio rural onde hoje se inserem os
agricultores do grupo, esses despertaram para os seus efeitos, procurando desenvolver, de
modo consciente, sistemas de cultivo ou de criação pouco dependentes de insumos ditos
modernos. Através do uso de métodos de cultivo que substituam os fertilizantes químicos pelos
fertilizantes ecológicos, reduzindo o trabalho de revolvimento dos solos, eliminando totalmente
a utilização de agrotóxicos e procurando integrar de modo racional e eficiente as atividades
dentro da unidade de produção, esses agricultores vêm executando processos de produção
mediante sistemas agrícolas que podem ser qualificados como orgânicos, alternativos,
biológicos, ecológicos, etc. Percebe-se de parte dos componentes da associação, uma tendência
de trabalho não-penoso. Não se trata aqui de penosidade vista sob o aspecto do trabalho
mecânico do trabalhador, mas sob o aspecto de alcançar um bem-estar humano. Esse bem-estar
é conseguido libertando-se do uso de inúmeras técnicas e processos usados e difundidos pela
agricultura convencional, como é o caso de aplicação de pesticidas para pragas e ervas
daninhas.
Verifica-se durante as entrevistas com os agricultores e suas famílias, que as mudanças
ocorreram devido a uma soma de fatores: momento de crise coletiva, tendo em vista a situação
da agricultura familiar, já relatado anteriormente; a forte influência das experiências de outros
34
grupos de produção ecológica existentes na região; frustrações financeiro-econômicos que
propiciaram uma reflexão do indivíduo inserido num contexto de dificuldades e, ainda, o
incentivo ou motivação provocada por parte de agentes externos como, por exemplo, o serviço
de Assistência Técnica e Extensão Rural da EMATER/RS.
3.3 A SITUAÇÃO / CARACTERIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS.
No ano de 1998, quando do início da organização da Associação, eram nove famílias,
sendo que quatro desistiram de acompanhar as atividades do grupo.
As cinco famílias que hoje compõem a Associação estão distribuídas nas comunidades
de Linha Lerner (quatro famílias) e Linha Progresso (uma família), que distam entre si
aproximadamente 4 km. Essas famílias possuem propriedades que totalizam 64,2 hectares.
O grupo é formado pelas seguintes famílias com seus respectivos membros:
♦ Família de Aloísio e Márcia Führ, moradora em Linha Lerner. Possuem dois filhos
menores. Com os mesmos moram o casal Waldomiro e Imelda Führ, pais de Aloísio.
Apenas Aloísio e Márcia se envolvem nas atividades de produção agrícola. Os serviços de
casa recebem o apoio do segundo casal;
♦ Família de Pedro Jandir e Adriane Führ, moradora em Linha Lerner. Possuem dois filhos
menores. Com os mesmos moram o casal Arlindo Aloísio Führ e Elma Olidia Führ, pais de
Pedro Jandir. Todos, com exceção de um filho do primeiro casal, se envolvem com a
produção agrícola;
35
♦ Família de Reneu Egídio e Noeli Nied Führ, moradora em Linha Lerner. Possuem dois
filhos adultos. Com os mesmos mora Lauro Nied, sogro de Reneu Egídio. Envolvem-se nas
atividades agrícolas o casal e um dos filhos;
♦ Família de Roque Oscar e Jaqueline Wollman, moradora em Linha Lerner. Possuem uma
filha menor. Apenas o Senhor Roque se envolve nas atividades agrícolas;
♦ Família de Rudi e Maria Schuster, moradora em Linha Progresso. Possuem três filhos
adultos, sendo que somente um mora com os pais. Envolve -se nas atividades somente o
casal.
Participavam do grupo as famílias de João Beno Lottermann, moradora em Linha
Canavial, e Paulo Claus, Elton Müller e Martim Von Mühlen moradores de Linha Lerner.
Durante as entrevistas junto a esses agricultores, pode-se verificar um aspecto
importante, que motivou a sua organização como grupo ou associação. Diante da difícil
situação econômico-financeira das famílias, o grupo refletiu sobre a possibilidade de inovar,
buscando diversificar mais ainda a produção agrícola, desde que as atividades se mostrassem
mais rentáveis e lucrativas, como o caso das olerícolas, e que fosse adotado um novo modelo
de agricultura onde se gerasse renda com menos custos e se promovesse melhor qualidade de
vida humana. A mudança de uma matriz produtiva foi a alternativa para superar os problemas
que punham em risco a sua reprodução social. Isso exigiu por parte dos agricultores uma
readaptação às novas atividades, uma mudança radical no que vinham fazendo durante anos e
que herdaram de seus antepassados. Foi necessária uma dedicação especial para poder conciliar
as tradicionais atividades com as novas.
36
Apesar de que as novas atividades representassem uma aspiração das famílias para a
solução de seus problemas, houve dificuldade em viabilizar e operacionalizar os novos
sistemas de cultivo; afinal, estes exigem a passagem do “modelo camponês” de agricultura de
subsistência a um modelo que imprime outra rotina de trabalho, tornando-a mais complexa,
considerando o alto risco e a natureza de exploração de hortaliças, cuja característica básica é a
sua alta pericibilidade. Outro aspecto a ser ressaltado é que a falta de experiência na
comercialização veio à tona, demandando rapidez no escoamento e mobilização em busca de
mercado.
Assim sendo, a opção por outros sistemas de cultivo passou a se tornar conflitante com
suas tradições e modo de trabalhar. A proposta, que a princípio era aparentemente simples,
acabou virando um pesadelo, sendo fator preponderante na decisão de não m ais prosseguir
com essas atividades, o que provocou o desligamento de algumas famílias da associação.
Em relação à posse de terra, a média de área entre os componentes do grupo situa-se em
12,8 hectares próprios, não se fazendo uso de terras arrendadas ou em parceria. A receita
monetária bruta anual (produção agropecuária) de cada família situa-se em R$13.666,00.
Possuem uma infra-estrutura relativamente adequada às suas necessidades. Todas as famílias
têm boas moradias, contando com luz, telefone, equipamentos para o trabalho, benfeitorias
para a criação de animais, depósito e cobertura para máquinas. Um problema é a água, pois a
região tem deficiência de vertentes. Essa situação será em breve resolvida, com a distribuição
de água encanada a todos os moradores, a partir de um poço artesiano existente em uma
comunidade próxima.
37
Os agricultores não se restringem a produzir alimentos oriundos de suas lavouras e
criações para fazer frente as suas necessidades, melhorar suas economias e, por fim, manter a
reprodução das unidades familiares. Como estratégia individual na busca de novas alternativas,
procuram permanentemente combinar as atividades agrícolas com a agroindústria caseira, mais
uma atividade remunerada que compõe a renda familiar. Assim são produzidas, semanalmente,
uma quantidade variada de produtos como pães, bolachas, biscoitos, rosca de polvilho, cucas,
bolos, doces de frutas (schmier) e melado. Abre-se aí um espaço como alternativa de trabalho e
renda diante da crise vivida pela agricultura familiar. Ressalte-se que a transformação de
produtos de origem vegetal ou animal é parte do cultivo da agricultura familiar
Entre as pessoas ou instituições com quem conversam para auxiliar na tomada de
decisões a respeito da produção ou de mudanças na unidade de produção são citados a
EMATER de Salvador do Sul e de Maratá; a Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior
Ltda.; a Secretaria Municipal de Agricultura; o SEBRAE; o Sindicato dos Trabalhadores
Rurais e os vendedores de insumos, máquinas e equipamentos. Também é citado por um dos
componentes do grupo o Eng.Agro. Sebastião Pinheiro e parentes com formação agronômica.
Interessante citar que uma fonte de busca de informações são alguns programas de televisão
onde se veiculam matérias sobre agricultura geral. Também foi citada a troca de experiência
que ocorre entre os agricultores da associação.
Os agricultores entrevistados demonstraram preocupação com as limitações que o novo
município tem, principalmente quanto ao aspecto de transferência de tecnologia na área de
cultivos. A principal instituição envolvida nesse processo era o Escritório Municipal da
38
EMATER de Salvador do Sul que, devido ao convênio existente com esse município, não mais
permite fornecer o apoio necessário aos agricultores de São José do Sul.
A figura apresentada a seguir, mostra, pela percepção dos agricultores, quais as
instituições ou pessoas presentes na sua atividade de produção e qual a força desta relação.
EMATER
COOPERATIVA
AGRICULTOR
Secretaria Municipal de Agricultura
SEBRAE
Sindicato dos Trabalhadores Rurais
Vendedores
Vizinhos
A grande maioria das informações e/ou apoio que os agricultores almejam das
instituições ou pessoas de suas relações refere-se a novos mercados para a venda de seus
produtos, formas de comercialização, técnicas de irrigação, recursos para aquisição de
máquinas e equipamentos como semeadeiras de hortaliças, tratores e equipamentos de irrigação
e orientações específicas sobre técnicas de cultivo de olerícolas. A percepção dos agricultores é
de que essas são aspectos que exigem muita atenção por parte do agricultor, e que se tornam
decisivos na regularidade de entrega dos produtos no mercado.
39
3.4 A COMERCIALIZAÇÃO ASSOCIATIVA
Um dos aspectos que se destaca no grupo é a proposta de comercialização associativa
utilizada para comercializar a produção, tanto de origem agrícola e pecuária como da indústria
artesanal.
Reconhecendo que parcela expressiva da produção tem sido apropriada por
intermediários, que se valem dos mecanismos tradicionais de exploração do agricultor familiar,
e a inexistência de agroindústrias que possam absorver a produção de olerícolas, os agricultores
do grupo resolveram investir na venda direta ao consumidor.
É importante destacar a forma de atuação coletiva na comercialização. Desde que
iniciaram as primeiras colheitas de olerícolas, foi realizado um levantamento do mercado para
os produtos diferenciados, isentos de agroquímicos, como é o caso das olerícolas produzidas
pelo grupo. A procura desse mercado ocorreu dentro do município e fora dele, os agricultores
vendendo sua produção de duas formas, através de feiras fixas e feira móvel.
Após resolvidas as questões burocráticas de instalação de feiras no município de
Montenegro, foram instalados dois postos de venda que ocorrem todas as quintas e sextasfeiras pela manhã. Além destes, todos os sábados é realizada uma feira móvel que percorre a
sede municipal de São José do Sul e algumas comunidades do interior.5
5
Esse fato também demonstra o nível de especialização de alguns agricultores do município, quando preferem
comprar as hortaliças a plantá-las em suas propriedades.
40
A forma adotada para comercializar demonstra o nível de organização e administração
interna do grupo. O seu funcionamento exigiu criação do agente ou dos agentes de
comercialização dentro do grupo, indispensáveis para que os produtos deixem as unidades
produtivas e cheguem à feira, na forma e no tempo desejados pelo consumidor. No sentido de
dar equilíbrio entre a eficiência do sistema de comercialização e a permanência do agricultor
no campo de produção, não se ausentando da lavoura, foi instituído um rodízio entre três
componentes do grupo que mais condições apresentam (a questão primordial era a
disponibilidade de um veículo para transporte) e que seriam os responsáveis pela
comercialização. Desse modo, a cada feira, o responsável tem o compromisso de receber os
produtos dos fornecedores, registrar a quantidade recebida, transportar até o destino e fazer a
venda. No retorno, cada fornecedor recebe o dinheiro da venda, subtraído em 20% referente
aos serviços realizados e despesas com transporte.
É importante observar que essa proposta de comercialização associativa estimulou a
organização da produção de tal modo que um componente do grupo tem o compromisso de se
dedicar, aperfeiçoar e se especializar em determinados produtos, de tal forma que não faça falta
durante o ano. É o compromisso do atendimento da demanda regular junto ao mercado
comprador.
Esta iniciativa demonstra que essa tarefa pode ser assumida pelo próprio agricultor, não
devendo ser deixada necessariamente para outros tipos de profissionais (intermediários). O
agricultor demonstra também que não se tornou alienado em relação às complexidades da
comercialização; muito ao contrário, foi em busca de seu espaço, defendendo seus interesses,
41
conquistando um novo mercado e principalmente mantendo uma relação direta com o
consumidor.
42
4 O SISTEMA DE PRODUÇÃO ECOLÓGICO PRATICADO PELOS
AGRICULTORES DA ASPEDD
Os resultados apresentados a seguir englobam a descrição sumária das características
técnicas de produção. Os dados levantados pelas entrevistas serviram para identificar o sistema
de produção das cinco famílias de agricultores do grupo. O sistema de produção identificado é
composto por quatro sistemas de cultivo e um sistema de criação. As cinco famílias apresentam
uma lógica de produção voltada quase que exclusivamente para a produção vegetal, a exceção
fica por conta da criação animal de bovinos de leite. A situação no sistema de produção é
bastante dinâmica, não existindo uma consolidação permanente dos sistemas de cultivo. Assim
como atualmente foram identificados estes sistemas, no futuro pode ser mudado face às
constantes necessidades econômicas dos agricultores e às oportunidades que surgem.
Foram levadas em consideração para a sua identificação as atividades que mais
contribuem para a formação do valor bruto da produção e onde ocorre um maior número de
agricultores envolvidos, conforme mostram os dados do quadro abaixo. Os sistemas de cultivo
e de criação encontrados podem ser assim expressos:
43
-
Sistema de cultivo de olerícolas: abrangendo os cultivos de alface, alho, cenoura, couve
brócolo, couve -folha, couve -flor, morango, repolho e rabanete;
-
Sistema de cultivo da acácia-negra;
-
Sistema de cultivo de citros: abrangendo as espécies de bergamota e de laranja;
-
Sistema de cultivo de aipim;
-
Sistema de criação de bovinos de leite.
44
Quadro 1.Atividades de produção vegetal/animal, atividades processadas na propriedade,
renda, envolvimento da mão-de-obra, número de agricultores envolvidos na atividade, destino
da produção.
Atividades
Área Produção Anual
Renda
Época de Agriculto Destino da
(ha/m²)
Unidade de
bruta
maior
-res
Produção/
Cabeças
venda
aproxima- concentração Envolvi - Comerciali(nº)
da
do trabalho
dos
zação
(R$)
(meses)
Laranja
5 ha
1.750 caixas
4.375,00 Março a
4
Feiras,
outubro
Fruteiros
(intermediário
s)
Bergamota 19 ha
11.480 caixas 28.700,00 Fevereiro a
4
Feiras,
novembro
Indústria de
sucos e óleos
essenciais,
Fruteiros
(intermediário
s)
Bovino15 vacas 36.000 litros
11.160,00 Todo ano
4
Cooperativas
de-leite
/ venda direta
ao
consumidor /
processament
o (queijo e
requeijão)
Acácia1,7 ha
170 m de lenha 4.760,00 Maio a
4
Compradores
negra
26.000 kg casca 2.600,00 setembro
diversos
(intermediário
s)
Aipim
2,5 ha 15.500 kg
4.300,00 Março a
5
Feiras,
novembro
consumo na
propriedade
Milho
8 ha
20.000 espigas 2.000,00 Agosto a
1
Feiras
verde
julho
Rabanete 1.300
2.800 molhos 1.680,00 Todo ano
4
Feiras
m²
Repolho 2.000
1.500 cabeças 1.500,00 Todo ano
4
Feiras
m²
Alface
550 m² 6.500 pés
1.300,00 Todo ano
4
Feiras
Couve -flor 800 m² 1.500 cabeças
Morango 160 m² 440 kg
1.125,00
1.100,00
Cenoura
1.000,00
500 m² 2.000 molhos
Todo ano
Abril a
dezembro
Todo ano
4
4
Feiras
Feiras
4
Feiras
45
Beterraba 2.000
1.000 molhos
m²
Couve
2.000
1.000 molhos
m²
Alho
400 m² 100 kg
750,00
Todo ano
4
Feiras
500,00
Todo ano
4
Feiras
400,00
4
Feiras
Brócolo
Batatadoce
Feijão
240 m² 400 molhos
0,50 ha 600 kg
160,00
300,00
Abril e
novembro
Todo ano
Todo ano
4
1
Feiras
Feiras
0,60 ha 450 kg
300,00
2
Feiras,
consumo
próprio
Milho
3,5 ha
4
Consumo na
propriedade
Aves de
postura
30 aves 215 dúzias
1
Feira,
consumo
próprio
10.500 kg
Agosto e
dezembro
Janeiro e
abril
------------- Agosto/sete
--mbro
Dezembro/ja
neiro
320,00
Todo o ano
Fonte: Pesquisa de campo – 2001.
4.1 O SISTEMA DE CRIAÇÃO DE BOVINOS DE LEITE.
No grupo, quatro agricultores têm a produção de leite como uma das atividades. O
rebanho varia de 3 a 4 vacas por propriedade, sendo a produção anual de 2.400 litros de leite
por unidade animal. A renda bruta anual com o leite é de aproximadamente R$ 2.790,00 por
propriedade. A atividade é considerada familiar de mercado, considerando-se que a maior parte
da produção é destinada às usinas beneficiadoras de duas cooperativas (Cooperativa Mista de
Leite e Derivados de Montenegro Ltda. – COOPERMONTE, com sede em Montenegro; e
Cooperativa de Laticínios Glória – COOLAG, com sede em Fazenda Vila Nova). Além destas,
o leite também é recolhido pela Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior Ltda., com sede
em Harmonia, mas encaminhado a COOLAG.
46
A situação do agricultor é de um pequeno proprietário de terras com poucas
possibilidades de expandir a área destinada a essa atividade.
Pequena quantidade de leite é vendida diretamente ao consumidor ou processada na
propriedade, t ransformando-se em queijo e requeijão, que são vendidos nas feiras de produtos
coloniais.
As instalações destinadas à atividade leiteira são rústicas, com a sala de ordenha junto
ao galpão onde ficam os terneiros, depósito de forragem e abrigo para máquinas e
equipamentos. Sua localização é próxima à casa onde residem os agricultores. O local onde se
realiza a ordenha é mantido limpo. Todo o esterco é retirado do estábulo logo após os animais
por ali passarem, depositando-o ao ar livre, uma camada sobre a outra. É ali mesmo que o
material fica em fermentação e curtimento. Alguns agricultores têm esterqueiras construídas
para este fim. Considerando-se que a topografia das propriedades apresenta relevo forte
ondulado e montanhoso, os potreiros ficam localizados onde a declividade é mais forte.
As vacas são ordenhadas duas vezes por dia, e a ordenha é realizada manualmente por
uns e mecanicamente por outros. Todos os agricultores são sócios de cooperativas com sede
em Harmonia e Montenegro, recebendo de seus departamentos técnicos o apoio e assistência
quando necessários.
As terneiras, ao nascerem recebem alguns cuidados como limpeza e secagem do corpo e
do focinho, corte do cordão umbilical e desinfecção deste com uma solução à base de iodo.
São fornecidos diariamente de 3 a 5 litros de colostro divididos em três vezes ao dia. As
47
terneiras são separadas da mãe e isoladas em uma baia (encerra). Gradualmente vai sendo
substituído o colostro por leite (2 a 4 litros/dia) e ração à base de milho (30%), de farelo de
trigo ou de arroz (40%) e concentrado protéico de soja (30%). A quantidade varia, iniciando
com um punhado, aumentando gradualmente até mais ou menos 1 a 1,5 kg. Esses ingredientes
são adquiridos de cooperativas onde os agricultores são sócios. Posteriormente, vai sendo
permitido à terneira o acesso ao pasto e ao sol. É fornecido também capim cortado no cocho,
em quantidade variada, não havendo controle do volume ou peso.
As novilhas, assim como as vacas, ficam a campo durante todo o dia e noite. Nos
últimos dois a três meses de gestação, as novilhas recebem de 1 a 2 quilos de ração por dia, à
base de milho (50%), farelo de trigo ou de arroz (30%), e farelo ou massa de soja (20%). Essas
são inseminadas aos dois a três anos de idade e peso de aproximadamente 300 quilos.
A base da alimentação da novilha é a pastagem nativa e forragem picada no cocho ou
fornecida ao ar livre. Assim como para os terneiros, a quantidade é variada, não havendo o
controle do volume e peso do alimento, estimando-se o consumo de volumoso no cocho em
torno de 10 a 20 quilos/dia/animal. O forrageamento é feito com cana-de-açúcar, baraço de
batata-doce, rama e raiz de aipim, aveia, azevém, capim-elefante, capim cameron, vica e
teocinto.
As vacas vivem em regime aberto, ou seja, ficam a campo durante o dia e a noite. As
mesmas são recolhidas duas vezes por dia ao estábulo, onde recebem alimentação no cocho e
se aproveita para realizar a ordenha. É também o momento em que se recolhe a urina para ser
usada posteriormente nos biofertilizantes e preparados contra pragas e doenças. A prática de
48
recolher urina tem caráter “agroecológico”, o que não se vê nas criações convencionais e que
o os diferencia destas. As vacas permanecem no estábulo o tempo necessário para a ordenha e
para largar o esterco.
Todos os animais recebem mineral à vontade num cocho coberto e localizado no
potreiro. A água fica disponível através de pequenos córregos ou açudes. A base de sua
alimentação é muito semelhante ao que a novilha recebe ou tem disponível.
Durante os dois últimos meses de gestação, é normal o uso da prática de secar a vaca. É
um período em que a vaca não produz leite, a fim de se recuperar para o próximo parto.
Ainda dentro da área de alimentação, deve -se destacar uma prática adotada pelos
agricultores. Trata-se do uso do tronco (pseudocaule) e folhas de bananeira picadas e
fornecidas no cocho para a alimentação de animais adultos. Não é realizada sistematicamente
mas quando há disponibilidade deste material. Os agricultores desconhecem as razões mas
dizem ser uma prática passada de pai para filho.
Para o melhoramento do rebanho é usada a inseminação artificial com sêmen de
reprodutores de comprovada capacidade melhoradora da aptidão leiteira. O rebanho é
constituído de animais da raça holandesa. Esse trabalho fica ao encargo de inseminadores
indicados pelos técnicos das cooperativas. Eventualmente, fazem a seleção de novilhas e
matrizes. As inseminações são realizadas quando ocorre o primeiro cio, normalmente 60 dias
após o parto; não havendo fecundação, é aguardado o próximo cio para novamente inseminálas.
49
Nas novilhas são observados se há problemas de reprodução ou algum defeito grave de
qualquer espécie. Nas vacas, é observada sua capacidade de lactação, sua rusticidade,
problemas de reprodução ou se apresentam qualquer problema que dificulte sua permanência
no rebanho.
Na área de reprodução, os agricultores utilizam-se da prática de fornecer um chá de
arruda quando ocorre dificuldade de uma vaca ser fecundada. O chá é fornecido ao animal
logo após o cio. Na bibliografia há referências do uso dessa planta para eliminar a placenta,
usando-se uma bebida elaborada com 60 a 120 gramas de folhas em um litro de água (Burg e
Mayer, 1998).
O manejo sanitário conta da vacinação contra a aftosa, do controle de carrapatos e de
tratamento contra mamite e vermes.
Em princípio, não fazem tratamento sistemático contra vermes, carrapato e mamite. Os
tratamentos são realizados quando surgem os problemas. A justificativa do agricultor é que a
ocorrência é rara em virtude da alimentação que recebem, do respeito aos limites de lotação
dos potreiros, do manejo dos animais evitando os maus tratos e abusos da exploração e, ainda,
o regime aberto de criação, não estando os animais em confinamento ou semiconfinados.
As condições de criação no sistema ecológico proporcionam uma redução de medidas
curativas e preventivas nos aspectos de sanidade (exploração confinada ou semiconfinada) em
que as condições ambientais favorecem a ocorrência de estresse.
50
De fato, as condições ambientais oferecidas nos sistemas de confinamento ou
semiconfinamento favorecem a incidência de vários estados de estresse oriundos dos
numerosos estímulos ou agressões com diversos graus de intensidade e duração. A maneira
como os animais são alojados interfere com os mecanismos que controlam o comportamento
normal e induzem a estados de conduta que podem ser interpretados como: frustração, medo,
ansiedade, depressão e aborrecimento (Bottechia et all., 2000).
Em casos especiais, diante da ocorrência de mamite, utilizam-se de um método
alternativo de controle. Trata-se da injeção subcutânea de 25 mililitros do leite retirado de uma
teta infectada com mamite. Como medida preventiva, utilizam-se de uma solução de iodo c om
água a 10%. Após a ordenha, as tetas da vaca são mergulhadas nesta solução. As medidas
preventivas e tratamento para a mamite promoveram a total substituição do uso de bactericidas
que antes eram aplicados nas tetas.
A ausência do ataque de carrapato ao gado bovino é explicada pelos agricultores como
efeito ao trabalho de seleção de matrizes que vêm sendo realizado, onde observam o nível de
rusticidade que um animal apresenta e sua resistência de ser molestado por carrapato.
Sob o aspecto de sustentabilidade do processo produtivo, o sistema de criação ainda
deixa a desejar, pois princípios básicos de menor dependência apresentam algumas restrições,
como, por exemplo, a aquisição de fora da propriedade dos insumos básicos que servem à
alimentação do rebanho (milho, proteína de soja). Ao mesmo tempo, verifica-se que a ração
dos animais, por ser elaborada na propriedade, tem seu custo reduzido por ocupar mão-de-obra
familiar, ficando com o valor agregado que pertencia à indústria de ração.
51
4.2 O SISTEMA DE CULTIVO DE OLERÍCOLAS
As olerícolas respondem por 17,3% da renda obtida entre os sistemas de cultivo, sendo
as que mais renda geram por unidade de área ocupada. Praticamente 100% da produção é
comercializada nas feiras. Segundo informações colhidas junto aos agricultores, a produção
anual, em peso, atinge 13.000 quilos com a venda de cenoura, couve, alface, couve -flor,
rabanete, couve brócolo, repolho, morango e alho.
A produção de olerícolas é regular durante todo o ano. No que diz respeito à dificuldade
para o abastecimento do mercado, essa ocorre na presença de fatores climáticos excepcionais,
como forte geadas, acúmulo de água no solo (excesso de precipitações pluviométricas), verões
muito quentes e secas prolongadas.
Todas as propriedades estão razoavelmente estruturadas para essa atividade.
Apresentam, no entanto, algumas dificuldades na área de irrigação, necessitando de algumas
melhorias, principalmente com equipamentos de recalque e distribuição, devendo fazer alguns
investimentos a curto e em longo prazo.
Nas propriedades, são escolhidas as melhores áreas para essa atividade. Na escolha da
área o agricultor leva em consideração alguns fatores, como disponibilidade de água próximo à
horta; distância em relação a florestas, para garantir uma boa luminosidade; locais que
sabidamente têm menos probabilidade de ocorrência de geadas; solos com boa fertilidade (rico
em matéria orgânica, com teores elevados de macronutrientes e bem suprido de
micronutrientes), boa textura, como os areno - argilosos , profundidade superior a 0,5 metros,
52
que tenham boa drenagem e que não apresentem pedregosidade; pouca declividade, de
preferência planos.
É importante destacar um sistema de cultivo usado que é a intercalação dessa atividade
com a citricultura, possibilitando o melhor aproveitamento de áreas. Esse sistema é utilizado
em pomares de laranja ou bergamota quando apresentam de um a quatro anos de idade.
A rotação de cultivos é uma prática seguida religiosamente. O rodízio entre espécies
diferentes é realizado a cada duas ou três safras de uma mesma cultivo. Os agricultores
observaram que uma planta cultivada sempre no mesmo lugar apresenta uma queda no
rendimento, o que é explicado pela liberação de substâncias metabólicas. De Candole (1932),
citado por Medeiros (1990), afirma que o cansaço das terras, decorrente da monocultivo
durante anos seguidos, é ocasionado pelo acúmulo de alguma substância exsudada pelas
plantas a qual passava a afetar o próprio desenvolvimento. Da mesma forma, os agricultores
consideram a rotação uma medida profilática contra a ocorrência de pragas e doenças.
Observa-se, por parte dos agricultores, uma preocupação com o futuro êxito da horta,
pois colocam como primordial as características de fertilidade natural, drenagem e rotação de
espécies, o que contrasta com o produtor convencional que busca viabilizar uma produção em
qualquer tipo de solo, redundando em dificuldade para controlar doenças e pragas e o uso cada
vez maior de fertilizantes.
53
Uma vez escolhido o terreno da futura lavoura, passam a executar o preparo da terra,
que inicia com a retirada de pedras que possam prejudicar as operações ou o desenvolvimento
das plantas.
Sobre a terra é espalhado esterco de gado e cama de aviário (aves de corte) ou composto
de esterco de gado (75%) e serragem (25%) em quantidade que varia de 10 a 30 quilos por
metro quadrado, conforme a espécie a ser cultivada. Em alguns casos acrescentam cinza de
madeira à base de meio quilo por metro quadrado. A cinza tem a finalidade de reduzir a acidez
do solo e melhorar a fertilidade.
Após esta operação são feitas uma ou duas lavrações para afofar a terra e incorporar o
adubo ecológico. Segue-se a construção dos canteiros e o destorroamento da superfície com
uso de ancinhos e enxadas.
O calcário é usado eventualmente, com moderação, sem seguir recomendação de
análise. A prática do uso da análise do solo não é feita, a acidez do solo é observada através de
plantas indicadoras.
Nas áreas que apresentam maior declividade os canteiros são construídos atendendo às
curvas de nível, prática conservacionista.
A semeadura das espécies que exigem formação de mudas é feita principalmente em
caixas de madeira ou em bandejas de isopor divididas por células. Ainda pode ser encontrada
54
sementeira em canteiros, ao ar livre, com as mais variadas medidas, no qual as sementes são
lançadas diretamente na terra.
As sementeiras de caixa de madeira ou de isopor são as mais usadas, pois apresentam
vantagens sobre a semeadura no solo. As mesmas são cheias com um s ubstrato elaborado com
diferentes materiais e quantidades que permita a muda se formar forte e sadia, com boa
drenagem e um bom arejamento para raízes. O substrato mais comumente usado é composto
por 30 a 50% de húmus de minhoca e 70 a 50% de terra de mato, respectivamente. As
sementeiras são deixadas ao ar livre ou no interior de pequenas estufas onde se pode melhor
controlar os fatores climáticos.
Nas sementeiras não é realizada nenhuma adubação complementar. No entanto, alguns
agricultores as colocam dentro de uma solução nutritiva à base de biofertilizante (fórmula 1
abaixo) durante duas horas por dia, a cada dois ou três dias, até o transplante.
Fórmula 1 - biofertilizante.
Colocar num recipiente de 200 litros:
ü 50 Kg de esterco fresco de gado ou de suíno;
ü 15 Kg de esterco fresco de galinha poedeira ou 30 Kg de esterco de ave de corte
(cama de aviário);
ü 1,5 litros de melado, ou 8 a 15 litros de guarapa de cana-de-açúcar;
ü Completar o recipiente com água até 20 cm da borda;
ü Mexer de 4 a 5 vezes por dia, durante 4 dias, até encerrar a fermentação;
ü Esperar 7 a 10 dias.
55
As sementes, de modo geral são adquiridas no comércio e produzidas por empresas
especializadas. A exceção fica por conta do cultivo de morango cujas mudas são adquiridas de
produtores especializados ou reproduzidas na propriedade. Alguns agricultores fizeram uma
tentativa de produzir a semente, mas não foram bem sucedidos. A justificativa é de que a
qualidade, o potencial genético e a adaptabilidade dos cultivares para determinada época do
ano são fatores decisivos no êxito da atividade. Por outro lado, os agricultores enfrentam
problemas com os vendedores que costumam misturar sementes, gerando inconfiabilidade no
cultivar próprio para a época desejada.
Para o plantio ou semeadura direta os canteiros são preparados de acordo com a espécie
a ser plantada. Para algumas são abertas covas onde é colocada a muda. Para outras são abertos
sulcos paralelos ao canteiro. Dependendo da espécie, poderá ser feita uma adubação na cova ou
no sulco no dia do plantio ou semeadura. Esta adubação é realizada com biofertilizante
preparado pelos agricultores (vide Fórmula 1), ou também esterco líquido proveniente de
criações de suínos integrados às agroindústrias da região. A quantidade é de meio litro a um
litro por cova ou metro linear de sulco. Após a adubação, a cova ou sulco é coberto por tênue
camada de solo, vindo a seguir a semeadura ou plantio das mudas.
Quando as plantas se encontram no estágio de desenvolvimento, algumas espécies
exigem a amontoa, que serve para dar suporte para a planta. O desbaste ou raleamento das
plantas que estão em excesso também é procedido nesse período. As capinas são realizadas
uma só vez para a retirada dos primeiros inços que surgem. Esta é feita através do arranquio
manual ou com enxada. Para algumas espécies é praticada a técnica do convívio, deixando o
inço crescer naturalmente, sendo entretanto necessário controlá-los através de roçadas ou
56
acamamentos para que não limitem a incidência de luz solar sobre os cultivos. É a aplicação da
técnica desenvolvida pela agricultura nasseriana.
Este procedimento tem uma grande diferença em relação ao dos olericultores
convencionais que se utilizam do controle químico ou que, quando capinam, fazem-na por três
ou quatro vezes durante uma safra, deixando à mercê das chuvas o solo nu e à mercê das
pragas os cultivos.
Enquanto os agricultores convencionais precisam fazer uso de agrotóxicos para
controlar todo o tipo de pragas e doenças, os agricultores ecológicos têm nos inços as plantas
protetoras, pois as mesmas formam uma diversidade vegetal que dá aos insetos, ácaros, etc,
uma boa fonte de alimento. Além desse aspecto, ainda servem como repelência de pragas
nocivas.
A adubação da cobertura é realizada em uma só vez para a maioria das espécies, através
da aplicação do biofertilizante (Fórmula 1) à base de 0,25 a 0,50 litro/planta ou 1(um) litro por
metro linear, aplicado com regador ou balde, ao lado das plantas. Há exceções, como o cultivo
da beterraba, que recebe a mesma quantidade em 3 (três) aplicações durante a safra. Também o
morango recebe, semanalmente, pulverizações do composto MB-4 (Fórmula 2 abaixo), diluído
em água a 1%. Além disso, o morango é pulverizado com um biofertilizante denominado de
Supermagro (Fórmula 3 abaixo), na concentração de 1 a 1,5%, aplicado alternadamente com o
composto anterior, até o fim da safra. O uso dessas fórmulas no morango tem dupla finalidade,
como adubação foliar e ação de repelência à pragas ou prevenção contra doenças.
57
Fórmula 2 – Composto MB – 4
Colocar num recipiente de 200 litros:
ü 4 Kg de MB – 4 (pó);
ü 4 Kg de açúcar mascavo;
ü 5 copos de cinza;
ü 25 Kg de batata doce cozida e picada;
ü 40 litros de soro de leite;
ü completar o recipiente com água até 20 cm da borda;
ü mexer por 4-5 dias.
Fórmula 3 – Supermagro
INGREDIENTES:
-2,0 kg de sulfato de zinco
-2,0 kg de sulfato de magnésio
-0,3 kg de sulfato de manganês
-0,3 kg de sulfato de cobre
-0,3 kg de sulfato de ferro
-0,05 kg de sulfato de cobalto
-0,1 kg de molibidato de sódio
-1,5 kg de bórax
-2,0 kg de cloreto de cálcio
-2,6 kg de fosfato natural(de Araxá, Patos, etc.)
58
-1,3 kg de cinza
-28 litros de leite, que pode ser substituído pelo soro de leite.
-14 litros de melado de cana, ou 28, de caldo de cana.
MODO DE PREPARAR:
1ºdia - Em um recipiente de 250 litros, colocar 30 litros de esterco, 60 litros de água, 2 litros de
leite e 1 litro de melado de cana. Misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o
sol ou a chuva.
4ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de zinco, 200 gramas
de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de
cana. Colocar no recipiente
maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva.
7ºdia- Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de zinco, 200 gramas
de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de
cana . Colocar no recipiente
maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva.
10ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de cloreto de cálcio, 200
gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato
direto com o sol ou chuva.
13ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de magnésio,
200gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
59
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar sem contato
direto com o sol ou chuva.
16ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de sulfato de magnésio,
200gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato
direto com o sol ou chuva.
20ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 1 kg de cloreto de cálcio, 200
gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato
direto com o sol ou chuva.
23ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 300 gramas de sulfato de
manganês, 200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e
1 litro de melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem
contato direto com o sol ou chuva.
26ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 50 gramas de sulfato de cobalto,
200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato
direto com o sol ou chuva.
29ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 100 gramas de molibdato de sódio,
200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato
com o sol ou chuva.
32ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 750 gramas de bórax, 200 gramas
de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de
60
cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o
sol ou chuva.
35ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 750 gramas de bórax, 200 gramas
de fosfato natural e 100gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de melado de
cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato direto com o
sol ou chuva.
38ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 300 gramas de sulfato de ferro,
200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem e deixar descansar, sem contato
direto com o sol ou chuva.
41ºdia - Em um balde pequeno, com água morna, dissolver 300 gramas de sulfato de c obre,
200 gramas de fosfato natural e 100 gramas de cinza. Acrescentar 2 litros de leite e 1 litro de
melado de cana. Colocar no recipiente maior, misturar bem, completar o recipiente com água e
deixar descansar, sem contato direto com o sol ou chuva, por dez a quinze dias.
Ainda como trato cultural são realizadas as irrigações. No período entre semeadura /
plantio, até as plantinhas tornarem-se resistentes, são realizadas duas a três irrigações ao dia.
Quando as plantas estão com 10 (dez) ou mais centímetros de altura, o intervalo entre
irrigações é de dois a três dias.
De acordo com a pesquisa de campo, não se verificam sérios problemas fitossanitários.
Eventualmente ocorre a presença de insetos sugadores e mastigadores. Como medida
preventiva e de controle, os agricultores usam os mais variados recursos, entre os quais
destacam-se:
61
•
próximo aos canteiros, evita-se o acúmulo de material (tábuas, tijolos, pedras e
semelhantes) que possam servir de abrigo e criação de roedores, formigas, lesmas,
grilos e outros animais nocivos;
•
próximo aos canteiros, plantam-se espécies vegetais atrativas para os insetos que
agem como armadilhas, onde é realizada a catação;
•
todo material ecológico usado em adubações sofre uma fermentação prévia
(curtimento) para evitar vermes e ervas daninhas, além de proporcionar uma melhor
assimilação dos nutrientes, sem causar as conseqüências semelhantes aos adubos
solúveis. As plantas são mantidas com uma boa nutrição;
•
ao observar plantas atacadas por algum animal, estas são retiradas da lavoura e
lançadas em montes contendo outros restos de cultivos;
•
dentre as medidas de prevenção, salienta-se o que já foi mencionado no manejo do
inço. Nos espaços entre as plantas nos canteiros permite-se o desenvolvimento de
toda espécie de vegetação, visando oferecer alimento para as pragas, desviando-as
das plantas de objeto econômico.
Quando as medidas preventivas não são suficientes, os agricultores se utilizam do
controle integrado como caldas protetoras, plantas-armadilhas, plantas defensivas, c oleta de
insetos (catação) e outros. A seguir relacionam-se as receitas ou alternativas mais comumente
usadas:
62
Extrato de alho: (ação de controle e repelente de insetos e prevenção contra fungos e
bactérias).
ü 200 gramas de alho;
ü 5 litros de água;
ü amassar o alho e deixar em maceração durante 3 a 4 dias;
pulverizar as plantas na concentração de 10 a 12% (sozinho) ou misturado com
Supermagro a 3-5%.
Chá – de – arruda: (ação de repelência a insetos e ácaros).
ü 100 gramas de folhas de arruda;
ü 1 litro de água;
ü picar as folhas e deixar em maceração durante 1 dia;
pulverizar as plantas na concentração de 5%;
Bálsamo alemão: (ação de repelência para insetos e ácaros).
-
colocar 5 mililitros em 300 litros de água;
-
aplicar com regador ou através do sistema de irrigação (microaspersor ou
gotejador);
63
Cinza de madeira: (ação de repelência e efeito abrasivo sobre insetos).
ü 2 Kg de cinza de madeira;
ü 10 litros de água;
ü deixar a mistura descansar por um dia;
ü pulverizar a solução de cinza e água sobre as plantas procurando atingir os insetos;
ü também usam cinza seca polvilhada manualmente, sobre os insetos. De preferência
quando as plantas estão úmidas.
Solução de Creolina: (usada para desalojar os grilos do solo).
ü esta solução é usada na concentração de 0,025% em água;
Supermagro (Fórmula 3)
ü aplicar semanalmente uma concentração de 1%, conciliado com as adubações
foliares com o mesmo produto.
Composto MB – 4 (Fórmula 2)
ü este composto é usado semanalmente na cultivo do morango, como preventivo à
ocorrência de Mancha de Micosferela, Mancha de Verticilium e podridões.
ü A dose usada é de 1% em pulverização.
Observa-se que o itinerário técnico é totalmente diferenciado de uma horta
convencional. A diversidade de cultivos é o ponto que caracteriza o método empregado,
encontrando-se um variado número de espécies hortícolas, intercaladas, notando-se a presença
generalizada de vegetação nativa, ou seja, o inço presente nas proximidades dos canteiros, e até
64
coexistindo eventualmente com as hortaliças. O planejamento da horta é realizado prevendo
deixar parte da vegetação intacta como abrigo para as várias espécies de predadores de insetos.
Contribui ainda no manejo da erosão, segurando o solo e reduzindo o impacto das chuvas, além
de poder incorporar o material vegetativo quando do processo de preparo do solo, o que
significa um aproveitamento de nutrientes nele contido.
4.3 O SISTEMA DE CULTIVO DE CITROS
O cultivo de bergamota e de laranja respondem pelo maior volume de produção e pela
maior renda entre os sistemas de cultivo. Também, é destacadamente, o cultivo de maior
expressão em área plantada.
A colheita de citros se realiza de meados de abril até o final do mês de outubro,
conforme vão amadurecendo os diversos cultivares.
A produção tem um destino diversificado. Parte dela se destina às feiras que o grupo
mantém. O restante é vendido a compradores intermediários, que na região são conhecidos por
fruteiros, e às indústrias de sucos e de óleos essenciais. É importante destacar que uma pequena
parte da produção é destinada à agroindústria artesanal (familiar) para fabricação de doces
(schmiers e geléias).
O sistema de cultivo se caracteriza por apresentar, durante os primeiros três ou quatro
anos de idade, o uso da área entre as linhas de plantas, intercalando-se (consorciação) cultivos
65
dos mais variados, onde se destacam o aipim, feijão para consumo e as hortaliças. A produção
de cultivos de ciclo curto, consorciados aos pomares, constitui-se em importante estratégia de
sobrevivência dos produtos e de ocupação de área livre para ampliar a oferta de alguns
produtos e melhorar as suas rendas. A partir do 3º ou 4º ano de idade, as entrelinhas são
ocupadas por cobertura permanente de vegetação. Eventualmente, por necessidade
extemporânea, a área de entrelinhas é ocupada por cultivos de objeto econômico ou alimentar.
Os pomares de bergamota são constituídos predominantemente pelos cultivares
Satsuma, Caí, Ponkan, Murcott e Montenegrina, e os de laranja pelos cultivares Céu, Bahia,
Monteparnaso e Valência. A maioria obedece a um espaçamento de 4m x 5m. As mudas são
provenientes de viveiristas da região.
Em razão do sistema apresentar diferentes procedimentos na condução dos pomares em
relação a sua idade, o itinerário será descrito separadamente do primeiro ao quarto ano de
idade, e do quinto ano em diante.
4.3.1 Operações ou práticas citrícolas do primeiro ao quarto ano.
Uma vez implantado o pomar, os agricultores providenciam os cuidados iniciais para o
crescimento normal da muda. Procuram manter livre de ervas a área na projeção da copa
através da capina (manual com enxada) ou roçadas. Esta prática é realizada duas vezes ao ano,
nos meses que vão de agosto a março.
66
Nos meses de abril/maio e julho/agosto, a terra é preparada para o plantio de cultivos
anuais de inverno e verão, respectivamente. No caso de cultivos de ciclo curto, como
olerícolas, a terra é preparada conforme a necessidade de cada espécie que se deseja cultivar.
A formação das árvores é controlada através de podas que se realizam nos meses de
junho a agosto, quando há necessidade e tempo disponível. Aproveitam essa oportunidade para
fazer a desbrota de ramos dispensáveis para o desenvolvimento da copa.
Para a melhoria do nível de fertilidade do solo e para nutrição das plantas são usados
fertilizantes ecológicos, sendo os mais usados o esterco de aves (cama de aviário) à base de
1.500 a 2.000 quilos por hectare. Outro produto usado é o biofertilizante Supermagro (Fórmula
3) em tratamento foliar, de duas a três vezes por ano, na concentração de 2%.
Outra alternativa usada para a adubação de pomares é a distribuição de um resíduo
líquido (lodo) da usina de compostagem da cooperativa ECOCITRUS, que é aplicado à base de
2.000 a 3.000 litros por hectare.
Os agricultores raramente realizam análise de solo como referência para adubação e,
quando o fazem, amostram somente a área das entrelinhas das plantas.
Com relação aos aspectos fitossanitários, constata-se com mais freqüência a ocorrência
de pragas do que moléstia nesse período. As mais freqüentes são o pulgão preto, cochonilha
verde e o minador do broto. De modo geral, o agricultor adota uma postura de convivência com
essas pragas, apoiadas no efeito fertiprotetor do biofertilizante Supermagro e no seu efeito
67
repelente a insetos. O cancro cítrico, por estar ocorrendo na região, é uma das grandes
preocupações. Como preventivo ao cancro cítrico fazem monitoramento das plantas. Caso
surja a presença da bactéria, pensam em adotar a prática da retirada de folhas e ramos com
sintomas, realizar tratamentos sistemáticos bimestrais com Supermagro a 2% mais calda
bordalesa na concentração de 1%.
4.3.2 Operações ou práticas para pomares citrícolas com mais de quatros anos de
idade.
As práticas adotadas no pomar com mais de 4 anos de idade têm o objetivo de melhorar
as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; de proteger o solo das chuvas de elevada
intensidade, erosão superficial e lixiviação de nutrientes; de controlar pragas e doenças para
não atingir níveis prejudiciais à produção e que as plantas se desenvolvam produzindo frutos
regularmente e o maior tempo possível.
Para alcançar esses objetivos, os agricultores enfatizam os cuidados com o solo e a
nutrição das plantas, que têm no manejo das ervas uma ação decisiva e primordial. Os
procedimentos se baseiam na lógica de que a planta de citros tem raízes superficiais e que na
camada superior do solo ocorre uma atividade microbiana intensa. Assim, todas as ações que
envolvem o uso desta camada de solo prevêem reflexão antecipada de qual alternativa será
usada para trabalhar a terra.
68
O uso de implementos como grades, arados, enxadas rotativas e o uso de herbicidas,
admitidos anos atrás para o cultivo e limpeza do solo não são mais considerados. Agora, o
processo se modificou no sentido de favorecer o desenvolvimento de uma grande variedade de
vegetais no interior do pomar, que fazem a cobertura do solo, promovendo o aumento do teor
de matéria orgânica e húmus, reciclagem de nutrientes, proteção à erosão, formando um
ambiente 6 propício para a biodiversidade vegetal. Com a biodiversidade, ocorre a coexistência
de plantas que exploram diferentes horizontes do solo, o que permite um maior uso dos
recursos naturais do mesmo. Esta mistura de várias espécies no pomar pode dar uma idéia de
“desordem”, mas na realidade reflete a busca de um equilíbrio natural, através da diversidade
da flora e da fauna. O sistema torna-se eficaz para manter as plantas sadias, resistentes a
ataques descontrolados de pragas e patógenos, além de permitir a proliferação benéfica da
população de inimigos naturais – os predadores e parasitas (Guazelli, 1985, p.46).
O manejo das ervas, desse modo, se resume em realizar duas roçadas anuais na entrada
do inverno (maio/junho) e na primavera (setembro/novembro). Na lógica dos agricultores as
roçadas conciliam o controle do inço para não atingir uma altura indesejada, favorecem o
agricultor para realizar a colheita de forma mais cômoda e ajudam na prevenção a doenças.
Destaca-se a iniciativa de um agricultor do grupo que vem praticando, ainda em estágio
inicial, um sistema integrado de uso da terra no qual árvores lenhosas perenes crescem
deliberadamente com o cultivo de citros. Trata-se de uma tentativa de se aproximar do sistema
6
Entende-se como biodiversidade vegetal o conjunto de espécies e variedades de plantas adaptadas ao ambiente
de determinado lugar, ou seja, ao solo, clima, altura, declividade, etc. (Primavesi, 1999, p. 10).
69
agroflorestal, assemelhando-se a um consórcio de espécies agrícolas (citros) e outras como
vassoura, uva – do – japão, capororoca, etc.7
Para a manutenção da fertilidade do solo e da nutrição das plantas, além de propiciar o
desenvolvimento de vegetação que produz farta matéria orgânica, os pomares ainda recebem
uma adubação de duas toneladas de esterco de frango (cama – de – aviário) por hectare
aplicado depois que já encerrou a colheita. Uma segunda adubação é realizada nos meses de
maio ou junho, quando são aplicados 1.000 a 1.500 litros por hectare de esterco líquido de
suínos proveniente de criadores próximos.
Se forem observados sinais de deficiência, os agricultores fazem uso de adubação foliar
a partir de um composto elaborado com esterco de porco (30%), água (70%), mais 3 quilos de
cinza para cada 100 litros. A concentração usada é de 1% desse composto.
Com relação aos aspectos fitossanitários, existem doenças consideradas limitantes à
produção ou que repercutem na rentabilidade dos cultivos.
Os tratamentos preventivos adotados pelos agricultores passam, primeiramente, como já
visto, por um processo de melhoria dos níveis de fertilidade do solo. Além disso, usam uma
variedade de procedimentos para o controle das doenças. Para a rubelose são feitas podas de
limpeza nos pomares, retirando os ramos que apresentam sintomas. Para a antracnose são
utilizados o biofertilizante Supermagro, na proporção de 1% e, ainda, um Elixir Floral, na dose
7
Segundo Macedo (1992), os sistemas agroflorestais se baseiam no princípio ecológico denominado
“Biodinâmica da Sobrevivência”, que otimiza o máximo aproveitamento da energia solar vital através da
multiestratificação diferenciada de uma grande diversidade de espécies que exploram os perfis vertical e
horizontal da paisagem, visando a utilização e recirculação dos potenciais produtivos dos ecossistemas.
70
de 5 (cinco) gotas em cada 100 litros de água. Esses são aplicados durante a florada. Como
medida preventiva à pinta preta, adotam as práticas de manter o pomar roçado nas entrelinhas e
de tratamentos com Supermagro, na concentração de 2%.
Entre as pragas, constata-se que a mosca – dos – frutos é considerada o principal
problema enfrentado. Esta é controlada com tratamentos de biofertilizante (Fórmula 2 –
Composto MB – 4) em pulverização, na concentração de 1%. As demais ocorrências de pragas
são consideradas normais, procurando o agricultor conviver com as mesmas.
A cada dois ou três anos, os agricultores realizam podas para que as plantas mantenham
um crescimento vegetativo e uma produção equilibrada, como também procuram através desta
facilitar o arejamento e a luminosidade adequada no interior da copa. As podas também têm o
objetivo de retirar ramos secos, ramos ladrões e efetuar um raleio de frutos. O período em que
se realizam as podas vai de setembro a dezembro. Essa prática contribui enormemente para a
prevenção de doenças como rubelose e a presença de camurça que causam o secamento de
ramos.
Durante o período que vai do primeiro ano de desenvolvimento da planta até o quarto
ano não se verifica o uso de práticas como as adotadas pelos agricultores convencionais. Estes
usam sistematicamente uma gama de agrotóxicos para controlar pragas que ocorrem nesse
período, como por exemplo, os pulgões, cochonilhas, minador-do-broto. Segundo Paschoal e
Paschoal, (1999, p. 16), ao usar esses produtos o agricultor jamais consegue resolver o
problema de forma permanente, uma vez que, por assim agir, está apenas combatendo os
efeitos (as pragas e os patógenos) e não as causas do problema (os fatores do ambiente
71
responsáveis pelas erupções das pragas e patógenos). Assim, o controle químico apresenta-se
como solução temporária, requerendo novas e repetidas aplicações que acabam por
desequilibrar ainda mais os agroecossistemas, provocando resistência aos produtos químicos,
ressurgimento de populações a níveis mais altos do que aquelas que existiam antes das
interferências químicas e, o que é pior, ao surgimento de novas espécies potencialmente
prejudiciais aos cultivos. Também se utilizam de quantidades expressivas de fertilizantes
químicos fosfatados, nitrogenados e potássicos, e para controlar os inços usam herbicidas ou
passadas em excesso de enxadas rotativas, arados, grades. Manter o solo limpo significa o
emprego destes implementos ou herbicidas com suas inúmeras conveniências e conseqüências.
O primeiro prejuízo é com o sistema radicular da planta cítrica que se encontra nos primeiros
quinze centímetros do solo, responsáveis pela absorção de água, nutrientes e oxigênio. A poeira
produzida por grade ou enxada rotativa favorece o surgimento de pragas e doenças como
cochonilhas, ácaro-de-leprose, cancro cítrico. Pomares de citros mantidos com vegetação nas
entrelinhas têm um ambiente propício para aumentar a abundância e a eficiência dos inimigos
naturais, incrementando-se assim o controle biológico de pragas e doenças.
Os agricultores da Associação, como já foi mencionado, fornecem adubos para as
plantas sob a forma orgânica (pouco solúveis), quando observam que as plantas estão dando
sinais de debilidade. Esta forma de dar nutrição às plantas melhora as suas condições e não
provoca acúmulo de aminoácidos, que são os alimentos básicos das pragas e doenças;
conseqüentemente, a incidência destes é menor ou quase nula.
A prática de nutrir as plantas através de formas equilibradas ou que não contêm
nutrientes na forma solúvel vai ao encontro da Teoria da Trofobiose, de Francis Chabousou.
72
Esta, resumidamente, segundo Paulus et al (2000), propõe que os “insetos e microorganismos
só sobrevivem onde existe alimento para eles; assim, uma planta que se deixa devorar por
insetos ou que é atacada por doenças é uma fonte de alimento para seus parasitas.”
Em solos desprovidos de cobertura vegetal, os frutos maduros próximos ao solo, por
ocasião das chuvas, são atingidos por partículas de terra que podem conter inóculos de
doenças, causando queda acentuada de frutos maduros.
As ervas que crescem no pomar não são consideradas prejudiciais pois estas têm um
importante papel no manejo integrado de pragas, que é de conferir mais estabilidade ecológica
do agroecossistema.
É inegável o efeito dos fertiprotetores contribuindo na convivência com pragas, pois,
segundo D’Andrea (1999, p.18), trata-se do não-uso da tecnologia de produto mas sim da
tecnologia de processo, que é o manejo dos fatores que interagem no metabolismo vegetal, e
com ações fertiprotetoras e fitoprotetoras geram equilíbrio biológico nos ciclos produtivos.
O que se pode constatar é que, na área fitossanitária os agricultores têm na convivência
com doenças e pragas o diferencial com os agricultores convencionais. Estes, mesmo não
apresentando ocorrência de anomalias, usam quantidade enorme de agrotóxicos de forma
preventiva e de uso tópico. Esta situação gera efeitos colaterais, aumentando a suscetibilidade a
outras pragas e doenças, sem contar o gasto de energia, a poluição ambiental e os efeitos
negativos na saúde humana de quem aplica os venenos e de quem consome os produtos
73
contaminados. Verifica-se assim que a adoção de práticas adequadas de manejo se reflete em
um equilíbrio do estado nutricional das plantas e na qualidade dos frutos.
4.4 O SISTEMA DE CULTIVO DO AIPIM.
Esta atividade vem sendo desenvolvida por 80% dos agricultores da Associação. A área
total com aipim totaliza 2,5 hectares, gerando uma renda bruta anual de R$ 4.600,00. O sistema
de cultivo aipim emprega mão-de-obra familiar com mais intensidade nos meses de março a
julho e de setembro a novembro. O produto é consumido na propriedade (alimentação animal e
da família) e seu excedente vendido nas feiras.
Diversos são os fatores que estimulam o cultivo dessa espécie. Entre eles se destaca a
necessidade de alimento para o rebanho leiteiro das propriedades. Para esse fim o aipim se
apresenta como excelente alternativa de alimento com aproveitamento das raízes e da parte
aérea (folhas e ramos), em períodos de inverno ou seca. As raízes têm um alto nível energético
e as folhas e ramos um elevado teor de proteína, com valor nutritivo semelhante ao da alfafa.
O aipim também pode ser destacado pelo potencial de venda para mesa, alcançando
bons preços no mercado. Aliado a esses fatores ainda se deve considerar a sua adaptabilidade
como planta que pode ser intercalada com outros cultivos, principalmente os citros nos três ou
quatro primeiros anos de desenvolvimento. Serve assim como uma boa alternativa de ocupação
do solo e de sua conservação contra erosão e de proteção direta das chuvas (cobertura vegetal).
74
As áreas utilizadas para o cultivo são geralmente escolhidas em função da possibilidade
de conciliá-lo com outros, como os citros. Nesse caso, as características de aptidão do solo nem
sempre são consideradas, com exceção de manchas de solo que contenham um maior teor de
argila, ou que apresentam umidade em excesso (deficiência de drenagem). Estes tipos de solos
são evitados por apresentar maior dificuldade na operação de colheita e tendência à ocorrência
de doenças de raízes. Além dessas medidas, é feita a rotação de cultivo, não repetindo o plantio
do aipim na mesma área onde tenha sido cultivado no ano anterior, o que beneficia as
condições sanitárias da planta e melhora o uso racional de nutrientes do solo. O solo é
preparado com uma leve lavração com arado sulcador puxado a boi ou com enxada rotativa
mecanizada, aproximadamente uma semana antes do plantio, e às vezes até no mesmo dia.
Antes de plantar, abrem-se sulcos distanciados de um metro, com arado sulcador ou
arado pé de pato. No sulco colocam fertilizante ecológico (esterco de aves de corte) à base de
um quilo por metro linear ou meio quilo por cova, o que representa aproximadamente 10.000
quilos por hectare.
O plantio é realizado preferencialmente nos meses de agosto a outubro e se resume na
distribuição de mudas, chamados de manivas, no fundo do sulco em posição horizontal, sendo
logo após coberta com uma camada de 5 a 7 centímetros de terra. As mudas (manivas) são
preparadas a partir de ramos obtidos, durante o outono de plantas com idade compreendida
entre 10 a 12 meses.
No período que vai da emergência da planta até a colheita os agricultores realizam, em
média, duas capinas manuais. O número está diretamente relacionado com o grau de infestação
75
das ervas daninhas, além das condições climáticas. É corrente a prática de não exceder o
número de capinas para manter o solo coberto com vegetação no período de pré-colheita.
Ao se aproximar o inverno, realizam-se os trabalhos de poda ou decepação, que
consiste no corte da haste principal à altura de um palmo do solo (aproximadamente 20
centímetros). Este trabalho é realizado manualmente.
A partir daí, encerram-se os serviços e trabalhos com este cultivo. Durante o período
vegetativo, os agricultores nada mais fazem, aguardando a época de colheita, em que o repouso
vegetativo do aipim coincide com sua maturação fisiológica. A colheita é procedida
parceladamente, de acordo com a necessidade de uso das raízes.
No sistema de cultivo ecológico, executado pelos agricultores do grupo, verifica-se uma
integração com outros cultivos, o que na maneira convencional não se mostra dessa forma. No
sistema de cultivo convencional do aipim observa-se elevado grau de artificialização. Enquanto
que no sistema de cultivo ecológico há uma redução significativa de insumos, no convencional
é o contrário. Antes mesmo de ser realizado o plantio, este já lança mão de fertilizantes
corretivos e de calcário. Adubação com fertilizantes químicos é usada em quantidade
apreciável no sulco de plantio, como em cobertura, durante o desenvolvimento da planta. No
preparo do solo é gasto energia desnecessária através de duas ou mais lavrações, mais
gradagem aos seis a oito meses antes do plantio. Nas capinas são usados equipamentos
mecânicos que desestruturam a camada superior do solo, sem falar no uso de herbicidas com
suas conseqüências ao ambiente. Durante o crescimento vegetativo há uma preocupação com
ataque de pragas e doenças, mobilizando insumos químicos e realizando gastos inúteis que
76
aumentam as despesas e quase sempre não havendo correspondência na produtividade e nas
receitas.
4.5 O SISTEMA DE CULTIVO DA ACÁCIA-NEGRA.
O sistema de cultivo da acácia - negra participa com 13,4% da renda bruta obtida entre
os sistemas de cultivo, ficando em terceiro lugar na geração de renda por unidade de área. No
momento, segundo os agricultores entrevistados, vem ocorrendo uma boa remuneração pela
casca e lenha, produtos que vêm sendo aproveitados por fábricas de papel, madeira aglomerada
e celulose, fornos de indústrias e empresa do setor terciário, carvoeiros da região, indústrias de
fabricação de tanino e derivados e, ainda, para o consumo próprio.
O cultivo se caracteriza por ser pouco exigente em tempo de trabalho durante o ciclo.
Esta característica é confirmada por Schneider (1995), quando faz uma análise da agricultura
em tempo parcial no Rio Grande do Sul. Após o plantio, a acácia-negra não necessita de
cuidados específicos. Durante algum tempo, que varia de sete a oito anos, a terra permanece
produzindo sem que o agricultor se envolva com o cultivo e o manejo.
Os dados do quadro 1 indicam que a área anualmente cultivada por cada agricultor é de
aproximadamente 4.250 metros quadrados, o que equivale dizer que, durante um ciclo de sete
anos, a área cultivada atinge no máximo três hectares. Esta área de plantio, considerando a
situação fundiária dos agricultores, é perfeitamente conciliável, tendo em vista que a acácia –
77
negra entra como recurso para utilização de terras impróprias para o cultivo de espécies que se
destinam à produção de alimentos.
Segundo os agricultores da Associação a acacicultura também tem uma importante
função econômica e financeira na propriedade, na medida em que gera renda sem ter despesas,
uma espécie de poupança que deverá ser usada em situações de emergência.
Cabe destacar que esse cultivo substitui o sistema de pousio com capoeiras e que
durante o ciclo vegetativo que é de sete ou oito anos, possibilita o “repouso remunerado” do
solo, isto é, por ser uma espécie da família das leguminosas, tem boa capacidade de
recuperação da fertilidade da terra. Um dos métodos adotados com esse cultivo é a
consorciação com cultivos de pequena expressão (abóbora, moranga, milho) conjuntamente, na
mesma área, no primeiro ano de desenvolvimento, o que permite o aproveitamento dos espaços
intermediários.
O preparo da área em que será plantada a acácia-negra inicia com uma lavração
profunda com arado sulcador em faixa de plantio ou em toda a área, dependendo da intenção
de consorciar ou não com cultivos anuais intercalares no primeiro ano. Durante a lavração, os
agricultores fazem a observação da presença de formiga cortadeira. Trata-se de uma prática
pouco executada, considerando que o número de formigueiros é insignificante.
Entre as pragas que ocorrem durante o desenvolvimento estão as formigas cortadeiras e
o cascudo serrador. Para o controle das formigas, prevalece o sistema de perseguição ou
procura de olheiros e montes, dependendo da espécie existente. Para as formigas de monte, são
78
realizadas duas ou três passadas de arado sobre o formigueiro para seu revolvimento e, no caso
de formiga de olheiro, é derramado óleo diesel com água quente.
Após a terra lavrada, processa-se o plantio que é realizado com mudas adquiridas de
produtores especializados. O plantio é executado entre agosto e outubro. Caso ocorram falhas
no crescimento é realizado um replantio. As mudas são colocadas no fundo de sulcos
preparados para este fim, com um espaçamento variando de 1,5 a 2 metros entre sulcos e 1,30 a
1,60 metros entre plantas no sulco de plantio, correspondendo a uma densidade de 5.128 para
3.125 árvores por hectare, respectivamente.
Esse sistema de cultivo não recebe em momento algum corretivos de solo nem
tampouco adubação de manutenção.
Considerando que o cultivo é pouco competitivo com gramíneas, principalmente na
fase inicial de crescimento, é realizada uma capina (manual) em torno da muda e,
eventualmente, uma roçada (manual) nas entrelinhas das plantas.
Com relação à situação fitossanitária, os agricultores ecológicos não têm presenciado
ocorrência de pragas e doenças, como é comum acontecer na maior parte dos cultivos
convencionais, quando surgem pragas como o cascudo serrador, lagartas desfoliadeiras, grilos,
cochonilhas e uma doença fisiológica conhecida por gomose. A única providência que os
agricultores executam, e somente na eventualidade da ocorrência do cascudo, é o recolhimento
de galhos infestados, caídos ao chão, e sua posterior queima. Essa medida é realizada
79
normalmente durante os meses de fevereiro a maio e tem amparo legal através de legislação
específica.
O diferencial entre agricultores ecológicos e convencionais é que esses, antes do
preparo do solo, realizam o combate à formiga de forma sistemática e preventiva. Um método
muito praticado é combater a formiga com “microporta-iscas”, que consiste na distribuição
espaçada de embalagens plásticas, banhados com atrativos contendo isca formicida de efeito
retardado. Esse método permite consumir dois quilos e meio de formicidas químicos por
hectare que, se não levados pelas formigas, permanecem sobre o solo prejudicando o meio
ambiente. Além desse método, usa-se distribuir formicida granulado próximo aos caminhos das
formigas, consumindo também razoável quantidade de formicida.
Já no preparo do solo são realizadas, às vezes, queimadas para limpeza da área e logo
após arações seguida de gradagem, em áreas sem tocos. Em áreas de antigos acaciais é feita
uma operação de lavra e gradagem com enxada rotativa no meio das linhas de tocos.
A operação de queimada prejudica enormemente a biodiversidade superficial do solo e
até de camadas abaixo da superfície. O agricultor ecológico, ao contrário, aproveita os restos
culturais e a vegetação existente para favorecer a reciclagem de nutrientes.
As adubações no sistema convencional são realizadas no primeiro ano de implantação,
no momento do plantio, e durante as capinas. São usados adubos químicos em quantidade que
varia de 200 a 250 quilos por hectare em cada aplicação. Esta prática difere de modo
80
significativo do agricultor ecológico que não tem custo nenhum com adubação, dependendo
minimamente da mobilização de recursos externos.
Com relação aos tratos culturais, a partir do primeiro ano de implantação os agricultores
convencionais exageram no uso de máquinas. O coroamento é feito à semelhança do agricultor
ecológico, mas depois ainda são feitas capinas mecânicas complementadas com roçadas
manuais ou mecanizadas.
A comercialização da acácia-negra é realizada diretamente junto aos compradores de
lenha e casca que se caracterizam como comerciantes intermediários, entre o agricultor e os
consumidores (indústria de tanino, papel e celulose; fábricas de madeira aglomerada; padarias;
hospitais; restaurantes; fornos de secagem de fumo; e outros).
81
CONCLUSÃO
As tecnologias agrícolas intensivas e altamente mecanizadas com base no modelo da
Revolução Verde (agricultura moderna ou convencional), muito utilizadas durante os últimos
anos, causaram aumentos de produtividade e eficiência no trabalho mas também provocaram
um esgotamento de recursos, comprometendo a produtividade futura e promovendo a exclusão
de agricultores familiares no processo de desenvolvimento.
Existe uma preocupação crescente sobre os efeitos adversos da produção conseguida
com base no modelo acima citado e que promove, entre muitas fatores: dependência de
insumos; aumento de custos; aumento da resistência de ervas daninhas e insetos aos pesticidas;
declínio na produtividade do solo pela erosão e do nível de fertilidade; poluição das águas;
riscos à saúde humana e animal; efeitos danosos na qualidade dos alimentos; exaustão das
reservas finitas de nutrientes; e o desaparecimento do número de propriedades rurais,
particularmente do tipo familiar.
O primeiro resultado concreto que se apresenta no trabalho é a descrição de sistemas
ecológicos de produção, enfocando num primeiro momento o resgate de técnicas e processos
82
utilizados pelos agricultores no período que precedeu a instalação da chamada agricultura
moderna na região. Embora excluam de suas práticas o uso de fertilizantes químicos e
pesticidas, ainda apresentam indícios de práticas da agricultura moderna, como o uso de
implementos mecânicos surgidos nos últimos anos, sementes certificadas, aquisição de
insumos produzidos por indústrias. Num segundo momento, o trabalho também faz um
registro das técnicas e processos usados de forma inovadora, sob a ótica de um sistema
alternativo de produção, que não vinha sendo usado pelos agricultores e que foram
introduzidos na medida em que surgiram as demandas e necessidades.
A produção orgânica se tornou uma saída para a crescente descapitalização da
agricultura familiar, gerando empregos, baixando custos de produção e melhorando a qualidade
de vida dos agricultores, abrindo caminhos para a prática de uma agricultura mais sustentável
(Burg & Mayer, 1998). Práticas consideradas no passado como bastante utilizadas, são hoje
pouco usadas, sendo algumas totalmente erradicadas em função de conscientização dos
problemas que causam ao solo e nas relações planta, pragas, doenças e inimigos naturais. São
mudanças de postura e atitudes em relação ao manejo e cuidados com os cultivos e criações.
Não é somente a preocupação de produzir para mais renda ou para atender o mercado, mas há
uma vontade de contribuir na melhoria do meio ambiente e da sociedade, ao mesmo tempo em
que produz alimentos sadios. Entretanto, o que se vê nesses sistemas é uma grande mobilização
de mão-de-obra, semelhante ao que acontece com os agricultores que praticam a agricultura
convencional, e ambos procuram alcançar produtividades que lhes dêem garantias de maior
renda por unidade de área. Quando perguntado se atualmente a família tem mais trabalho, a
resposta foi positiva, confirmando um estudo realizado por Bertrand (1979), citado por Brasil
(1984), de que as propriedades orgânicas exigem mão-de-obra mais intensiva, porém usam
83
menos energia do que as convencionais. Todavia, os dados são limitados e é preciso um estudo
mais aprofundado dos aspectos de trabalho e energia da agricultura convencional e orgânica.
No entanto, o agricultor ecológico se encontra mais inserido no conceito moderno de
produtividade condicionada à eficiência energética e à qualidade biológica dos produtos
agrícolas. Segundo Paschoal (1998, p.20), sistemas energeticamente eficientes são aqueles que
produzem economicamente a baixo custo, otimizando o fluxo de energia e os ciclos de
nutrientes, buscando a sustentabilidade. Nutrição e sanidade de plantas estão intimamente
relacionadas. Grande parte dos adubos minerais solúveis e dos agrotóxicos podem interferir
com a bioquímica das plantas, provocando acúmulos de nitrogênio e aminoácidos livres no
suco celular e na seiva, responsáveis por erupções de pragas e patógenos. Adubações orgânicas
e de minerais pouco solúveis tendem, por outro lado, a aumentar a síntese de proteínas,
reduzindo assim as substâncias nitrogenadas livres, que constituem o alimento básico para os
organismos daninhos.
O que os agricultores ecológicos da ASPEDD estão na realidade tentando praticar é o
resgate do modelo de agricultura usada antes da agricultura moderna, acrescentando um novo
ingrediente, como a adoção, e por que não dizer, a construção de processos, práticas e métodos
capazes de substituir os “pacotes” tecnológicos da agricultura convencional. Segundo Altieri
(1989, p.207), a compreensão de produção tradicional pode revelar dicas ecológicas
importantes para o desenvolvimento de uma produção alternativa e de um sistema de manejo.
À medida que os agricultores se afastam da agricultura convencional, inúmeros
problemas se apresentam, como: a necessidade de um maior conhecimento da comercialização
84
dos produtos, disponibilidade de cultivares adaptados aos diferentes sistemas ecológicos,
ausência de crédito rural, uma necessidade de acompanhamento nos processos de cultivo e de
criação e, dificuldades no suprimento de insumos não convencionais.
Os agricultores do grupo estudado reconhecem que necessitam de melhorias para
consolidar os sistemas adotados. Entre essas se destacam uma capacitação técnica e gerencial
dos agricultores envolvidos; a busca permanente de canais de crédito para seus investimentos e
custeio das atividades; a possibilidade de beneficiamento de alguns produtos considerados
perecíveis, mas que podem ser transformados em conservas (pickles, por exemplo); a produção
coletiva de mudas, especializando um integrante do grupo, assim como já vem ocorrendo com
a produção de biofertilizantes; a procura por integração com o Conselho Municipal de
Desenvolvimento Rural, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cooperativas e outros, para
envolvê-los, mostrando o que fazem e comprometê-los a defender programas em nível
municipal, regional e estadual indispensáveis e generalização deste modo de produzir
alimentos.
Há um enorme potencial de desenvolvimento da pequena agroindústria associada à
agricultura familiar, permitindo que os agricultores se apropriem de uma parte maior do valor
gerado nas propriedades. Os problemas de produção em escala podem ser equacionados pelo
esforço associativo e a integração com outras organizações de agricultores que têm um
mercado consolidado. Segundo Costabeber & Moyano (2000, p. 51), o associativismo vem
sendo utilizado por agricultores familiares para enfrentar problemas que surgem ao introduzirse novas práticas agrícolas e de gestão de suas propriedades, problemas estes que não podem
85
ser solucionados pela via da ação individual e que a ação coletiva se converte em motor para
pôr em marcha projetos da agricultura ecológica.
Complementando, é de real importância que a municipalidade de São José do Sul se
mobilize no sentido de buscar uma solução para a deficiência que ocorre no processo de
transferência de tecnologia e apoio aos agricultores do grupo ecológico. Todos os agentes
envolvidos no processo deverão ser consultados e motivados a contribuir na construção, em
conjunto, de um efetivo de apoio, onde se inclui a transferência de tecnologia, respeitando as
ansiedades e desejos dos agricultores e suas reais necessidades. Verifica-se que vem sendo
oportuno estender aos agricultores o potencial de programas oficiais, como o programa Rio
Grande Ecológico, que tem como objetivo oferecer apoio aos agricultores que buscam uma
nova forma de produzir em sintonia com a natureza.
Acredita-se que trabalhos descrevendo o funcionamento de sistemas de cultivo e de
criação sob o enfoque ecológico de produção possam ser úteis a um grande número de
interessados nesse modo de se fazer agricultura, destacando-se a grande contribuição que traz
esse estudo de caso na troca de experiências e na difusão para outros agricultores ecológicos,
aos agricultores que praticam uma agricultura convencional, às agências de assistência técnica,
aos serviços de extensão rural, e a outros interessados.
Pode-se também verificar que o enfoque ecológico de produção apresenta como
característica marcante uma abordagem sensível à diversidade ambiental e às relações que
ocorrem entre os seres vivos. Através da descrição dos sistemas observados se verifica
nitidamente que os resultados conseguidos pelos agricultores comprovam que “uma agricultura
86
bem feita, ecologicamente equilibrada, com adubação orgânica de qualidade, diversificação e
rotação de cultivos, não apresenta problemas maiores devido ao ataque de pragas e m oléstias.
Estas estarão presentes, mas os danos serão isolados, sem significação econômica, localizadas
sobre as plantas frágeis, com o desenvolvimento abaixo do normal Guazelli (1985, p. 45).
Recomenda-se que esses produtores se integrem à rede de produtos ecológicos para
buscar junto a esta a solução para a compra de sementes de boa qualidade.
Observando a intensa mobilização de recursos, pode-se concluir que se trata de uma
agricultura em transição à forma ecológica de produção, principalmente quando se veêm
referências como de Masanobu Fukuoka (1985) citado por Vivan (1998): “mesmo a agricultura
orgânica, da qual se faz uma grande apologia nos dias atuais, é apenas outro ramo da
agricultura científica moderna. São muitos os problemas em mover materiais ecológicos de lá
para cá, processá-los e tratá-los. Muitos ganhos obtidos com esta atividade são ganhos locais e
temporários”.
Analisando a dependência real que existe com relação ao uso de insumos de fora da
propriedade, principalmente biofertilizante oriundo de criações integradas, pode-se afirmar,
dadas estas condições, que há possibilidade de ser adotado pelos agricultores o sistema de
produção integrada de suínos, principalmente, para sanar a deficiência de material ecológico
para as lavouras. Certamente essa questão passa por uma análise crítica em relação ao
abastecimento de água na propriedade. A implantação futura da criação de suínos sobre
resíduos vegetais o que já vem sendo discutido e ventilado na região, poderá facilitar em muito
a entrada dos agricultores nesta atividade. Ainda, segundo Baldasso (1999, p. 28), essas
87
atividades, que são na realidade terceirizações de um processo, são, por essência, intensivas em
trabalho, aumentando as possibilidades de remuneração de mão-de-obra familiar.
De fato, as informações coletadas junto aos agricultores do grupo nos dão base para
afirmar que o mesmo se encontra numa transição, isto é, enquanto buscam uma maior
aproximação e integração com uma agricultura voltada à natureza, ainda permanecem
dependentes da compra de insumos, como sementes de que não se conhece com certeza a
idoneidade genética e o processo de conservação nas embalagens, a aquisição de fertilizantes
ecológicos, como o esterco líquido que, provenientes de criações intensivas, não têm segurança
quanto à qualidade em termos da presença de antibióticos e outras substâncias.
À primeira vista, o sistema de produção orgânica ou ecológica parece não ter futuro
como alguns avaliam e o percebem, sugerindo ser inadaptável ao uso generalizado. Esta
questão precisa ser mais aprofundada e discutida. Segundo Paulus et al (2000, p. 81), o modelo
sugere alguns pré-requisitos para ser implementado. Entre esses pré-requisitos destacam-se
alguns que vêm sendo utilizados pelos agricultores. Esses têm como característica, antes de
tudo, garantir a subsistência da família para resolver as questões econômicas que assolam as
propriedades familiares. A subsistência é garantida na medida em que procura produzir aqueles
alimentos básicos para a sobrevivência, e que não apresentam dificuldades para sua produção.
Em princípio, são sistemas sustentáveis, transparentes, simples, podendo ser adaptados e
aperfeiçoados de acordo com as várias condições ambientais, locais, sendo quase sempre
baseados em experiências e fundamentos tradicionais. É uma tecnologia de processo, em
contraposição à tecnologia de produtos, gerando independência, poder de decisão,
conhecimento e controle dos meios de produção.
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento dos sistemas de cultivo e de criação desenvolvidos pelos agricultores
da ASPEDD permite identificar, compreender, avaliar e propor melhorias para os processos de
produção em nível de propriedade rural. Com base no conhecimento empírico dos agricultores
dessa associação e nos processos e técnicas consagradas por esses, abre-se espaço para que os
centros de pesquisa realizem um monitoramento científico, das técnicas e processos que
contribuem para dar sustentabilidade e estabilização à atividade produtiva. Da mesma forma, a
pesquisa pode se encarregar de buscar explicação científica ou a comprovação dos efeitos de
inúmeras técnicas adotadas, bem como encaminhar estudos, sob o enfoque ecológico, de
alguns problemas de mais difícil solução identificados pelos agricultores da associação. O
trabalho também sugere ampliar os estudos no sentido de diagnosticar o modo de agricultura
praticada pelos agricultores ditos convencionais, para verificar o nível de difusão e de
apropriação das técnicas e processos ecológicos ocorridos na região, a partir da experiência
bem sucedida com os agricultores da ASPEDD. Outrossim, considera-se como de importância
proceder a um comparativo da renda bruta alcançada pelos agricultores da associação e dos
agricultores convencionais, como também identificar alguns indicadores sociais, econômicos,
ambientais que permitam fornecer indícios de sustentabilidade agrícola, eficiência dos sistemas
89
de cultivo e de criação e da capacidade de geração de recursos energéticos. Todas essas
indagações não foi possível serem diagnosticadas pela delimitação do universo da pesquisa,
expressa nos questionários semi-estruturados, e pelo tempo escasso para o levantamento de
campo. Considerando que o agricultor geralmente não tem o costume de fazer anotações de
suas atividades, isso dificultou sobremaneira o registro das práticas, métodos, técnicas e
procedimentos adotados, determinando destinar mais tempo para esta tarefa e exigindo do
entrevistador percorrer toda a área de cultivo para efetuar as observações pertinentes, e não
poucas vezes, refazer os passos para a elaboração de insumos e de emprego de algum método.
Para o resgate do processo histórico sócio-cultural, ambiental e econômico da região
encontraram-se alguns obstáculos: poucos foram os agricultores mais antigos que se
dispunham a dar informações, o idioma alemão, nesse caso, um empecilho; e os entrevistados
apresentaram alguma dificuldade em lembrar fatos ou transformações importantes ocorridas na
região nas últimas décadas. Mas, certamente, não teria sido possível realizar o aprofundamento
a que se propôs o estudo se não fosse o positivo empenho, esforço, paciência e participação dos
agricultores e seus familiares.
90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J. A problemática do desenvolvimento sustentável. In: BECKER, D.F.
Desenvolvimento Sustentável: necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul: EDUNISC,
2001. p. 17.
ALMEIDA, J. Da ideologia do progresso à idéia de desenvolvimento (rural) sustentável. In:
ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. Reconstruindo a agricultura. Porto Alegre: Editora da
Universidade /UFRGS, 1997. pp 33-55.
ALMEIDA, J. A construção social de uma nova agricultura: tecnologia agrícola e movimentos
sociais no sul do Brasil. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999. 214 p.
ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed.
Universidade/UFRGS, 2000.
ALTIERI, M.A. Bases agroecologicas para una produccion agricola sustentable. Porto Alegre:
EMATER/RS, 1999. 14 p. (Textos selecionados, 21).
ALTIERI, M. A. Agroecologia. Rio de Janeiro: PTA-FASE, 1989. pp 207-211.
ARISTIMUNHA, J. L. Agricultura sustentável: potencialidades e limitantes da produção
familiar – uma verificação no Planalto Médio Rio-Grandense. Santa Maria: UFSM, 1997. 169
p.
ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES ECOLÓGICOS DOM DIOGO. Dom Diogo. Atas n. 01 e
18. Ata de reunião.
AURVALLE, A. E. et al. Agropecuária sem veneno. Porto Alegre: LPM Editores Ltda., 1985.
128 p.
BALDASSO, A. N. Desempenho econômico dos sistemas de produção agrícola do Rio Grande
do Sul; síntese da dissertação de Mestrado. Porto Alegre: EMATER/RS, 1999. 58 p. (Textos
Selecionados, 20).
91
BECKER, D. F. Desenvolvimento sustentável: necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do
Sul: EDUNISC, 2001. 238 p.
BECKER, K. Os primeiros alemães no município de Montenegro.In: PREFEITURA
MUNICIPAL DE MONTENEGRO. Montenegro de Ontem e de Hoje. São Leopoldo:
Rotermund, v.1, 1979. pp. 159-167.
BOTTECHIA, R. J.; FEIDEN, A.; ALMEIDA, D. L.; AQUINO, A. M.; LIGNON, G. B. ; L.
D. RIBEIRO, R.; CARVALHO, S. R. Desempenho de animais em sistema de produção
agroecológica.
Disponível
na
internet:
<
http:
//
www.cria.org.br/gip/gipaf/itens/publ/sbs3/09.html. > Acesso em 23/ago./01.
BRASIL. Ministério da Agricultura. Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária.
Divisão de Pesquisa Pedológica. Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Estado do
Rio Grande do Sul. Recife: 1973. 431 p.
BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento PRONAF - Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar. Brasília: 1996. 37 p.
BRASIL. Secretaria de Planejamento. Relatório e recomendações sobre agricultura orgânica.
Brasília: CNPq, 1984. 128 p.
BURG, I. C.; MAYER, P. H. Manual de alternativas ecológicas para prevenção e controle de
pragas e doenças. Francisco Beltrão: Artes Gráficas e Editora, 1998. 137 p.
CARMO, M.S.; SALLES, J.T. A. O. Sistemas familiares de produção agrícola e o
desenvolvimento sustentado. Disponível na internet: http: // www. gipaf. emptia. embrapa. br.
Acesso em 23/out./01.
COSTABEBER, J.A. Transição agroecológica: do produtivismo à ecologização. In:
EMATER/RS. Sustentabilidade e cidadania: o papel da extensão rural. Porto Alegre, 2000. pp.
67-117.
COSTABEBER, J.A.; MOYANO, E. Transição agroecológica e ação social coletiva,
Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, EMATER/RS, v. 1, n. 4.
2000. pp. 49-60
D’ANDRÉA, P. A. Tecnologia de processo na citricultura. In: : Encontro Citricultura
Sustentável – Controle Alternativo de Pragas e Doenças, 1999, Limeira. Anais. Limeira:
EMOPI – Gráfica e Editora Ltda., 20-21 maio 1999. 76 p.
EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. 2. ed.
Guaíba: Agropecuária, 1999. 157 p.
EMATER/RS. A agricultura sustentável e a extensão rural: como ampliar a adesão dos
agricultores? In: ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. Reconstruindo a agricultura. Porto Alegre: Ed.
da Universidade/UFRGS, 1997. pp. 220-222.
92
FAO/INCRA. Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável. Brasília:
FAO/INCRA, 1994. 24 p.
FILGUEIRA, F.A.R. Manual de olericultura: cultivo e comercialização de hortaliças. São
Paulo: Ed. Agronômica CERES, 1981. v.1, 338 p.
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA - FEE. A Agropecuária do Rio Grande do
Sul 1980-1995 a caminho da eficiência? Porto Alegre: FEE, 1997. 160 p.
GALLO, D. et al. Manual de Entomologia Agrícola. São Paulo: Ed. Agronômica CERES,
1988. 649 p.
GLIESSMAN, S.R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto
Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000.
GRAZIANO DA SILVA, J. Tecnologia e agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da
Universidade/UFRGS, 1999. 238 p.
GUAZZELLI, M. J. Agricultura ecológica como faze-la. In: AURVALLE, A. E. et al.
Agropecuária sem veneno. Porto Alegre: LPM Editores Ltda., 1985. p. 45-96.
GUZMÁN, E. S. Uma estratégia de sustentabilidade a partir da Agroecologia, Agroecologia e
Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, EMATER/RS, v. 2, n. 1,2001. p 35-45.
LEITURA DA PAISAGEM. Salvador do Sul: Escritório Municipal da EMATER/RS, 2001.
(mimeo.)
LERMEN, A.M.G.; SPECHT, S. Kappesberg unser heimatland – Salvador do Sul nossa terra
natal. Salvador do Sul: D & A Editora e Gráfica Ltda, 1999. 129 p.
MACEDO, R. L. G. Sistemas agroflorestais com leguminosas arbóreas para recuperar áreas
degradadas por atividades agropecuárias. In: Simpósio Nacional sobre Recuperação de Áreas
Degradadas, 1992, Curitiba, Anais. Curitiba: UFPR/FUPEF, 1992. 136 p.
MENDEL, G. A fase piloto do projeto na região Vale do Rio Caí. In: BROSE, M. Agricultura
familiar, desenvolvimento local e políticas públicas. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1999. 347
p.
MORAES, C.S. O colono alemão - uma experiência vitoriosa a partir de São Leopoldo. Porto
Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1981. 160 p.
MEDEIROS, A. R. M. Alelopatia – importância e suas aplicações. In: Hortisul, 1(3): 27-32,
Out. 1990. (Vol.1, nº 3, outubro, 1990, Boletim).
NOSSO FUTURO COMUM – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
2. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991. 430 p.
93
PASCHOAL, A. D. Nutrição, fitossanidade e produtividade das cultivos. In: Conferência
Brasileira de Agricultura Biodinâmica, 1998, Piracicaba. Anais. Piracicaba:
IBDR/GAOA/FEALQ, 1998. 57 p.
PASCHOAL, A. D.; PASCHOAL, D. P. D. Relação da nutrição vegetal com pragas e doenças
de plantas. In: Encontro Citricultura Sustentável – Controle Alternativo de Pragas e Doenças,
1999, Limeira. Anais. Limeira: EMOPI – Gráfica e Editora Ltda., 20-21 maio 1999. 76p.
PAULUS, G. et al. Agroecologia aplicada: práticas e métodos para uma agricultura de base
ecológica. Porto Alegre: EMATER/RS, 2000. 86 p.
PRIMAVESI, A. M. Relação ambiente, biodiversidade e equilíbrio e cológico na citricultura.
In: Encontro Citricultura Sustentável – Controle Alternativo de Pragas e Doenças, 1999,
Limeira. Anais. Limeira: EMOPI – Gráfica e Editora Ltda., 20-21 maio 1999. 76 p.
RAMBO, B. A fisionomia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Livraria Selbach & Cia., 1956.
456 p.
RICHARDSON, R J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1985.
ROESE, M. A metodologia do estudo de caso, Cadernos de Sociologia, Programa de PósGraduação em Sociologia/UFRGS, Porto Alegre, 1998, v. 9, pp. 189-200.
ROMEIRO, A. R. Meio ambiente e dinâmica de inovações na agricultura. São Paulo:
Annablume/ FAPESP, 1998.
SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e industrialização: pluriatividade e descentralização
industrial no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999.
SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e pluriatividade. Porto Alegre, Programa de Pósgraduação em Sociologia / UFRGS. 1999. 72 p. (Tese de Doutorado)
SCHNEIDER, S. Transformações recentes da agricultura familiar no Rio Grande do Sul: o
caso da agricultura em tempo parcial. Porto Alegre. Ensaios FEE. Porto Alegre. 1995.
Fundação Estadual de Estatística. (16) 1.1995. pp. 105-129.
VIVAN, J. L. Agricultura e florestas: princípios de uma integração vital. Guaíba:
Agropecuária, 1998. 207 p.
WOLFF, L. F. Agricultura sustentável e sistemas ecológicos de cultivos. In: ENCONTRO
SOBRE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL. Florianópolis. 1994. (Mimeo.)
94
ANEXOS
Download