UNIMED-BH – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO LTDA GRUPO DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE - GATS TRATAMENTO DA DOR DO PACIENTE ONCOLÓGICO 24/2008 Belo Horizonte Agosto 2008 Autoras: Dra. Izabel Cristina Alves Mendonça Dra. Christiane Guilherme Bretas Dra. Lélia Maria de Almeida Carvalho Dra. Sandra de Oliveira Sapori Avelar Dra. Silvana Márcia Bruschi Kelles Bibliotecária: Mariza Cristina Torres Talim Instituições parceiras: Associação Brasileira de Medicina de Grupo – ABRAMGE Associação dos Hospitais de Minas Gerais – AHMG Associação Médica de Minas Gerais – AMMG Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil – CASSI Federação Minas Federação Nacional das Cooperativas Médicas - FENCOM Contato: [email protected] RESUMO O câncer pode estar associado com muitos sintomas, mas a dor é um dos que causam mais medo aos pacientes. A dor oncológica é causada por efeito direto do tumor (em geral por invasão óssea ou compressão de nervos) ou por complicações dos tratamentos(fibrose por radiação, neuropatia induzida por quimioterapia ou dor cirúrgica pós-operatória). As síndromes dolorosas associadas com a malignidade são: a dor óssea, cefaléias e dores faciais, abdominais, pélvicas, a dor do câncer pancreático, a mucosite e as dores pós-cirúrgicas2. Em geral esses pacientes não são tratados adequadamente pelo desconhecimento e treinamento dos profissionais de saúde na avaliação e controle da dor. Estima-se que 60 a 90% dos pacientes com câncer avançado tem dor. A dor crônica ou de intensidade grave tem grande efeito deletério sobre saúde física, psicológica e social do paciente, desse modo o controle efetivo da dor é essencial para o bem estar e qualidade de vida. O objetivo dessa revisão é avaliar as medidas terapêuticas disponíveis para tratamento da dor oncológica.4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................6 1.1 Questão Clínica................................................................................................6 1.2 Aspectos epidemiológicos................................................................................6 2 MÉTODO..........................................................................................................7 2.1 Bases de dados e estratégia de busca............................................................7 3 RESULTADOS.................................................................................................7 REFERÊNCIAS..............................................................................................20 1 INTRODUÇÃO 1.1 Questão Clínica Quais as melhores estratégias de tratamento da dor oncológica? 1.2 Aspectos epidemiológicos e clínicos A dor em pacientes com câncer pode ser causada por efeito direto do tumor (em geral por invasão óssea ou compressão dos nervos) ou por complicações de tratamento (fibrose por radiação, neuropatia induzida por quimioterapia ou dor cirúrgica pós-operatória). As síndromes dolorosas associadas à malignidade são: a dor óssea, cefaléias e dores faciais, abdominais, pélvicas, a dor do câncer pancreático, a mucosite e as dores pós-cirúrgicas. A dor óssea, em geral é causada por metástases originárias de neoplasia de mama, próstata, pulmão e mieloma múltiplo. Os locais mais comuns são a coluna vertebral, úmero, costelas, crânio, fêmur e ossos da pelve. A cefaléia ocorre em 60% dos casos de tumores do cérebro e em 35% daqueles com metástases cerebrais. As dores faciais são mais raras em conseqüência de neoplasias. As dores abdominais e pélvicas são tipicamente viscerais, de difícil localização e freqüentemente se referem a locais distantes, acompanhadas de náuseas e vômitos. O câncer de pâncreas manifesta-se com dor significante em até 80% dos pacientes, com a doença avançada, eleva-se para 90%, por invasão gástrica ou retroperitoneal. Esse tipo de dor deve ser identificado, pois pode ser tratado com bloqueio do plexo celíaco. A mucosite é processo inflamatório da mucosa oral, manifestando-se com ulcerações, secundária ao tratamento com quimioterápicos, radioterapia da cabeça e pescoço ou reativação de infecções viróticas. A dor é mais grave e prolongada quando há infecção concomitante por fungos ou bactérias. A dor pós-cirúrgica tem sido identificada após a mastectomia, cirurgias radicais de pescoço, toracotomia e amputações. Estas síndromes são de causa neuropática em conseqüência de danos causados aos plexos nervosos ou nervos.2 Estima-se que 60 a 90% dos pacientes com câncer avançado tem dor. A dor crônica ou de intensidade grave tem grande efeito deletério sobre saúde física, psicológica e social do paciente, desse modo o controle efetivo da dor é essencial para o bem estar e qualidade de vida.4 O objetivo dessa revisão é avaliar as medidas terapêuticas disponíveis para tratamento da dor oncológica. 2 MÉTODO 2.1 Bases de dados e estratégia de busca Inicialmente foi conduzida busca de avaliações e recomendações referentes aos dispositivos de proteção distal em literatura científica disponível. Procedeu-se a busca no Medline, via PubMed e entidades internacionais reconhecidas em avaliação de tecnologias em saúde. O quadro abaixo mostra o resultado das buscas. Bases Termos Estudos Selecionados www.cancercare.on.ca Cancer pain 1 www.guideline.gov Cancer pain 1 www.uptodate.com Câncer pain 2 3 RESULTADOS Apresentação dos estudos selecionados: Controle da dor oncológica, em qualquer idade, segundo o guia para prática clínica baseada em evidências - Cancer Care de Ontário Program:1 O grupo de trabalho identificou 8 guidelines de alta qualidade e relevância para controle da dor oncológica de onde foram retiradas as principais recomendações. O controle da dor oncológica deve se basear nas seguintes premissas: 1. Cuidado deve ser centrado nas expectativas do paciente e da família; 2. Cuidado individualizado; 3. Necessidade de equipe multidisciplinar; 4. Reconhecer a individualidade de resposta à dor, conforme suas experiências de vida; Recomendações: • Avaliação da dor: não existe teste objetivo de medidas de dor. A sensação de dor é totalmente subjetiva e a padronização de avaliação é baseada em relatos do próprio paciente, freqüentemente através de ferramentas ou técnicas que podem avaliar o tipo e a intensidade da dor. Buscar informações sobre os tratamentos realizados previamente. E para um controle efetivo da dor, o paciente deveria também ser avaliado quanto aos aspectos físico, funcional, psicossocial e espiritual. Estratégias farmacológicas: • O controle da dor oncológica deve contemplar o uso de drogas não opióides, opióides e analgésicos. • A chave principal para controle farmacológico é o manejo da concentração da dosagem de analgésico para alcançar o alívio da dor desejado, enquanto se minimiza os efeitos colaterais indesejados; • Iniciar o tratamento com base no relato do paciente sobre a intensidade da dor; • Selecionar os analgésicos apropriados e a via de administração; • As drogas devem ser prescritas levando-se em consideração: a intensidade da dor, idade, a coexistência de doenças, a interação entre drogas, os tratamentos já realizados, e por último, respeitar as preferências e conveniências para o paciente; • Custos: considerar opções de custos adequados para o paciente e sua família. Intensidade da dor: Dor leve: pode ser tratada com drogas não opióides somente; Dor leve a moderada: drogas não opióides associadas com drogas opióides; Dor moderada a grave: drogas opióides agonistas, que podem ser tituladas em dosagens conforme a intensidade da dor e associadas a drogas adjuvantes. Drogas não-opióides • Acetoaminofen pode ser prescrito associado aos opióides; • Anti-inflamatórios não esteróides, são efetivos no tratamento da dor leve e tem efeito opióide-sparing que proporcionam a redução da dose de opióides no tratamento da dor de intensidade moderada a grave. Drogas opióides Os opióides são os analgésicos mais indicados para o controle da dor moderada a grave, pela efetividade, fácil preparo da concentração da dosagem, escore de risco e benefício favoráveis. Os opióides produzem analgesia pela inibição de receptores específicos do sistema nervoso central e periférico classificados em: o Agonistas completos: codeína, fentanil, hidromorphina e morfina não têm dose fechada, a concentração pode ser titulada para alívio da dor com observação dos efeitos colaterais. Quando possível, devem ser utilizados por uma via única de administração. Idosos devem receber doses mais baixas e incremento gradual, pois são mais sensíveis à ação da droga. Deve ser administrada em esquemas e horários regulares, conforme o tempo de duração do efeito analgésico e das respostas individuais aos mesmos. Para os escapes de dor, deve-se prescrever doses fracionadas nos intervalos. Avaliar a segurança e eficácia, reconhecendo a diferença entre dependência e tolerância. Estratégias não farmacológicas: • Intervenções psico-sociais e apoio espiritual; • Educação do paciente e da família, apoio psicológico, atividades recreativas, terapias de relaxamentos; • Intervenções físicas – estimulação cutânea, massagem, drenagem, TENS, terapia de toque, posicionamento adequado, fisioterapia, órteses para posicionamento; • Outras intervenções – radioterapia, bloqueios neurolíticos, procedimentos neurocirúrgicos – cordotomia, rizotomia.1 Organização Mundial de Saúde (OMS):4 As recomendações preconizadas pela OMS consistem em hierarquizar a escala de medicamentos orais indicados para tratar efetivamente a dor, de acordo com sua intensidade. O uso racional da medicação oral é recomendado antes de outras vias de acesso para administração de medicamentos. Drogas adjuvantes também poderão ser utilizadas para potencializar a eficácia dos analgésicos e tratar sintomas concorrentes que exacerbam a dor. Escala de medicamentos analgésicos: Primeiro passo para dor leve: Indicado o uso de paracetamol, aspirina ou qualquer outro anti-inflamatório não esteróide. Segundo passo para dor leve a moderada: Quando a dor persiste ou aumenta de intensidade, um opióide fraco deve ser adicionado ao anti-inflamatório não esteróide, como o tramadol ou a codeína. A combinação de um opióide com paracetamol ou anti-inflamatório não esteróide pode minimizar a dose do opióide para uma efetiva analgesia. Terceiro passo para dor moderada a grave: o opióide considerado mais fraco deverá ser substituído por opióides fortes, como a morfina, fentanil ou metadona. O uso de opióides no tratamento da dor moderada a grave: O opióide de primeira escolha é a morfina, via oral, em doses e concentrações individualizadas para alcançar o máximo do efeito analgésico com mínimos efeitos colaterais. Para manter os níveis de analgesia deve-se prescrever o medicamento a cada 4 horas. Todo paciente deve ter acesso ao medicamento para tratar os escapes de dor com até um sexto da dose total diária de morfina. Se houver impossibilidade de uso da via oral, a via retal, transdérmica ou subcutânea podem ser usadas. Não há indicação para uso da via intramuscular. Uma pequena proporção de pacientes desenvolvem efeitos colaterais intoleráveis com morfina oral, nesses casos deve ser buscada uma via alternativa ou a troca do medicamento. Fentanil transdérmico é uma alternativa efetiva à morfina oral, mas é reservado para pacientes que requerem quantidade estável de opióides. Metadona é uma alternativa, mas tem pronunciada variação de resposta terapêutica em relação ao tempo de duração do efeito analgésico e de doses. Administração de opióides via epidural ou intratecal, em combinação com anestésicos locais ou clonidina, poderia ser considerada em pacientes que persistem com analgesia inadequada ou apresentam efeitos colaterais intoleráveis, a despeito da terapia otimizada de opióides sistêmicos e drogas não opióides. Drogas Adjuvantes: Drogas adjuvantes são aquelas primariamente não classificadas como analgésicos, mas que são indicadas em certas condições de dor. Antidepressivos tricíclicos e/ou anticonvulsivantes podem ser indicadas em pacientes com dor neuropática. Esteróides devem ser utilizados na vigência de dor oncológica quando houver compressão medular, hipertensão intracraniana, dor óssea grave, bem como a compressão ou infiltração dos tecidos por edema. Bifosfonados: devem ser considerados para todos os pacientes com mieloma múltiplo e câncer de mama que apresentam dor oriunda de doença metastática, em associação às técnicas analgésicas convencionais. Há evidências que suportam essa estratégia de longo prazo para reduzir a dor óssea de origem metastática, principalmente em mieloma múltiplo e câncer de mama. Terapias anti-tumorais têm indicação no controle da dor oncológica: Quimioterapia sistêmica deve ser considerada para tumores sensíveis a essa terapia; Terapia hormonal pode levar a regressão de tumores hormônio-sensível e pode aliviar a dor; Radioterapia pode produzir alívio da dor quando o tumor causar infiltração local e em metástases ósseas e cerebrais, medula espinhal e linfadenomegalias. Tratamento Intervencionista para dor somente deve ser considerado em circunstâncias especiais: 1. Quando o tratamento padronizado com drogas sistêmicas (via oral, transdérmica ou subcutânea, etc) terapia física e comportamental, falharam em aliviar a dor ou associadas a efeitos colaterais intoleráveis. 2. Após avaliar as circunstâncias psicológicas e sociais. 3. Após excluir outras causas para analgesia incompleta; 4. Quando o paciente está em bom estado clínico para realizar o procedimento; 5. Após obter o consentimento informado; 6. Quando há grande probabilidade de boa resposta terapêutica; 7. Quando há profissionais com experiência para realizar o procedimento; 8. Onde há suporte de serviço adequado. Bloqueio neural: anestésicos e neurolíticos: Infusão intratecal e epidural de drogas pode ser considerada para pacientes selecionados através da inserção de cateteres em nível apropriado da medula espinhal, o que pode produzir profunda analgesia sem bloqueios motores, sensoriais ou simpáticos. A vantagem é o alcance desse efeito com doses baixas de morfina e redução dos efeitos colaterais. Este tratamento está indicado para dores abdominais, pélvicas e difusas de difícil controle com tratamentos regionais. Os anestésicos locais e a clonidina potencializam os efeitos da morfina e são seguros e efetivos. Para uso de curto prazo os cateteres podem ser colocados via percutânea ou via subcutânea e fixados localmente. As drogas podem ser infundidas através de bomba portátil ou através de seringas. Pacientes podem ser controlados com esse sistema ambulatorialmente, como pacientes externos. Em pacientes com expectativa de vida mais longa, os sistemas de bomba implantável oferecem grande liberdade ao paciente porque não dispõe de equipamentos externos e o reservatório de drogas pode ser preenchido a cada poucas semanas. Porém, o custo do sistema programável pode ser proibitivo e os pacientes requerem um controle clínico rigoroso. Técnicas neurocirúrgicas Estão cada dia menos indicadas em uma proposta multidisciplinar de controle da dor. Cordotomia é indicada para tratamento da dor de um lado do corpo. Pode ser realizada aberta ou por via percutânea. Outros procedimentos são a implantação do reservatório de Omaya ou catéter intraventricular, para tratar dores de cabeça e face.4 Revisão narrativa do UptoDate, de maio de 2008, com a proposta de intervenções na dor oncológica.3 O uso agressivo de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos tem tido sucesso. A falha terapêutica foi observada em somente 2% de pacientes tratados de forma adequada por especialistas em tratamento de dor. Se o alívio efetivo da dor não puder ser alcançado, pelo tratamento padronizado, outras propostas de tratamento intervencionista poderão ser utilizadas. Essas propostas incluem: Administração intra-espinhal de agentes opióides ou não; Técnicas neurocirúrgicas, muitas das quais sobre o trajeto do nervo responsável pela dor; Procedimentos anestésicos, que incluem bloqueios simpáticos, de nervos periféricos e cranianos ou infiltração de anestésicos locais para situações especiais. Analgesia intra-espinhal A infusão de drogas via intra-tecal ou intra-espinhal é uma alternativa importante quando a utilização de opióides sistêmicos é inadequada para prover o alívio da dor ou os efeitos colaterais são intoleráveis e quando a dor é localizada abaixo do nível de T1. Cateteres temporários ou permanentes, colocados no espaço epidural ou subaracnóidea podem ser usados como via de acesso para levar drogas anestésicas, tais como: morfina, anestésicos locais e clonidina para o controle da dor. O cateter temporário deve ser utilizado para teste de prova de avaliação do efeito benéfico da infusão dessas drogas antes da colocação do cateter permanente. Um cateter permanente implantável ou a bomba de infusão de drogas é então colocada sob anestesia local, após alcançar o alívio da dor entre um e cinco dias. Quando a via intratecal for a escolhida, a dosagem prescrita de medicamentos é mais baixa, com menos efeitos colaterais. Porém a via epidural permite analgesia restrita a poucos dermátomos. Sistemas de bombas implantáveis podem ser indicados para pacientes com expectativa de vida de três ou mais meses. Há bombas programáveis e com fixação de dosagens. A analgesia controlada pelo paciente (PCA) pode ser aplicada intratecal, em bolus, e oferece algumas vantagens. A via intra-espinhal não é uniformemente superior à via sistêmica considerando que muitos efeitos colaterais são mediados pelo sistema nervoso central. A infusão de morfina intra-espinhal pode causar depressão respiratória até 12 a 18 horas após a injeção. A inserção do cateter pode provocar sangramentos, abscessos e meningite. No local da loja de implante da bomba pode ocorrer higroma e seroma. A migração ou bloqueio do cateter é raro. Os esquemas de medicamentos preconizados foram definidos por um painel de especialistas, criando-se um algorítimo para o uso progressivo das drogas para controle da dor. A terapia começa com uma única droga opióide (morfina ou hidromorfina). Se o alívio da dor não é alcançado, uma segunda droga é adicionada, que poderá ser a clonidina ou a bupivacaína. Entretanto, se a dor oncológica estiver associada a dor de origem neuropática, alguns médicos recomendam iniciar com duas drogas. A associação de opióides, a bupivacaína tem ação sinérgica sobre as fibras nervosas do corno posterior da medula espinhal. Tem a vantagem de poder ser prescrito em doses menores, reduzindo os efeitos colaterais. A associação de clonidina ao opióide intra-espinhal melhora os sintomas de dor em pacientes com dor neuropática. Se a associação de bupivacaina ou clonidina não produz alívio da dor, as duas drogas podem ser acrescentadas aos opióides. Em poucos pacientes que não controlam a dor com esses esquemas, os passos subseqüentes incluem opióides lipofílicos (fentanil, sufentanil) ou o uso de outros agentes tais como baclofen ou midazolam. Uma outra droga não opióide para uso intratecal, é Ziconotide, que foi aprovado para pacientes com intolerância a morfina ou refratários a outros tratamentos para dor, mas tem seu uso limitado pelos eventos adversos neurológicos graves produzidos. Em pacientes com analgesia intra-espinhal otimizada e ainda com escapes episódicos de dor, deve ser indicado opióide, em bolus, intravenoso e se o alívio da dor ainda não é alcançado, drogas anestésicas, em bolus, intratecal ou ketamina sublingual podem ser indicadas. Procedimentos Anestésicos Bloqueio de nervos periféricos – a dor somática e neuropática localizada em nervo único, plexos ou distribuída em dermátomos é tratável com bloqueios anestésicos. A dor pós-operatória e a dor resultante da infecção pelo herpes zoster respondem bem aos bloqueios, mas o efeito dos anestésicos locais é de curta duração. A colocação de cateteres periféricos para prolongar o efeito anestésico é possível, mas sua manutenção é difícil pela facilidade de deslocamento do cateter por movimentos corporais. Dose elevada de anestésicos locais pode levar a efeitos tóxicos graves. Bloqueio neurolítico – São freqüentemente realizados após o sucesso do bloqueio anestésico, para estender o alívio da dor por semanas ou meses. Esse tipo de bloqueio é reservado para aqueles casos que não puderam ser tratados de outro modo e desde que a alteração neural não provoque disfunção motora, sensorial ou autonômica. Os bloqueios anestésicos devem preceder o bloqueio neurolítico para confirmar a origem da dor e se o déficit funcional provocado pode ser aceito pelo paciente. O bloqueio neurolítico pode não ser permanente considerando que os nervos se recuperam a despeito do dano efetuado, assim o efeito analgésico pode permanecer por semanas ou meses. Os métodos utilizados para provocar a lesão neurológica incluem: Infiltração com fenol ou etanol. Ambos produzem neurólise química, causando dano profundo ao neurônio. Processo inflamatório e fibrose subseqüente ao procedimento podem ocorrer e produzir dor secundária. Neurólise por radiofreqüência: a extensão e a forma da lesão é mais controlada e provoca menos dano aos tecidos adjacentes. Crio-analgesia: tem sido usada para neurólise particularmente para câncer relacionado a dor perineal. O congelamento do nervo ou de neuroma a -60° rompe temporariamente as fibras mielínicas e mantém intactas as fibras não mielínicas. A crioanalgesia dura semanas ou meses e produz processo inflamatório mínimo. Bloqueios Simpáticos – A dor oncológica do tipo visceral pode ser de difícil controle com opióides e outros analgésico, entretanto pode ter uma resposta favorável aos bloqueios de plexos simpático e bloqueio de nervo esplênico. As vias aferentes da dor visceral juntam-se ao sistema nervoso autônomo, isto permite o bloqueio sem causar déficits motores ou sensoriais. Bloqueios simpáticos são efetivos e seguros e podem proporcionar alívio da dor visceral por meses. Bloqueio de plexos celíaco – A dor originária de tumores do abdômen superior (pâncreas, fígado, diafragma, baço, estômago, intestino delgado, rins, aorta, adrenais, mesentério, cólon proximal) pode ser tratada pelo bloqueio do plexo celíaco. A neurólise do plexo celíaco pode manter a qualidade de vida melhor pela analgesia prolongada e com efeitos colaterais limitados. A falência do tratamento ocorre geralmente por progressão do tumor. Bloqueio plexo hipogástrico – A dor originária das vísceras pélvicas (reto e cólon sigmóide, bexiga e ureter, útero e anexos) responde ao bloqueio do plexo hipogástrico. O plexo hipogástrico superior encontra-se no retroperitônio e se estende de L5 ao início do sacro. A dor somática advinda do sacro e dos músculos, e a dor neuropática secundária a compressão dos nervos ou a infiltração local não melhoram com esse bloqueio. Nesse caso é indicado o bloqueio anestésico de prova para avaliar a resposta ao bloqueio neurolítico. Outros bloqueios – bloqueios anestésicos são possíveis em toda a cadeia simpática. Bloqueio do gânglio cérvico-torácico (gânglio estrelado) altera as vias aferentes viscerais e simpáticas diminuindo a sensibilidade da cabeça, pescoço e braços. Esse gânglio é de fácil acesso anterior pelo processo transverso de C6. Alguns pacientes com dor oncológica se beneficiam com esse tipo de bloqueio. Bloqueio simpático torácico e lombar raramente é indicado para tratamento da dor oncológica. Injeção miofascial - indicada para tratar a dor causada pelo espasmo muscular, que pode agravar o quadro doloroso, é tratada com injeção de anestésico local. É indicada para pacientes acamados que não podem ser tratados com medidas físicas para espasmo muscular. Os pontos musculares dolorosos (trigger points) são tratados com injeção de 1 a 3ml de anestésico em agulha hipodérmica, intramuscular e assim proporciona alívio da dor por dias ou semanas. Neuro-estimulador – É indicado para tratamento da dor neuropática, entretanto o custo e a necessidade de envolver o paciente no tratamento, faz com que seu uso seja inadequado para pacientes com câncer avançado. Neurólise intratecal e epidural – Pode ser realizada com fenol ou álcool absoluto (etanol) para interromper a via medular posterior quando a dor é limitada a poucos dermátomos. Esse tipo de anestesia é semelhante à rizotomia neurocirúrgica e pode causar danos a outros tecidos. Procedimentos Neurocirúrgicos Vários tratamentos neurocirúrgicos têm sido propostos para interromper as vias sensitivas dolorosas ou sistemas neuromoduladores. A necessidade de altas doses de opióides, especialmente em pacientes com dores localizadas, pode ser benéfica para esse tipo de tratamento. Cordotomia: esse procedimento causa lesão anterior e lateral no quadrante da medula espinhal, bloqueando o trato espinotalâmico que leva os estímulos dolorosos originados da parte contra-lateral do corpo em direção ao tálamo. O sucesso do procedimento é alto (71% a 98%), mas a recorrência da dor pode acontecer meses ou anos mais tarde. A cordotomia é indicada para pacientes com dor somática abaixo do dermátomos C5. Tumores que invadem os plexos lombo-sacros são adequados para tratamento através da cordotomia. Há complicações quando se interrompem as vias do sistema nervoso autônomo, o que pode provocar disfunções intestinais e urinárias, além de parestesias, principalmente quando o procedimento bilateral é realizado. Rizotomia dorsal e lesões tipo DREZ(Dorsal root entry zone lesioning) – É a interrupção do ramo dorsal posterior da medula espinhal com bloqueio regional total de todas as sensações, inclusive a dor. Piora a função motora pelo bloqueio da propriocepção. Este procedimento deve ser indicado para os dermátomos que envolvem o tórax ou membros com função motora comprometida. Há técnicas que podem interromper a via sensitiva dolorosa seletivamente sem perdas de outras sensações. A rizotomia resulta em alívio em 50 a 80% dos pacientes com dor na parede torácica secundária à invasão tumoral. Semelhante à neurólise, a rizotomia não é efetiva para dor neuropática. A lesão da via de entrada no ramo dorsal posterior destrói o trato de Lissauer's e a outra lâmina de Rexed, prevenindo recuperação da via sensitiva dolorosa. DREZ é classicamente indicada para tratamento da avulsão do plexo braquial, mas pode ser utilizada no tratamento de dor por amputação de membros, lesão por radioterapia dos plexos e neuralgia herpética. Rizotomia Cranial: Radioterapia ou ressecção cirúrgica é tratamento paliativo efetivo quando o tumor causa dores somáticas ou neuralgia orofacial. A rizotomia aberta ou percutânea também pode ser resolutiva. A secção cirúrgica do nervo, a ablação térmica ou química também pode ser usada para prolongar o efeito analgésico, mas o déficit neurológico é esperado e a recorrência da dor pode ocorrer. Mielotomia Comissural – efetua-se uma pequena lesão da comissura da medula em C2, semelhante à cordotomia. Este procedimento é empregado para tratar dores viscerais de órgão pélvicos, região perineal e dores em membros inferiores. Hipofisectomia – A dor grave e difusa causada pelas metástases, principalmente pelas metástases ósseas, pode ser tratada pela ablação da hipófise, porém o mecanismo de alívio da dor ainda é desconhecido. O procedimento pode complicar e levar ao coma, infecções, fístulas meníngeas e paralisias de nervos cranianos. Infusão de Morfina Intratecal – morfina pode ser infundida dentro dos ventrículos após implante de uma bolsa de reservatório Ommaya ou com bomba de infusão contínua. Esta técnica é apropriada para pacientes com tumores de cabeça e pescoço, mas nenhum estudo demonstrou superioridade do uso da morfina intraventricular sobre o tratamento sistêmico. As possíveis complicações são a depressão respiratória, o sangramento e a infecção.3 REFERÊNCIAS 1. Program in evidence-based care: a Cancer Care Ontario program. Cancer-related pain management: a report of evidence-based recommendations to guide practice. Series 16-report Date: March 17,2008. Acesso em: 4 ago. 2008. Disponível em: http://www.cancercare.on.ca/pdf/pebc16-2s.pdf 2. Bajwa ZH, Warafield CA. Cancer pain syndromes. Acesso em: 11 ago. 2008. Disponível em: www.uptodate.com 3. Bajwa ZH, Warafield CA. Intervencional approaches to the management of cancer pain. Acesso em: 11 ago. 2008. Disponível em: www.uptodate.com 4. Singapore. Ministry of Health 2003. Cancer Pain. Acesso em: 28 jul. 2008. Disponível em: http://www.hpp.moh.gov.sg/HPP/downloadMedAlert?attachURL=/shared/www/hpp /MungoBlobs/565/683/2003+cpg_cancer_pain.pdf