XII SIMPOSIO A Importância da Interpretação de Textos na

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A IMPORTÂNCIA DA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NA
FORMAÇÃO DOS JOVENS 1
Waldir Ventura
Professor do Curso de Logística
Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP Campus Guarujá
[email protected] [email protected]
Resumo: O presente trabalho estuda práticas e experiências pedagógicas para
auxiliar no aprendizado dos alunos das séries do ensino médio, com o objetivo
de fazer com que eles tenham um aprendizado sabendo interpretar textos não
só no vernáculo, mas também nas disciplinas que apresentam linguagem
própria, tais como a matemática, o direito, a logística entre outras. No primeiro
momento o artigo procura elementos que identifiquem a importância de se
realizar uma boa leitura e a importância em fazer com que os alunos consigam
aprender de forma clara a interpretação de textos para que possa valorizar toda
e qualquer disciplina escolar. Fala ainda das demais linguagens porque não é
só a língua portuguesa que é importante para se contextualizar e entender as
situações do cotidiano. A linguagem matemática, a científica de quaisquer
outras áreas, a linguagem do direito, também é abordada. Em segunda
abordagem, fala-se da metodologia adotada para atingir o objetivo do artigo,
que foram experiências adotadas em sala de aula. Como o artigo versa sobre a
importância da interpretação, na terceira parte, analisa o que convencionou-se
chamar “matematiquês”, que é a linguagem matemática e que de forma
contextualizada, tem sua importância para que os jovens acompanhem
corretamente os problemas do cotidiano, se a souberem interpretar. Os
benefícios do hábito da leitura e da interpretação também são abordados, para
mostrar no parágrafo seguinte que a falta de interpretação de textos, sejam na
língua pátria, ou em qualquer linguagem podem não levar à conclusões óbvias.
Concluindo, chega-se à ideia de que toda e qualquer atividade que reforce a
importância da leitura e interpretação de textos em sala de aula são bem
vindos, porque são importantes para o desenvolvimento intelectual dos alunos.
Palavras-chave: Interpretação de Texto, Linguagem Técnica, Aprendizado.
1. Introdução
Muito se fala em fazer com que nossos estudantes aprendam bem a
linguagem culta, para poder ler, interpretar, despertar o raciocínio e expressar,
contextualizar o que leu.
Ao longo da minha carreira como docente, acho mais bonita a palavra
professor porque é sublime, pude observar vários critérios aplicados e
experimentei alguns, mas a experiência demonstra que o que se deve utilizar é
um critério para cada aluno, ou um critério para cada grupo de alunos que
tenham o mesmo preparo, mesmo grau de desenvolvimento, de habilidades,
entre outras características semelhantes aos dos colegas, mesmo que com isto
tenhamos que criar em sala de aula metodologias diferentes para os menos
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O presente artigo foi apresentado no SICI 2015 – Simpósio Internacional de Ciências
Integradas, realizado na UNAERP – Campus Guarujá, em 2015.
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interessados ou desenvolvidos, com pouca base teórica ou prática.
Tudo que pude vivenciar como aluno é que um bom entendimento da
língua portuguesa faz com que consigamos interpretar os mais variados
assuntos, seja a própria gramática culta, a diferenciação da linguagem culta da
linguagem vulgar.
Há alguns anos eu assistia assiduamente o Professor Pasquale Cipro Neto
em seu programa diário da TV Cultura “Nossa Língua Portuguesa”.
E em uma passagem com meu primogênito que tinha de três para quatro
anos de idade, ele, ao passar pedalando um triciclo que tinha falou “nossa una
portuguesa” (grafado como eu entendi ao se referir ao programa que eu
assistia).
Mordendo a língua como quem queria dizer de forma figurada ao invés de
gramatical e isto logo me fez entender que se a criança souber o significado da
frase, da expressão, ela consegue, não só interagir, contextualizar, mas também
dar exemplos que serão entendidos por qualquer pessoa.
Ainda na sequência de meus estudos, pude ver o primeiro acordo
gramatical se não me falhe a memória em 1971 quando foram retirados os
assentos de inúmeras palavras de nossa língua, a qual, no meu ver, fez com
que o cidadão perdesse muito com relação ao grau de cultura que poderia
atingir. Isto porque para podermos saber se uma palavra era acentuada, com
relação ao texto que escrevia, ele tinha que se situar diante ao vocabulário que
lhe era oferecido. Por exemplo: sábia, sabiá e sabia às quais precisávamos
saber o porquê da acentuação, assim devíamos nos atentar para o que
significava cada uma delas.
Ao longo de meus ensinamentos dentro da matemática, procuro mostrar
aos alunos que ela é como uma música porque se guardarmos o refrão somar,
subtrair, dividir e multiplicar.
Esta rotina vai, aos poucos, fazer com que cada aluno vá juntando as
demais frases que lhe são ensinadas ao longo do tempo. Ao final, ele cantará a
canção que podemos chamar de Exatas sem passar pelo tédio, desinteresse,
medo e outras situações que o fazem perder o interesse por uma linguagem
que também pode ser interpretada de forma semelhante à gramatical e com isto
dominar a linguagem culta do “matematiquês21i”.
A pergunta que se tenta responder é: O que seria de Malba Tahan se os
livros de matemática não pudessem ter seus textos lidos e interpretados?
Assim, este projeto visa mostrar que se pode incentivar a leitura não só
voltada para a língua portuguesa, mas também para a linguagem matemática. O
fato é que se o aluno souber interpretar corretamente a língua portuguesa,
certamente ele poderá transferir para a linguagem matemática esta
interpretação e com isto, resolver os problemas que ele precisa resolver no
cotidiano.
Isto se dará com a ideia de remeter os alunos a pesquisarem histórias
contadas pela comunidade, pelos seus pais, pelos seus colegas, que podem ser
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Matematiquês – neologismo criado para referir se à uma linguagem escrita a ser estudada e
interpretada no contexto das ciências exatas.
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contos, fábula ou até mesmo vivenciadas por alguém. Depois, transformar esta
história em outra história com as mesmas características escrita por cada um
deles.
2. Metodologia do Projeto
A proposta seria fazer com que os alunos da primeira série do Ensino
Fundamental inicialmente escrevessem estórias ouvidas das mais variadas
pessoas.
Trocariam estas histórias com os demais colegas e cada um iria escolher
aquela que mais se adequasse aos seus interesses intelectuais para, por fim,
escreverem seus contos, estórias de forma criativa trocando os lugares, os
personagens as atividades de cada um.
Os personagens poderiam estar relacionados com seus colegas de classe,
de escola, familiares e de bairro.
Ao final o material criado seria passado à todos para que pudessem
escolher os melhores, dando, nem que seja de forma singela a importância que
cada aluno merecer pela atividade criada.
Publicação de uma pequena edição contendo estas histórias viria
consagrar ainda mais a atividade e os alunos teriam de presente um exemplar
daquilo que por eles foi escrito.
Esta prática poderia ser utilizada pelo um professor de Português, Língua
Portuguesa etc.
3. Utilizando a interpretação de textos no matematiquês.
Todos que estudaram e estudam a Matemática sabem que ela também
possui uma linguagem própria e ao ser corretamente escrita fará com que se
possa chegar à solução de problemas.
Que tal falarmos que um elemento “x” pertence ao conjunto dos números
reais de forma que venha estar entre o número cinco e o número oito. Ao
interpretar literalmente a frase, pode-se deduzir que os números que estão entre
o numero cinco e o número oito são os números seis e sete, portanto, pode-se
dizer que o elemento x pode ser o seis e o sete.
Transferindo para a linguagem matemática, a frase, ou expressão, seria:
x ϵ a N / 5< x < 8
A reciproca é verdadeira, se de alguma forma for trabalhado em sala de
aula a interpretação correta da linguagem matemática, podemos escrever na
mais culta língua portuguesa o que se quer interpretar e resolver.
Da mesma forma os alunos, através de exercícios, irão criar as mais
variadas sentenças matemáticas e trocar com os colegas para que interpretem,
analisem, escrevam e deem suas respostas.
Ao final haverá o confronto nos quais as respostas serão comparadas com
aquilo que os seus colegas entenderam ao escrever as sentenças que
propuseram aos colegas.
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Toda a rotina acompanhada pelo professor, que irá verificar caso a caso,
corrigindo os que propuseram sentenças, ou ainda os que responderam, se o
fizeram de forma equivocada.
O raciocínio em cima de leitura de sentenças matemáticas fará com que os
alunos se concentrem no resultado que esta a procurar, que é a solução do
problema.
Analogamente, a mesma concentração que um leitor de um assunto
qualquer e em especial de gramática ou língua portuguesa precisa para que ele
se situe na história, tal como: local, lapso temporal, personagens, atitudes, entre
outras porque de forma compenetrada, fará com que desenvolva o hábito de
leitura.
Outro exemplo: “Quando ia a Bagdá, encontrei com um homem que tinha
sete mulheres. Cada mulher tinha sete sacos. Em cada saco tinha sete gatos e
cada gato tinha sete gatinhos. Homens, mulheres, gatos, gatinhos, quantos iam
à Bagdá?”.
A Linguagem utilizada é o português, mas expressa um problema de
matemática trabalhado no Caderno do Aluno da Primeira Série do Ensino Médio
distribuído pelo Governo do Estado de São Paulo em 2015.
Esta interpretação foi realizada em sala de aula em 12 de maio, onde os
alunos do primeiro ano do Ensino fundamental puderam discutir apresentar a
solução, transcrita abaixo:
1 homem + 7 mulheres + 49 sacos (7 mulheres x 7 sacos que possuía
cada mulher) + 343 gatos (porque cada mulher tinha um gato) + 2401 gatinhos
(porque cada gato tinha sete gatinhos cada um).
Após vários debates puderam entender o texto e verificar que somente
seres vivos estavam indo para o local informado, porque fazia parte do problema
49 sacos que eram inanimados, portanto não podiam ser contados como
pessoas.
Como a pergunta refere se só a: “Homem, mulheres, gatos, gatinhos,
quantos iam à Bagdá”, os alunos entenderam que eram só seres vivos, portanto
deviam excluir da contagem os sacos. E acertaram, quando deram a resposta:
2752, porque também no texto não diz que “eu” deveria ser incluído na
contagem.
Conseguiram resolver aritmeticamente e depois montaram uma
Progressão Geométrica, onde puderam perceber que também temos
matemática ao se interpretar um texto literário.
4. Benefícios do hábito da leitura e o da Interpretação
Hoje, fala-se muito em prepararmos nossos jovens para que aprendam a
aprender. Esta ideia será o intento de cada um dos docentes que trabalham com
os alunos das séries de ensino médio porque a partir do término desta etapa de
três ciclos eles se lançam aos cursos superiores e em grande parte à vida
profissional.
Os que continuarem seus estudos terão meios nas universidades para
aprender e até mesmo para serem conduzidos ao autodidatismo (aprender a
aprender) porque irão buscar suas respostas através dos resultados de
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experiências realizadas nos laboratórios. Os professores os conduzirão,
certamente, a entenderem a necessidade de colocar em prática tudo o que
aprenderam, assim, estarão aprendendo a aprender.
Já os que irão se lançar às suas carreiras profissionais, poderão ter
sucesso, se ao longo do ensino fundamental adquiram o hábito de ler e
interpretar o que leem. Esta prática fará com que cada aluno, na análise literal
de cada frase, de cada ideia vá executando os atos que o autor do texto espera
que ele pratique. Isto, o levará ao resultado esperado, ou próximo do que se
espera, mas na certeza de que pode obtê-lo se refizer os passos na busca pelo
resultado correto.
Em suma, o aluno estará praticando o autodidatismo e este é um dos
maiores legados que o hábito da leitura e da interpretação de textos pode trazer
à um indivíduo porque não haverá barreiras instransponíveis para que o aluno
aprenda por si mesmo.
5. A falta de interpretação de um texto pode não levar a conclusões óbvias
No brilhante poema o Andarilho, Manoel Barros nos faz entender que é
muito importante a interpretação de um texto e o conhecimento que se tem
sobre ele vejamos:
O Andarilho - Manoel de Barros
Eu já disse quem sou Ele.
Meu desnome é Andaleço.
Andando devagar eu atraso o final do dia.
Caminho por beira de rios conchosos.
Para as crianças da estrada eu sou o Homem do Saco.
Carrego latas furadas, pregos, papéis usados.
(Ouço arpejo de mim nas latas tortas.)
Não tenho pretensões de conquistar a inglória perfeita.
Os loucos me interpretam. (grifos meus)
A minha direção é a pessoa do vento.
Meus rumos não têm termômetro.
De tarde arborizo pássaros.
De noite os sapos me pulam.
Não tenho carne de água.
Eu pertenço de andar atoamente.
Não tive estudamento de tomos.
Só conheço as ciências que analfabetam.
Todas as coisas têm ser?
Sou um sujeito remoto.
Aromas de jacintos me infinitam.
E estes ermos me somam.
Vejamos a quantidade de neologismos que ele traz para o texto. Se uma
pessoa bem preparada o ler terá como identificar, se situar e responder com
clareza, o que cada um destes novos termos quer demonstrar.
Por exemplo, para ligar a poesia ao tema deste trabalho, invoca-se a frase
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“Só conheço ciências que analfabetam”, transferindo para um hipotético verbo
“analfabetar”.
Podemos entender que qualquer ciência com linguagem própria, sem ter
quem leia suas proposições, suas notações científicas, para dar continuidade
àquilo que ela quer demonstrar poderá induzir à ideia de que os indivíduos com
relação àquele tipo de leitura são considerados analfabetos.
Deduz-se então, que não é somente os indivíduos que não sabem ler, ou
seja, não alfabetizados, mas todo e qualquer cidadão que não tenha
conhecimento de uma determinada ciência.
Por isso reforça-se a importância que é ler e interpretar um texto, seja ele
em português, seja ele matemático, seja ele científico ou qualquer outro texto
para que a pessoa não venha ser analfabeta.
6. Conclusão
Ao se praticar em sala de aula exercícios voltados ao incentivo da leitura
com criatividade e que podem ser trabalhados interdisciplinarmente ou
transversalmente certamente incentivará cada aluno procurar por boa leitura
ligada aos seus interesses.
O resultado será a busca por livros de seus interesses e ainda a procura
por textos encontrados em sítios adequados disponíveis na “internet”, isto fará
com que os alunos transformem suas curiosidades em sabedoria conduzindoos a uma vida e melhor.
Esta prática não será válida apenas para os que tiverem a felicidade de
continuar sua formação em curso superior, será também àqueles que irão à
procura de cursos técnicos que os preparem para atuar profissionalmente em
seus locais de trabalho, aprimorando suas habilidades para se tornarem
profissionais exemplares.
Ao interpretar textos, matemáticos ou não, quero ser sempre um louco...
7. Referências
BARROS, Mônica Garcia; TAMANINI, Juliano. Interpretações da leitura em
livros didáticos. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E
LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 1858-1870.
Encontrada em
http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_linguisticos/pfd_linguistico
s/076.pdf , visitado em 25 de maio de 2015/
CAGLIARI, Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione,
1996.
JÚLIO CÉZAR DE MELLO E SOUZA, MALBA TAHAN, O homem que
calculava. Encontrado em:
http://www.coordenacaopedagogica.com.br/file.php/1/PAS_2009/Livro__Malba_Tahan_-_O_homem_que_calculava_ilustrado_.pdf , visitado em 25
de maio de 2015/
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Elementos de Pedagogia da Leitura. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
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SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed., 5.
reimpressão, Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
STANISLAU Ponte Preta, Sérgio Porto o... Gol de Padre e outras crônicas,
encontrada em http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-delivros/gol-de-padre-e-outras-cronicas.html , visitado em 25 de maio de 2015/
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