A IMPORTÂNCIA DA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NA FORMAÇÃO DOS JOVENS 1 Waldir Ventura Professor do Curso de Logística Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP Campus Guarujá [email protected] [email protected] Resumo: O presente trabalho estuda práticas e experiências pedagógicas para auxiliar no aprendizado dos alunos das séries do ensino médio, com o objetivo de fazer com que eles tenham um aprendizado sabendo interpretar textos não só no vernáculo, mas também nas disciplinas que apresentam linguagem própria, tais como a matemática, o direito, a logística entre outras. No primeiro momento o artigo procura elementos que identifiquem a importância de se realizar uma boa leitura e a importância em fazer com que os alunos consigam aprender de forma clara a interpretação de textos para que possa valorizar toda e qualquer disciplina escolar. Fala ainda das demais linguagens porque não é só a língua portuguesa que é importante para se contextualizar e entender as situações do cotidiano. A linguagem matemática, a científica de quaisquer outras áreas, a linguagem do direito, também é abordada. Em segunda abordagem, fala-se da metodologia adotada para atingir o objetivo do artigo, que foram experiências adotadas em sala de aula. Como o artigo versa sobre a importância da interpretação, na terceira parte, analisa o que convencionou-se chamar “matematiquês”, que é a linguagem matemática e que de forma contextualizada, tem sua importância para que os jovens acompanhem corretamente os problemas do cotidiano, se a souberem interpretar. Os benefícios do hábito da leitura e da interpretação também são abordados, para mostrar no parágrafo seguinte que a falta de interpretação de textos, sejam na língua pátria, ou em qualquer linguagem podem não levar à conclusões óbvias. Concluindo, chega-se à ideia de que toda e qualquer atividade que reforce a importância da leitura e interpretação de textos em sala de aula são bem vindos, porque são importantes para o desenvolvimento intelectual dos alunos. Palavras-chave: Interpretação de Texto, Linguagem Técnica, Aprendizado. 1. Introdução Muito se fala em fazer com que nossos estudantes aprendam bem a linguagem culta, para poder ler, interpretar, despertar o raciocínio e expressar, contextualizar o que leu. Ao longo da minha carreira como docente, acho mais bonita a palavra professor porque é sublime, pude observar vários critérios aplicados e experimentei alguns, mas a experiência demonstra que o que se deve utilizar é um critério para cada aluno, ou um critério para cada grupo de alunos que tenham o mesmo preparo, mesmo grau de desenvolvimento, de habilidades, entre outras características semelhantes aos dos colegas, mesmo que com isto tenhamos que criar em sala de aula metodologias diferentes para os menos 1 O presente artigo foi apresentado no SICI 2015 – Simpósio Internacional de Ciências Integradas, realizado na UNAERP – Campus Guarujá, em 2015. 1 interessados ou desenvolvidos, com pouca base teórica ou prática. Tudo que pude vivenciar como aluno é que um bom entendimento da língua portuguesa faz com que consigamos interpretar os mais variados assuntos, seja a própria gramática culta, a diferenciação da linguagem culta da linguagem vulgar. Há alguns anos eu assistia assiduamente o Professor Pasquale Cipro Neto em seu programa diário da TV Cultura “Nossa Língua Portuguesa”. E em uma passagem com meu primogênito que tinha de três para quatro anos de idade, ele, ao passar pedalando um triciclo que tinha falou “nossa una portuguesa” (grafado como eu entendi ao se referir ao programa que eu assistia). Mordendo a língua como quem queria dizer de forma figurada ao invés de gramatical e isto logo me fez entender que se a criança souber o significado da frase, da expressão, ela consegue, não só interagir, contextualizar, mas também dar exemplos que serão entendidos por qualquer pessoa. Ainda na sequência de meus estudos, pude ver o primeiro acordo gramatical se não me falhe a memória em 1971 quando foram retirados os assentos de inúmeras palavras de nossa língua, a qual, no meu ver, fez com que o cidadão perdesse muito com relação ao grau de cultura que poderia atingir. Isto porque para podermos saber se uma palavra era acentuada, com relação ao texto que escrevia, ele tinha que se situar diante ao vocabulário que lhe era oferecido. Por exemplo: sábia, sabiá e sabia às quais precisávamos saber o porquê da acentuação, assim devíamos nos atentar para o que significava cada uma delas. Ao longo de meus ensinamentos dentro da matemática, procuro mostrar aos alunos que ela é como uma música porque se guardarmos o refrão somar, subtrair, dividir e multiplicar. Esta rotina vai, aos poucos, fazer com que cada aluno vá juntando as demais frases que lhe são ensinadas ao longo do tempo. Ao final, ele cantará a canção que podemos chamar de Exatas sem passar pelo tédio, desinteresse, medo e outras situações que o fazem perder o interesse por uma linguagem que também pode ser interpretada de forma semelhante à gramatical e com isto dominar a linguagem culta do “matematiquês21i”. A pergunta que se tenta responder é: O que seria de Malba Tahan se os livros de matemática não pudessem ter seus textos lidos e interpretados? Assim, este projeto visa mostrar que se pode incentivar a leitura não só voltada para a língua portuguesa, mas também para a linguagem matemática. O fato é que se o aluno souber interpretar corretamente a língua portuguesa, certamente ele poderá transferir para a linguagem matemática esta interpretação e com isto, resolver os problemas que ele precisa resolver no cotidiano. Isto se dará com a ideia de remeter os alunos a pesquisarem histórias contadas pela comunidade, pelos seus pais, pelos seus colegas, que podem ser 2 Matematiquês – neologismo criado para referir se à uma linguagem escrita a ser estudada e interpretada no contexto das ciências exatas. 2 contos, fábula ou até mesmo vivenciadas por alguém. Depois, transformar esta história em outra história com as mesmas características escrita por cada um deles. 2. Metodologia do Projeto A proposta seria fazer com que os alunos da primeira série do Ensino Fundamental inicialmente escrevessem estórias ouvidas das mais variadas pessoas. Trocariam estas histórias com os demais colegas e cada um iria escolher aquela que mais se adequasse aos seus interesses intelectuais para, por fim, escreverem seus contos, estórias de forma criativa trocando os lugares, os personagens as atividades de cada um. Os personagens poderiam estar relacionados com seus colegas de classe, de escola, familiares e de bairro. Ao final o material criado seria passado à todos para que pudessem escolher os melhores, dando, nem que seja de forma singela a importância que cada aluno merecer pela atividade criada. Publicação de uma pequena edição contendo estas histórias viria consagrar ainda mais a atividade e os alunos teriam de presente um exemplar daquilo que por eles foi escrito. Esta prática poderia ser utilizada pelo um professor de Português, Língua Portuguesa etc. 3. Utilizando a interpretação de textos no matematiquês. Todos que estudaram e estudam a Matemática sabem que ela também possui uma linguagem própria e ao ser corretamente escrita fará com que se possa chegar à solução de problemas. Que tal falarmos que um elemento “x” pertence ao conjunto dos números reais de forma que venha estar entre o número cinco e o número oito. Ao interpretar literalmente a frase, pode-se deduzir que os números que estão entre o numero cinco e o número oito são os números seis e sete, portanto, pode-se dizer que o elemento x pode ser o seis e o sete. Transferindo para a linguagem matemática, a frase, ou expressão, seria: x ϵ a N / 5< x < 8 A reciproca é verdadeira, se de alguma forma for trabalhado em sala de aula a interpretação correta da linguagem matemática, podemos escrever na mais culta língua portuguesa o que se quer interpretar e resolver. Da mesma forma os alunos, através de exercícios, irão criar as mais variadas sentenças matemáticas e trocar com os colegas para que interpretem, analisem, escrevam e deem suas respostas. Ao final haverá o confronto nos quais as respostas serão comparadas com aquilo que os seus colegas entenderam ao escrever as sentenças que propuseram aos colegas. 3 Toda a rotina acompanhada pelo professor, que irá verificar caso a caso, corrigindo os que propuseram sentenças, ou ainda os que responderam, se o fizeram de forma equivocada. O raciocínio em cima de leitura de sentenças matemáticas fará com que os alunos se concentrem no resultado que esta a procurar, que é a solução do problema. Analogamente, a mesma concentração que um leitor de um assunto qualquer e em especial de gramática ou língua portuguesa precisa para que ele se situe na história, tal como: local, lapso temporal, personagens, atitudes, entre outras porque de forma compenetrada, fará com que desenvolva o hábito de leitura. Outro exemplo: “Quando ia a Bagdá, encontrei com um homem que tinha sete mulheres. Cada mulher tinha sete sacos. Em cada saco tinha sete gatos e cada gato tinha sete gatinhos. Homens, mulheres, gatos, gatinhos, quantos iam à Bagdá?”. A Linguagem utilizada é o português, mas expressa um problema de matemática trabalhado no Caderno do Aluno da Primeira Série do Ensino Médio distribuído pelo Governo do Estado de São Paulo em 2015. Esta interpretação foi realizada em sala de aula em 12 de maio, onde os alunos do primeiro ano do Ensino fundamental puderam discutir apresentar a solução, transcrita abaixo: 1 homem + 7 mulheres + 49 sacos (7 mulheres x 7 sacos que possuía cada mulher) + 343 gatos (porque cada mulher tinha um gato) + 2401 gatinhos (porque cada gato tinha sete gatinhos cada um). Após vários debates puderam entender o texto e verificar que somente seres vivos estavam indo para o local informado, porque fazia parte do problema 49 sacos que eram inanimados, portanto não podiam ser contados como pessoas. Como a pergunta refere se só a: “Homem, mulheres, gatos, gatinhos, quantos iam à Bagdá”, os alunos entenderam que eram só seres vivos, portanto deviam excluir da contagem os sacos. E acertaram, quando deram a resposta: 2752, porque também no texto não diz que “eu” deveria ser incluído na contagem. Conseguiram resolver aritmeticamente e depois montaram uma Progressão Geométrica, onde puderam perceber que também temos matemática ao se interpretar um texto literário. 4. Benefícios do hábito da leitura e o da Interpretação Hoje, fala-se muito em prepararmos nossos jovens para que aprendam a aprender. Esta ideia será o intento de cada um dos docentes que trabalham com os alunos das séries de ensino médio porque a partir do término desta etapa de três ciclos eles se lançam aos cursos superiores e em grande parte à vida profissional. Os que continuarem seus estudos terão meios nas universidades para aprender e até mesmo para serem conduzidos ao autodidatismo (aprender a aprender) porque irão buscar suas respostas através dos resultados de 4 experiências realizadas nos laboratórios. Os professores os conduzirão, certamente, a entenderem a necessidade de colocar em prática tudo o que aprenderam, assim, estarão aprendendo a aprender. Já os que irão se lançar às suas carreiras profissionais, poderão ter sucesso, se ao longo do ensino fundamental adquiram o hábito de ler e interpretar o que leem. Esta prática fará com que cada aluno, na análise literal de cada frase, de cada ideia vá executando os atos que o autor do texto espera que ele pratique. Isto, o levará ao resultado esperado, ou próximo do que se espera, mas na certeza de que pode obtê-lo se refizer os passos na busca pelo resultado correto. Em suma, o aluno estará praticando o autodidatismo e este é um dos maiores legados que o hábito da leitura e da interpretação de textos pode trazer à um indivíduo porque não haverá barreiras instransponíveis para que o aluno aprenda por si mesmo. 5. A falta de interpretação de um texto pode não levar a conclusões óbvias No brilhante poema o Andarilho, Manoel Barros nos faz entender que é muito importante a interpretação de um texto e o conhecimento que se tem sobre ele vejamos: O Andarilho - Manoel de Barros Eu já disse quem sou Ele. Meu desnome é Andaleço. Andando devagar eu atraso o final do dia. Caminho por beira de rios conchosos. Para as crianças da estrada eu sou o Homem do Saco. Carrego latas furadas, pregos, papéis usados. (Ouço arpejo de mim nas latas tortas.) Não tenho pretensões de conquistar a inglória perfeita. Os loucos me interpretam. (grifos meus) A minha direção é a pessoa do vento. Meus rumos não têm termômetro. De tarde arborizo pássaros. De noite os sapos me pulam. Não tenho carne de água. Eu pertenço de andar atoamente. Não tive estudamento de tomos. Só conheço as ciências que analfabetam. Todas as coisas têm ser? Sou um sujeito remoto. Aromas de jacintos me infinitam. E estes ermos me somam. Vejamos a quantidade de neologismos que ele traz para o texto. Se uma pessoa bem preparada o ler terá como identificar, se situar e responder com clareza, o que cada um destes novos termos quer demonstrar. Por exemplo, para ligar a poesia ao tema deste trabalho, invoca-se a frase 5 “Só conheço ciências que analfabetam”, transferindo para um hipotético verbo “analfabetar”. Podemos entender que qualquer ciência com linguagem própria, sem ter quem leia suas proposições, suas notações científicas, para dar continuidade àquilo que ela quer demonstrar poderá induzir à ideia de que os indivíduos com relação àquele tipo de leitura são considerados analfabetos. Deduz-se então, que não é somente os indivíduos que não sabem ler, ou seja, não alfabetizados, mas todo e qualquer cidadão que não tenha conhecimento de uma determinada ciência. Por isso reforça-se a importância que é ler e interpretar um texto, seja ele em português, seja ele matemático, seja ele científico ou qualquer outro texto para que a pessoa não venha ser analfabeta. 6. Conclusão Ao se praticar em sala de aula exercícios voltados ao incentivo da leitura com criatividade e que podem ser trabalhados interdisciplinarmente ou transversalmente certamente incentivará cada aluno procurar por boa leitura ligada aos seus interesses. O resultado será a busca por livros de seus interesses e ainda a procura por textos encontrados em sítios adequados disponíveis na “internet”, isto fará com que os alunos transformem suas curiosidades em sabedoria conduzindoos a uma vida e melhor. Esta prática não será válida apenas para os que tiverem a felicidade de continuar sua formação em curso superior, será também àqueles que irão à procura de cursos técnicos que os preparem para atuar profissionalmente em seus locais de trabalho, aprimorando suas habilidades para se tornarem profissionais exemplares. Ao interpretar textos, matemáticos ou não, quero ser sempre um louco... 7. Referências BARROS, Mônica Garcia; TAMANINI, Juliano. Interpretações da leitura em livros didáticos. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 1858-1870. Encontrada em http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_linguisticos/pfd_linguistico s/076.pdf , visitado em 25 de maio de 2015/ CAGLIARI, Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1996. JÚLIO CÉZAR DE MELLO E SOUZA, MALBA TAHAN, O homem que calculava. Encontrado em: http://www.coordenacaopedagogica.com.br/file.php/1/PAS_2009/Livro__Malba_Tahan_-_O_homem_que_calculava_ilustrado_.pdf , visitado em 25 de maio de 2015/ SILVA, Ezequiel Theodoro da. Elementos de Pedagogia da Leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 6 SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed., 5. reimpressão, Belo Horizonte: Autêntica, 2002. STANISLAU Ponte Preta, Sérgio Porto o... Gol de Padre e outras crônicas, encontrada em http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-delivros/gol-de-padre-e-outras-cronicas.html , visitado em 25 de maio de 2015/ 7