INJÚRIA RENAL AGUDA PROVOCADA POR Lonomia obliqua: RELATO DE CASO Ferreira, BN (1,2), Massuai, T. (1,2), Decker JW (1,2), Zannin, M (2,3). 1. Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina–CIT/SC; 2. Acadêmicos de Medicina na Universidade Federal de Santa Catarina; 3. Depto de Patologia e Toxicologia–PTL/CCS/UFSC–Florianópolis/SC. INTRODUÇÃO O acidente com lagartas do gênero Lonomia é um agravo recente na literatura médica. O contato com as lagartas provoca uma síndrome hemorrágica severa caracterizada por hipofibrinogenemia intensa. As complicações responsáveis pelos óbitos registrados neste tipo de acidente foram IRA e hemorragia intracraniana. O relato deste caso visa mostrar a gravidade deste tipo de acidente.. OBJETIVOS Descrever um caso atendido no CIT/SC de Injúria renal aguda provocada pelo contato com a lagarta Lonomia obliqua. RELATO DE CASO Paciente masculino, 41 anos, sem histórico de comorbidade, procurou atendimento hospitalar uma hora após esmagar com a mão esquerda várias lagartas do gênero Lonomia no tronco de uma árvore (identificadas pelo médico, paciente refere ter apertado com força a mão sobre a árvore) apresentava dor em queimação e hiperemia local. O médico fez contato com o Centro de Informações Toxicológica. Foi informado que o soro . antilônomico só estava recomendado frente alteração dos exames globais da coagulação (TC, TP e TTPA). Os exames coletados, duas horas após o contato com as lagartas, ficaram prontos três horas após e estavam alterados: TC 20 min, TP 17,4 seg, AP 57%, TTPA 90 seg. O paciente recebeu 5 ampolas de soro antilonômico 5h após o acidente. Exames 15 h após o tratamento com soro específico: TC 11 min, TP 18 seg, AP 61 %, RNI 1,39, TTPA 47seg. Paciente foi liberado com menos de 20 h após receber o soro antiveneno, sem receber a hidratação adequada para prevenção da IRA e sem nenhuma avaliação da função renal. No 1º, 2ºe 3º após a alta, o paciente evoluiu com náuseas, inapetência, insônia, e muita dificuldade para urinar. Procurou atendimento médico na UBS onde foi realizado dosagem de creatinina = 11,6 mg/dl, no mesmo dia foi encaminhado para clínica de hemodiálise de referencia da região onde iniciou hemodiálise no dia seguinte. Seguiu fazendo hemodiálise três vezes por semana por dois meses. Foi acompanhado por 6 meses, com uma creatinina variando de 1.9 a 2,3 mg/dl. Paciente ciente de perda de percentual da função renal. Nome Popular: taturana, oruga ou ruga. Nome Científico: Lonomia obliqua. Ordem: Lepidópteros / Família: Saturnidae. Identificação: corpo marrom, espinhos em forma de pinheirinho verde-folha, listra marrom contornada de preto ao longo do dorso e manchas brancas no dorso. Hábitos gregários. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A deposição maciça de microtombos nos glomérulos gerados pela coagulopatia de consumo, pode ser uma das causas da IRA nos acidentes por Lonomia obliqua. A alteração da hemostasia neste tipo de acidente é precoce e pode ser intensa já nas primeiras seis horas. Assim, a semelhança com outros acidentes por animais peçonhentos, o diagnóstico precoce e o tratamento específico podem prevenir a instalação de coagulopatia grave e conseqüentes complicações como a IRA. Em estudo de Coorte com 2067 pacientes 1,9% foram diagnosticados com IRA, desses, 32% precisaram de diálise e 10% evoluíam com para doença renal crônica. A hidratação adequada e a avaliação da função renal fazem parte do protocolo no acidente lonômico. EVOLUÇÃO LABORATORIAL TC TAP AP TTPA Creatinina RNI 2h após contato 15h após o tratamento 3 dias após tratamento 20 min 17,4 seg 57% 90 seg --- 11 min 18 seg 61% 47 seg -1,39 ----11,6 -- após 6 meses de BIBLIOGRAFIA hemodiálise Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. Brasília: Ministério da Saúde/Fundação Nacional da Saúde; 2001 Burdmann EA, Antunes L, Saldanha LB, Abdulkader RC. Severe acute renal failure induced by the venon of Lonomia caterpillars. Clin Nephrol, 46 (5), p. 337-339, 1996. 1,9 a 2.3 Zannin M, Lourenço DM, Motta G, Costa LRD, Grando M, Gamborgi GP, Noguti M.A, Tavassi AMC. Blood coagulation and fibrinolytic factors in 105 patients with hemorrhagic syndrome caused by accidental contact with Lonomia obliqua caterpillar in Santa Catarina, Southern Brazil. Thromb Haemost., 89(2), p.355-64, 2003. Gamborgi GP, Metcalf EB, Barros EJ. Acute renal failure provoked by toxin from caterpillars of the species Lonomia obliqua. Toxicon. 2006 Jan;47(1):68-74. Moraes RHP, Zannin M. Acidentes por Lepidópteros. In: Andrade Filho A, Campolina D, Dias MB, editores. Toxicologia na prática clínica. 2. ed. Belo Horizonte, MG: Folium; 2013. p. 415-28. Apoio HOSPITAL UNIVERSITÁR IO PROEXTENSÃO/PRPE/UFSC DEPTO DE PATOLOGIA PTL/CCS/UFSC CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS - CIT/SC Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina - CIT/SC- Hospital Universitário - HU/UFSC Rua Prof.ª Maria Flora Pausewang, S/N Trindade CEP: 88.036-800 - Florianópolis – SC Fone: 0800 643 5252/(48) 3721-9083 [email protected]