acidentes com lepidópteros – lagartas e mariposas - Sesa

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SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL
DIVISÃO E VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E INTOXICAÇÕES
PROGRAMA DE VIGILÂNCIA DE ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS
NOTA TÉCNICA Nº 01/2012 – (DVVZI – NT 01/2012)
ACIDENTES COM LEPIDÓPTEROS – LAGARTAS E MARIPOSAS
Lepidoptera é a ordem de insetos que compreende as mariposas e borboletas. Os
acidentes sintomáticos atribuídos ao contato com esses insetos são bastante comuns,
embora subnotificados, e dependendo da espécie envolvida, extensão do contato com a
pele, estágio de desenvolvimento do inseto e sensibilidade individual do paciente, podem
variar desde uma dermatite urticante passageira até quadros com repercussões
sistêmicas e desfecho fatal.
Os lepidópteros são insetos ovíparos que em seu desenvolvimento biológico passam por
metamorfose completa, em tempo variado conforme a espécie e as condições ambientais:
ovo, larva (lagarta ou também denominada popularmente como imbira, taturana, ruga,
oruga), pupa (ou crisálida) e indivíduo adulto (forma alada, imago, mariposa ou borboleta),
apto para o acasalamento e nova oviposição. As larvas alimentam-se de folhas e são
encontradas em árvores, arbustos e outras plantas; as pupas permanecem inertes até o
período de eclosão. Os lepidópteros se distinguem de acordo com o período em que voam;
borboletas são diurnas, mariposas são noturnas.
O corpo das lagartas é ornamentado dorsolateralmente por estruturas pontiagudas –
setas, espículas, cerdas ou pelos – capazes de secretar toxinas como defesa contra
predadores naturais. No caso de contato humano com a lagarta, exercida alguma
pressão, essas estruturas se quebram e penetram a pele, causando prurido e granuloma
de corpo estranho (efeito mecânico); não se conhece exatamente como agem os venenos
das lagartas, atribuindo-se a ação urticante aos líquidos da hemolinfa à histamina
liberada pelas espículas. Das lagartas de importância médica no Brasil, destacam-se
principalmente as da família Megalopygidae (que apresentam dois tipos de cerdas: as
verdadeiras, que são pontiagudas contendo as glândulas basais de veneno, e cerdas mais
longas, coloridas e inofensivas), e das família Saturniidae (que apresentam “espinhos”
ramificados e pontiagudos de aspecto arbóreo, com glândulas de veneno nos ápices).
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Exemplos de lagartas da família Megalopygidae: Podalia sp (esquerda); Megalopyge urens (direita). Fotos SESA-DVVZI.
Exemplos de lagartas da família Saturniidae: Dirphia curitiba (esquerda); Automeris sp (direita). Fotos SESA-DVVZI.
ACIDENTES COM LAGARTAS – ERUCISMO
A maioria dos acidentes com lepidópteros se dá pelo contato direto com as formas
larvárias ou lagartas, sendo descritos como ERUCISMO (do latim eruca = larva). Esses
acidentes decorrem de atividades ocupacionais (agricultores, profissionais de limpeza
urbana ou poda de árvores), podendo também ocorrer acidentalmente em atividades
recreativas ao ar livre.
As manifestações clínicas podem estar restritas à pele (dermatite urticante benigna),
pelo contato com lagartas de diversos gêneros; o contato com lagartas do gênero
Lonomia desencadeia sintomas sistêmicos gravidade variável, caracterizados como uma
síndrome hemorrágica e que demandam tratamento específico – soro antilonômico.
DERMATITE URTICANTE BENIGNA
AGENTES CAUSADORES: Lagartas de vários gêneros
CLÍNICA:
Imediatamente após o contato da pele com os espinhos da lagarta a pessoa apresenta
dor em queimação, intensa, irradiada para a raiz do membro, eventualmente
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acompanhada de prurido. São comuns eritema e edema no local do contato, bem como
lesões puntiformes decorrentes da compressão das cerdas da lagarta na pele. Nas
primeiras 24 horas a lesão pode evoluir com vesículas, e raramente com bolhas e
necrose. Freqüentemente se observa infartamento ganglionar regional. Estes sintomas
regridem num período de 24 a 48h, sem maiores complicações.
TRATAMENTO:
De imediato pode-se lavar o local de contato com água fria e abundante, ou utilizar
compressas frias.
A dor pode ser manejada com analgésicos sistêmicos eventualmente pode-se utilizar
infiltração local com lidocaína sem vasoconstritor.
Pode-se utilizar também corticosteróides tópicos e anti-histamínicos.
SE NÃO HOUVER IDENTIFICAÇÃO DA LAGARTA CAUSADORA DO ACIDENTE,
OU SE O PACIENTE APRESENTAR HEMORRAGIAS CUTÂNEAS OU MUCOSAS
(EQUIMOSES OU GENGIVORRAGIA), É NECESSÁRIO FAZER DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL DE ERUCISMO POR Lonomia sp (ver fluxograma anexo).
PREVENÇÃO:
Não tocar em lagartas.
Utilizar mangas compridas quando for realizar serviços de poda na vegetação.
Observar os troncos antes de subir em árvores ou manipular arbustos e outras
plantas.
ORIENTAÇÕES PARA VIGILÂNCIA EM SAÚDE
A vigilância da ocorrência de acidentes com lagartas enquadra-se no Programa de
Vigilância de Acidentes com Animais Peçonhentos, que de acordo com a Portaria
GM-MS 104/2011, devem ser compulsoriamente notificados.
Os casos devem ser notificados no SINAN – Acidentes com Animais
Peçonhentos. Campo 47= 4 - Lagarta. Campo 48= 2 - Outra Lagarta.
Os animais deverão ser encaminhados pelas Vigilâncias em Saúde dos Municípios,
após registro no SINAP - Sistema de Notificação de Animais Peçonhentos - às
Regionais de Saúde, conforme protocolos próprios, para identificação ou
confirmação da identificação na DVVZI. Também poderão ser encaminhadas
fotografias desses animais através do SINAP para a mesma finalidade.
Também poderá ser utilizado o email [email protected] para solicitação
de orientações ou envio de fotos de lesões de pacientes.
ERUCISMO COM SÍNDROME HEMORRÁGICA
AGENTE CAUSADOR: lagartas do gênero Lonomia sp.
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Essas lagartas, pertencentes à família Saturniidae, costumam ser encontradas em
colônias (grupos de lagartas, variando de poucas até centenas) descansando de dia em
troncos de árvores, em especial da mata nativa, como aroeiras (bugreiro), pessegueiro
bravo, canela, mamica de cadela, capitão do mato, ariticum, pitangueira, congonha, erva
mate, caúna, como também em árvores não nativas, amoreira, pessegueiro, macieira,
abacateiro, pés de manga, e algumas ornamentais, como azaléia, hortência e cheflera. À
noite elas se alimentam das folhas destas plantas.
Lonomia sp. Mariposa fêmea (esquerda), macho (direita), pupa. Lagartas. Observar hábito gregário (colônia). Fotos:
esquerda, acima: acervo Museu de História Natural do Capão da Imbuia; esquerda abaixo e direita: fotos Venilton
Kuchler, acervo SESA-DVVZI.
É possível que a dispersão de Lonomia no Brasil e no Paraná esteja relacionada às
questões de desmatamento e utilização de agrotóxicos.
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Distribuição de Lonomia nas Regionais de Saúde do Estado do Paraná, 2012. Fonte SESA-DVVZI. Em amarelo,
identificação de Lonomia apenas na forma adulta (município de Doutor Camargo, 15ª RS).
CLÍNICA
Embora ainda não totalmente esclarecido, o envenenamento por Lonomia caracteriza-se
por um quadro semelhante ao de coagulação intravascular disseminada – CIVD – e intensa
ação fibrinolítica; sugere-se também ação procoagulante, ativação do fator X da
coagulação e protrombina, além de ativação do sistema de complemento como ações do
veneno de Lonomia.
Os sinais e sintomas locais são indistinguíveis daqueles causados pelo contato com
outros gêneros de lagarta.
Nas primeiras 24 horas podem aparecer sinais hemorrágicos como equimoses,
principalmente em locais de contusões; gengivorragia, epistaxe, sangramentos em
ferimentos recentes, bem como sintomas inespecíficos, como náuseas, dor de cabeça,
artralgias, dor abdominal. É importante ressaltar que nem todos os pacientes
apresentam sangramentos no primeiro atendimento, sendo necessária a estrita
observação clínica e realização de exames complementares (testes de coagulação)
para acompanhar a evolução do paciente e estabelecer diagnóstico diferencial com
erucismo por outros gêneros de lagarta (ver fluxograma anexo).
Também é importante atentar para os resultados de exames complementares; as
alterações de coagulograma, especialmente aquelas mais discretas ou com resultados
contraditórios, devem ser questionadas e interpretadas à luz da estrita observação
clínica dos pacientes, para adequada tomada de decisão quanto à utilização de
soroterapia específica.
Podem ocorrer manifestações sistêmicas graves, com repercussão hemodinâmica:
hematúria micro ou macroscópica; hematêmese, melena, hemorragias intra-articulares,
abdominais (intra e extraperitoniais), pulmonares, glandulares (tireóide, glândulas
salivares) e hemorragia intraparenquimatosa cerebral – (rara, porém associada a
complicações e ÓBITO).
TRATAMENTO:
O tratamento local é sintomático, como no erucismo por outras lagartas.
Os casos devem ser estadiados conforme a gravidade – ver quadro anexo – e o
tratamento específico instituído o mais precocemente possível – (Soro Antolonomico),
com internamento do paciente e atenção às manifestações sistêmicas e complicações,
especialmente as hemorragias maciças e insuficiência renal aguda. Pode ser necessária a
internação do paciente em Unidade de Terapia Intensiva.
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ERUCISMO POR
SOROTERAPIA
Lonomia
sp:
ESTADIAMENTO
CONFORME
GRAVIDADE
E
Fonte: Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª Edição. Brasília Fundação Nacional
de Saúde, 2001.
PREVENÇÃO:
Não tocar em lagartas.
Utilizar mangas compridas quando for realizar serviços de poda na vegetação.
Observar os troncos antes de subir em árvores ou manipular arbustos e outras
plantas.
ORIENTAÇÕES PARA VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Em atenção ao Art. 505 do Código de Saúde do Estado do Paraná, os serviços
de saúde devem notificar imediatamente as Secretarias Municipais de Saúde, que
por sua vez notificam a Regional de Saúde à DVVZI a ocorrência do acidente,
pelo telefone. “Doenças sujeitas a acompanhamento intensivo pela SESA/ISEP
e/ou Ministério da Saúde, em que a notificação deve seguir imediatamente às
instâncias superiores: a) Acidente por contato com Lonomia”.
A vigilância da ocorrência de acidentes com Lonomia enquadra-se no Programa de
Vigilância de Acidentes com Animais Peçonhentos, que de acordo com a Portaria
GM-MS 104/2011, devem ser compulsoriamente notificados.
Os casos devem ser notificados no SINAN – Acidentes com Animais
Peçonhentos. Campo 47= 4 - Lagarta. Campo 48= 1 - Lonomia.
Da notificação do acidente deve decorrer oportuna articulação entre as
Vigilâncias em Saúde do Município, Regional de Saúde e DVVZI, para
desencadeamento de ações de campo para coleta e identificação de animais
provavelmente implicados nos acidentes;
Os animais deverão ser encaminhados pelas Vigilâncias em Saúde dos Municípios,
após registro no SINAP - Sistema de Notificação de Animais Peçonhentos - às
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Regionais de Saúde, conforme protocolos próprios, para identificação ou
confirmação de identificação na DVVZI. Também poderão ser encaminhadas
fotografias desses animais através do SINAP para a mesma finalidade.
Também poderá ser utilizado o email [email protected] para solicitação
de orientações ou envio de fotos de lesões de pacientes.
ACIDENTES COM MARIPOSAS – LEPIDOPTERISMO
Os acidentes descritos como LEPIDOPTERISMO ocorrem pelo contato direto ou
indireto da pele humana com cerdas existentes no abdome de mariposas fêmeas do
gênero Hylesia sp. Essas cerdas são utilizadas para a proteção dos ovos após a postura.
Atraídas pela luz, durante revoadas ou quando manipuladas, as mariposas liberam
“nuvens” de cerdas onde estão os espinhos urticantes. Os acidentes acontecem pelo
contato com as cerdas ou espículas liberadas pelo inseto em superfícies, roupas, objetos,
desencadeando um quadro de dermatite. Além da ação mecânica, o quadro inflamatório
local é provocado pela presença de histamina nas espículas.
Os acidentes geralmente acontecem sob a forma de surtos, acometendo grande número
de pessoas. No Brasil já foram registrados surtos de acidentes com Hylesia em diversos
estados. No verão de 2010-2011, ocorreu grande surto no litoral do Paraná, com mais de
cinco mil casos registrados no SINAN. Na ocasião, foi possível implicar como causadoras
do surto as mariposas Hylesia remex e Hylesia subcana.
Hylesia sp. Mariposas macho (esquerda) e fêmea. Lagarta. Notar as cerdas douradas no abdome da mariposa fêmea.
Fotos esquerda, acima, e direita, Lenora Rodrigo. Esquerda, abaixo, Emanuel Marques da Silva. Acervo SESA DVVZI.
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As lagartas de Hylesia sp. são encontradas em grupos nos galhos de árvores e costumam
aparecer em grande quantidade de indivíduos, que ao se deslocarem em busca de novas
plantas para se alimentarem, movimentam-se por calçadas e paredes das casas, momento
propício para que aconteçam acidentes (erucismo).
CLÍNICA
Nas primeiras 24 horas após a exposição, os pacientes apresentam dermatite eritematopápulo-pruriginosa em áreas expostas de pele – membros superiores, inferiores, pescoço,
tronco.
Ocasionalmente, pode ser observado comprometimento oftalmológico, quando as pessoas
levam aos olhos as mãos sujas com cerdas.
Pacientes alérgicos podem ter sintomas mais intensos ou persistentes, necessitando
tratamento mais prolongado.
TRATAMENTO:
De imediato, os pacientes podem ser orientados a tomar banho morno ou frio, ou utilizar
compressas de água fria para diminuir o prurido;
O tratamento é sintomático, utilizando-se anti-histamínicos por via oral e
corticosteróides tópicos; em casos extremos, pode-se lançar mão de corticosteróides
sistêmicos.
Na suspeita de acometimento ocular, o paciente deve ser encaminhado ao oftalmologista.
PREVENÇÃO:
Não utilizar redes e roupas que ficaram expostas em varais.
Limpar toda manhã com pano úmido, mobiliário externo – cadeiras, mesas, bancos.
Antes de varrer, esguichar água para evitar a formação das “nuvens” de cerdas, ou
utilizar rodo com pano úmido.
ORIENTAÇÕES PARA A VIGILÂNCIA EM SAÚDE
A vigilância da ocorrência de surtos de dermatite por contato com lepidópteros
se enquadra no Programa de Vigilância de Acidentes com Animais Peçonhentos, e
de acordo com a Portaria GM-MS 104/2011, devem ser compulsoriamente
notificados.
Casos isolados deverão ser notificados na Ficha de Acidente por Animais
Peçonhentos. Campo 45= 6 – Outros “Mariposa”. Obs.: Colocar sempre no
singular, sem acentos e procurar escrever sempre da mesma forma.
A ocorrência de surto deve ser notificada no SINAN na FICHA DE
INVESTIGAÇÃO DE SURTO, com o CID L23 – DERMATITES ALERGICAS DE
CONTATO.
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Deverá ser preenchida a PLANILHA PARA ACOMPANHAMENTO DE
SURTO/SINAN, para cada notificação registrada.
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Também poderão ser encaminhadas fotografias desses animais através do SINAP
para a mesma finalidade.
Também poderá ser utilizado o email [email protected] para solicitação
de orientações ou envio de fotos de lesões de pacientes.
DÚVIDAS:
CENTRO DE CONTROLE DE ENVENENAMENTOS – 0800 410148
[email protected]
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