FICHAMENTO DOS TEXTOS QUE É A METAFÍSICA, O FIM DA FILOSOFIA E A TAREFA DO PENSAMENTO E SOBRE A ESSÊNCIA DA VERDADE 12 01 - QUE É A METAFÍSICA Considerada sob o ponto de vista do são entendimento humano, è a filosofia, nas palavras de Hegel, o ‘mundo às avessas’. (...) Justamente, sob o ponto de vista das ciências, nenhum domínio possui hegemonia sobre o outro, nem a natureza sobre a historia, nem esta sobre aquela. Nenhum modo de tratamento dos objetos supera os outros. Conhecimentos matemáticos não são mais rigorosos que os filológico-históricos. A matemática possui apenas o caráter de ‘exatidão’ e este não coincide com o rigor. (pg. 233) Nós contudo procuramos perguntar pelo nada. Que é o nada? Já a primeira abordagem desta questão mostra algo insólito. No nosso interrogar já supomos antecipadamente o nada como algo que ‘é’ assim e assim – como um ente. Mas, precisamente, é dele que se distingue absolutamente. O perguntar pelo nada – pela sua essência e seu modo de ser – converte o interrogado em seu contrário. A questão priva-se a si mesma de seu objeto específico. (...) A negação é, entretanto, conforme a doutrina dominante e inata da ‘lógica’, um ato específico do entendimento. (pg. 235) Primeiramente e o mais das vezes o homem somente então é capaz de buscar se antecipou a presença do que busca. Agora, porém, aquilo que se busca é o nada. Existe afinal um buscar sem aquela antecipação, um buscar ao qual pertence um puro encontrar? (pg. 236) 1 Trabalho realizado pelo estudante Danilo Gaspar como avaliação periódica da disciplina Metodologia da Pesquisa cursada no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Bahia – UFBA (Mestrado). 2 HEIDEGGER, Martin. Conferências e Escritos Filosóficos. Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores). 1 A angústia não deixa mais surgir uma tal confusão. Muito antes, perpassa-a uma estranha tranqüilidade. Sem dúvida, a angústia é sempre angústia diante de..., mas não angústia diante disto ou daquilo. (pg. 237) Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós angustiávamos era ‘propriamente’ – nada. Efetivamente: o nada mesmo – enquanto tal – estava aí. (pg. 238) O nada não é nem um objeto, nem um ente. O nada não acontece nem para si esmo, nem ao lado do ente ao qual, por assim dizer, aderiria. O nada é a possibilitarão da revelação do ente enquanto tal para o ser-aí humano. O nada não é um conceito oposto ao ente, mas pertence originariamente à essência mesma (do ser). No ser do ente acontece o nadificar do nada. (...) E, contudo, é este constante, ainda que ambíguo desvio do nada, em certos limites, sem mais próprio sentido. Ele, o nada em seu nadificar, nos remete justamente ao ente. O nada nadifica ininterruptamente sem que nos propriamente saibamos algo desta nadificação pelo conhecimento no qual nos movemos cotidianamente. (pg. 239) Com isto está demonstrada, em seus elementos básicos, a tese acima: o nada é a origem da negação e não vice-versa, a negação a origem do nada. (pg. 240) Metafísica é p perguntar do ente para recuperá-lo, enquanto tal e em sua totalidade, para a compreensão. (pg. 241) A aparente sobriedade e superioridade da ciência se transforma em ridículo, se não leva a sério o nada. (pg. 242) A ciência moderna nem serve a um fim que lhe é primeiramente proposto, nem procura uma ‘verdade em si’. Ela é, enquanto um modo de objetivação calculadora do ente, uma condição estabelecida pela própria vontade de vontade, através da qual esta garante o domínio de sua essência. (pg. 245) 2 A verdade do ser pode chamar-se, por isso, o chão no qual a metafísica, como raiz da arvore da filosofia, se apóia e do qual retira seu alimento. (pg. 253) O ente que é, ao modo da existência é o homem. Somente o homem existe. O rochedo é, mas não existe. A árvore é, mas não existe. O anjo é, mas não existe. Deus é, mas não existe. A frase: ‘Somente o homem existe’ de nenhum modo significa apenas que o homem é um ente real, e que todos os entes restantes são irreais e apenas uma aparência ou a representação do homem. A frase: ‘o Homem existe’ significa: o homem é aquele ente cujo ser é assinalado pela in-sistência ex-sistente no desvelamento do ser a partir do ser e no ser. A essência existencial do homem é a razão pela qual o homem representa o ente enquanto tal e pode ter consciência do que é representado. (pg. 257) SOBRE A ESSÊNCIA DA VERDADE O verdadeiro, seja uma coisa verdadeira ou uma proposição verdadeira, é aquilo que está de acordo, que concorda. (pg. 331) A adequação não pode significar aqui um igualar-se material entre coisas desiguais. A essência da adequação se determina antes pela natureza da relação que reina entre a enunciação e a coisa. (pg. 333) Esta tese, entretanto, não significa que para levar a termo uma enunciação, para comunicá-la ou assimilá-la, se deva agir sem constrangimento. A afirmação diz: a liberdade é a própria essência da verdade. (pg. 335) Antes de tudo isto (antes da liberdade ‘negativa’ ou ‘positiva’), a liberdade é o abandono ao desvelamento do ente como tal. (pg. 336) O homem não possui a liberdade como uma propriedade, mas antes, pelo contrário: a liberdade, o ser-aí, ek-sistente e desvelador, possui o homem, e isto tão originariamente que somente ela permite a uma humanidade inaugurar a relação com o ente em sua totalidade e 3 enquanto tal, sobre o qual se funda e esboça toda a história. Somente o homem ek-sistente é historial. A ‘natureza’ não tem história. (pg. 337) O homem se engana nas medidas tanto quanto mais exclusivamente toma a si mesmo, enquanto sujeito, como medida para todos os entes. (pg. 340) A errância em cujo seio o homem se movimenta não é algo semelhante a um abismo ao longo do qual o homem caminha e no qual cai de vez em quando. Pelo contrário, a errância participa da constituição íntima do ser-aí à qual o homem historial está abandonado. (pg. 340/341) Entretanto, o que o bom senso, antecipadamente justificando em seu âmbito próprio, pensa da filosofia, não atinge a essência dela. Esta somente se deixa determinar a partir da relação com a verdade originária do ente enquanto tal e em sua totalidade. (pg. 342) O FIM DA FILOSOFIA E A TAREFA DO PENSAMENTO O elemento distintivo do pensamento metafísico, elemento que erige o fundamento para o ente, reside no fato de, partindo do que se presenta, representar a este em sua presença e assim o apresentar como fundado desde seu fundamento. (pg. 269) Através de toda a História da Filosofia, o pensamento de Platão, ainda que em diferentes figuras, permanece determinante. A metafísica é platonismo. Nietzsche caracterizou sua filosofia como platonismo invertido. Com a inversão da metafísica, que já é realizada por Karl Marx, foi atingida a suprema possibilidade da Filosofia. A Filosofia entrou em seu estágio terminal. Toda tentativa que possa ainda surgir no pensamento filosófico não passará de um renascimento epigonal e de variações deste. (...) O desenvolvimento das ciências é, ao mesmo tempo, sua independência da Filosofia e a inauguração de sua autonomia. (pg. 270) Aquilo que a Filosofia, no transcurso de sua história, tentou em etapas, e mesmo nestas de maneira insuficiente, isto é, expor as ontologias das diversas regiões do ente (natureza, história, direito, arte), as ciências o assumem como tarefa sua. Seu interesse dirige-se para a teoria dos, em cada caso necessários, conceitos estruturais do campo de objetividade aí 4 integrado. (...) O fim da Filosofia revela-se como o triunfo do equipamento controlável de um mundo técnico-científico e da ordem social que lhe corresponde. Fim da Filosofia quer dizer: começo da civilização mundial fundada no pensamento ocidental-europeu. (pg. 271) Uma tarefa do pensamento que, ao que parece, implicaria a afirmação de que a Filosofia não está à altura da questão do pensamento e que, por isso, se tornou uma historia da pura decadência? (pg. 271) (...) qualquer tentativa e preparar um acesso presumível tarefa do pensamento depende de um retorno sobre o todo da História da Filosofia. (...) Já por este motivo permanece o pensamento a que nos referimos necessariamente aquém da grandeza dos filósofos. (pg. 272) E qual é a questão da pesquisa filosófica? É para Husserl como para Hegel, de acordo com a mesma tradição, a subjetividade da consciência. (pg. 273) Mas o que é que permanece impensado, tanto na questão da Filosofia como em seu método? A dialética especulativa é um modo como a questão da Filosofia chega a aparecer de si mesma para si mesma, tornando-se assim presença. (pg. 274) Essas questões, das quais a Filosofia tão estranhamente se abstém, nem mesmo podem ser colocadas por nos, enquanto não tivermos experimetado o que Parmênides deveu experimentar: a Alétheia, o desvelamento. O caminho que conduz até lá separa-se da estrada em que vagueia a opinião dos mortais. A Atlétheia não é nada de mortal, assim como não o é também a própria morte. (pg. 277) A tarefa do pensamento seria então a entrega do pensamento, como foi até agora, à determinação da questão do pensamento. (pg. 279) 5