XII CURSO DE INVERNO DE GENÉTICA – FCAV/UNESP ANÁLISE MITOCONDRIAL DE DIFERENTES CITÓTIPOS DO LAMBARI-DO-RABO-VERMELHO NO RIO MOGI GUAÇU. MITOCHONDRIAL ANALYSIS OF DIFFERENT CYTOTYPES OF THE RED-TAILED PIABA IN MOGI-GUAÇU RIVER Snaydia Viegas Resende(1) Renan Rodrigues Rocha(2) Rosana de Mesquita Alves(2) Karine Frehner Kavalco(3) Rubens Pazza(3) Resumo O Lambari-do-rabo-vermelho (Astyanax fasciatus) é um peixe de pequeno porte amplamente distribuído do México à Argentina. Como outros exemplares do gênero Astyanax, estudos citogenéticos que evidenciaram a existência de mais de um citótipo na espécie, sugerem que seus espécimes podem representar mais de uma unidade taxonômica evolutiva. A fim de testar essa hipótese em Astyanax aff. fasciatus coletados no rio Mogi Guaçu, onde são encontrados dois citótipos padrão e alguns variantes, foram amplificados fragmentos dos genes mitocondriais da citocromo oxidase 1 e citocromo b. As análises de Máxima Verossimilhança realizadas com as sequencias da COI e CYT b, não estruturaram os citótipos padrão 2n = 46 e 2n= 48 mas evidenciaram elevado fluxo gênico entre os mesmos. Os eventos de diversificação recente na espécie podem explicar a falta de estruturação. Palavras-chave: Neotropical. Peixes. Taxonomia. Abstract The red-tailed piaba (species Astyanax fasciatus) is a small fish widely distributed from Mexico to Argentina. As has also been shown with other species of the genus Astyanax, previous cytogenetic studies of A. Fasciatus revealed the existence of more than one cytotype, thus suggesting that the specimens represented an evolutionary taxonomic unit. We sought to test this hypothesis in Astyanax aff. fasciatus collected from the Mogi Guaçu river, and found two standard cytotypes as well as some variants with amplified fragments of the mitochondrial genes of cytochrome oxidase 1 (CO1) and cytochrome b. The Maximum Likelihood analysis performed with the sequences of the CO1 did not set the standard cytotypes 2n = 46 and 2n = 48 but showed high gene flow between them, as did the analysis of the cytochrome b gene. The recent diversification events in the species may explain the lack of structure. Keywords: Fishes. Neotropical. Taxonomy. _____________________________________________________________________ 1 Bióloga pela UFV/Rio Paranaíba, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Manejo e Conservação de Ecossistemas Naturais e Agrários na UFV/Florestal; 2 Bacharéis em Ciências Biológicas pela UFV/RP; 3 Professores Doutores orientadores do Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva UFV/RP. Ciência & Tecnologia: Fatec-JB, Jaboticabal, v. 8, n.1, 2016. Número especial 2. XII CURSO DE INVERNO DE GENÉTICA – FCAV/UNESP 1. Introdução Lambari-de-rabo-vermelho é o nome pelo qual a espécie Astyanax fasciatus é conhecida popularmente. As espécies do gênero Astyanax apresentam grande similaridade morfológica (Da Silva et al., 2012) que não se reflete, por exemplo, em aspectos citogenéticos. Em muitas espécies de A. fasciatus, é verificada a ocorrência de citótipos variantes, com números diploides diferentes e fórmulas cariotípicas variáveis (Penteado, 2013). Para Astyanax fasciatus, na região do rio Mogi-Guaçu, são encontrados, simpátrica e sintópicamente, os citótipos 2n=46 e 2n= 48 e formas variantes numéricas e estruturais, 2n=47 e 2n= 45 (Pazza et al, 2007). O citótipo 2n = 48 foi predominantemente encontrado na localidade de Ouro Fino-SP, na cabeceira do rio. Em Barrinha-SP, a jusante do rio, além do primeiro citótipo citado, foi encontrado em grande quantidade indivíduos 2n = 46. Os citótipos variantes 2n= 45 e 2n = 47, além daqueles padrões, foram encontrados apenas na região de Cachoeira das Emas, trecho médio do rio, onde se encontra uma barragem (Pazza et al., 2006). O sequenciamento de genes mitocondriais tem sido amplamente utilizado para solucionar problemas taxonômicos e filogenéticos, e tem sido pioneiramente aplicado em complexos de espécies. O objetivo do presente trabalho é esclarecer se os indivíduos de Astyanax fasciatus do rio Mogi-Guaçu caracterizam de uma unidade taxonômica evolutiva utilizando como marcadores moleculares as sequencias dos genes mitocondriais. 2. Material e Métodos O DNA total para as análises foi extraído de diferentes citótipos de Astyanax aff. fasciatus de três localidades ao longo do rio Mogi-Guaçu, tombados no Banco de Tecidos do Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva (LaGEEvo), da Universidade Federal de Viçosa, campus Rio Paranaíba. Os primers utilizados para amplificação do gene mitocondrial da citocromo oxidase I foram Fish R1 e Fish F1 (Ward, 2005). Para amplificar o gene da citocromo b (Cyt B), foram utilizados os primers H16460 e GluDG.L - 5’ (Perdices, 2002). Após consulta do GenBank (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), as sequencias foram alinhadas com o algoritmo Clustal W (Thompson et al., 1994). No software MEGA v6.06 Ciência & Tecnologia: Fatec-JB, Jaboticabal, v. 8, n.1, 2016. Número especial 2. XII CURSO DE INVERNO DE GENÉTICA – FCAV/UNESP (Tamura et al, 2013) foi realizada análise estatística de Máxima Verossimilhança, utilizando o modelo evolutivo de Jukes-Cantor para ambos os genes. 3. Resultados e Discussão A análise de sequencias desse gene da citocromo oxidase I (Figura 1) não foi capaz de estruturar os indivíduos de Astyanax aff. fasciatus dos citótipos padrão 2n = 46 e 2n = 48 do rio Mogi-Guaçu. Os eventos de diversificação que deram origem aos citótipos padrão podem ser muito recentes. Moritz & Cicero (2004), chamaram a atenção para o fato de que a análise de sequências poderia não ser eficaz para grupos de diversificação muito recente, com frequente hibridação (possivelmente crípticos) e com alta taxa de transferência de genes mitocondriais. FIGURA 1 - Dendrograma de Máxima Verossimilhança gerado a partir de sequências do gene da citocromo oxidase I, com algoritmo Jukes-Cantor. O dendrograma gerado a partir das sequencias do gene da citocromo b (Figura 2) apresentou diferenças nos agrupamentos entre os indivíduos, apresentando maior estruturação entre os citótipos padrão 2n = 46 e 2n = 48, principalmente da localidade de Cachoeira de Emas. O fluxo gênico elevado entre Astyanax aff. fasciatus do rio Mogi Guaçu, sinalizado pela rara estruturação mitocondrial, também foi evidenciado por outros marcadores moleculares em estudo de Pazza e colaboradores (2007). Os marcadores ISSR corroboraram os resultados do presente trabalho, uma vez que indicaram que os dois citótipos padrão podem representar formas divergentes de Astyanax aff. fasciatus, mas que ainda mantém razoável Ciência & Tecnologia: Fatec-JB, Jaboticabal, v. 8, n.1, 2016. Número especial 2. XII CURSO DE INVERNO DE GENÉTICA – FCAV/UNESP identidade genética. O marcador RAPD, que teve o Nm calculado de 5,7826, evidencia que ainda existe alto grau de miscigenação entre eles. FIGURA 2 - Dendrograma de Máxima Verossimilhança gerado a partir de sequências do gene da citocromo b, com algoritmo Jukes Cantor. 5. Conclusão As técnicas baseadas em DNA mitocondrial não foram capazes de estruturar os citótipos padrão 2n = 46 e 2n = 48 de Astyanax aff. fasciatus como unidades taxonômicas e evolutivas diferentes, porém sinalizaram para o elevado fluxo gênico existente entre os mesmos. Referências DA SILVA, S.A.; PENTEADO, P.R.; PAZZA, R.; KAVALCO, K.F. 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Ciência & Tecnologia: Fatec-JB, Jaboticabal, v. 8, n.1, 2016. Número especial 2.