Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora
ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 51 – O ensino da Língua Portuguesa no Mundo: bases epistemológicas, objectivos e conteúdos
GRAMATICALIZAÇÃO E LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA:
UM ESTUDO DE CASO
Cristina Lopomo DEFENDI1
Maria Célia LIMA-HERNANDES2
RESUMO: Com as novas orientações dos PCNs e exigências de adequação ao PNLEM,
muitas mudanças esperam-se dos livros didáticos distribuídos ao ensino público.
Sabemos, no entanto, que uma adaptação às novas exigências leva tempo e, mais do que
isso, a cooperação entre ciência e didática deverão se estabelecer. É nessa direção que
caminha este trabalho, que prioriza a análise de um livro didático de grande circulação,
com vistas a identificar sua adequação e vinculação teórica, bem como mudança de sua
metodologia para favorecer o trabalho do professor de língua portuguesa em sala de
aula. Confrontamos, portanto, discurso assumido pelos autores e abordagem gramatical
explicitada no capítulo sobre classe de palavras.
PALAVRAS-CHAVE: livro didático; gramática da língua portuguesa; classe de
palavras.
1.
Introdução
A escola, personificada na figura do professor, de maneira geral tem
assumido dois posicionamentos antagônicos perante o ensino da gramática da língua
portuguesa: ou repercute as regras da gramática tradicional, sem as questionar, ou abole
o ensino gramatical, restringindo-se à leitura e à produção de textos sem vínculo com as
1
Doutoranda da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa.
Professora do Instituto Federal de São Paulo (IF-SP), Coordenadoria de Códigos e Linguagens, Rua
Pedro Vicente nº 625 - CEP: 01109-010 - São Paulo - SP – Brasil.
Email: [email protected]
2
Pesquisadora da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Av.
Professor Luciano Gualberto, 403, 2º andar, sala 4 - Cidade Universitária, São Paulo, SP, CEP: 05508000
Email: [email protected]
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questões de língua. É evidente que esse tipo de postura revela uma formação teórica e
uma concepção de ensino de Língua Portuguesa.
Contrapondo-se a isso, há investigadores filiados às teorias funcionalistas
envolvidos em estudos sobre as motivações dos processos de variação e mudança
linguísticas, justamente preocupados com a língua em uso, viva e dinâmica. Mais
especificamente, preocupados com os aspectos que denotam que alguns elementos da
língua percorrem um continuum de mudança, gradual e ininterrupto, que compreende a
passagem de um item lexical a gramatical ou de gramatical a mais gramatical ainda, ou
seja, que demonstram a passagem por um processo de gramaticalização.
Se existem estudos que avançam nas descobertas linguísticas, em que
medida isso se reflete no ensino da língua portuguesa? No Brasil, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, LDB 9394/96, e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
estabelecem os objetivos do ensino da língua portuguesa nos ensinos fundamental e
médio, primando por novas concepções de transdisciplinaridade e do caráter social do
uso linguístico. Como observam Oliveira e Coelho (2003), a proposta governamental
pode ser interpretada como uma proposta funcionalista de ensino da língua.
Neste estudo de caso3, apresenta-se a investigação sobre a abordagem do
ensino gramatical nas escolas brasileiras no que tange às mudanças gramaticais,
restringindo a análise ao tópico “classes de palavras” e ao livro didático Português - de
olho no mundo do trabalho, de Ernani Terra e José de Nicola, volume único, distribuído
3
Este trabalho é parcialmente fruto de reflexões que Defendi (2009) vem desenvolvendo em seu projeto
de doutoramento, que tem como um dos objetivos investigar a abordagem do ensino gramatical em livros
didáticos brasileiros no que tange às mudanças gramaticais.
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pelo PNLEM-MEC (Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio – Ministério da
Educação, Brasil) a escolas públicas.
É objetivo deste trabalho responder às seguintes questões: (i) Como se dá o
diálogo entre avanços nas ciências linguísticas e a sala de aula no material sob análise?
(ii) As mudanças linguísticas identificadas pelos pesquisadores vinculados à teoria
funcionalista que lidam com pressupostos da Gramaticalização afetam a categorização
das classes de palavras no livro didático analisado? (iii) É possível identificar, no
material, a incorporação das noções funcionalistas de prototipicidade e escalaridade
para a abordagem das classes de palavras?
Este estudo associa-se, em uma pesquisa mais ampla, ao Projeto “A língua
portuguesa no mundo”, mais especificamente ao subprojeto sobre livro didático de
língua portuguesa e abordagem gramatical.
2.
Estudo de Caso: o livro didático Português - de olho no mundo do trabalho
O livro didático Português - de olho no mundo do trabalho4 foi distribuído à
rede pública de ensino pelo Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio
(PNLEM)5 vinculado ao Ministério da Educação (MEC) por meio da Secretaria de
4
de Ernani Terra e José de Nicola, volume único, Editora Scipione.
Esse programa tem como objetivo prover as escolas das redes federal e estadual com obras didáticas,
sendo que cada estudante recebe um exemplar das disciplinas de português, matemática, história,
geografia, física, biologia e química: “ Implantado em 2004, pela Resolução nº 38 do FNDE, o Programa
Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) prevê a universalização de livros didáticos
para os alunos do ensino médio público de todo o país. Inicialmente, atendeu 1,3 milhão de alunos da
primeira série do ensino médio de 5.392 escolas das regiões Norte e Nordeste, que receberam, até o início
de 2005, 2,7 milhões de livros das disciplinas de português e de matemática. Em 2005, as demais séries e
regiões brasileiras também foram atendidas com livros de português e matemática.”
5
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Educação Básica (SEB) e em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE).
Escolhemos esse livro didático para iniciar o trabalho de análise por ser o
material enviado pelo PNLEM ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia,
campus São Paulo (IF-SP), no qual uma das pesquisadoras envolvidas neste estudo é
professora efetiva há 11 anos6.
Na obra de Terra e Nicola, consta como epígrafe da parte de apresentação da
obra aos estudantes o seguinte trecho de Neves (2002, apud TERRA e NICOLA,
2009:3):
(...) saber expressar-se numa língua não é simplesmente dominar o modo de
estruturação de suas frases, mas é saber combinar essas unidades sintáticas
em peças comunicativas eficientes, o que envolve a capacidade de adequar
os enunciados às situações, aos objetivos da comunicação e às condições de
interlocução. E tudo isso se integra na gramática.
Os autores apresentam, dessa forma, a linha teórica que procuram seguir
nessa obra, explicitando aos estudantes a importância de, em um ato comunicativo,
“saber claramente com quem estamos falando, por que estamos falando, o que queremos
com nossa fala; ao mesmo tempo, precisamos ter o domínio das estruturas que a língua
nos oferece, para que possamos construir de modo eficiente as nossas falas.” (TERRA e
NICOLA, 2009:3)
O manual dedicado ao professor encontra-se no final da obra, intitulado
“Assessoria pedagógica”. Na apresentação, rememora-se que a obra foi lançada em
1995 e que, para atender à reformulação do ensino, marcada, entre outras coisas, pela
6
A escola não recebeu exemplares do “livro do professor”. Por isso, neste trabalho, fazemos menção a
edições diferentes do mesmo livro (livro do aluno - 1ª edição de 2009- e o livro do professor -1ª edição de
2008).
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publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a obra foi reeditada, constando de
“sensíveis mudanças de abordagem e de reestruturação de conteúdos no livro-texto”
(p.3)
O manual organiza-se como um livreto anexado ao final do livro didático e
estrutura-se em quatro capítulos: 1. Gramática, Leitura e produção de textos, que
compreende considerações sobre “Um novo enfoque para o ensino de gramática e
produção de textos”, “Os textos e o nosso cotidiano”, “Contexto e níveis de linguagem”,
“A avaliação dos textos produzidos” e “Sugestões de trabalho com o texto”; 2.
Literatura brasileira e portuguesa, abordando “O texto, elemento irradiador das
aulas”, “A função poética da linguagem e “Por que estudar história da literatura”; 3.
Respostas aos exercícios propostos; e 4. Sugestões de endereços eletrônicos.
O encarte final, intitulado “Assessoria pedagógica”, mostra-se compatível
com o que é recomendado com o PNLEM, a saber: apresenta a estrutura geral da obra e
sua articulação; orienta o professor no manejo do material em sala de aula; sugere
atividades complementares; fornece respostas aos exercícios propostos, entre outras
recomendações.
Ainda na apresentação da obra para o aluno, há, também, uma observação
final sobre como a obra primará pelo “rigor da informação correta e de um conteúdo
abrangente”, bem como por reunir “todos os itens tradicionalmente estudados em aulas
de Português” (grifos nossos) e justificam:
A Gramática é apresentada sempre com base em textos dos mais variados
gêneros e tipos, com questões que procuram levar vocês a refletirem sobre o
conteúdo que será trabalhado, valorizando a análise e a interpretação de
textos e criando condições para a formação de leitores atentos e competentes
produtores de texto. (id. ib.)
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Com essa orientação, os autores incluem três unidades e um apêndice na
parte dedicada à Gramática, assim distribuídos: Unidade 1, Fonologia, abrigando
Fonologia, Ortografia e Acentuação gráfica; Unidade 2, Morfologia, com 6 capítulos, a
saber: Estrutura e formação de palavras, O substantivo e o artigo; O adjetivo e o
numeral; O pronome; O verbo; e As categorias gramaticais invariáveis; Unidade 3,
Sintaxe, incluindo capítulos dedicados a: Termos essenciais da oração, Termos
integrantes da oração, Termos acessórios da oração – Vocativo7, Período composto e as
orações coordenadas, Orações subordinadas, Sintaxe de concordância, Sintaxe de
regência. No Apêndice, são apresentados capítulos dedicados à Crase e à Gramática nos
exames (vestibulares e Enem)8.
3.
Classe de Palavras: sua abordagem teórica e sua aplicação
O objeto desta investigação encontra-se integrado à Unidade 2 –
Morfologia. Alguns aspectos serão levados em consideração para a análise que
pretendemos desenvolver e eles decorrem de alguns dos critérios utilizados para a
avaliação de um livro didático pelo PNLEM, tais como (i) correção e adequação
conceituais e correção das informações básicas; e (ii) coerência e pertinência
metodológicas. Além disso, tem-se em conta a noção de gênero e sua implicação com a
gramática, como fica explicitado nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio:
uma análise discursiva integradora das diferentes dimensões envolvidas na
produção de sentidos pode permitir que os alunos construam uma
consciência lingüística e metalingüística essencial para sua formação. Vale
ressaltar que essa consciência só se alcança em razão de o aluno ser
7
Convém investigar, em momento oportuno, por que o vocativo aparece destacado no sumário.
Como apêndice deste artigo, encontra-se a descrição detalhada dos capítulos 5 a 9 dessa parte
gramatical.
8
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orientado, nas práticas de ensino e de aprendizagem, para uma atuação ativa
no trabalho com o texto, a qual requer a contínua transformação de saberes
(textuais, pragmáticos e conceituais, além dos especificamente lingüísticos)
relativos às diferentes dimensões envolvidas em um texto ao atualizar
determinado gênero. (p.31)
Considerando essa orientação, depreendemos os seguintes aspectos que
devem ser tomados como critérios de análise das obras didáticas:
i) os textos e/ou gêneros textuais usados para motivação do estudo gramatical, bem
como as questões propostas para reflexão; ii) a correção e a adequação das definições
apresentadas; iii) o aplicação efetiva que se faz do pressuposto, apresentado no início da
unidade, sobre a necessidade da junção de critérios (semântico, sintático e morfológico)
para a adequada classificação da palavra; e iv) a aplicação/incorporação dos
pressupostos teóricos assumidos durante a abordagem expositiva e durante a proposição
de exercícios na seção “Teoria na prática”.
Na seção seguinte, procedemos à análise do material levando em conta,
portanto, cinco critérios (dois depreendidos dos critérios de avaliação de livros
didáticos; três derivados da leitura das Orientações Curriculares; e dois produzidos
pelos próprios autores como norte da obra):
(i)
correção e adequação de conceitos/definições e de informações básicas;
(ii)
coerência e pertinência metodológicas.
(iii)
adequação entre os textos e/ou gêneros textuais e as questões propostas
para reflexão;
(iv)
junção de critérios
(semântico, sintático e morfológico) para a
classificação da palavra;
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(v)
aplicação/incorporação dos pressupostos teóricos durante a abordagem
expositiva e a proposição de exercícios.
3.1 Considerações sobre os capítulos dedicados às classes de palavras
a) Das definições
Considerando o primeiro capítulo, dedicado à Morfologia, a seguinte informação
sobre categorização é explicitada:
Para compreendermos o papel que as palavras desempenham no processo da
comunicação, costumamos separá-las em classes, denominadas classes de
palavras ou classes gramaticais. Existem, na língua portuguesa, dez classes
gramaticais: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo,
advérbio, preposição, conjunção, interjeição. (p.219)
Por essa informação, notamos que a categorização assumida pelos autores
corrobora a organização apresentada na gramática tradicional, que distribui as palavras
em dez classes. A própria escolha do verbo “existir”, para referir-se a essa organização,
contribui para a construção dessa verdade absoluta. Em nenhum momento da unidade
dedicada à Morfologia é questionada essa divisão em dez classes gramaticais, nem se
menciona ou deixa-se inferir a questão da prototipia.
Todos os capítulos são iniciados com a apresentação de um texto (de gênero
e tipo variados) e com questões envolvendo conhecimentos linguísticos. Mesmo assim,
é comum, na maioria das seções, encontrar uma estruturação dedutiva, o que nos
permite afirmar que esse seja o método de ensino adotado pelos autores como ideal para
a exposição da categorização. As definições são apresentadas envolvendo, total ou
parcialmente, os critérios semântico, sintático e morfológico e, a partir daí, elencam-se
exemplos que ratificam a definição dada. Em relação aos critérios, embora no capítulo
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inicial o “adjetivo” seja explicado à luz das características semânticas, sintáticas e
morfológicas, nem todas as classes são assim apresentadas.
É uma estratégia comum9 na obra, também, a comparação entre classes de
palavras, mesmo que uma delas não tenha sido apresentada anteriormente. É o caso, por
exemplo, da apresentação da morfossintaxe da preposição e da comparação feita com a
conjunção, classe até aquele momento não discutida. Uma forma de entender essa
estratégia é pensar que a obra destina-se a alunos do ensino médio, ou seja, o conteúdo
gramatical não constitui necessariamente uma novidade.
b) Das questões
São basicamente três os tipos de questões elaboradas no decorrer da
unidade: (i) as que dizem respeito ao texto escolhido para a apresentação do conteúdo
gramatical; (ii) as que são apresentadas em forma de exercícios de verificação e de
fixação; (iii) as que focalizam a discussão da gramática visando a uma atitude mais
reflexiva por parte do aluno10.
Quanto às questões do primeiro tipo, as elaboradas para tratar de
conceitos gramaticais a partir de um texto, notamos que o texto realmente não passa de
“pretexto”, já que serve unicamente aos propósitos da unidade. Muito se fala da
necessidade de uma gramática a partir de textos, do trabalho com a gramática textual, e
a resposta que a obra dá a essa exigência é contemplar com um texto inicial, literário ou
9
Como se pode comprovar no apêndice com a descrição dos capítulos dedicados às classes de palavras.
Aparecem em apenas dois capítulos: “Substantivo” e “Pronome”.
10
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não, de gêneros textuais diversos, o início de uma apresentação que não foge do que
tradicionalmente encontramos em gramáticas normativas: definição, exemplo e
aplicação. Essa tentativa de se atender às novas exigências, contudo, já representa um
avanço que certamente poderá ser expandido em futuras edições, quando os autores
terão amadurecido a idéia do que seja ‘lidar com a gramática a partir de textos’.
Os exercícios de verificação e de fixação são invariavelmente
tradicionais, com predominância de exercícios que visam à clássica identificação da
classe gramatical trabalhada em determinado texto (literário ou não, de uso corrente ou
elaborado com o fim específico de servir de exercício didático). Em seguida, estão os
exercícios que pedem ao aluno a reescrita, quer seja com incorporação de palavras, quer
seja com correção. Em menor número, estão as questões que apresentam um modelo a
ser seguido e, em número mais reduzido ainda, as questões de preenchimento de
lacunas, substituição de termos e justificativa de emprego de um item.
As questões que propõem uma discussão gramatical são apresentadas em
menor número e apareceram destacadas em seções próprias, “Discutindo a gramática”,
em somente dois capítulos. Nesse momento, sempre é solicitada a interação dos alunos
em duplas ou em grupos para que resolvam a proposta. São questões que visam à
reflexão sobre o conteúdo gramatical apresentado, problematizando o tópico abordado.
Identificamos alguns ‘pontos altos’, no que se refere à forma de convite à
reflexão sobre gramática e categorização:
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1) No capítulo sobre “Pronomes”, há três questões interessantes que exigem do
aluno um olhar atento à gramática. São elas: (i) a discussão de determinado
emprego pronominal pela norma formal-culta (a partir da letra de música “Beija
eu”); (ii) a discussão do emprego do pronome relativo em notícia do jornal
Folha de São Paulo (“...foi morto com dois tiros nas costas anteontem por ter
posto a mão em um doce em uma lanchonete que não ia comprar”). Quanto a
essa questão, os autores restringem o tratamento a duas ações solicitadas:
identificação do ‘erro’ e correção11; e (iii) a discussão sobre referenciação por
meio da identificação dos referentes dos pronomes esta e aquele em trecho de
texto literário.
2) No capítulo sobre “Conjunções”, aparece uma questão contextualizada que faz
refletir sobre a importância do conectivo para o entendimento do texto. A partir
de um fragmento de notícia do jornal O Estado de São Paulo, ao leitor é
solicitado que identifique a conjunção que está em contradição com outras
informações do texto e quais são essas informações12. O aluno teria de perceber
as relações estabelecidas pelas conjunções e verificar de que modo essas
relações seriam coerentes ou não com as informações apresentadas.
11
Caberia ao professor dar fundo à questão aproveitando a circunstância favorável de se ter um dado de
produção real com alta circulação pela sociedade: explorar as possibilidades de interpretação a partir do
texto escrito oferecido, depreender os efeitos que essa notícia traria para o leitor, em sua potencial
diversidade sociolinguística e exercitar as várias ferramentas oferecidas pela gramática para que a
situação comunicativa fosse eficiente. No livro do professor, aparece somente a resposta esperada à
questão: “o pronome relativo está distante de seu antecedente, induzindo o leitor a erro de interpretação”;
“foi morto com dois tiros nas costas anteontem, em uma lanchonete, por ter posto a mão em um doce que
não ia comprar” (p.57)
12
Trata-se do seguinte texto: “A vítima assim se viu constrangida numa situação muito comum nesta
urbe, desassistida na noite, em região embora de pouco movimento, porém, sem qualquer fiscalização”,
escreveu o juiz.
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A seguir, tecemos algumas observações a respeito de questões
específicas:
1) Em uma das questões de “Gramática no texto”, no capítulo sobre “Adjetivo”, foi
solicitada a definição de adjetivo a partir de considerações sobre substantivo,
adjetivo e alterações propostas. Deve-se atentar, contudo, para o fato de que a
definição é apresentada em destaque na página ao lado, o que certamente
compromete o processo de reflexão que o aluno deveria vivenciar. Seria
proposital essa configuração emparelhada de solicitação-explicitação da
resposta? Seria um equívoco decorrente da visão mais tradicional de aluno ideal
(com atenção linear e visão fragmentada)?
2) No capítulo “Numeral”, uma das questões elaboradas solicita que o aluno
reescreva as frases, corrigindo a grafia do numeral. Porém, o primeiro número a
ser corrigido é o catorze, dicionarizado em Houaiss & Villar (2001). Na
sequência do exercício, é apresentado o numeral cincoenta e hum. Seria
conveniente contextualizar, por exemplo, que hum é empregado em contexto
específico: no preenchimento de cheques como estratégia para evitar adulteração
de valores. Há, em ambos os numerais, implicadas questões que não podem ser
tratadas com exclusividade no âmbito ortográfico, posto que elementos de um
contexto social ou sociolinguístico (estratificação diacrônica, por exemplo)
deveriam ser mobilizados nessa explicação.
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3) No capítulo sobre “Verbos”, é pedido ao aluno que: (i) identifique o erro e
efetue a correção da forma verbal empregada em jornal de grande circulação13.
porém o máximo apresentado na parte teórica foi a existência de verbos
defectivos, ou seja, aos alunos não foi dada base para que respondam à questão
pedida, nem pistas para poderem pesquisar a resposta; (ii) preencha lacunas de
textos de prosa literária com determinados verbos em tempo e modo pedidos.
Aqui, os autores lidam com a informação pressuposta, pois, apesar de não
discutirem conjugação verbal, constroem o exercício sobre o tema. Haveria aqui
algum problema em termos da pedagogia do livro didático? Supõe-se que o
conhecimento prévio deva também ser trabalhado pela escola, mas a coesão
entre o pressuposto e o que se considera ‘matéria nova’ não deveria ser
explicitada no material? O objetivo pedagógico da retomada também deveria ser
explicitado ou aludido?14 (iii) promova a transformação do imperativo negativo
em imperativo afirmativo. Também esse assunto não foi alvo de discussão neste
material didático15.
4) No capítulo sobre “Conjunções”, há um exercício que lida com a identificação e
diferenciação de conjunção subordinativa e pronome relativo. Essa é uma forma
de tratamento e um raciocínio exigidos tipicamente pelo modelo tradicional de
ensino: pede-se ao aluno que aprenda mais exceções que regras, focalize mais a
forma do que a função, analise mais o item em si do que o contexto de emprego,
13
Trata-se da seguinte notícia da Folha de São Paulo: “Líderes asseguram a vaga, e Corinthians reavê 2º
lugar” (p.251).
14
Em consulta ao Livro do Professor, isso não fica explicitado.
15
Além de não se ter uma discussão de fundo sobre o tema, não se explora (nem se abre possibilidade de
reflexão) nesse exercício outras formas imperativas, tanto em termos de graus quanto em termos de
estratificação social.
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introjete mais a escrita do que a fala e que perceba mais o padrão do que as
variantes sociais.
Tendo em vista o número de exercícios propostos no livro sob análise,
evidente se torna que poucas foram as questões que desafiaram o aluno para uma
postura mais reflexiva e atenta à gramática em uso. Mesmo as questões elaboradas com
esse mote acabaram se perdendo na bipartição clássica de “certo e errado” e não se
ativeram às múltiplas possibilidades de leitura, intencionalidade, situação de uso e
efeitos discursivos.
c) Das regras
Cada capítulo prevê uma seção sobre o “emprego” do termo. Nessa parte,
são apresentadas regras de uso e outras dicas de adequação à norma culta, assumindo
um caráter prescritivista. De modo geral, essa seção atém-se ao formato regrasexemplos.
No capítulo sobre “Verbos”, suscita-se a questão dos critérios adotados
pelos autores para essas prescrições. Sobre o emprego do infinitivo, aparece a seguinte
nota: “Não há propriamente regras que determinem o emprego do infinitivo; o que se
observam são tendências e usos consagrados por competentes usuários do português.”
Em nenhum momento, porém, respondem-se: quem seriam os usuários considerados
competentes? quem teria o poder de “fazer as regras”? quem consagra o uso? Por outro
lado, se não há propriamente regras, o que está sendo prescrito? A despeito disso, na
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ISBN: 978-972-99292-4-3
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sequência do livro, inopinadamente, são apresentadas as “regras” para o uso do
infinitivo impessoal e pessoal.
d) Da gramática funcional
Convém não se perder de vista que o livro sob análise é iniciado com
intenções de vinculação funcionalista. Isso é evidenciado logo no início do livro com a
citação de Neves (2002), de onde se destacam ideias, como: (i) a língua é expressa em
uma situação real de uso; (ii) a língua visa à comunicação; (iii) língua e comunicação
atrelam-se à gramática.
Esses pressupostos funcionalistas são observados na construção do livro em
itens, como: (i) “A gramática no texto”, em cada seção temática do livro; (ii) utilização
da língua em uso (trechos de jornais, revistas, letras de música, poemas e outros textos
literários); (iii) seleção de classes gramaticais para estudo. É a tentativa de demonstrar
que a gramática só existe atrelada a um texto, em determinada situação de uso, com uma
intencionalidade bem definida, por meio de estratégias discursivas e gramaticais. Ainda
assim, é possível identificar um número excessivo de frases descontextualizadas,
elaboradas com o intuito único de servirem de material didático de verificação e fixação
da aprendizagem. Dessa forma, ainda que a estrutura do livro já demonstre uma
preocupação com as inovações no campo da linguística, ainda se revela bastante
amarrada à gramática prescritiva tradicional.
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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
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Outro campo em que os autores demonstram estar atentos às propostas das
Orientações Curriculares Nacionais é o dos gêneros textuais/discursivos. Não somente
na parte de Produção de Textos (não abordada neste trabalho), mas também na parte
gramatical fica evidente a preocupação na escolha dos textos, variando estilos,
discursos, tipos e usos textuais.
São feitos alguns contrapontos no decorrer da unidade entre o que é
prescrito pela norma culta e o uso efetivo na linguagem popular, porém, no estágio de
evolução da obra, ainda não são problematizadas as diferenças de uso.
4.
Algumas considerações sobre a apresentação da obra
4.1
A apresentação da obra para os estudantes
Como destacado anteriormente, um trecho dos pressupostos funcionalistas,
encontrados em Neves, serve de epígrafe e de mote para os autores explicitarem o
objetivo que têm com a obra, pondo em destaque o ato comunicativo, a intencionalidade
e as estratégias usadas nesse contexto. Justifica a seleção de Neves como referência,
segundo os autores, o fato de dividirem a obra em seções de uma forma peculiar que
leva em conta a proporção equilibrada da discussão em cada seção e a ordem de
apresentação do conteúdo: “O que vai dito acima explica e justifica a divisão de
conteúdos de nosso livro, com suas três partes bem proporcionais e na seguinte ordem:
Produção de textos, Gramática e Literatura.”
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Perguntamo-nos então: seriam os quesitos apresentados pelos autores
suficientes para o enquadramento funcionalista da obra? O fato de priorizar uma ordem
discursiva ou outra (na organização de matérias) seria índice suficiente de vinculação
teórica? Não haveria a necessidade de mudar mais do que o foco temático a orientação
metodológica para se partir do dado e de sua análise, exercitando a reflexão sobre a
fluidez das categorias (prototipia e padrões funcionais)? Ainda que esse exercício fosse
por demais complexo para a primeira mudança nos livros didáticos, não seria o mínimo
exigido para a mudança o rompimento com o par bipolar certo-errado?
É inegável a dificuldade de se desvencilhar da organização curricular
imposta, da necessidade de se adequar ao esperado pela editora (garantia de venda) e,
agora também, atender aos índices de avaliadores do livro didático, os quais
recomendam ou desclassificam os livros para o PNLEM. No entanto, como os autores
apresentam como referencial teórico a fala e seu caráter social, não é possível romper
com o próprio discurso: é necessário buscar outras formas de reflexão sobre a língua
portuguesa.
Outro ponto importante, dada a natureza deste trabalho, é a forma como a
Gramática é apresentada: “com base em textos dos mais variados gêneros e tipos”,
“valorizando a análise e interpretação”, “criando condições para a formação de leitores
atentos e competentes produtores de texto”. Na parte gramatical em que são trabalhadas
as classes de palavras, diversos tipos de textos são utilizados, porém a análise e
interpretação restringem-se a questões gramaticais e raros são os exercícios que
serviriam ao propósito de criar condições para que o aluno se tornasse competente
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produtor textual. Esse objetivo parece só ser perseguido na parte explicitamente voltada
à produção de textos, como se instrumento e uso pudessem ser dissociados da
competência linguística.
Ainda na apresentação da obra para os alunos, fica clara a preocupação dos
autores com a adequação da obra a alunos e professores e para que não restem dúvidas a
esse respeito, aliam-se ao que já é consagrado e já conhecido (portanto, aceito): o livro
trabalha “todos os itens tradicionalmente estudados em aulas de Português” (grifo
nosso). E com essa afirmação, os autores negam uma nova postura didática (que na
verdade é, contraditoriamente, objetivo da reformulação da obra) exigida, via
orientações dos PCNs e PNLEM.
A título de curiosidade, o subtítulo do livro preconiza uma vinculação
também social (De olho no mercado de trabalho), um ponto positivo da obra, já que é
uma fase de profissionalização para muitos estudantes.
Ao longo dos capítulos, é possível encontrar essa preocupação em forma de
notas em caixas de textos destacadas. Nelas, são apresentadas relações entre o que está
sendo estudado e o que é praticado em alguma profissão. Por exemplo, no capítulo 5 da
Unidade 2, o conteúdo de flexão de gênero e de número dos substantivos serve como
pretexto para falar da profissão de “Secretária executiva” e a necessidade de se falar e
escrever bem nessa profissão. Não nos deteremos nessa questão que apresentamos
apenas a título de ilustração.
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4.2
A apresentação da obra para os professores
No capítulo dedicado à gramática do manual do professor, encontra-se o
seguinte trecho:
Todos nós temos, como objetivo principal, que nossos alunos sejam, ao final do
Ensino Médio, competentes leitores e produtores de textos e não meros
conhecedores de uma nomenclatura gramatical específica, com suas regras e
exceções. De que adianta o aluno dominar toda a nomenclatura gramatical, se é
incapaz de produzir um texto com clareza, coerência e coesão? (p.6)
(...) entendemos que o ensino de gramática não pode ser abandonado e, mais, que
deve ser visto como um suporte da comunicação escrita. Sugerimos que o(a)
professor(a) enfatize aspectos gramaticais fundamentais para a produção de texto –
acentuação gráfica, concordância, regência, coordenação e subordinação, elementos
coesivos - , mostrando como podem ser importantes para a eficácia da comunicação.
O tratamento dado ao estudo gramatical, portanto, deve ser essencialmente
funcional.” (grifo nosso) (p.6)
Essas afirmações coadunam com o conteúdo das Orientações curriculares para
o Ensino Médio, já que demonstra que o aprendizado da língua pressupõe apreender as
práticas de linguagem e utilizá-las efetivamente em interações sociais.
Fica explícita a preocupação que se deve ter com a concepção de língua rejeitada
(estática e exterior ao sujeito) e com a concepção que se deve privilegiar na escola atual
(a língua como prática social, inserida em um contexto sócio-histórico). Infelizmente,
nem sempre se tem a real dimensão do que é lidar com uma língua em sua
dinamicidade, focalizada em suas práticas sociais orais ou escritas que foram geradas,
convencionalizadas e ritualizadas em contextos sócio-históricos típicos e passíveis de
reflexão e análise, mesmo pelos alunos de ensino médio.
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5
Considerações finais
Com este trabalho de reflexão sobre material didático, tecemos algumas
considerações sobre a vinculação teórica em contraponto com o discurso assumido por
meio de afirmações, explicações, exercícios e reflexões presentes em um livro didático
destinado ao ensino médio no Brasil.
Estabelecemos inicialmente um recorte temático nas classes de palavras
para uma breve análise da forma e do conteúdo veiculado nessas seções. Nossa intenção
mais clara era perceber se haveria mudanças no tratamento e na abordagem gramatical,
já que tanto PCN quanto PNLEM demonstram orientações e exigências na direção das
práticas sociais em interação com uma gramática dinâmica, que, no caso das classes de
palavras, exige uma releitura em termos de prototipia e fluidez.
Também a nova
orientação exige que, na base das reflexões, estejam práticas sociais de variados tipos e
gêneros.
Para que essas orientações sejam realidade, os livros deveriam compor uma
amostra de língua portuguesa nos eixos sincrônico e diacrônico, pautados pela
estratificação social e gêneros típicos de situações comunicativas.
Selecionamos um livro de grande circulação e indicado como adequado ao
ensino médio, dele recolhendo indicativos e evidências de que o processo de adaptação
às novas exigências ainda não está completo. Por exemplo, notamos que a língua
popular e falada ainda aparece de maneira tímida na obra, que a categorização ainda
segue o modelo tradicional e que alguns exemplos ainda são descontextualizados e
outros, sem a motivação pedagógica necessária.
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Um subsídio interessante às novas etapas de reformulação de livros didáticos
passa, necessariamente, pelo trabalho funcionalista sobre Gramaticalização e
Lexicalização. Noções como prototipicidade e escalaridade são inevitáveis para a
abordagem das classes de palavras. Por meio dessa visão mais fluida de gramática e de
classes permite-se apreender a língua em sua dinamicidade, como processo
comunicativo real.
No livro analisado, a língua em uso ficou restrita a poucos
exercícios propostos, como demonstramos anteriormente, e à parte de produção textual,
fora do escopo deste trabalho.
Para uma adequação maior desse livro didático às orientações oficiais (com
as quais compartilhamos a visão de língua e de ensino) e também aos avanços
científicos da área linguística, é necessário repensar a abordagem. Lidar de forma mais
sistemática com as potencialidades da língua, dos recursos disponíveis para interação
social e dos efeitos comunicativos decorrentes da seleção de cada um desses recursos é
o caminho. Esse caminho, naturalmente, passa pelas noções de contexto e de práticas
sociais. Colocar lado a lado termos como leitura, gramática e produção de texto não
equivale, portanto, a fazer, de fato, um trabalho funcionalista. É preciso dar um passo a
mais.
6
Referências bibliográficas:
BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Orientações
curriculares para o ensino médio volume 1- Linguagens, códigos e suas tecnologias .
Brasília: MEC/SEMTEC, 2006.
BRASIL. Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. Língua Portuguesa : catálogo do Programa Nacional do Livro para o
Ensino Médio: PNLEM/2009. Brasília: MEC/SEMTEC, 2008.
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SLG 51 – O ensino da Língua Portuguesa no Mundo: bases epistemológicas, objectivos e conteúdos
DEFENDI, Cristina Lopomo. Mudança gramatical: repercussão nos livros didáticos de
Língua Portuguesa. Projeto de Pesquisa de Doutoramento. São Paulo: FFLCH-USP,
2009.
OLIVEIRA, Mariângela Rios de e COELHO, Victoria Wilson. Linguística Funcional
aplicada ao ensino de português. In: CUNHA, OLIVEIRA E MARTELOTTA (orgs).
Linguística Funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, pp.89-122.
TEIXEIRA, Madalena. A língua portuguesa e o PNEP. Videoconferência do Projeto “A
língua portuguesa no mundo”. São Paulo: USP, 2008.
TERRA, Ernani e NICOLA, José de. Português – de olho no mundo do trabalho.
Volume único. São Paulo: Scipione, 2009.
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Apêndice:
Descrição da Unidade 2 – Morfologia – Classes de Palavras
Unidade 2 – Morfologia
Capítulo 5 – O substantivo e o artigo
A gramática no texto: poema “Família” de Carlos Drummond de Andrade
6 perguntas de conteúdo mais gramatical: 1. Justificar o emprego de tantos substantivos no texto; 2.
Definir artigo a partir da análise do uso; 3. Aplicar no texto analisado as definições dadas para artigo
definido e indefinido; 4. Perceber as categorias que acompanham o substantivo; 5. Definir conjunção e
aplicar às ocorrências no texto; 6. Classificar duas palavras aparentemente iguais (trabalho-substantivo e
verbo, dependendo do contexto).
As classes de palavras: apresentação das dez classes gramaticais e afirmação que a classificação depende
de uma junção de critérios (semântico, sintático e morfológico).
O SUBSTANTIVO
A partir de uma lista de substantivos retirados do poema anteriormente trabalhado, a afirmação de que as
palavras “admitem flexão e dão nome aos seres em geral (coisas, pessoas, animais, ações, estados e
qualidades). São, portanto, substantivos.” (p.219)
Em destaque, a definição: “Substantivo é a palavra variável em gênero, número e grau que dá nome aos
seres em geral” (p.219)
Formação dos substantivos: classificação, definição e exemplos para primitivo, derivado, simples e
composto.
Classificação dos substantivos: classificação, definição e exemplos para comum, próprio, concreto e
abstrato.
Em destaque, a definição e exemplos para substantivo coletivo.
Flexões do substantivo:
Flexão de gênero: classificação e exemplos (masculino e feminino)
Definição e exemplos para substantivos biformes e uniformes. Para estes, subclassificação: epicenos,
comum de dois gêneros, sobrecomuns
Comentário sobre mudança de sentido com mudança de gênero – exemplos
Flexão de número: classificação (singular e plural) e exemplos. Exceção dos substantivos que só
aparecem no plural.
BOX: De olho no mercado de trabalho com considerações sobre a profissão de Secretária Executiva –
ponte para dica apresentada: “uma coisa não mudou no cotidiano da secretária: a necessidade de falar e
escrever bem. É inaceitável que uma profissional erre o plural ou empregue mal as preposições numa
apresentação para clientes.” (p.221)
Plural dos substantivos compostos: apresentação de seis regras (acompanhadas de exemplos) depois de
um comentário sobre a dificuldade de sistematizar o assunto.
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Flexão de grau: apresentação dos graus (normal, aumentativo e diminutivo) e explicação das formas de
mudança seguidas de exemplos: analiticamente e sinteticamente. Comentário sobre o aumentativo e
diminutivo formal (sem ideia de aumento ou de diminuição).
BOX - Morfossintaxe do substantivo – Lista com as funções sintáticas desempenhadas pelo substantivo
(sujeito, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, objeto direto, objeto indireto, complemento
nominal, agente da passiva, aposto, adjunto adverbial, vocativo, adjunto adnominal).
A teoria na prática: quatro exercícios: 1. Identificação dos substantivos em textos literários; 2.
Formação de substantivos abstratos a partir de um modelo; 3. Formação de substantivos derivados; 4.
Reescrita de frases, com a utilização de substantivo coletivo.
O ARTIGO
Definição de artigo – critério de colocação e de função.
Classificação dos artigos: definição e exemplos para artigo definido e indefinido.
Propriedades dos artigos – demonstração e exemplos da capacidade do artigo substantivar qualquer
palavra e de se contrair a uma preposição.
Emprego dos artigos: 10 regras para o uso de artigo (para as seguintes situações: ambos; cujo; casa e
terra sem especificação; nome de lugar qualificado; pronomes de tratamento e exceção com senhor(a),
senhorita e dona; grau superlativo e superlativo absoluto sintético; nome de revistas, jornais e obras
literárias iniciados com artigo; pronome todo)
BOX - Morfossintaxe do artigo: apresentação com exemplos da função de adjunto adnominal
desempenhada pelo artigo.
A teoria na prática: cinco exercícios: 1. Justificar emprego do artigo indefinido e definido em fragmento
de texto narrativo; 2. Destacar artigo em fragmentos de textos jornalísticos; 3. Diferenciar o sentido de
“dona da casa” e “dona-de-casa”; 4. Completar frases com artigo definido ou indefinido; 5. Reescrever
frases, corrigindo-as se necessários (emprego das regras apresentadas anteriormente).
Discutindo a gramática: apresentação de situações em que palavras passam a ser substantivos
dependendo do contexto. Pedido para que em grupos e duplas os alunos discutam por que as palavras
funcionam como substantivo, quais as características que o definem e se qualquer palavra pode funcionar
como substantivo.
Capítulo 6 – O adjetivo e o numeral
A gramática no texto: poema “Endecha das três irmãs” de Adélia Prado
6 questões propostas a partir do texto: 1. Dado o verbete “endecha”, escolher a acepção adequada ao título
do poema; 2. Destacar expressão que indique o ritmo da conversa presente no poema; 3. Definir adjetivo
a partir de considerações sobre substantivo, adjetivo e alterações propostas; 4. Perceber sentido e
acréscimo de palavras para alterar ou manter o sentido do adjetivo em grau diferente; 5 .Analisar a mesma
palavra usada em classe gramatical diferente; 6. Definir numeral e comentar a relação que o numeral
estabelece com o substantivo.
Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.
Discutindo a gramática
A partir do uso de palavras como “cantar, nacional, talvez e ufa” como substantivos, discutir (com um
colega) o que faz as palavras funcionarem como substantivos e se qualquer palavra pode funcionar como
substantivo.
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“Troquem ideias com as demais duplas, apresentem suas conclusões para a sala e tentem chegar a um
consenso.”
O ADJETIVO
Parte de exemplos e apresenta a função dos adjetivos de atribuir características ao substantivo. Em
seguida, destaca a definição quanto à flexão e ao valor semântico.
Classificação dos adjetivos - Classificação e exemplos: simples, compostos, primitivos, derivados.
Locução adjetiva: apresenta a formação e fornece exemplos.
Adjetivos pátrios: define e exemplifica.
Flexão do adjetivo:
Flexão de gênero – compara ao substantivo e exemplifica.
Flexão de número – compara ao substantivo simples e exemplifica.
Adjetivos compostos – apresenta a regra geral e outras três regras específicas (segundo elemento
substantivo, o caso do “azul-marinho” e “azul-celeste” e o caso de “surdo-mudo”)
Flexão de grau – apresentação dos graus (comparativo e superlativo) e a implicação semântica.
Apresentação dos dois processos, seguidos de exemplos: sintético e analítico.
Grau comparativo – apresenta os três tipos possíveis e fornece exemplos.
Comparativos sintéticos – como exceção, apresenta os casos dos adjetivos “bom”, “mau”, “grande” e
“pequeno”, com exemplos.
Grau superlativo – apresenta os dois casos, com exemplos. Também fornece exemplos de adjetivos que
fazer o superlativo absoluto sintético com a forma erudita e com a popular.
Superlativos irregulares – apresenta a forma regular e a irregular dos seguintes adjetivos: bom, mau,
grande e pequeno.
Por fim, apresenta um quadro esquemático com os graus do adjetivo.
BOX – Morfossintaxe do adjetivo: apresentação, com exemplos, das funções de adjunto adnominal,
predicativo do sujeito e predicativo do objeto desempenhadas pelo adjetivo.
A teoria na prática: sete exercícios – 1. Dado um trecho, retirar os substantivos e caracterizá-los com
três adjetivos “bem originais”; 2. Destacar os adjetivos presentes em textos (um jornalístico, os demais
poéticos); 3. Substituir as expressões destacadas por adjetivos; 4. Substituir as expressões por adjetivos no
grau superlativo; 5. Substituir a expressão em destaque por um adjetivo (locução adjetiva para adjetivo);
6. Substituir orações por adjetivos. Lembrete presente no enunciado: atenção à acentuação dos
paroxítonos, já que as respostas seriam ilegível, inesquecível e imperdível; 7. A partir de um texto
jornalístico, identificar a classe gramatical e o significado de uma palavra em cada uma das ocorrências.
Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.
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O NUMERAL
Definição baseada em critérios semânticos de quantidade e posição. A seguir, exemplifica as quatro
classes de numerais.
Classificação dos numerais: classes, definições e exemplos.
Emprego e flexão dos numerais: regras seguindo a gramática normativa – 1. emprego de ordinais e
cardinais segundo a anteposição ou a posposição com o substantivo; 2. Exceção na indicação de reis,
papas, séculos e partes de obras; 3.4.e5. Flexão de “ambos”, “duplo” e “meio”. Em destaque, a regra de
concordância no caso de meio dia e meia; 6. Flexão dos fracionários; 7. Flexão de grau – apresentação da
visão da gramática normativa e o uso na linguagem coloquial, exemplificado por “cinquinho” e “milão”.
BOX – Morfossintaxe do numeral: apresentação das funções possíveis tendo em vista o numeral
substantivo (substitui um substantivo) e o numeral adjetivo (acompanha o substantivo). Retomada das
funções desempenhadas pelo substantivo e pelo adjetivo.
A teoria na prática: cinco exercícios – 1. Reescrever as frases, corrigindo a grafia do numeral. 2.
Escrever os numerais por extenso (mistura de todos os tipos de numerais) a partir de frases; 3. De acordo
com o contexto, indicar se um/uma é artigo indefinido ou numeral; 4. Escrever por extenso – número
descontextualizado; 5. Destacar e classificar os numerais presentes em 5 frases.
Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.
Capítulo 7 – O pronome
A gramática no texto: Trecho de entrevista jornalística com o autor Sílvio de Abreu.
4 questões propostas: 1. Analisar a palavra “ninguém” presente no texto (referente, modo, relação entre a
palavra e a forma verbal, classificação); 2. Substituir a expressão “a gente” por uma única palavra e dar o
referente da palavra “aquele”, seu valor semântico e sua classificação; 3. Dada uma definição linguística
(“elemento linguístico cuja referência não é independente, mas ligada à de um termo antecedente”),
explicar a afirmação relacionando com um exemplo retirado do texto; 4. Dada a explicação do que é
coesão textual, indicar quais palavras do trecho final do texto estabelecem a conexão com o que foi dito
antes.
O pronome
A partir de exemplos, apresentação das funções estabelecidas pelo pronome. A seguir, em box destacado,
a definição a partir de critérios de flexão em gênero, número e pessoa, do referente e do valor semântico.
Classificação em pronome substantivo e pronome adjetivo, seguido de exemplos. Comentário da
necessidade de contexto para o pronome ter um referente. Apresentação das seis espécies de pronomes.
As pessoas do discurso
Apresentação das pessoas que participam de uma fala (1ª, 2ª e 3ª), seguida de exemplos
Pronomes pessoais
Definição e apresentação do pronome pessoal reto e do oblíquo. Quadro com os pronomes pessoais.
Informação solta de que as formas sintéticas comigo, contigo, conosco, convosco e consigo resultam da
combinação da preposição com mais pronomes oblíquos correspondentes.
Pronomes de tratamento
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Comentário sobre os pronomes de tratamento e as regras de concordância e também o contexto
cerimonioso de uso (excetuando o você) . Quadro com os pronomes, abreviaturas e referência.
Emprego dos pronomes pessoais
Regras de uso: 1. Uso do conosco e convosco sintético e analítico; 2. 3. e 4.Variação dos pronomes
oblíquos dependendo da terminação verbal; 5. Plural de modéstia e plural majestático; 6. Uso de “Vossa”
e “Sua” no caso do pronome de tratamento; 7. Comentário do “você” como pronome pessoal com
características e funções de pronome de segunda pessoa.
Pronomes possessivos
Definição semântica e com base na referência. Exemplos e quadro.
Concordância dos pronomes possessivos – regra e exemplos
Emprego dos pronomes possessivos – 1. A questão da ambiguidade do pronome “seu” (e exemplos); 2.
Relativização da definição: nem sempre o pronome possessivo indica posse (e exemplos); 3. O caso de
“seu”, corruptela de “Senhor”.
Pronomes demonstrativos
Definição com base na posição (do ser em relação às pessoas do discurso) e na questão semântica.
Quadro e distinção de pronome adjetivo e substantivo.
Outros pronomes demonstrativos dependendo do contexto: o, a, os, as, mesmo, próprio, semelhante, tal,
Emprego dos pronomes demonstrativos
1. Posição espacial de um ser em relação às pessoas do discurso (e exemplos); 2. Posição temporal
(e exemplos); 3. O que vai ser dito e o que já foi dito (e exemplos).
Pronomes relativos
Definição (com base no caráter catafórico do pronome) e exemplos. Quadro.
Emprego dos pronomes relativos
1. Regência; 2. Quem e a preposição. 3. Quem como relativo indefinido; 4.que e referentes; 5.
Regra de uso de que ou quem dependendo da quantidade de sílabas na preposição; 6. Que com
antecedente “o”; 7. Cujo como relativo possessivo; 8. Quanto antecedido por pronome
indefinido; 9. Onde
Pronomes indefinidos
Definição (são aqueles que se referem a terceira pessoa do discurso de modo vago e impreciso).
Exemplos e quadro com os principais pronomes indefinidos, subdivididos em variáveis e invariáveis.
Observação quanto à possibilidade de ocorrer pronome indefinido sob forma de locução pronominal (cada
qual, quem quer que, qualquer um).
Emprego dos pronomes indefinidos – 1. Valor negativo de “algum” quando posposto ao nome; 2.
Necessidade de determinante com “cada”; 3. A diferença entre certo (pron indefinido) e certo (adjetivo);
4. Significados de “todo e toda”; 5. Plural de “qualquer”.
Em box, destacado, a palavra “um” (artigo, numeral ou pronome indefinido). Para classificação, questão
semântica e sintática.
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ISBN: 978-972-99292-4-3
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Pronomes interrogativos
Definição, exemplos e quadro.
Colocação pronominal – somente as posições possíveis que os pronomes oblíquos átonos ocupam na
oração, sem detalhar as regras.
BOX – Morfossintaxe dos pronomes
Pronomes pessoais
1. Pronomes pessoais retos e as funções sintáticas de sujeito, predicativo e vocativo.
2. Pronomes pessoais oblíquos e a função de complemento verbal. (com exemplos de “construções
não aceitas pela norma culta e construções aceitas”)
3. Caso dos pronomes retos (exceto eu e tu) funcionarem como complemento verbal quando
precedidos de preposição.
4. Eu e tu (sujeito e predicativo) – regra prática (“quando precedidas de preposição, não se usam as
formas retas eu e tu” e a exceção “quando essas formas funcionam como sujeito de um verbo no
infinitivo”. (com exemplos de “aceito” e “não aceito”)
5. O, a, os , as como complemento de verbos transitivos diretos e lhe, lhes como complemento de
verbos transitivos indiretos. (com exemplos de “aceito” e “não aceito”)
6. Pronome oblíquo funcionando como sujeito com os verbos deixar, fazer, ouvir, mandar, sentir,
ver e a dica para desenvolver as orações reduzidas de infinitivo.
7. Emprego do se, si, consigo como reflexivo (exemplo do certo e “e não” para o errado)
8. Pronomes oblíquos com equivalência a pronomes possessivos – adjuntos adnominal (e exemplos
com a equivalência).
Pronomes possessivos – adjunto adnominal quando pronome adjetivo (exemplo) e quando pronome
substantivo, as possibilidades de função sintática, com exemplo de estrutura paralelística.
Pronomes demonstrativos – variáveis (funções do substantivo e do adjetivo) e invariáveis (funções do
substantivo), com exemplos.
Pronomes relativos – alerta de que as funções sintáticas do pronome relativo serão retomadas (na
verdade, apresentadas) no capítulo sobre orações subordinadas adjetivas.
Pronomes indefinidos – acompanha ou substitui um substantivo. Só reforça que desempenharão as
funções sintáticas típicas do substantivo ou do adjetivo. Destaque para o valor (sempre) substantivo de
“alguém, ninguém, outrem, algo e nada”.
Pronomes interrogativos16 – quem substantivo, portanto funções do substantivo; qual, em geral,
adjetivo, portanto função de adjunto adnominal.
A teoria na prática
6 questões: 1. Destacar os pronomes em trechos de textos jornalísticos e literários (prosa e letra de
música); 2. A partir de trecho da letra de música “Beija eu”, discutir a aceitação desse emprego pela
norma formal-culta.; 3. A partir de um trecho de notícia da Folha de São Paulo, demonstrar a adequação
do uso do pronome relativo e reescrever o texto; 4.A partir de trecho de texto de Allan Poe, demonstrar a
que pronomes esta e aquele fazem referência; 5. Reescrever frases, corrigindo-as segundo as regras da
norma culta (de a a q); 6. Classificar os usos da palavra “um”.
Discutindo a gramática
A partir de exemplos de uso do dia a dia (vi ela na festa, convenceram eles), discussão em grupos
“lembrando da teoria vista no capítulo e resgatando seus conhecimentos como falantes nativos da língua”:
a correspondência do uso com a gramática normativa; retomada de conceitos trabalhados à p.21 sobre
padrão coloquial e padrão culto e discussão; situações de uso; situações para as frases serem adaptadas às
regras da gramática normativa.
16
Por erro de concordância, no próprio livro, aparece “pronomes interrogativo”
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“Apresentem suas conclusões para a sala na voz de um representante do grupo”
Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.
Capítulo 8 – O VERBO
A gramática no texto: “Janela sobre as paredes” de Eduardo Galeano (texto que enumera frases escritas
em muros de Montevidéu, Buenos Aires, Quito, México, Lima, Havana e Rio de Janeiro). 4 questões: 1.
Classificar os verbos do texto levando em conta critérios semânticos, morfológicos e sintáticos
explicitados anteriormente; 2. A partir da exposição do que é zeugma, pede-se que apresente palavra
subtendida (um verbo) em uma das frases; 3. A partir da exposição do que é sufixo nominal, pede-se para
apresentar a palavra que o contém e de que verbo se originou; 4. A partir da apresentação da noção de
verbos com sentido completo e de outros que exigem complemento, pede-se que destaque esses tipos de
verbos em uma dada frase.
O VERBO
Definição: critérios morfológicos e semânticos, com exemplos que demonstram verbos de ação, estado,
mudança de estado, fenômeno da natureza, existência, desejo e conveniência.
Locução verbal – definição e exemplos
Estrutura do verbo – apresentação dos elementos estruturais: radical, vogal temática e desinências.
Definição de cada elemento e exemplos. Box destacado para informações do verbo pôr e seus derivados
como verbo de 2ª conjugação. Quadro de representação dos elementos: radical, vogal temática, desinência
modo-temporal, desinência número-pessoal.
Flexões do verbo
Flexão de pessoa - apresentação das três pessoas do verbo e exemplos.
Flexão de número – apresentação das noções de singular e plural e exemplos de concordância com o
sujeito explícito ou implícito.
Flexão de tempo – recupera informação presente na definição de verbo (“indica um processo localizado
no tempo”) e apresenta as noções de presente, pretérito e futuro com exemplos.
Flexão de modo – definição do que é modo, apresenta os 3 modos verbais, define cada um e dá
exemplos.
Flexão de voz – define flexão de voz, apresenta as 3 vozes verbais (ativa, passiva e reflexiva), define
cada uma e dá exemplos. Para a voz ativa, está em destaque a seguinte informação: “O conceito de voz
ativa é um conceito gramatical. Na oração “O menino levou uma surra”, gramaticalmente temos o verbo
na voz ativa, embora o sujeito (o menino) tenha sofrido a ação”. Para voz ativa, faz a distinção entre
passiva sintética e passiva analítica.
Formas nominais – justificativa da nomenclatura “formas nominais” pelas funções desempenhadas e
apresentação das 3 formas. Definição de cada uma delas segundo critérios semânticos, morfológicos e
sintáticos. Exemplos.
Classificação dos verbos: 4 classificações, definição de cada uma e exemplos. Para os verbos regulares,
destaque para a informação que algumas alterações ocorrem para manter a identidade fonética. Para os
defectivos, informação do que são verbos unipessoais. Ao final da seção, comentário sobre o uso de
somente o particípio irregular, na linguagem atual, dos verbos pagar, gastar e ganhar.
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Emprego dos modos e tempos verbais:
Modo indicativo: Não há explicação para a noção de “indicativo”. Apresentação de cada um dos tempos,
o aspecto semântico envolvido e exemplos. No pretérito mais-que-perfeito, o comentário sobre o uso do
tempo composto na linguagem atual.
Modo subjuntivo: Explicação de “subjuntivo” à luz de critérios semânticos e sintáticos. Apresentação de
cada tempo, o aspecto semântico envolvido e exemplos.
Modo imperativo: Explicação do modo com critérios semânticos e sintáticos. Exemplos.
Emprego do infinitivo: Apresentação do infinitivo impessoal e dopessoal e na nota: “Não há
propriamente regras que determinem o emprego do infinitivo; o que se observam são tendências e usos
consagrados por competentes usuários do português.”
Infinitivo impessoal: regras: 1. Referente não-sujeito; 2. Função de complemento nominal; 3. Locução
verbal; 4. Dependente dos verbos deixar, fazer, ouvir, sentir, mandar, ver, tiver por sujeito um
pronome oblíquo; 5. Valor de imperativo. Sempre com exemplos.
Imperativo pessoal: regra: existência de sujeito próprio, expresso ou implícito, diferente da oração
principal. Exemplos.
BOX – Morfossintaxe do verbo
Considerações iniciais sobre verbo: estrutura a oração, determina o nº de orações em um período e integra
o predicado. Ou seja, informações são sintáticas.
Informações semânticas: diferenciação entre verbos significativos e verbos com função de “elo entre
sujeito e um atributo dele”. A partir daí, introdução da noção de predicado verbal e predicado verbonominal (o núcleo é um verbo significativo) e predicado nominal (verbo de ligação não é núcleo do
predicado).
A teoria na prática: 13 questões – 1. Identificação de erro no emprego de forma verbal em jornal de
grande circulação (caso do “reavê”) e correção; 2. Preenchimento de lacunas com de particípio dos verbos
entre parênteses (abundantes) de acordo com o auxiliar usado na frase; 3. Preenchimento de lacunas com
os verbos em tempo e modo pedidos / trechos de textos em prosa literária; 4. Transformação do
imperativo negativo em imperativo afirmativo; 5. Transformação do imperativo afirmativo em imperativo
negativo; 6. Apresentação de modelo de correlação verbal a ser seguida (Se eu for demitido, voltarei para
os EUA. Se eu fosse demitido, voltaria para os EUA.); 7. Transformação de frases de acordo com o
modelo (transformação do sujeito em vocativo = Joana canta. Joana, cante!); 8. Destaque do verbo,
classificação semântica (ação, existência, estado ou fenômeno da natureza) e classificação da conjugação;
9. Identificação de verbos e locuções verbais, bem como identificação de verbo auxiliar e verbo principal;
10. Passagem para a voz passiva; 11. Passagem para a voz ativa; 12. Passagem para a voz passiva
analítica (frases originalmente na passiva sintética). 13. Passagem para a voz passiva sintética (frases
originalmente na passiva analítica).
Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.
CAPÍTULO 9 – AS CATEGORIAS GRAMATICAIS INVARIÁVEIS
A gramática do texto: tirinha do “Recruta Zero”, Mort Walker
7 questões: 1. Partindo da definição parcial de advérbio (modifica o verbo),localização de palavras que se
encaixem nessa definição na primeira fala do primeiro quadrinho; 2. Partindo da definição parcial de
advérbio (semântica – noção de circunstância), classificação das palavras apontadas no exercício anterior;
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3. Trabalho com a ideia de contextualização e referencialidade (apontar o referente da palavra não
presente na 2ª fala do 1º quadrinho); 4. Seleção da palavra “numa” e pedido para que, a partir do contexto,
sejam apresentadas as duas palavras que foram contraídas; 5. Partindo da definição morfológica, sintática
e semântica de preposição, pede-se que seja dado o tipo de relação em quatro frases a seguir (a primeira
retirada da tira, as demais variações do mesmo tema); 6. Partindo da definição semântica de interjeição,
pede-se que aponte uma interjeição presente na tira e o estado emocional que ela estabelece; 7. Duas
ocorrências de “que” são destacadas e é apresentada a definição de conjunção (sob o critério sintático =
ligar orações sem desempenhar função sintática). Pede-se que seja transcrita a frase com o “que”
conjunção e que se classifique a outra ocorrência (no caso, pronome relativo).
As categorias gramaticais invariáveis
Apresentação da visão da gramática normativa sobre palavra invariável (sem flexão, ou seja, acréscimo
de afixos e desinências). Apresentação das categorias gramaticais consideradas invariáveis (advérbio,
preposição, conjunção e interjeição) por não apresentarem flexão de gênero, número e pessoa. Alerta ao
fato de alguns advérbios apresentarem flexão de grau.
O ADVÉRBIO
Definição semântica e exemplos.
Locução adverbial – definição e exemplos.
Classificação dos advérbios – critério semântico e exemplos de listas de advérbio e locuções adverbiais
para cada uma das classificações (afirmação, dúvida, intensidade, lugar, tempo, modo, negação).
Comentário sobre as palavras onde, como e quando e sua classificação como advérbio interrogativo
seguido de exemplos.
Flexão de grau – comparação com os graus do adjetivo. Para cada um dos graus, explicação de como são
formados e exemplos.
Emprego dos advérbios – 4 regras: 1. Coordenação de sequência de advérbios terminados em mente; 2.
Uso do mais bem e mais mal antes de particípio; 3. O uso de sufixo diminutivo no advérbio denota grau
superlativo (na linguagem popular); 4. Intensificação do advérbio pela repetição (na linguagem popular).
Palavras denotativas – Segundo a NGB, indicação das palavras denotativas e suas classificações:
inclusão, exclusão, explicação, retificação, realce, situação, designação.
BOX- Morfossintaxe do advérbio
Apresentação da função de adjunto adverbial e sua classificação semântica. Exemplos.
A teoria na prática – 4 questões: 1. Identificação dos advérbios em excertos de textos jornalísticos e
literários; 2. Acréscimo de advérbios à frase dada, de acordo com as circunstâncias solicitadas; 3.
Indicação das circunstâncias expressas pelo advérbio destacado; 4. Substituição de locuções adverbiais
por advérbios.
A PREPOSIÇÃO
Definição morfológica e sintática. Classificação dos termos subordinados (regente e regido). Exemplos.
Apresentação do que é regência verbal e nominal e comentário que é assunto a ser tratado em outro
capítulo (dentro da unidade Sintaxe, seção Sintaxe de regência). Exemplos de preposição ligando orações.
Locução prepositiva – definição, lista de exemplos e exemplos em frases.
Classificação das preposições – divisão e exemplos (com lista de preposições): essenciais e acidentais.
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Emprego das preposições – 1. Valores semânticos assumidos pelas preposições; 2. Explicação do que é
combinação e do que é contração e exemplos; 3. Explicação do que é crase e comentário que o assunto
será estudado posteriormente (dentro da unidade denominada “Apêndice”); 4. Regra: não fazer a
contração da preposição de com artigo que encabeça o sujeito de um verbo. Todos os
comentários seguidos de exemplos (frases soltas, descontextualizadas).
BOX – Morfossintaxe da preposição
Comentário, comparando com pronomes relativos e conjunções, que preposição não exerce função
sintática.
A teoria na prática – 4 questões: 1. Identificação das preposições em excertos de textos jornalísticos e
literários; 2. Identificação das locuções prepositivas em frases (somente a primeira um excerto de revista);
3. Reescrita de frases, com correção (regra 4 explorada anteriormente); 4. Identificação do valor
semântico da preposição de em frases diversas.
A CONJUNÇÃO
Definição morfológica e sintática. Exemplos.
Locução conjuntiva – definição e lista de exemplos.
Classificação das conjunções – divisão das classificações: coordenativas e subordinativas.
Conjunções coordenativas – definição sintática e classificação (aditiva, adversativa, alternativa,
conclusiva e explicativa). A cada classificação, são apresentados valor semântico e lista de exemplos.
Conjunções subordinativas - definição sintática e classificação (causal, condicional, consecutiva,
comparativa, conformativa, concessiva, temporal, final, proporcional e integrante). A cada classificação,
são apresentados valor semântico e lista de exemplos.
Comentário sobre a importância do contexto para a determinação da relação estabelecida pela conjunção
e exemplos de uma mesma conjunção estabelecendo relações diferentes.
BOX – Morfossintaxe das conjunções
Retomada da informação anteriormente apresentada: tanto preposição quanto conjunção não exercem
função sintática. Comentário que o estudo das conjunções será retomado ao ser analisado o período
composto.
A teoria na prática – 6 questões: 1. A partir de um fragmento de notícia do jornal O Estado de São
Paulo, pede-se para identificar a conjunção que está em contradição com outras informações do texto e
quais são essas informações; 2. Identificar a relação estabelecida pelas conjunções destacadas (dos cinco
trechos, três foram elaborados exclusivamente para esse fim didático e os outros dois são trechos de
revistas); 3. Classificar as conjunções (não há destaque e só uma frase, das onze apresentadas, é um
fragmento de texto literário. As demais foram elaboradas para servir de exercício); 4. Localizar, em
trechos literários, as preposições e as conjunções; 5. Ligar duas frases isoladas por meio de conjunção
com a relação indicada entre parênteses; 6. Identificar e diferenciar conjunção subordinativa e pronome
relativo (de oito frases, três são literárias).
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A INTERJEIÇÃO
Definição morfológica e semântica. Lista de sentimentos e emoções e as interjeições correspondentes.
Advertência: “A lista acima deve ser encarada apenas como referência, uma vez que a expressividade da
linguagem coloquial é fértil na criação de interjeições e locuções interjetivas”. Apresentação da definição
de locução interjetiva e exemplos.
BOX – Morfossintaxe da interjeição
Interjeição apresentada como “palavra-frase”, não pertencente nem ao sujeito nem ao predicado, portanto
sem função sintática. “Em razão disso, alguns gramáticos excluem a interjeição de qualquer
classificação”.
A teoria na prática – 3 questões: 1. Identificar as interjeições em textos literários e musicais; 2.
Identificar o sentimento ou a emoção expressa pela interjeição destacada; 3. Classificar as palavras em
destaque em advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Porém, não há nenhuma interjeição nos
trechos apresentados (literários e letras de música), sendo três advérbios, duas preposições e duas
conjunções.
Indicação de mais testes e questões de exames sobre o tema em capítulo específico.
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