1 SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL DIVISÃO E VIGILÂNCIA DE ZOONOSES E INTOXICAÇÕES PROGRAMA DE VIGILÂNCIA DE ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS NOTA TÉCNICA Nº 01/2011 – (DVVZI – NT 01/2011) ACIDENTES COM CNIDÁRIOS – ÁGUAS-VIVAS E CARAVELAS Os cnidários são animais de estrutura radial, a maioria com tentáculos, podendo apresentar-se em formas fixas (hidras ou pólipos) ou móveis (medusas). São representados por várias espécies ao longo do litoral do Brasil havendo, no entanto, poucas delas implicadas em acidentes com humanos. As formas fixas ou pólipos apresentam corpo tubular, onde a extremidade inferior é fechada e fixa, e a superior apresenta uma boca central circundada por tentáculos moles. A medusa, ou forma livre, tem o corpo gelatinoso em forma de guarda-chuva ou sino, marginado por tentáculos, a boca na superfície côncava inferior e pode nadar livremente, embora dependa em grande parte das correntes, ventos e marés para se locomover. Ambas as formas – pólipo e medusa – podem aparecer no ciclo reprodutivo de várias espécies. As caravelas pertencem à classe Hidrozoa; a espécie Physalia physalis (figura 1), é muito comum, inclusive no litoral do Paraná, e pode provocar acidentes graves. Outras pequenas hidromedusas podem ser encontradas com relativa freqüência nas regiões Sul e Sudeste e causam acidentes mais leves, mas ainda assim dolorosos. No litoral do nosso estado pode-se encontrar a espécie Olindias sambaquiensis (figuras 2 e 3). 1 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484 2 Figura 1. Physalia physalis. Caravela. Foto R. Gonzales, 2011. Figura 2 e 3. Olindias sambaquiensis. Foto A. Migotto. 2 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484 3 As cubomedusas, que são classificadas na classe Cubozoa, estão associadas a acidentes fatais em vários países e duas espécies são comuns no Brasil: a Tamoia haplonema (Figura 4) e a Chiropsalmus quadrumanus (figura 5). O aparelho inoculador de peçonha é constituído de uma bateria de células denominadas nematocistos. Cada nematocisto consiste de uma diminuta cápsula arredondada, preenchida de líquido, contendo um fio tubular enrolado que pode ser projetado para fora. Embora possam ocorrer em quase toda a epiderme do animal, são mais abundantes nos tentáculos. Existem quatro tipos diferentes de nematocistos. Dois deles produzem uma substância pegajosa e são usados na locomoção e apreensão de alimentos, não apresentando perigo para o homem. Os outros dois, chamados penetrante e envolvente, são usados em conjunto para capturar suas presas, secretando uma uma complexa mistura de toxinas (hipnotoxinas, neurotoxinas, cardiotoxinas e palytoxinas) e/ou enzimas antigênicas, como o hidróxido de tetrametilamônio, a serotonina, a histamina e outras substâncias ainda não definidas. O nematocisto do tipo penetrante possui um tubo que explode para fora, disparando um microaguilhão que perfura a pele e inocula a peçonha. O tipo envolvente contém um fio curto e espesso enrolado. Na descarga, ele se enrola fortemente em torno dos pêlos da pele. O acidentado, ao coçar ou esfregar a pele já irritada devido a ação da peçonha já inoculada pelo nematocisto penetrante, estoura o reservatório nematocisto envolvente e inocula involuntariamente ainda mais peçonha. O sistema de descargas dos nematocistos é ativado por estímulos químicos e físicos. Por isso, mesmo após a morte do animal, os nematocistos podem ser ativados. 3 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484 4 . Figura 4. Tamoia haplonema. Figura 5. Chiropsalmus quadrumanus SINAIS E SINTOMAS DE ENVENENAMENTO Os sinais e sintomas de envenenamento por cnidários estão relacionados à ação tóxica imediata da peçonha e a reação alérgica individual. A gravidade os sinais e sintomas dependem de fatores relativos ao animal – espécie envolvida e composição química da peçonha, quantidade de peçonha inoculada, quantidade de nematocistos aptos para inoculação, tempo de contato dos tentáculos com a pele – e fatores relativos ao homem – espessura da pele no local de contato, extensão do corpo atingida, peso e idade. Nos pontos de contato com o animal aparece dor imediata e intensa, seguida de erupção pápulo-eritematosa e urticariforme. Pode-se observar na pele lesada “linhas entrecruzadas”, representando as áreas de contato com os tentáculos do animal. Pode 4 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484 5 também haver horripilação local. Em poucas horas, a lesão inicial pode evoluir com a formação e vesículas, bolhas, e em alguns casos, necrose local. A dor é persistente e intensa. Fenômenos sistêmicos podem ocorrer, como náuseas, vômitos, cefaléia, câimbras, dor abdominal, sialorréia, edema de glote, insuficiência respiratória e arritmias cardíacas. As manifestações sistêmicas graves estão mais associadas a acidentes com Physalia physalis (caravelas) e as cubomedusas (Chriropsalmus quadrumanus). São consideradas reações alérgicas a persistência das lesões após 48 horas, o surgimento de novas lesões à distância, angioedema e dermatite de contato. TRATAMENTO • Na beira mar pode-se proceder a lavagem do local atingido com água do mar na tentativa de remoção dos tentáculos ainda aderidos à pele. A utilização de água doce agrava o caso, uma vez que os nematocistos ainda aderidos são descarregados por estímulo químico (osmose). • Evitar a remoção de tentáculos aderidos à pele com técnicas abrasivas (esfregação de panos, toalhas, areia); isso aciona mecanicamente os nematocistos e agrava a dor; • A utilização de ácido acético a 5% (vinagre comum) tem se mostrada benéfica no alívio da dor; • Tentáculos ainda aderidos a pele podem ser removidos manualmente, com auxílio de pinças (utilizar luvas de procedimento); pode-se ainda tricotomizar a área afetada, de maneira suave, para remoção de fragmentos menores. • Na maioria dos acidentes o manejo da dor pode ser feito com analgésicos parenterais. • Eventualmente pode-se utilizar corticosteróides tópicos para o alívio das manifestações locais. 5 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484 6 • Caso haja infecção secundária de pele, utilizar antibióticos tópicos ou sistêmicos. • Atentar para as manifestações sistêmicas, para as quais é necessário atendimento de urgência para controle do choque, insuficiência respiratória ou arritmias cardíacas. PREVENÇÃO • A melhor forma de prevenir acidentes é evitar entrar no mar caso haja aglomeração destes animais na água. • As caravelas, por sua coloração peculiar, são avistadas facilmente; lembrar que seus tentáculos podem atingir vários metros de comprimento, evitando aproximar-se. • As águas-vivas, de coloração quase transparente, são mais difíceis de ser visualizadas na água; • Evitar tocar em águas vivas ou caravelas aparentemente mortas, encalhadas na areia; os tentáculos ainda põem grudar na pele e descarregar os nematocistos, visto que os mesmos podem ser ativados apenas por estímulos mecânicos; • Ao tentar retirar tentáculos ainda aderidos à pele, utilizar sempre luvas e pinças; isso evita que o socorrista ou o profissional de saúde também se transforme em uma vítima. ORIENTAÇÕES PARA A VIGILÂNCIA EM SAÚDE • A vigilância da ocorrência de surtos de dermatite por contato com águas-vivas se enquadra no Programa de Vigilância de Acidentes com Animais Peçonhentos, e de acordo com a Portaria GM-MS 104/2011, devem ser compulsoriamente notificados. • A ocorrência deve ser notificada no SINAN na FICHA DE INVESTIGAÇÃO DE SURTO, com o CID T63.6 – CONTATO COM OUTROS MARINHOS. 6 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484 ANIMAIS 7 • Deverá ser preenchida a PLANILHA PARA ACOMPANHAMENTO DE SURTO/SINAN, anexo da Notificação de Surto, para cada notificação registrada. • Casos isolados notifica-se na Ficha de Acidente por Animais Peçonhentos. Campo 45= 6 Outros (Agua Viva, Caravela, etc...) identificando o animal que causou o acidente. Obs.: Colocar sempre no singular, sem acentos e procurar escrever “sempre” da mesma forma. • Neste verão de 2011-2012 haverá a colaboração o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná no registro qualitativo dos acidentes atendidos pelos guardavidas à beira mar, no instrumento PLANILHA REGISTRO ACIDENTES ÁGUASVIVAS_SESA x PMPR; a cada atendimento realizado, o guarda-vida registrará as iniciais do caso, sexo e idade do paciente, parte do corpo atingida, uso ou não de ácido acético, melhora ou não dos sintomas e remoção do paciente a serviço de saúde. Esses registros deverão ser recolhidos semanalmente nas Unidades do Corpo de Bombeiros (toda segunda-feira) pelas Vigilâncias em Saúde dos Municípios (Matinhos, Guaratuba, Pontal do Paraná, Paranaguá, Antonina, Guaraqueçaba), para serem notificados no SINAN na FICHA DE INVESTIGAÇÃO DE SURTO, com o CID T63.6 – CONTATO COM OUTROS ANIMAIS MARINHOS. Dessa forma se garantirá a notificação daqueles casos atendidos na areia e que não procuram os serviços de saúde. • Na ocorrência de casos e/ou evidenciando-se a presença de aglomerados de animais nas praias, as Vigilâncias em Saúde dos Municípios deverão providenciar a coleta segura dos animais, registrar no SINAP - Sistema de Notificação de Animais Peçonhentos e enviar para a 1a Regional de Saúde, que encaminhará o mesmo para identificação na DVVZI. 7 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484 8 DÚVIDAS: CENTRO DE CONTROLE DE ENVENENAMENTOS – 0800 410148 [email protected] - caso exista a possibilidade enviar fotos de lesões e/ou animais causadores de acidente. REFERÊNCIAS Cardoso, J.L.C. et al. Animais Peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2010. Haddad Jr. V. et al. Animais Aquáticos de Importância Médica no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 36(5):591-597, set-out, 2003. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª Edição. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001. Szpilman, M. Seres Marinhos Perigosos. Rio de Janeiro: Instituto Ecológico Aqualung. 2001. Curitiba, 21 de dezembro de 2011. Equipe Técnica: Emanuel Marques da Silva - Biólogo; Edla Marília Rigoni – Técnica de Enfermagem; Lenora Catarina Rodrigo – Médica Gisélia G. Burigo Rúbio - Bióloga Gisélia G. Burigo Rúbio - Bióloga Chefe da Divisão de Vigilância de Zoonoses e Intoxicações Ivana Belmonte Chefe do Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Sezifredo Paz Chefe da Superintendência de Vigilância em Saúde 8 Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde Rua Piquiri, 170 – Rebouças – 80.230-140 – Curitiba – Paraná – Brasil; Fones/Fax: (41) 3330-4491 Fax : 3330-4484