A Formação de Surdos e as Tecnologias de Informação e

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I SEMINÁRIO POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES AFIRMATIVAS
Universidade Federal de Santa Maria
Observatório de Ações Afirmativas
20 a 21 de outubro de 2015
A Formação de Surdos e as Tecnologias de Informação e
Comunicação: Discutindo Potencialidades
Adriane Melara1 - UFSM
Maria Rampelotto2 - UFSM
Priscila Silva Linassi3 - UFSM
Resumo
Objetiva-se no presente trabalho refletir sobre as potencialidades das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) em relação aos processos educativos dos surdos. Ponderando as inúmeras
possibilidades que as tecnologias proporcionam em termos de conhecimentos e nas relações
cotidianas desses sujeitos. Acredita-se que as tecnologias, principalmente as que estão presentes
nos ambientes virtuais de ensino, quando utilizadas como ferramentas pedagógicas, sejam aliadas no
processo de formação e auto formação dos surdos, possibilitando maiores condições de
aprendizagem e facilidade no acesso as informações. A partir deste trabalho percebe-se que as TICs
são muito significativas para os surdos, visto que possibilitam o aumento do intercambio educacional
e trocas entre cultura surda e cultura ouvinte, proporcionando uma atmosfera coletiva, acessível a
todos. Disponibilizando dessa forma, ferramentas que oportunizam, além de acesso ao
conhecimento, também uma melhor comunicação entre os surdos com seus pares e com o mundo
que os cerca. Sendo as redes digitais grandes potencializadoras desse processo, pois nelas
encontra-se um ambiente repleto de recursos visuais, que para o sujeito surdo, são extremamente
importantes, pois é por meio da experiência visual que os surdos alcançam seu desenvolvimento
pleno manifestando todos os tipos de significações e manifestações. Dentro dessa perspectiva, a
utilização das tecnologias digitais como ferramenta de intervenção, no sistema educacional pode ser
vista como um artefato para os surdos, uma vez que, pretende facilitar os processos de comunicação
escrita e visual, além de promover maior interação com a sociedade e entre os indivíduos envolvidos
neste processo.
Introdução
O uso das tecnologias digitais, no processo educativo pode ser compreendido
como uma novidade no campo do conhecimento, proporcionando novas formas de
interação, socialização e aprendizagem. Ampliando o intercâmbio educacional e
cultural, possibilitando assim, a quebra de barreiras e preconceitos, promovendo a
autonomia à medida que respeita o ritmo de cada educando, caracterizando a
1
Educadora Especial, Especialista em Educação Ambiental, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
[email protected]
2
Doutora em Educação, Professora do Departamento de Educação Especial da Universidade Federal de Santa
Maria. E-mail: [email protected]
3
Educadora Especial, Mestre em Patrimônio Cultural, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
[email protected]
ISSN
educação enquanto processo coletivo acessível a todos, configurando assim, um
ambiente de coparticipação, estimulador do conhecimento, e significações culturais.
Dentro dessa perspectiva, a utilização das tecnologias digitais como
ferramenta de intervenção, no sistema educacional pode ser vista como um artefato
para os surdos, uma vez que, pretende facilitar os processos de comunicação
escrita e visual, além de promover maior interação com a sociedade e entre os
indivíduos envolvidos neste processo.
Baseando-se nessas discussões contemporâneas, o presente trabalho visa
refletir sobre as potencialidades das TICs em relação à educação dos surdos. Sob
esse viés objetiva-se verificar qual a influência que essas possuem em relação à
aquisição de conhecimento, bem como no contexto da formação dos mesmos.
Caminhos da internet e suas potencialidades para a educação dos surdos
A internet surgiu, junto com outras TICs, e foi se consolidando como um
instrumento indispensável na vida da maioria dos indivíduos. Para Chermann e
Bonini (2000, p.42) a internet “caracteriza-se como um sistema aberto e por isso ela
deve permitir um sem-número de possibilidades de informação”.
A internet também pode ser considerada um artefato altamente importante
para a sociedade neste novo século, pois possibilita uma interatividade e
conectividade em tempo real, rompendo com as distâncias territoriais e materiais.
Sendo utilizada para compartilhar informações e conhecimentos de forma rápida e
dinâmica, devido a diversidades de ferramentas que a mesma possui. Segundo Lévy
(1999, p. 32), “as tecnologias digitais, surgiram como a infraestrutura do
ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de
transação, mas também novo mercado de informação e de conhecimento”.
Com base nessas colocações Cairncross ressalta que:
Uma das maiores revoluções que a Internet possibilitou foi o acesso a
informações. Ao reduzir o custo desta atividade, a Internet reúne materiais
dispersos e permite adquirir material que antes era muito caro de se obter.
Ela também é claro, permite a divulgação de telas repletas de asneiras sem
valor. Mas, acima de tudo, a Internet possibilita aos usuários se
transformarem em suas próprias bibliotecas, capazes de pesquisar, estudar
e investigar qualquer coisa com apenas um mouse e um teclado
(CAIRNCROSS 2000, p.133).
Com os diversos desdobramentos oriundos da internet, torna-se mais
acessível à ampliação (no espaço e no tempo) da inteligência coletiva, permitindo a
conectividade dos indivíduos em qualquer parte do mundo. Nesta perspectiva,
enfatiza-se também, a ideia de educação coletiva que pressupõe a incorporação
pelas instituições dos diversos progressos técnicos (na eletrônica, na informática, na
criação de redes), bem como uma inter-relação com diferentes áreas de
conhecimento, que vem gerando novas maneiras de aprender e intervir com a
sociedade. O uso das redes digitais como uma nova maneira de interação no
processo de educativos, quando empregados de maneira correta, ou seja, quando
acontece reflexão sobre seu uso intencional e funcional, amplia a aproximação entre
professor, aluno e tecnologias, removendo o isolamento da sala de aula tradicional,
proporcionando uma aprendizagem mais ativa, bem como a intensificação de
significativas trocas dialógicas.
Sob esse enfoque Belloni relata:
As NTICs oferecem possibilidades inéditas de interação midiatizada
(professor/aluno; estudante/estudante) e de interatividade com materiais de
boa qualidade e de grande variedade. As técnicas de interação mediatizada
criadas pelas redes telemáticas (e-mail, listas de grupos de discussão,
webs, sites etc), apresentam grandes vantagens pois permitem combinar a
flexibilidade da interação humana(...) com a independência no tempo e no
espaço (BELLONI 1999, p.59).
Segundo, Litwin (1997), quando a internet é utilizada com senso crítico
adequado, ela constitui-se em uma aliada fundamental, na construção de estratégias
de ensino que possibilitem a formação e ampliação de conhecimentos, auxiliando e
proporcionando o educando um rendimento melhor no decorrer da sua formação.
Dentro desse enfoque verifica-se que tanto o potencial técnico da internet,
quanto o pedagógico são extremamente ricos, porém depende da forma como são
explorados. Nesse sentido a responsabilidade do professor torna-se mais relevante,
visto que ele passa a ser o intermediador dessas informações que carregam
inúmeros significados, cabe ao mesmo instigar a compreensão intersubjetiva dos
fatos, sem estabelecer verdades absolutas ou inquestionáveis. Isso acaba fazendo
com que os educandos repensem seus conceitos e atitudes frente ao mundo que se
apresenta.
Sob esse prisma assegura-se que:
Os meios de comunicação atuais, especialmente a internet, permitem o
acesso à informação de maneira fácil e rápida. As informações são dados e
dados, sem análise e interpretação não tem valor do ponto de vista social e
científico. É papel do programador de aprendizagem (professor) ensinar
condutas relacionadas a gerenciar, analisar, interpretar, e aplicar
informações, produzindo resultados relevantes para a sociedade. Deste
ponto de vista o professor é um programador de condições que possibilitem
ao aluno construir relações associadas aos conceitos que estão sendo
ensinados (VALENTINI 1999, p.236).
No âmbito desse trabalho, destaca-se que a internet é uma fonte de
informações que potencializa a democratização dos saberes, pois nela não existe
preconceito. Nesse sentido, ela torna-se uma grande aliada para a educação e
interação dos surdos, visto que não há obstáculos para a comunicação entre eles
e dos mesmos com os ouvintes. As redes telemáticas oferecem oportunidades
iguais a todos, possibilitando que o surdo se desenvolva de forma mais
independente, pois permite a comunicação em tempo real sem o auxílio de
intérprete. Para Rosa e Cruz (2001), a Internet e suas diversas configurações são
extremamente importantes para a inserção do surdo na sociedade, visto que
disponibiliza uma enorme multiplicidade e diversidade de recursos visuais,
possibilitando uma melhor compreensão das mensagens, já que a comunicação
dos mesmos ocorre através da Língua de Sinais que é considerada uma língua
espaço-visual.
Com efeito, a essas reflexões realizadas até o momento, acredita-se que a
utilização das TICs (em especial as redes telemáticas), são grandes
colaboradoras para a educação e formação do indivíduo surdo, uma vez que
designam diversas possibilidades de acesso a informação e à formação e,
portanto, ao conhecimento. Neste sentido, no próximo item discutir-se-á sobre a
modalidade de ensino virtual, intitulada Educação à distância e as potencialidades
dessas tecnologias na trajetória ou na efetivação da mesma.
Tecnologias e a educação dos surdos: uma nova possibilidade de ensino
De forma inquestionável, pode-se afirmar que, as TICs originadas na década
de 60 e solidificadas nos anos 90, fazem parte do cotidiano dos sujeitos, de tal modo
que muitas vezes se torna difícil viver sem elas. Provocando assim, revoluções nas
diferentes áreas da sociedade e fundamentalmente nos mecanismos que envolvem
a educação.
Nessa dimensão, precisa-se refletir primeiramente sobre qual o entendimento
que se têm sobre TICs. Assim, constata-se em termos bem sucintos, que
Informação é um meio de conhecimento, apresentado por uma mensagem. Para
Wiener (1978, p. 17), informação é “um termo que designa o conteúdo daquilo que
permutamos com o mundo exterior”. Já a comunicação pode ser compreendida
como toda a transmissão de informações obtida mediante a emissão ou recepção de
uma mensagem. Em resumo, comunicação significa a troca que os indivíduos fazem
de informações entre si.
Segundo Belloni (2001, p.21), “as TICs são o resultado da fusão de três
grandes vertentes técnicas: a informática, as telecomunicações e as mídias
eletrônicas”. Para a autora, as possibilidades dessas vertentes são ilimitadas, porém
é tarefa do sujeito determinar como as mesmas serão utilizadas. Complementando
essa ideia Lévy (1999, p.17), afirma que as tecnologias “criam novas condições e
possibilitam ocasiões inesperadas para o desenvolvimento das pessoas e das
sociedades, mas que elas não determinam automaticamente nem as trevas nem a
iluminação para o futuro humano”.
Em um sentido mais amplo, afirma-se que as TICs trazem inúmeros
benefícios para a sociedade, porém é necessário empregar mais suas virtudes
pedagógicas, do que as técnicas propriamente ditas, em especial no caso da
educação com vistas para os processos mediativos e interativos. Belloni (1999,
p.54), aponta que “A educação é sempre um processo complexo, que utiliza a
mediação de algum tipo de meio de comunicação como complemento ou apoio à
ação do professor em sua integração pessoal e direta com os estudantes. ”
Por esse âmbito Litwin acredita que:
Na hora de pensar nas inovações, é importante reconhecer a
necessidade de criá-las nos contextos educacionais, a fim de que sua
implementação seja significativa, admitir sua significação como proposta
pedagógica, avaliá-las como atrativas, mas reconhecer a concepção que
trazem de ensino e aprendizagem (LITWIN 1997, p.9).
Com efeito, a estas transformações, as TICs contribuem de forma
significativa nos processos de ensino aprendizagem, criando novos espaços e
possibilidades a serem exploradas formando indivíduos mais autônomos que saibam
lidar com as pluralidades e os desafios da sociedade contemporânea. Conforme
Belloni (2001), devido a essas transformações ocorridas neste século, os contextos
educacionais, devem integrar as TICs, não somente como elemento de aprimorar as
eficiências
dos
sistemas,
mas,
sobretudo
como
ferramentas
pedagógicas
efetivamente a serviço da formação do indivíduo autônomo. Sendo então dever dos
ambientes de ensino, utilizar as tecnologias a serviço das metas educacionais e não
simplesmente para necessidades artificiais. Nesta perspectiva, em suas diretrizes a
Secretaria de Educação a Distância do Mec aponta que:
(...) as novas tecnologias de informação devem ser aproveitadas pela
educação para preparar o novo cidadão, aquele que deverá colaborar par
um novo modelo de sociedade, em que os recursos tecnológicos sejam
utilizados como auxiliares no processo da evolução humana (SEED / MEC,
1997, p. 3).
O uso das redes digitais, como uma nova forma de interação e mediação nos
processos de ensino e aprendizagem, amplia a comunicação entre alunos e/ou
professores/tutores (no caso da EAD) e as possibilidades de não se perder de vista
os potenciais emancipatórios dessas tecnologias, proporcionando situações de
diálogo e trocas. Assim as TICs passam a ser contribuinte no processo de formação
dos sujeitos, à medida que se torna uma estratégia de ensino e de aprendizagem.
Assim:
As TICs oferecem, para além do impresso, ocasiões originais de
aprendizagem, trazendo desafios, provocando curiosidades, criando
situações de aprendizagem totalmente novas de convivialidade e interações
mais intensas do que a aula magistral baseada na autoridade do professor (
BELLONI, 1999, p. 73).
Assim, verifica-se a emergência dessas tecnologias e dos mais variados
recursos oriundos da mesma, principalmente a informática, oportunizam situações
de aprendizagens mais complexas e prazerosas, visto que devido as suas
competências e funcionalidades, ampliam as relações entre educando e educador,
tornando o processo interativo e atrativo ao mesmo tempo. Com base nisso,
ressalta-se a importância das TICs para a educação e formação do sujeito surdo,
pois as mesmas oferecem inúmeras ferramentas, especialmente em recursos
visuais, que facilitam a comunicação e informação dos mesmos. Segundo Strobel
(2008, p. 39), “os sujeitos surdos, com a ausência da audição e do som, percebem o
mundo através de seus olhos”, ou seja, por meio da experiência visual.
Sobre isso Perlin e Miranda (2003, p. 218 apud Strobel 2008, p.39) declaram:
Experiência visual significa a utilização da visão, em (substituição total da
audição), como meio de comunicação. Desta experiência visual surge a
cultura surda representada pela língua de sinais, pelo modo diferente de
ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no
conhecimento cientifico e acadêmico. A cultura surda comporta a língua de
sinais, a necessidade do interprete, de tecnologia de leitura.
Por este enfoque, enfatiza-se o papel da internet como ferramenta
potencializadora no processo de independência do sujeito surdo. À pluralidade e
multiplicidade de informações e de recursos visuais que se encontra disponível na
rede, possibilitam que o surdo seja protagonista no processo de interação com as
informações e na aquisição de conhecimentos.
Além de ser uma fonte de
informações que potencializa a democratização dos saberes, pois nela não existe
preconceito. Nesse sentido, ela torna-se uma grande aliada para a educação e
interação dos surdos, visto que não há obstáculos para a comunicação entre eles e
dos mesmos com os ouvintes. As redes telemáticas oferecem oportunidades iguais
a todos, possibilitando que o surdo se desenvolva de forma mais independente, pois
permite a comunicação em tempo real sem o auxílio de intérprete. Para Rosa e Cruz
(2001), a Internet e suas diversas configurações são extremamente importantes para
a inserção do surdo na sociedade, visto que disponibiliza uma enorme multiplicidade
e diversidade de recursos visuais, possibilitando uma melhor compreensão das
mensagens, já que a comunicação dos mesmos ocorre através da Língua de Sinais
que é considerada uma língua espaço-visual.
Com efeito, a essas reflexões realizadas acredita-se que a utilização das TICs
(em especial as redes telemáticas), são grandes colaboradoras para a educação e
formação do indivíduo surdo, uma vez que designam diversas possibilidades de
acesso a informação e à formação e, portanto, ao conhecimento.
Perspectivas e avanços das tecnologias na educação dos surdos
Objetivando averiguar qual a influência que as TICs exercem no processo de
ensino e aprendizagem do acadêmico surdo, foi utilizada a pesquisa descritiva. Os
sujeitos convidados a participarem dessa pesquisa foram os acadêmicos do 4º
semestre do Curso de Letras Libras do Pólo de Santa Maria. Dentro desse enfoque
os instrumentos de investigação utilizados na pesquisa foi o questionário que para
Lakatos e Marconi (1991, p. 201) “é um instrumento de coleta de dados, constituído
por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem
presença do entrevistador”.
Como já se ressaltou no decorrer do trabalho, as transformações tecnológicas
ocorrem de maneira rápida e dinâmica, sendo absorvidas automaticamente pela
sociedade em geral. Nesse sentido, percebe-se que esse processo também
acontece com os surdos. As tecnologias podem auxiliá-los de maneira significativa,
possibilitando a inserção dos mesmos, sem discriminação e disponibilizando
diversos recursos visuais, que são como já se sabe importantíssimos para os surdos
na sua vida cotidiana e também para a sua formação e educação, como é o caso
dos acadêmicos do Curso de Letras Libras.
É possível perceber nas respostas dos acadêmicos que participaram da
pesquisa, à relevância dada às TICs para a sua formação e uso cotidiano. Assim
sendo, acredita-se que as TICs, principalmente as mais emergentes, como é o caso
das tecnologias digitais, que estão presentes nos ambientes virtuais de ensino,
quando utilizadas como ferramentas pedagógicas, sejam aliadas no processo de
formação e autoformarão dos surdos, possibilitando maiores condições de
aprendizagem e facilidade no acesso a informações.
Os recursos tecnológicos utilizados no Curso a Distância, como a internet, os
sites, e-mail, hipermídia, multimídia, chat, lista de discussão, fórum, vídeo e
teleconferência, entre outros, proporcionam uma aprendizagem mais eficiente e
dinâmica. Sendo que, esses recursos também são utilizados pelos surdos nas
práticas comunicacionais, concomitantemente com outras tecnologias, possibilitando
os mesmos a participar do contexto em que estão inseridos e do mundo sonoro que
os circunda.
As inovações tecnológicas permitem a relação e interação dos surdos com
outros
ambientes,
constituindo
sujeitos
mais
autônomos,
competentes
e
participativos, ampliando as trocas dialógicas com outras culturas e a interpretação
do que acontece no mundo em que se vive.
Para Cruz e Rosa (2001, p. 44):
(...) a internet é um espaço muito atrativo para o surdo, que também a usa
com a mesma função do telefone para os ouvintes (...). Este é o espaço que
eles têm para se comunicar remotamente e em tempo real com quem
quiserem, sem a necessidade de intérprete ouvintes. Com isso eles podem
trocar ideias sobre diversas coisas: língua de sinais, costumes e hábitos dos
surdos de outros lugares, Cursos oferecidos na rede...
A utilização apropriada das tecnologias interativas na EaD colabora para
fundamentar os diversos significados da ação coletiva, possibilitando estabelecer
este artifício de comunicação aproximadamente em período real, mesmo quando
educandos e professores encontram-se fisicamente afastados, sendo essa uma das
características principais desse tipo de ensino. Neste sentido, a rede telemática vem
sendo apontada como formidável colaboradora da educação e formação dos surdos,
pois são essenciais aos Cursos a distância, disponibilizando inúmeras ferramentas
para que esse trabalho se realize de forma significativa. Neste viés, percebe-se na
fala dos sujeitos a colaboração dessas ferramentas, como (internet, chats, fóruns)
para esse processo:
A educação a Distância situa-se dentro de um contexto, no qual a
aprendizagem acontece de maneira autônoma e dinâmica, sendo mediatizada nas
relações entre os membros que compõem esta instituição e que fazem parte desse
sistema de ensino. Os recursos técnicos presentes na mesma proporcionam maior
conectividade e interatividade entre os membros possibilitando a integração e a
valorização das singularidades de cada sujeito além da flexibilidade na constituição
do conhecimento.
Para Belloni mediatizar significa:
Definir as formas de apresentação de conteúdos didáticos, previamente
selecionados e elaborados, de modo a construir mensagens que
potencializem ao máximo as virtudes comunicacionais de meio técnico
escolhido no sentido de compor um documento autossuficiente, que
possibilite ao estudante realizar sua aprendizagem de modo autônomo e
independente (BELLONI, 1999, p.64).
Por esse viés, acredita-se que as TICs, são grandes aliadas para a integração
dos surdos na sociedade. Pois facilita melhor a interação entre os indivíduos e com
outras culturas, cria inúmeras possibilidades de informações e acesso ao
conhecimento, além de auxiliar nos processos de formação e nas práticas
cotidianas.
As TICs podem proporcionam aos surdos aprender através da experiência
visual que é fundamental para o surdo compreender, entender, interpretar, enfim
para facilitar o processo de ensino aprendizagem.
Educação a distância: novas possibilidades de ensino
A Educação a distância (EaD), também conhecida como teleducação, pode
ser considerada num primeiro momento como algo novo em termos de ensino.
Entretanto, historicamente há registros que esta educação já existia desde a Grécia
Antiga, em decorrência de uma organização de comunicação que intensificou o
aumento considerável das correspondências. A partir dos séculos XVII com o início
da Revolução Científica, e consequentemente com a invenção da imprensa, um
recurso formidável para a época e presente até os dias atuais, houve a possibilidade
de disseminar a palavra escrita em maior número marcando um novo panorama no
processo de ensino e o surgimento dos primeiros sinais de educação a distância.
Em meados do século XIX esse modo de ensino começa a se consolidar. No
ano de 1856 surge em Berlim à primeira escola que proporcionava Cursos de
línguas por correspondência, e em 1981 a Universidade de Chicago, também adotou
esse sistema. Depois disso, inúmeras outras escolas surgiram com esse propósito.
Contudo, o desenvolvimento do ensino a distância se concretizou efetivamente com
bases sólidas só no século XX.
No Brasil, a implementação desta modalidade de ensino ocorreu inicialmente
no ano de 1923 com a Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que
consistia em ampliar o acesso a educação, sendo empregada exclusivamente para
fins científicos, técnicos, artísticos e de educação popular. Seguidamente a Marinha
e o Exército Brasileiro realizaram algumas experiências através do Instituto Rádio
Monitor, criado em 1939 e do Instituto Universal Brasileiro, fundado em 1941. Ambos
os institutos funcionam ativamente até os dias de hoje, sendo que ao longo de suas
trajetórias, o primeiro já atendeu mais de 5 milhões de alunos e o segundo 4
milhões. Tendo como propósito ensinar novas profissões através do material
impresso.
Posteriormente a essas iniciativas, com os avanços dos meios tecnológicos
apareceram muitas outras ações, como Projeto Minerva na década de 70, a TV
Educativa criada em 1965, o Telecurso 1º e 2º Graus em 1980 criado pela Fundação
Roberto Marinho da Rede Globo de Televisão, que mais tarde, no ano de 1995
passou a ser chamado de Telecurso 2000. Bem como, no ano de 1992 a criação da
Universidade Aberta de Brasília (Lei 403/92), que visa o desenvolvimento do
conhecimento cultural, a educação continuada e o ensino superior.
Neste sentido, a educação a distância foi ganhando espaço e se efetivando
nas instituições brasileiras através da influência da internet, e a necessidade de
atualização do sistema de ensino. Dentro desse contexto, recentemente a educação
a distância ganhou reconhecimento legal, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Brasileira (LDB) “O poder Público Incentivará o desenvolvimento e a
vinculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades
de ensino, e de educação continuada”. (Art. 80, da Lei 9 394, de 20 de dezembro de
1996). Com o Decreto de nº 2.494, a EaD obteve grandes avanços e passou a ser
valorizada conforme consta no Artigo 1º que conceitua a mesma como:
Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente
organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados
isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de
comunicação. (Decreto n.º. 2.494, de 10 de janeiro de 1998, regulamentado
pela Portaria n.º 301, de 7 de abril de 1998).
Existe
uma
pluralidade
de
definições sobre
educação a
distância,
historicamente em termos mais abrangentes ela era compreendida como um
conjunto de ações de ensino-aprendizagem onde não existia contado direto entre
aluno e professor, ou seja, as funções que os mesmos exerciam eram separadas
pelo espaço e tempo. Contudo, torna-se necessário enfatizar que através da
disseminação e inovações no campo tecnológico, mediado pela rede de
computadores e indispensavelmente pela internet, o ambiente da EaD está se
configurando também pela comunicação direta e até mesmo presencial devido as
constantes evoluções dos meios eletrônicos.
Dentro desse enfoque Lévy nos coloca que:
Os especialistas nesse campo reconhecem que a distinção entre ensino
“presencial” e ensino “a distância” será cada vez mais pertinente, já que o
uso das redes de telecomunicação e dos suportes multimídia interativos
vem sendo progressivamente integrado as formas mais clássicas de ensino.
A aprendizagem a distância foi durante muito tempo o “estepe” do ensino;
em breve irá tornar-se, senão a norma, ao menos a ponta da lança (LÉVY
1999 p 170).
A utilização apropriada das tecnologias interativas na EAD colabora para
fundamentar os diversos significados da ação coletiva por meio de trocas dialógicas
que possibilitam estabelecer este artifício de comunicação aproximadamente em
período real, mesmo quando educandos e professores encontram-se fisicamente
afastados.
A educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem a partir da mediação de recursos didáticos sistematicamente
organizados e apresentados em diferentes suportes de informação,
utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios
de comunicação existentes, (CHERMANN e BONINI 2000, P.17).
Para Belloni (1999, p.80), “o uso mais intenso dos meios tecnológicos de
comunicação e informação, torna o ensino mais complexo e exige a segmentação
do ato de ensinar em múltiplas tarefas sendo essa segmentação a principal
característica da Educação a Distância”.
A EaD vem sendo compreendida como uma modalidade de ensino distintas
das demais, por apresentar características e especialidades que fogem da educação
convencional, principalmente no que diz respeito a utilização das tecnologias,
apontadas como fundamentais para que esse processo ocorra. Contudo, a seleção
dessas tecnologias deve necessariamente estar de acordo com questões educativas
a fim de facilitar os processos de aprendizagens.
Para Lévy (1999), a educação a distância envolve todas as tecnologias
intelectuais que fazem parte da cibercultura, contudo, a prioridade principal dessa
educação encontra-se em um novo modo de ensino, que deve favorecer ao mesmo
tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede. Assim,
o professor passa a ser o intermediário da inteligência coletiva de seus grupos de
alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos.
O ensino a distância amplia os espaços educacionais, facilitando a
democratização da educação, pois oportuniza acesso a diversos Cursos de
formação de diferentes áreas. Este tipo de modalidade está destinado primeiramente
para sujeitos que por determinados motivos não podem frequentar uma instituição
presencial. Atualmente a educação a distância utiliza no seu processo de
ensino/aprendizagem as tecnologias telemáticas, sendo o computador e a internet
os principais representantes que não impede de algumas instituições, utilizar
também as tecnologias mais antigas como correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o
CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes.
A educação a Distância, devido as suas potencialidades decorrentes da
presença das tecnologias, proporciona aos sujeitos surdos, inúmeras vantagens,
visto que, o Curso acontece no meio digital. Assim, o material disponibilizado é em
Língua de Sinais escrita ou sinalizada (quando o Curso é especifico para surdo,
como é o caso do Letras/ Libras), por ser uma modalidade online provavelmente não
acontece discriminação e os indivíduos de diversas partes do país podem participar,
além de possibilitar que participantes utilizem as várias ferramentas disponíveis na
rede.
Algumas considerações
Diante do que foi desenvolvido no decorrer do trabalho, e das respostas dos
sujeitos que participaram da pesquisa, pode-se perceber que as tecnologias de
informação e comunicação em sua amplitude são muito significativas para o sistema
de ensino. Conforme Basso (2003), as mudanças ocorridas nos meios tecnológicos
aspiram à necessidade de novos redimensionamentos nas práticas pedagógicas,
que possibilitem inovações nos processos interativos de aprendizagem e
socialização.
Em relação aos surdos, também as tecnologias ganham grande relevância
visto que, por meio de sua disseminação, muitas barreiras e fronteiras podem ser
quebradas, inclusive a da discriminação, possibilitando maior inserção dos surdos na
sociedade.
As potencialidades dos artefatos tecnológicos nos contextos educacionais
possibilitam o aumento do intercâmbio educacional e trocas entre cultura surda e
cultura ouvinte, proporcionando uma atmosfera coletiva, acessível a todos.
Disponibilizando dessa forma, ferramentas que oportunizam, além de acesso ao
conhecimento, também uma melhor comunicação entre os surdos com seus pares e
com o mundo que os cerca. Sendo as redes digitais grandes potencializadoras
desse processo, pois nelas encontra-se um ambiente repleto de recursos visuais,
que para o sujeito surdo, são extremamente importantes, pois é por meio da
experiência visual que os surdos alcançam seu desenvolvimento pleno manifestando
todos os tipos de significações e manifestações.
Acredita-se, portanto, que as tecnologias de informação e comunicação,
quando utilizada de maneira consciente para fins educacionais, no sentido de
ferramentas
pedagógicas,
são
grandes
estimuladoras
das
capacidades
e
competências dos educandos, promovendo a autonomia e independência, formando
sujeitos críticos, ativos e reflexivos. A medida que prepara os mesmos para estar
atentos as reais intenções das políticas de comunicação que de certa forma
influenciam o cotidiano dos indivíduos. Neste sentido, as tecnologias podem ser
apontadas como um princípio de democracia, pois disponibilizam um vasto campo
de informações e possibilidades de comunicação acessível a todos.
Referências:
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nova utopia? Florianópolis: Ponto de Vista, 2003.
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1999.
_________________. O que é mídia-educação. Campinas, SP: Autores
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CHERMANN, M. BONINI, L. M. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Novas Tecnologias
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