Universidade Federal da Bahia

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Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação em Direito – Mestrado
Disciplina: Metodologia da Pesquisa
Docente: Prof. Dr. Rodolfo Pamplona Filho e Prof Dr. Nelson Cerqueira
Discente: Tatiane Ribas Pinto
Data: 28/04/2009
HEIDEGGER, Martin. (Trad.) STEIN, Ernildo. Conferências e escritos filosóficos.
São Paulo: Nova Cultural, 2005.
“A elaboração da questão do nada deve colocar-nos na situação na qual se torne
possível a resposta ou em que então se patenteie sua impossibilidade. O nada é
admitido”. (p. 53).
“Pois o nada é a negação da totalidade do ente, o absolutamente não-ente. (p. 54)
Nós afirmamos: o nada é mais originário que o “não” e a negação. (p. 54)
Se esta tese é justa, então a possibilidade da negação, como atividade do
entendimento, e, com isso, o próprio entendimento, dependem, de algum modo,
do nada”. (...) Se o nada deve ser questionado – o nada mesmo -, então deverá
estar primeiramente dado. Devemos poder encontrá-lo. (...) Primeiramente e o
mais das vezes o homem somente então é capaz de buscar se antecipou a
presença do que busca”. (p. 54).
“O nada é a plena negação da totalidade do ente”. (p. 55).
“A totalidade do ente deve ser previamente dada para que possa ser submetida
enquanto tal simplesmente à negação, na qual, então, o próprio nada se deverá
manifestar. (...) E está fora de dúvida que subsiste uma diferença essencial entre o
compreender a totalidade do ente em si e o encontrar-se em meio ao ente em sua
totalidade. Aquilo é fundamentalmente impossível. Isto, no entanto, acontece
constantemente em nossa existência”. (p. 55).
“Na angústia – dizemos nós – “a gente sente-se estranho”. O que suscita tal
estranheza e quem é por ela afetado? Não podemos dizer diante de que a gente
se sente estranho. A gente se sente totalmente assim. Todas as coisas e nós
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mesmos afundamo-nos numa indiferença. Isto, entretanto, não no sentido de um
simples desaparecer, mas em se afastando elas se voltam para nós. Este afastarse do ente em sua totalidade, que nos assedia na angústia, nos oprime”. (p.
56/57).
“A angústia manifesta o nada” (...) Diante de que e por que nós nos
angustiávamos era “propriamente” – nada. Efetivamente: o nada mesmo –
enquanto tal – estava ai (...). Com a determinação da disposição de humor
fundamental da angústia atingimos o acontecer do ser-aí no qual o nada está
manifesto e a partir do qual deve ser questionado. (...) O nada se revela na
angústia – mas não enquanto ente. Tampouco nos é dado como objeto. A
angústia não é uma apreensão do nada”. (p. 57).
“O nadificar do nada não é um episódio casual, mas, como remissão (que rejeita)
ao ente em sua totalidade em fuga, ele revela este ente em sua plena, até então
oculta, estranheza como o absolutamente outro – em face do nada. (...) Ser-ai
quer dizer: estar suspenso dentro do nada. (...) Sem a originária revelação do
nada não há ser-si-mesmo, nem liberdade”. (p. 58).
“O nada não é nem um objeto nem um ente. O nada não acontece nem para si
mesmo nem ao lado do ente ao qual, por assim dizer, aderiria. O nada é a
possibilidade da revelação do ente enquanto tal para o ser-aí humano. O nada não
é um conceito oposto ao ente, mas pertence originalmente à essência mesma (do
ser). No ser do ente acontece o nadificar do nada”. (p. 58/59).
“Tão finitos somos nós que precisamente não somos capazes de nos colocarmos
originariamente
diante
do
nada
por
decisão
e
vontade
próprias.
Tão
insondavelmente a finitização escava as raízes do ser-aí que a mais genuína e
profunda finitude escapa à nossa liberdade. (...) O estar suspenso do ser-aí dentro
do nada originado pela angústia escondida é o ultrapassar do ente em sai
totalidade: a transcendência”. (p. 60).
“Metafísica é o perguntar além do ente para recuperá-lo, enquanto tal e em sua
totalidade, para a compreensão. (p. 61)
Na pergunta pelo nada acontece um tal ir para fora além do ente enquanto ente
em sua totalidade. Com isto prova-se que ela é uma questão “metafísica”. De
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questões deste tipo dávamos, no início, uma dupla característica: cada questão
metafísica compreende, de um lado, sempre vem envolvido ser-aí que interroga”.
(...) O nada não permanece o indeterminado oposto do ente, mas se desvela
como pertencente ao ser do ente. (...) O puro ser e o puro nada são, portanto, o
mesmo. Esta frase de Hegel enuncia algo certo”. (p. 61).
“A aparente sobriedade e superioridade da ciência se transforma em ridículo, se
não leva a sério o nada. Somente porque o nada se revelou, pode a ciência
transformar o próprio ente em objeto de pesquisa”. (...) Somente porque o nada
está manifesto nas raízes do ser-aí pode sobrevir-nos a absoluta estranheza do
ente. Somente quando a estranheza do ente nos acossa, desperta e atrai ele a
admiração. Somente baseado na admiração – quer dizer, fundado na revelação do
nada – surge o “porque”. Somente porque é possível o “porque” enquanto tal,
podemos nós perguntar, de maneira determinada, pelas razões e fundamentar.
Somente porque podemos perguntar e fundamentar foi entregue à nossa
existência o destino do pesquisador”. (p. 62).
“Há muito modo de se falar em “fim da Filosofia”. Antes de Heidegger, sobretudo
Marx e Wittgenstein quiseram abrir duas portas para o fim da Filosofia. Em Max
ela deveria chegar ao fim através da transformação da Filosofia em mundo, de sua
“supressão” na práxis. Em Wittgenstein a Filosofia deveria assumir, de uma vez,
sua única função: realizar a terapia da linguagem. Cumprindo tal trabalho, ela
“desapareceria”. (...) Tanto Marx como Wittgenstein, um buscando a supressão da
Filosofia e outro seu desaparecimento, abriram novos horizontes para o
pensamento cujo fim anunciaram. (...) Para Heidegger o fim da Filosofia é o “fim”
da Filosofia enquanto Metafísica. A Metafísica atingiu suas “possibilidades
supremas” dissolvendo-se no surto crescente das ciências que esvaziam a
problemática filosófica. (...) Heidegger afirma que no fim da Filosofia (como
Metafísica) resta uma “tarefa para o pensamento”. Esta tarefa é a questão do
pensamento. “A última possibilidade” – a dissolução da Filosofia nas ciências
tecnicizadas – acaba revelando uma “primeira possibilidade”. (...) Heidegger,
procurando superar os dois, afirma como nova questão do pensamento a Alétheia.
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Com esta palavra compreende ele o sentido, a verdade, o desenvolvimento, o
velamento, a clareira do ser, resumindo tudo na palavra-síntese: Ereignis”. (p. 91).
“Teremos então, no fim da Filosofia como Metafísica, nem apenas um novo
questionamento do que é pensamento, nem apenas um novo voltar-se do
pensamento sobre si mesmo para se autoquestionar. Resta, em síntese, a
unidade de uma questão que se pensa e de um pensamento que se questiona”.
(p. 93).
“As questões são caminho para sua resposta” (p. 95).
“Que tarefa está ainda reservada para o pensamento no fim da Filosofia? (p. 98)
Menos importante, porém, permanece o pensamento em questão, sobretudo pelo
fato de sua tarefa ter apenas caráter preparatório, e de maneira alguma caráter
fundador. Satisfazer-se com despertar uma disponibilidade do homem para uma
possibilidade cujos contornos permanecem indefinidos, e cujo advento, incerto” (p.
99).
“O princípio de todos os princípios” é assim enunciado:
Toda intuição que originariamente dá (é) uma fonte de direito para o
conhecimento; tudo que se nos oferece originariamente na ‘Intuição’ (por assim
dizer que sua realidade viva) (deve) ser simplesmente recebido com aquilo que se
dá, porém, também somente no interior os limites nos quais se dá....
O princípio de todos os princípios” contém a tese do primado do método. Este
princípio decide qual a única questão que pode satisfazer ao método. “O princípio
de todos os princípios” exige como questão da Filosofia a subjetividade absoluta.
A redução transcendental a esta subjetividade dá e garante a possibilidade e
fundar na subjetividade e através dela a objetividade de toso os objetos (o ser
deste ente) em sua estrutura e consistência, isto é, em sua constituição. Desta
maneira a subjetividade transcendental mostra-se como “o único ente absoluto”.
(p. 101).
“Da mesma maneira que o pensamento dialético-especulativo, também a intuição
originária e sua evidência ficam dependentes da abertura que já impera, a clareira.
O evidente é o imediatamente compreensível”. (p. 103).
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“Aqui é nomeada a Alétheia, o desvelamento. Ela é chamada de perfeitamente
esférica porque girando na pura circularidade do círculo, na qual, em casa ponto,
começo e fim coincidem. Desta rotação fica excluída toda possibilidade de desvio,
de deformação e de ocultação”. (p. 104).
“O que o desvelamento, antes de qualquer outra coisa, garante, é o caminho no
qual o pensamento persegue a este único e para o qual se abre: hopos estin,
...e~inail: o fato de que o presentar se presenta. A clareira garante, antes de tudo,
a possibilidade do caminho em direção da presença e possibilita a ela mesma o
presentar-se. A Alétheia, o desvelamento, devem ser pensados como a clareira
que assegura ser e pensar e seu presentar-se recíproco”. (p. 105).
“A alétheia é, certamente, nomeada no começo da Filosofia, mas não é
propriamente pensada como tal, pela Filosofia nas eras posteriores. Pois desde
Aristóteles a tarefa da Filosofia como metafísica é pensar o ente como tal
ontoteologicamente”. (p. 105).
“Alétheia, desvelamento pensado como clareira da presença, ainda não é a
verdade”. (p. 106).
“Experimentado e pensado é apenas aquilo que Alétheia como clareira garante,
não aquilo que ela como tal é”. (p. 107).
“Talvez exista um pensamento fora a técnica apoiada na ciência, mais sóbrio e por
isso à parte, sem a eficácia e, contudo, constituindo uma deste pensamento, então
será questionado primeiro, não apenas este pensamento, mas também o próprio
perguntar por ele. Perante toda a tradição da filosofia isto significa:
Nós todos precisamos de uma disciplina para o pensamento e antes disso de
saber o que significa uma disciplina ou falta de disciplina no pensamento. (...) A
tarefa, do pensamento seria então a entrega do pensamento, como foi até agora,
à determinação da questão do pensamento”. (p. 108).
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