O ENSINO DE FILOSOFIA PARA CRIANÇAS: Um trabalho proposto por Mattew Lipman Andressa Vieira Ferreira* Silvano Severino Dias** Resumo O objetivo da pesquisa é analisar como o programa de filosofia para crianças, desenvolvido por Mathews Lipman, pode levar as crianças das series iniciais, do Ensino Fundamental, a construírem com autonomia o conhecimento acerca da realidade. A reflexão centra-se na seguinte questão: como as crianças constroem seu conhecimento, a partir do diálogo filosófico? Metodologicamente, esta pesquisa tomou como referencial as obras de Mattew Lipman. Também tem como enfoque as obras de comentadores sobre a Filosofia para Crianças. Opondo-se à ideia de uma concepção de educação centrada no indivíduo, do desenvolvimento de habilidades individuais, tendo em vista a sua participação futura na sociedade. Lipman aponta que a sala de aula é o lugar do diálogo. A sala de aula é também denominada de comunidade de investigação, por ser o espaço em que as crianças exercitam a liberdade. Ao aprenderem a vez de falar, de ouvirem e de reelaborem as suas falas, elas desenvolvem, a partir das interações com outras crianças e o professor, a prática dialógica, que as possibilitam construírem os seus conhecimentos. Portanto, o projeto visa, apresentar a importância da filosofia para os discentes das séries iniciais. Essa é a forma de educar de maneira mais humanizada, com o objetivo de desenvolver no aluno o senso crítico reflexivo, uma autonomia no seu pensamento. O meio para transformar essa educação alienante é a Filosofia, pois essa disciplina tem o objetivo de estimular à consciência, porque evidencia os problemas que existem no mundo. Palavras–chave: Diálogo. Comunidade de Investigação. Filosofia. Infância. Educação. Introdução A investigação sobre o programa de filosofia para crianças, foi desenvolvido baseados nos trabalhos de Mathew Lipman, pois este é o precursor da idéia Filosofia Para Crianças . Teve como objetivo evidenciar os fundamentos filosófico – pedagógicos de seu ensino. Não se trata de negar a importância dessa modalidade de ensino, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, mas de esclarecer como os alunos constroem seu conhecimento neste programa. A filosofia para crianças nasceu com Mathew Lipman em 1973 nos Estados Unidos e, nos anos de 1984 ela chegou ao Brasil. Diferentemente de outros países essa * Aluna graduanda do 7º período de pedagogia, pela Faculdade Católica de Uberlândia. ** Professor de filosofia da Faculdade Católica de Uberlândia; Mestre em Educação e Especialista em História da Filosofia, pela Universidade Federal de Uberlândia –MG modalidade de ensino ganhou relevância no cenário nacional pela absorção que teve em vários estados brasileiros, dentre os quais se destaca: São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Maranhão, Mato Grosso do Sul e outros. Percebe - se que o fenômeno de expansão do Programa de Filosofia para Crianças no Brasil aconteceu concomitante ao processo de abertura política, ao processo de democratização do país, pós 1988. A campanha a esse movimento de democratização a difusão de ideário democrático, que se pautava na proposta de uma educação crítica e que teve como objetivo formar a criança, o adolescente o adulto para a cidadania. No Brasil, após o período em que ascendeu no poder uma junta militar e depois se instaurou um “regime militar” incentivou reformas na Constituição Brasileira com o ideário democrático; implantaram na área educacional princípios educacionais, em consonância com este ideário, criou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) reafirmando os princípios democráticos, e criou os Parâmetros Curriculares Nacional (PCN’S), tendo em vista orientar a prática pedagógica no cotidiano escolar. É neste contexto que ocorre a expansão do ensino de filosofia para crianças, desde as séries iniciais. O idealizador desse programa compreende a sala de aula como sendo uma “comunidade de investigação”, pois é, neste espaço que os alunos são incentivados a dialogar, a fazer e responder perguntas filosóficas. Metodologicamente, a nossa pesquisa se pautará em algumas análises das obras de Lipman e de alguns comentados do autor. Esta terá como objetivo responder as seguintes questões: a prática dialógica, que compreende a sala de aula como uma comunidade de investigação pode ser compreendida como uma metodologia válida para ensino “dito” filosófico a construção do conhecimento? As crianças desenvolvem que habilidades neste programa de ensino de filosofia? Passamos assim a nossa análise. Educação e Filosofia Educar não significa transferir os conhecimentos, a educação forma o ser humano, o humaniza, este deve ser um processo que desafia o educando para o pensar crítico e autônomo. A educação não é somente ensinar o código da escrita é, emancipar o sujeito. Emancipar segundo Kohan (2003, p. 04) é o “exercício, se nos permite, ao final das contas, de educar sem subestimar ninguém”. Os novos tempos exigem que o cidadão seja crítico, reflexivo, porém educar para a autonomia do pensamento se tornou um desafio, pois atualmente encontramos tudo pronto e acabado. Como relata Thomal (2001, p. 09) A filosofia, continua sendo um desafio no campo educacional, mas em tempos atuais é necessário inseri- la já nas séries iniciais do Ensino Fundamental, para que não se torne um tabu, de que é privilégio de poucos. A ideia de aplicar filosofia para as crianças surgiu com o norte americano Matheuw Lipman. Esse educador propôs o projeto após verificar que o sistema educacional americano era incapaz de promover um desenvolvimento adequado aos alunos. E sendo a curiosidade inata da criança, percebeu o programa como uma possibilidade, para o conhecer. Porém os limites surgem a partir das questões didáticas metodológicas a se aplicar no ensino de filosofia. Na escola, a filosofia se torna desmotivadora, pois os profissionais responsáveis por essa disciplina desenvolvem um conteúdo estático, pronto e acabado. Passa a ser um ensino da história da filosofia, não utiliza questionamentos e raciocínios. Então a filosofia para os alunos das séries iniciais do ensino fundamental deve partir de diálogos, investigação, para uma educação democrática. A atitude democrática na sala de aula é fundamental, porque ela enriquece o ser humano. As salas de aulas passariam a ser comunidades investigativas. A dúvida é a chave para o conhecimento, pois motiva a comunidade a se movimentar para se obter respostas, que não são dadas como verdades absolutas. Para estimular a criança a filosofar esse ensino deve se adaptar a sua faixa etária, a participação do aluno é fundamental. O diálogo surge, a partir da interação, interesse, problemas dos educandos. Para introduzir um ensino filosófico os responsáveis por uma educação reflexiva deveriam partir de fábulas que propõe temas lógicos e éticos, para serem discutidos. A filosofia para essas crianças não deve ser neutra, deve combater o sistema de ensino, marcado por ideologias. A educação é intencional, ou seja, tem grande importância social para manter ou transformar uma sociedade. Assim a filosofia vem ser uma ferramenta para formar cidadões críticos, participativos e éticos, que fazem do pensar uma atividade, que deve levar em consideração a criticidade, criatividade e o cuidado. A criticidade seria o questionar, o avaliar, a criatividade, seria a inovação. Enquanto o cuidado se aplica aos valores. Então a filosofia no ensino fundamental tem a função de formar seres tolerantes, democráticos ao envolver as crianças no diálogo. Elas estariam vivenciando um modelo de democracia, aprendendo desde cedo o valor ao respeito das regras, conhecendo seus direitos e deveres. Enquanto, a questão ética não se deve propor teorias predeterminadas, de condutas. O Educador deve capacitar os alunos para que exercem o exercício do pensar até mesmo sobre a questão moral, envolver as crianças em discussões de valores, de maneira que todos participem e cooperem, assim elas irão aprender a ouvir as outras, para aprender a apreciar e respeitar a diversidade. O questionamento dos alunos em sala de aula é de suma relevância, devendo se proporcionado ao aluno desde as séries iniciais, pois o aluno se habitua a fazer intervenções e os colegas passam a aceitar a opinião do outro. Sendo que fica muito difícil esta dimensão quando eles já estão no Ensino Médio porque geralmente nesta fase eles apresentam uma condição psicológica e social que os limita muitas vezes a uma exposição frente ao grupo. (LIPMAN 1994, apud, SCAPIN; [ 199?]). Assim a filosofia no ensino fundamental é de grande importância, pois proporciona um ambiente com características necessárias para ocorrer uma boa educação, por vários motivos, como trazer o conceito de ética, um dos ramos da filosofia, para os diálogos. O método dialético busca desenvolver a uma investigação que resulta em um aprendizado sobre as relações humanas e sociais, consciência em relação ao outro, se autoavaliar. A criança é apita a filosofar por ser sensível, e ainda apresentar muitas dúvidas, sendo esta o ponto de partida para desenvolver um ensino reflexivo, crítico, dialógico a partir da filosofia. Origem do Conhecimento A organização do trabalho pedagógico ocorre a partir das concepções que o professor tem sobre a origem do conhecimento. O docente deve compreender o processo que engloba a construção do conhecimento, para mediar da melhor forma, a aprendizagem do aluno. A explicação da Teoria do conhecimento vem para justificar a presença da prática filosófica na escola. O conhecimento ocorre a todo tempo e em todo espaço, é um processo contínuo que resulta na aprendizagem, é uma aquisição do próprio sujeito pela sua experiência, pesquisa e descoberta, conhecer é inovar conceitos, trocar informações. Apesar de todo espaço ocorrer aprendizagem, a escola é um ambiente privilegiado, pois ela potencializa e sistematiza as habilidades requeridas pela experiência e vivência dos alunos. O discente é um ser de relações, por isso quando chega à escola ele já possui um saber que é popular, próprio de sua cultura. O papel da escola é ampliar e apresentar outras culturas, através do diálogo, entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio do aluno. A partir desse estudo realizado compreende- se que o processo da construção do conhecimento é uma dialética, ou seja, é um movimento que envolve a síncrese, a análise e a síntese. A primeira fase no processo de conhecer é a fase da síncrese, que é o primeiro contato. É uma visão inicial, superficial. Essa seria a visão primitiva é onde o professor apresenta o tema, e motiva o aluno. A próxima fase será a análise, que parte do todo para as partes, ou seja, são as observações detalhadas, o confronto de idéias. Assim segue a síntese é o conhecimento construído, este conhecimento é provisório, individual, que cada aluno constrói a cada dia, não sendo nunca definitivo. O conhecimento apesar de ocorre na interação com o outro, ele não é transferido de uma pessoa para outra. Por isso depende de condições, para que ele ocorra. As condições são referentes à mediação do professor e a interação com outros alunos. Para discutir sobre o desenvolvimento do conhecimento a partir de uma visão em que o sujeito do conhecimento é ativo, o presente artigo se apoiará em Lev Vygotsky, apesar de que Lipman, o criador do programa de filosofia para crianças, embasou seus estudos em John Dewey. A escolha por Vygotsky, ocorre por este ser um psicólogo pioneiro em estudos sobre o desenvolvimento intelectual na criança, a partir das interações e condições de vida, enquanto, que Dewey, desenvolveu um estudo, explicando a função da escola, para ele a educação e a escola não seriam apenas espaços e lugares do aprendizado da democracia, mas também uma forma de vida que seria levada para a vida em comunidade. Isso significaria que a educação deveria ser considerada como um processo de formação de atitudes fundamentais, de natureza intelectual e sentimental, perante a natureza e os outros homens. Com isso, a escola seria o campo privilegiado para a aplicação e experimentação da filosofia, ou seja, um laboratório. Para Dewey, é na instituição escola o lugar que em que devem ser testados não somente os saberes e as técnicas necessárias aos fazeres humanos, as habilidades daqueles que executam e suas competências, como também, e principalmente, ensaiados os valores ético-morais e as posturas políticas que conduzirão a vida do indivíduo em sociedade. Mais do que isso, no presente, a comunidade poderia vislumbrar na escola as possibilidades para tornar melhor a sua vida moral e social, no futuro, possibilitando que as suas novas gerações aí experimentassem os valores e as atitudes mais adequadas para a condução de suas vidas no mundo, enquanto que os mais velhos preparariam o caminho, atenta e democraticamente, para a sociedade vindoura. Nesse sentido a escola é o lugar em que o diálogo deve ser exercido por todos. Porém Vygotsky, já realiza um trabalho onde explica o processo que engloba a construção do conhecimento. Para ele o desenvolvimento de um ambiente social, rico em estímulos é favorável para a aprendizagem da criança. Dessa forma, o desenvolvimento de cada criança varia de acordo com o ambiente, por isso Vygotsky não concorda com os estágios estabelecidos por Jean Piaget. A construção do conhecimento ocorre do social para o individual, portanto, é por esse motivo que a interação é tão importante para a aprendizagem. Contrapondo Piaget que considera estágios para explicar o desenvolvimento da criança, Vygotsky elaborou o conceito Zona de Desenvolvimento Proximal e Zona de Desenvolvimento Potencial. O desenvolvimento Proximal se refere ao conhecimento real do aluno, aquele que já existe, o conhecimento prévio, e o desenvolvimento potencial se refere às habilidades que os alunos ainda estão construindo. Para que o aluno adquirir novos conhecimentos é necessário despertar no discente a curiosidade, a dúvida. Assim Vygostky, em suas pesquisas, mostram a importância da interação, pois através da mediação a criança internaliza. Assim um espaço fundamental para a construção do conhecimento é um ambiente que valoriza a interação, pois dessa forma a criança evolui a forma de pensar, pois a internalizarão (a construção do conhecimento) envolve primeiro entre pessoas, isto é, no nível social e depois no intrapsicológico, a criança internaliza. Dessa forma a elaboração cognitiva se constrói na relação com o outro. A filosofia para crianças das séries iniciais do ensino fundamental abre espaço para a interação das crianças, para a troca e experiências e vivências, através do diálogo. A criança evolui a forma de pensar, quando socializa depois internaliza o novo conhecimento. A criança também usa a fala para pensar. A linguagem possibilita pensarmos sobre mais coisas, pois nos dá acesso a algo que não esta concretamente presente, mas pode ser pensado e elaborado enquanto palavra, enquanto conceito. É interessante imaginar o pensamento como um diálogo internalizado. [...]. Falar e pensar, portanto, não se aprende sozinho, mas na interação com os outros. Assim falar sobre as coisas com os outros ajuda a criança a pensar sobre elas e a desenvolver sua linguagem e seu pensamento. Nesse processo, nós, educadores, devemos buscar ouvi –lás e dar – lhes oportunidades para que, brincando, explorando e interagindo, construam sua própria linguagem, cada uma a seu tempo. ( FERREIRA – ROSSETTI, et. al., 1998, pg. 79). Para Lipman o programa de filosofia para crianças tem o objetivo de desenvolver essa habilidade de pensamento no educando, Lipmam define o pensar bem como o Pensar de Ordem Superior. Essa forma de pensar é caracterizada por ser criativo, crítico, criador, cuidadoso, compreensivo. O conhecimento é aprimorado a cada dia, se desenvolve através da educação. Quando a criança desenvolve a habilidade do Pensamento de Ordem Superior, ela passa a construir, ser sujeito de seu conhecimento, de forma coerente, organizada e investigativa. O conhecimento oferece condições para o ser humano analisar situações, e não apenas reproduzir. A escola que desenvolve um pensar alienado, não esta educando, mas está adestrando os alunos, o papel da professora nessa escola tradicional, é transferir uma verdade absoluta, inquestionável. O conhecimento só é valido quando evita essa alienação. Por esse motivo é autocorretivo, conduz a um julgamento, e busca pensar o novo que ainda não existe. Assim a filosofia, contribui para a construção do conhecimento, pois se baseia na lógica e na razão, transforma a educação em um espaço para a reflexão. A ferramenta utilizada pela filosofia é o dialogo, pois o pensamento é particular, ao dialogar o aluno encontra alternativas, que leva a reflexão. Conhecer através do diálogo: A Prática Dialógica como Processo de Aprendizagem Conhecer significa ter noção, informação, apreender, compreender através da confrontação da realidade. É um processo de relação entre sujeito e objeto. É um processo que se faz em parte individual e parte em coletivo, constituindo uma nova consciência social. Assim conhecimento é a síntese que resulta da relação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, ou seja, é a síntese da sincríse e análise. Esse modo de conhecer é a dialética. O diálogo, portanto é o confronto das idéias, que se chega a uma conclusão. O diálogo é uma arte que pouco se pratica, todo diálogo é uma conversa, mas nem todo conversa é um diálogo. Estamos sempre falando e discutindo, porém o diálogo causa uma transformação. É possível conhecer através da dialética, pois esta é uma relação que se estabelece para superar a opinião presente e estabelecer o conhecimento. O diálogo permite ao discente expor seu conhecimento prévio, mostrar sua opinião e confronta- la com novas analises e chegar a um conceito. O principal objetivo do diálogo é colocar as idéias, sugestões, para construir um novo conhecimento. Quando discutimos estamos apenas expondo nossas idéias, não se constrói um conceito, não se pensa na transformação, enquanto o diálogo exige que tenha duas ou mais pessoas para escutar e propor outros pontos convergentes. A dialética é uma prática filosófica, pois exige que o ser humano pense para construir conceitos e conhecimentos. Como Thomal (2001, p. 48), refere: “A tentativa filosófica é a de nos tirar do senso comum para conhecer e compreender o real significado desse algo a que nos referimos.” Quando a conversa se transforma em uma investigação, seguindo uma lógica, estamos filosofando, dialogando. Esse processo é natural nas crianças, pois elas possuem a curiosidade necessária, são questionadoras, flexíveis em suas definições. Para o desenvolvimento de um ensino dialógico é necessário conhecer e entender a infância nos seus diferentes períodos e fases. Assim é fundamental ao professor acreditar que as crianças são capazes de construir uma educação reflexiva, valorizando os potenciais e capacidades de cada um. O diálogo é o principal instrumento para construir a comunidade de investigação, proposta por Lipman. Essa comunidade produz o conhecimento através de uma rede de idéias elaboradas pelo diálogo entre professor e alunos. Ela não estabelece uma verdade absoluta, mas propõe várias concepções, na qual os alunos levantam suas questões e opiniões. A dialética é baseada no respeito e disciplinada pela lógica, Kohan (2000) faz uma relação entre Lipman e Freire, sobre o conceito diálogo: para ambos os autores, o consideram como a essência para o conhecer, para o processo de aprendizagem, além do diálogo despertar a autonomia do ser para o pensar, também exige que o educando desperte outras habilidades como a humildade para reconhecer que somos seres inacabados e devemos escutar a opinião do outro, esperança, confiança e cuidado. A filosofia se ocupa sobre o pensar e reconhece a sua importância, como fundamento para o processo educacional, tornando cada sujeito um cidadão. Quando o aluno dialoga com o outro ele reflete sobre sua realidade e questiona. Por esse motivo não existe diálogo em uma educação tradicional, definida por Paulo Freire. Na educação bancária, o aluno apenas recebe a informação e não tem condições/ meios para investigar, refletir. O diálogo acontece em um ambiente democrático, é uma relação horizontal, onde esta presente a autoridade do professor, porém ele não exerce o autoritarismo. Quando o professor exerce a autoridade significa que os alunos criam o respeito pelo professor, e o autoritarismo é quando o professor impõe sobre pressão o respeito, que se torna medo. O diálogo exige um ambiente participativo, onde se houve e é ouvido, é uma troca de experiências, que desenvolve a autonomia no estudante. O teor da discussão dialética é uma devolutiva aos alunos, pois trabalha os conteúdos de maneira sistematizada, onde a vivencia e as experiências de cada indivíduo são valorizadas. Assim a educação se faz de uma pessoa com a outra, em uma troca, e não é uma transferência de uma pessoa para outra. Em seu livro Lipman (2001) relata uma experiência feita em uma sala de aula, onde estabeleceu o diálogo como metodologia. No início das observações percebe – se que os alunos, utilizavam a linguagem não verbal da ação física, para mostrar a insatisfação com a aula, ou problemas pessoais. Durante a exposição das aulas eles levantavam e saiam da sala a todo o momento. Também brigavam, conversavam constantemente. Quando os alunos experimentaram a prática dialógica, aprenderam a falar com a linguagem simbólica, que é estrutural e racional. Isso contribuiu para a disciplina na sala, quando queriam sair da sala sabiam argumentar os motivos para sair da sala. Assim a aula acontecia de maneira mais tranqüila. O pensamento é uma habilidade. A todo tempo temos pensamentos rápidos, mas o objetivo do diálogo é o confronto das idéias, a refletir para se chegar a um pensamento superior. O objetivo do Programa de Filosofia para Crianças de Lipman não era tornar os alunos filósofos, mas desenvolver na criança um sujeito reflexivo, criterioso, vinculara a ação e o pensamento, sabendo avaliar, criticar a realidade. O diálogo leva a aprendizagem, pois vincula ao pensamento a interação de várias experiências e o conhecimento. O pensamento é particular. Quando expomos ele em sala de aula por meio da discussão, gera a reflexão. Assim, estaremos desenvolvendo o conhecimento dialético. Para fundamentar essa idéia Lipman trouxe a contribuição de Lev Vygotsky, um importante psicólogo, que estudou sobre a noção de desenvolvimento intelectual das crianças por meio da interação social. Vygotsky, por exemplo, reconhece clara e abertamente a existência de uma diferença entre a capacidade que as crianças têm para solucionar problemas individualmente e a capacidade de resolverem tais problemas com a colaboração de seus professores e colegas. (LIPMAN, 2001, pg. 45). Nessa interação o aluno aprende que tem o direito de falar e o dever de escutar e respeitar o outro. O diálogo é um estágio desse difícil e árduo processo da experiência que é necessário para que a experiência bruta seja convertida em expressão acabada. Para as crianças de qualquer estágio, o diálogo é uma fase indispensável do processo. Os professores deveriam ter em mente as poderosas relações que existem entre leitura e fala, por um lado, e entre a escrita e a fala, por outro lado. (LIPMAN, 2001, pg. 47). O conhecimento só é elaborado quando estabelece relação com o outro. Não fica apenas no conhecimento prévio do aluno, deve desafia – lo. O Perfil do Professor O educador deve ter uma postura adequada para que em suas metodologias estejam presentes as habilidades, que a filosofia desenvolve. O papel do professor é despertar a curiosidade, indagar a realidade, problematizar, ou seja, transformar os obstáculos, em dados para a reflexão. Assim o docente deve investigar a necessidade do aluno e a partir da realidade, problematizar, criar situações de diálogo. Assim o educador deve ter um perfil dinâmico, criativo, atualizado, para saber manipular e contextualizaras informações do cotidiano dos discentes, com as disciplinas. A função do professor é mediar o conhecimento prático, aquele que o educando adquiri da interação com outras pessoas, com o conhecimento cientifico, sistematizado. Quando o professor concebe a educação como ferramenta para transforma a sociedade, acredita no processo da construção do conhecimento, a partir da interação dos alunos, a partir da dialética, esse docente irá estimular o seu aluno, para potencializar seu aprendizado. O professor para contagiar seus alunos, dever ser ativo buscar informações, pesquisar, apresenta diferentes recursos didáticos, como mapas, filmes, entrevistas. Uma característica muito importante para o professor é ser organizado em sua relação com os seus alunos. O professor deve deixar claro, para seus discentes os objetivos da aula, expor como deve ser feita a atividade, preparar o material e o ambiente para a aula antecipadamente. Através de rodas de conversas estabelecerem comportamentos. O educador e filosofo Paulo Freire, construiu em seu livro “Pedagogia da Autonomia”, saberes que são necessários para prática docente. Ao todo são vinte e cinco sabres necessários que norteiam a prática docente. O rápido comentário se resume em: o educador deve ser ético, para não cair em um discurso hipócrita, ele deve corporificar as palavras, mostrar em atitudes, o seu discurso. O educador tem que ter consciência de seu inacabamento, assim deve estar atento para as inovações, pesquisar, ter consciência que o processo de ensino - aprendizagem se faz com o discente e o docente é uma troca de experiência onde ambos aprendem e ensinam. Dessa forma professor e o aluno devem, rejeitar a discriminação, pois devem respeitar a opinião de todos. O professor deve ser alegre e ter esperança, pois a mudança só ocorre quando se tem esperança, porque se o professor não acreditar na transformação, ele fica acomodado. O educador deve estar ciente de sua responsabilidade social, e quando assume a educação como um potencial transformador, a conseqüência, é assumir a docência como habilidade profissional. Ensinar exige a autoridade do professor, mas essa autoridade não deve anular a liberdade do aluno. Saber escutar também é uma virtude essencial, pois o aluno é sujeito do processo e não objeto, o aluno deve expressar sua opinião, por meio de diálogos. O educador não é um dominador do conteúdo e sim um mediador, pois faz um intercambio de conhecimentos, como medianeiro ele deve promover as discussões, refletindo sobre seu coditiano, para que sua pratica, não se torne mecânica. Portanto, não existe um roteiro para o professor seguir, mas virtudes para refletir durante sua prática docente. A educação é uma responsabilidade social, por isso o aluno deve desenvolver algumas habilidades além de aprender a ler, escrever e fazer contas. O ensino de Filosofia para crianças e as Habilidades Construídas A filosofia surge para pensarmos e questionarmos os fatos ao nosso redor, “[...] tudo que vivemos e concebemos pode e deve ser objeto de nossa interrogação [...] interrogação aberta e incessante” VALLE (2008, p. 4). Este questionamento está ligado à democracia, pois elimina a censura. A filosofia é vista como uma função reservada a especialistas, ou seja, aos pesquisadores que devem produzir o conhecimento, uma teoria, assim existe uma dicotomia entre teoria e prática, os detentores do conhecimento seriam um grupo especial a parte da sociedade, as demais teriam contato com o conhecimento através da informação, da verbalização. Essa é uma visão tradicional da educação, onde o professor é detentor da verdade absoluta, e transmite esse conhecimento ao aluno através da verbalização. É uma educação que aliena os discentes, para manter a sociedade, não provoca a reflexão. Porém o conhecimento não é transferido/transmitido e sim construído, os alunos aprendem a partir do momento que querem aprender, que sentem a necessidade. A visão democrática da educação é tornar o aprendizado uma produção de todos os sujeitos envolvidos, através de uma interação com o objeto, que visa transformar a sociedade, e que mantém uma relação dialética entre teoria e prática. Assim o objetivo do programa é desenvolver a habilidades de pensar, desenvolver a potencialidade cognitiva do aluno para o Pensar Bem, de Lipman. Ou seja, desenvolve o juízo este é a relação do pensar e do agir. Não é objetivo transformar as crianças em filósofos, mas formar cidadões mais reflexivos, mais criteriosos. Nesse sentido a criança aprende a raciocinar. A razão está ligada a linguagem e ao pensamento de forma lógica. Essa disciplina quando integrada a outras disciplinas, desenvolve hábitos críticos e métodos investigativos. O ensino de filosofia não é simplesmente uma única disciplina, mas também um projeto interdisciplinar. O professor orientara seus alunos para aprender os pilares da educação, aprender a conhecer, fazer o viver e ser. A pesquisa experimental mostrou que a introdução da Filosofia Para Crianças de uma maneira sistemática e rigorosa, e com professores treinados, pode ter impactos positivo nas habilidades básicas. Porém, poderá fazer uma diferença substancial ou significativa quando integrada a outras disciplinas acadêmicas (LIPMAN, 2001, pg. 41). A metodologia defendida pela filosofia é o diálogo. Este recurso é de suma importância para levar a criança a refletir, concentrar, avaliar, a ouvir, leva criança a internalizar o pensamento. A filosofia tem a função de garantir a nossa autonomia. A sociedade impõe uma forma de divisão de trabalho, onde um pesquisador pensa a teoria e o outro coloca em prática. Na maioria das vezes é o docente universitário, que se torna pesquisador, ao longo do tempo deixa de ser um professor reflexivo e se torna um teórico, sua função deixa de ser o magistério para ser palestrante, divulgador da teoria, o aluno universitário então, recebe o conjunto pronto de teoria. A educação é para preparar o aluno para o exercício da cidadania. Por esse motivo temos que renovar nossa prática e o currículo. A educação ética não é tarefa de um especialista, mas de todos. Dessa forma, o ensino de filosofia contribuiu para desenvolver habilidades nos educandos, e forma –los em cidadões, participativos, éticos, que criticam, ou seja, questionam, avaliam; serem criativos, que inovem, e cuidadosos em relação aos valores do outro, sendo dessa forma, mais tolerantes, sabendo respeitar a opinião do outro, a diversidade, sem se tornar passivo. Considerações Finais O presente trabalho não pretende fazer uma reflexão conclusiva sobre o tema “Filosofia Para Crianças”, pois este é um assunto de grande complexidade, e exige maiores pesquisas. Porém, a pesquisa realizada permite fazer algumas considerações sobre as habilidades que o aluno adquiri quando, tem contato com a filosofia, desde os primeiros anos do ensino fundamental. A filosofia que se pretende estabelecer na sala de aula deveria ser interdisciplinar, ou seja, estar presente em todos os conteúdos como metodologia. Mas importante também ter uma disciplina orientada somente para o assunto. Então a filosofia deve ser introduzida no currículo escolar como uma disciplina, no qual o professor tenha autonomia e espaço para reflexão e construção de um novo saber. Vale ressaltar que o ensino de filosofia para esse público, não se faz com o ensino da história da filosofia, mas através de conversas que se transformam em uma inquietação, e assim surge o diálogo. O diálogo proporciona ao aluno ferramentas para, adquirir habilidades cognitivas importantes para a construção do seu conhecimento. Através da filosofia o professor reconhece que o aluno é um sujeito autônomo, na construção de seu conhecimento. O aluno também experimenta através do diálogo, situações de respeito, concentração, seu raciocínio deve ser organizar de forma lógica. Para as crianças as aulas de filosofia devem ocorrer com a leitura de um texto; os alunos escolhem um tema para discutir, não é necessário que os alunos cheguem a uma conclusão única, envolver os alunos em diálogos é incentivá-los a pensar por si próprios, para que não sejam vítimas do senso comum do autoritarismo, além de saber ouvir e respeitar as opiniões alheias. A filosofia assim deve ocorrer em um ambiente democrático, para que se forme cidadãos questionadores, críticos, criativos.O papel do professor nessa perspectiva amplia para um compromisso de mediar o conhecimento refletindo sobre sua prática. O currículo, proposto por Matthew Lipman precisa ser reformulado para se adequar a realidade brasileira. Não é correto também oferecer um programa, onde tudo esta pronto, para o professor. Pois, como orientar o aluno para ser sujeito crítico, reflexivo, se o próprio educador, não reflete sobre o conteúdo da proposta. O programa é importante para orientar o professor, mas cada um deve analisar e elaborar sua proposta, conforme a realidade de sua escola. O atual desafio é pensar a filosofia como um caminho e possibilidade para construção do conhecimento e valores. Referências FACULDADE CATOLICA DE UBERLÂNDIA, MG. Caderno de Estudos Filosóficos, v.1- nº1, 55 – Set/Dez. 2005. Uberlândia: Edicat, 2005. FERREIRA – ROSSETTI, Maria Clotilde. Os Fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez,1998. KOHAN, Walter Omar. Filosofia para Crianças. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. KOHAN, Walter Omar. Pensando a Prática da Filosofia na Escola. 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