Os Vicentinos em Pequim: uma experiência missionária na China (1699-1951) Anna Carletti* Resumo Os primeiros missionários católicos chegaram em território chinês em 1294. O franciscano Giovanni Montecorvino deu início, naquele ano, à missão franciscana na China, contando com a permissão do então imperador, Kublai Kahn.1 Aquele primeiro contato entre a Igreja Católica e o Império Chinês foi o início de uma história secular pontuada de encontros e desencontros. Dentro dessa história, a experiência missionária dos Vicentinos na China representa apenas um particular, mas um particular significativo. A análise dos acontecimentos mais relevantes que marcaram o desenvolvimento da missão dos Vicentinos em Pequim pode nos ajudar a identificar alguns dos motivos que levaram à atual situação de desencontro entre a Santa Sé e o governo chinês. Palavras-chave: Vicentinos. China. Santa Sé. 1 Introdução Os primeiros missionários católicos chegaram em território chinês em 1294. O franciscano Giovanni Montecorvino deu início, naquele ano, à missão franciscana na China, contando com a permissão do então imperador, Kublai Kahn.2 Aquele primeiro contato entre a Igreja Católica e o Império Chinês foi o início de uma história secular pontuada de encontros e desencontros. Quando o papa João Paulo II morreu, em 2005, os meios de comunicação apressaram-se em sublinhar que, não obstante as centenas de viagens por ele realizadas no mundo todo, João Paulo II não conseguira visitar a China, uma das viagens mais almeja* Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora e Coordenadora do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pampa. (E-mail: [email protected]). 1 CARLETTI, Anna. Diplomacia e religião: encontros e desencontros nas relações entre a Santa Sé e a República Popular da China de 1949 a 2005. Brasília: FUNAG, 2008. p. 24. 2 CARLETTI, Anna. Diplomacia e religião: encontros e desencontros nas relações entre a Santa Sé e a República Popular da China de 1949 a 2005. Brasília: FUNAG, 2008. p. 24. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 141 das em todo seu pontificado. Por meio dessa visita ele esperava poder retomar as relações diplomáticas com a República Popular da China, interrompidas em 1951, pouco depois da ascensão ao governo chinês do líder comunista Mao Zedong. Desde aquele ano, a China e a Santa Sé estão tentando uma reaproximação dificultada até hoje por diferentes razões. Entre elas, o fato de que o governo chinês ainda hoje apenas suporta com relutância a ligação da Igreja Católica na China com o papa. Com efeito, os governantes chineses não aceitam o fato de que, sendo o papa chefe do Estado da Cidade do Vaticano – considerado pelos chineses como um estado estrangeiro – ele seja o chefe espiritual dos católicos que se encontram presentes, mesmo que em pequena porcentagem,3 também em território chinês. Por essa razão, os católicos veem negada pelo partido comunista, que rege o governo chinês, a possibilidade de relacionar-se com o Papa, chefe espiritual da Igreja Católica. Muitos passos foram dados, mas a situação atual dos católicos na China ainda permanece crítica. Quais os motivos desse impasse? Por que a liberação que o governo comunista trouxe à China significou para os católicos que querem permanecer unidos à Igreja de Roma, o início de uma longa e intricada luta pela sobrevivência? O historiógrafo Robert Frank dizia que “a história do tempo presente [...] não se interessa pela espuma da atualidade, inscrevendo-se antes nas profundezas e na espessura do tempo histórico”4. As dificuldades que os católicos vivem hoje são o resultado de anos, aliás, de séculos de história que marcaram indelevelmente as relações entre a China e a Igreja Católica. Dentro dessa história, a experiência missionária dos Vicentinos na China representa apenas um particular, mas um particular significativo. A análise dos acontecimentos mais relevantes que marcaram o desenvolvimento da missão dos Vicentinos em Pequim pode ajudar-nos a identificar alguns dos motivos que levaram à atual situação de desencontro entre a Santa Sé e o governo chinês. Antes, porém, de nos adentrarmos na história dos Vicentinos em Pequim, é importante situarmos a ordem religiosa dos Vicentinos no seu contexto de origem. O nome oficial da Congregação Religiosa dos Vicentinos é Congregação da Missão. Fundada na França, em 1625, por São Vicente de 3 Segundo as Estatísticas de 2004 do Holy Spirit Study Centre de Hong Kong sobre a Igreja Católica da China, os católicos chineses seriam estimativamente 12.000.000. O governo chinês conta cerca de 4.000.000 de católicos que pertencem à igreja patriótica. Os restantes 8.000.000 pertenceriam à igreja clandestina. Disponível em: <http://hsstudyc.org.hk>. Acesso em: 4 out. 2005. 4 FRANK, Robert. Préfacio a Écrire l´histoire du temps présent. Paris: Institute d’Histoire du Temps Présent, 1993. p. 16. 142 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> Paula, essa ordem religiosa nasceu com dois objetivos específicos: a evangelização dos pobres e a formação do clero. São Vicente foi cofundador, junto a Santa Luísa de Marillac, da ordem religiosa das Filhas da Caridade, que trabalharam e ainda hoje trabalham ao lado dos Vicentinos nas missões do mundo todo, incluída a China. A Congregação da Missão conta hoje com cerca de 4100 membros. Originariamente, a palavra Missão que aparece no nome institucional dessa Congregação se referia apenas às Missões Populares que eram realizadas nas várias paróquias da França. Todavia, nos últimos anos de vida de São Vicente de Paula, seus missionários começaram a partir para Argélia, Madagascar, Irlanda, Polônia, etc. e queriam alcançar os países da Ásia, seguindo o exemplo de São Francisco Xavier. Quarenta anos depois da morte de São Vicente de Paula, ocorrida em 1660, o primeiro missionário vicentino chegava à China. 2 A chegada dos primeiros Vicentinos em 1699 Os primeiros Vicentinos, enviados pela Propaganda Fide,5 chegaram à China em 1699, num contexto de mudança e de conflitos entre os missionários jesuítas que haviam chegado ao Oriente mais de um século antes e grupos conservadores da Igreja de Roma ligados às monarquias portuguesas e espanholas. Naquele período, Macau estava já sob domínio português.6 Os missionários jesuítas apresentaram-se ao povo na dupla veste de enviados da Coroa e núncios do papa. Funcionava, na época, o sistema do padroado, por meio do qual os reis de Portugal e Espanha possuíam todos os direitos sobre as missões, inclusive o de nomear bispos e erigir dioceses. Os jesuítas tentaram mudar o estilo coercitivo de evangelização adotado pelos missionários da época, ao mesmo tempo em que tentaram livrar-se do poder político que acompanhava os padroados. Na época, a Santa Sé começava a perceber que a estreita ligação entre a evangelização e os padroados não era benéfica à evangelização na Ásia. Por meio da criação de Propaganda Fide, tentou-se separar as competências de um e de outro. 5 Propaganda Fide foi fundada, em 1622, pelo Papa Gregório XV, com o dúplice objetivo de difundir o cristianismo nas regiões onde o anúncio cristão ainda não tinha chegado e de defender o patrimônio da fé. Desde 1988, por disposição de João Paulo II, passou a chamar-se Congregação para a Evangelização dos Povos. 6 Depois da descoberta do Cabo de Boa Esperança (1486) por Bartolomeu Diaz e da tomada de Goa (1510), os navios portugueses chegaram até a China. Em 1516, um navio português chegou a Cantão. Sucessivamente, o governo imperial chinês concedeu aos portugueses abrir uma região de comércio em Macau, que se tornou a base da penetração europeia na China. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 143 A chegada de Matteo Ricci,7 em 1582, marcou uma verdadeira revolução quanto ao método de aproximação ao povo chinês. Em Macau, por exemplo, naquele período, os chineses convertidos eram obrigados a escolher nomes portugueses, vestir roupas portuguesas e adotar os costumes de Portugal. Matteo Ricci mergulhou diretamente no estudo da língua chinesa, ao contrário de outros missionários, que usavam, até então, o método da assimilação cultural dos povos evangelizados. Humanista, Matteo Ricci conseguiu abrir um diálogo entre duas civilizações, oferecendo os seus conhecimentos de letrado e matemático. Escreveu e traduziu numerosas obras em língua chinesa. Quando morreu, em 1610, o imperador Wanli concedeu um terreno para a sua sepultura. Essa foi a primeira vez em toda a história da China que a um estrangeiro foi permitido o sepultamento na capital do império. No período que seguiu a morte de Ricci, as relações entre os missionários e a China tornaram-se mais difíceis. Além das perseguições periódicas, mais nocivas aos objetivos da evangelização foram as rivalidades entre as próprias ordens religiosas, principalmente entre os franciscanos e os jesuítas. Com a queda da dinastia Ming, derrotada em 1644, e o advento da dinastia Qing,8 o cristianismo encontrou no imperador Kangxi um importante aliado. Com um decreto de 1692, Kangxi elogiou os missionários europeus, agradecendo-lhes pelos seus serviços e definindo-os como homens de paz.9 Infelizmente, a Questão dos Ritos rompeu a amizade entre os representantes da Igreja Católica e a corte chinesa. Alguns missionários, principalmente dominicanos e franciscanos, que evangelizavam com métodos intransigentes, porque culturalmente ligados a modelos europeus, escreveram à Santa Sé comunicando suas opiniões contrárias aos métodos usados por Matteo Ricci e outros jesuítas, afirmando que a fé cristã corria risco, porque os jesuítas estavam permitindo aos católicos chineses praticarem os ritos aos ancestrais.10 7 Matteo Ricci nasceu na Itália, em 1552. Entrou na Companhia de Jesus em 1571. Destinado às missões na China, depois de um período de preparação em Macau, que tinha sido conquistada por Portugal em 1577, chegou à China em 1583 e a Pequim em 1601, onde morreu nove anos depois. 8 A dinastia Qing (chamada também dinastia Manchu) teve origem na invasão do clã manchu da região norte da China, a Manchúria. De lá eles conquistaram o resto do país, derrotando a já enfraquecida dinastia Ming. A dinastia Qing foi a última dinastia imperial chinesa. 9 LAURENTIN, René. Cina e cristianesimo: al di lá delle occasioni mancate. Roma: Città Nuova, 1981. p. 126. 10 Estes ritos eram homenagens que os chineses dirigiam aos próprios defuntos. Todos os chineses guardavam nas suas casas tabuinhas com os nomes dos seus defuntos e a eles dirigiam saudações, acendiam incensos, ofereciam frutas, perfumes, etc. 144 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> A Igreja Católica definiu os Ritos aos Ancestrais como atos supersticiosos, inaceitáveis para quem queria se converter ao catolicismo. Matteo Ricci, profundo conhecedor da cultura chinesa, tentou esclarecer que esses Ritos eram um simples e amoroso tributo aos pais e ascendentes defuntos, consequência da virtude da piedade filial ensinada aos chineses por Confúcio e que nada tinham a ver com superstição. Mas ninguém quis escutá-lo. Nem um ato oficial do imperador Kangxi, no qual ele afirmava que as honras prestadas a Confúcio e aos ancestrais eram puramente civis, conseguiu convencer Roma a abandonar a sua atitude intolerante. Faltou confiança nas intuições dos missionários jesuítas que tinham experiência direta e conhecimento profundo da cultura chinesa. As decisões pontifícias se distanciaram da posição da própria Propaganda Fide e resultaram numa derrota da experiência missionária desse período. Foi justamente em tal período que a Propaganda Fide organizou um grupo de 32 sacerdotes a serem enviados à China. Entre eles estavam os padres vicentinos Luis Antonio Appiani e Mullener. Os dois Vicentinos chegaram a Cantão no mês de agosto de 1699. O objetivo da viagem era o de fundar um seminário para a formação de seminaristas chineses, mas o momento difícil pela Questão dos Ritos os convenceu a adiar este projeto. Padre Appiani foi chamado para servir de tradutor junto à corte imperial, quando uma missão diplomática foi enviada pela Santa Sé ao imperador chinês com o objetivo de resolver a Questão dos Ritos. Naquela ocasião, o imperador Kangxi, irritado pela intransigência da Igreja Católica em relação aos Ritos, declarou a proibição da difusão do cristianismo na China e a imediata expulsão de todos os missionários. Padre Appiani foi preso e ficou nas prisões chinesas por 13 anos. O seu companheiro de viagem, Padre Mullener, conseguiu escapar da prisão, e, depois de esconder-se um ano em Cantão, conseguiu realizar o objetivo da missão de fundar na província do Sichuan um seminário para a formação de seminaristas chineses. Em 1711, chegou à China o terceiro vicentino: Teodoro Pedrini, italiano, que foi admitido à corte imperial para ali trabalhar como músico. Padre Pedrini conseguiu conquistar a estima do imperador, que amava muito a música. Ele foi um dos pouquíssimos missionários que receberam a permissão de permanecer na China depois do edito de proibição do cristianismo e de expulsão dos missionários de 1721. Quando Padre Pedrini morreu, em 1746, se concluía a primeira fase da missão vicentina na China. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 145 3 Supressão da Ordem dos Jesuítas e chegada do segundo grupo de Vicentinos a Pequim No mesmo período em que se concluía a primeira fase da missão vicentina na China, na Europa os Jesuítas sofriam ataques de todos os lados. A Companhia de Jesus se havia tornado uma das ordens religiosas mais potentes e influentes. O trabalho missionário que a Companhia realizava nas colônias da América do Sul e da Ásia era um obstáculo aos desejos de exploração sem freios das potências europeias. Foram justamente as cortes europeias de tradição católica – França, Espanha, Portugal, Reino de Nápoles e Ducado de Parma – que expulsaram os jesuítas das suas terras e das próprias colônias. Em seguida, convenceram o Papa Clemente XIV a suprimir a ordem religiosa dos Jesuítas. Em 1773, ele assinou o decreto Dominus ac Redemptor, de supressão da Companhia de Jesus, afirmando que só fazia isso para o restabelecimento da paz na Igreja. A supressão da Companhia de Jesus tinha colocado em perigo o futuro da missão francesa de Pequim e de outras missões que dela dependiam. Os últimos missionários jesuítas continuavam a ocupar suas funções junto à corte imperial e a exercer seus ministérios junto aos cristãos. Todavia, preocupados pela difícil situação causada pela falta de missionários que perdurava há mais de dez anos, os jesuítas decidiram escrever para o rei da França pedindo missionários que pudessem tomar seu lugar nas missões que se encontravam abandonadas. O governo francês iniciou negociações com a Santa Sé para encontrar uma ordem missionária que pudesse ocupar o lugar dos jesuítas. A ordem escolhida foi a Congregação da Missão. Um decreto de Propaganda Fide, de 7 de dezembro de 1783, autorizou a passagem da missão de Pequim dos Jesuítas aos Vicentinos. O decreto começava desta forma: O rei muito cristão Luís XVI, seguindo sua piedade e seu zelo pela fé católica, expôs ao nosso Santo Padre Papa Pio VI que ele deseja que os padres da Congregação da Missão possam substituir nas Missões do Império da China os padres franceses da sociedade suprimida dos Jesuítas.11 As poucas linhas do decreto acima mencionado nos fazem compreender que já se tinha estabelecido uma certa proteção francesa em relação às missões. Foi, de fato, o próprio rei de França, Luís XVI, algumas semanas mais tarde, quem escreveu as cartas de nomeação dos missionários vicentinos. Essa estreita ligação entre as missões católicas e os governos das nações europeias influiria negativamente no desenvolvimento da Igreja Católica na China. 11 CONGREGATION DE LA MISSION. La Congregation de la Mission en Chine. In: ______. Mémoires de la Congregation de la Mission. Paris: Imprimerie d’Adrien Le Clère et Cie, 1912. t. 2. p. 32. 146 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 3.1 Fundação da missão portuguesa na China No mesmo período em que o rei de França substituiu em Pequim os Jesuítas pelos religiosos da Congregação da Missão, a rainha de Portugal chamou os Vicentinos portugueses a dirigir o seminário de Goa, na Índia. O novo bispo de Pequim, Mons. De Gouvea, que tinha obtido da rainha a permissão de instituir um seminário em Macau, visitou, em 1784, o seminário de Goa. Ficou admirado com o trabalho realizado pelos Vicentinos e escolheu alguns deles para que se ocupassem da direção do novo seminário de Macau, destinado à formação do clero chinês. Em 1794, dois missionários de Goa, Padre Correa, português, e Padre Villa, italiano, chegavam a Macau, onde fundaram o Colégio São José de Macau, que, por meio século, formou os sacerdotes chineses das províncias meridionais da China e, mais tarde, da própria diocese de Pequim. Não obstante o estabelecimento dos Vicentinos em Macau, o acesso dos Vicentinos franceses à China por meio da colônia portuguesa nunca foi liberado. O governo português não permitia que chegassem à China missionários que tivessem sido enviados sem a sua permissão. Por causa dessa proibição muitos deles não conseguiam chegar a Pequim ou chegavam depois de muitos anos de espera. Foi este o caso de dois padres franceses, Jean Regis Clet e Raymond Aubin e do sacerdote irlandês Robert Hanna, que, junto com os diáconos Lamiot e Pesné, foram obrigados, pela rivalidade que existia entre as suas nações de origem, à permanência forçada em Macau. O Padre Raux levou cinco anos para obter a permissão. Padre Hanna e Padre Lamiot, que tinha sido ordenado sacerdote, chegaram a Pequim em 30 de junho de 1794. Padre Hanna substituiu Padre Raux como astrônomo, e Padre Lamiot trabalhou como tradutor oficial na corte imperial. Somente depois de muitos anos, pouco antes de sua morte, Padre Raux conseguiu do imperador o título de Procurador, que lhe dava o poder de representar oficialmente a missão francesa em Macau, podendo facilitar, dessa forma, a entrada dos missionários que não fossem de nacionalidade portuguesa. Delegou esse poder a um dos diretores do Colégio São José de Macau, Padre Villa. Entretanto, mesmo com a aprovação imperial, os portugueses se opuseram a essa decisão, afirmando que o missionário Villa se encontrava a serviço de Portugal, e não de uma nação (a França) com a qual Portugal poderia encontrar-se em guerra.12 12 CONGREGATION DE LA MISSION. La Congregation de la Mission em Chine. In: ______. Mémoires de la Congregation de la Mission. Paris: Imprimerie d’Adrien Le Clère et Cie, 1912. t. 2. p. 60. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 147 As rivalidades entre as nações europeias refletiam-se sobre a vida das missões chinesas, que dependiam financeiramente e numericamente dos respectivos governos. A missão francesa de Pequim, que não estava recebendo as ajudas econômicas prometidas pelo governo francês, era frequentemente obrigada a pedir empréstimos à missão portuguesa, sustentada financeiramente pela corte portuguesa. 3.2 Início das perseguições das missões vicentinas Após a morte do imperador Qianlong, em 1796, subiu ao trono um dos seus filhos, Jiaqing. Este, incapaz de governar a China, delegou o poder aos grandes oficiais da corte, que discordavam da influência dos missionários sobre o povo chinês. Os resultados foram grandes revoltas que se espalharam na China inteira e que tiveram como efeito colateral o início de longas perseguições religiosas. Os missionários receberam a ordem de não deixar suas residências sem a devida autorização. Os livros de religião foram todos queimados. Em 1811, uma nova perseguição do imperador abateu-se sobre os missionários católicos. Puderam permanecer em Pequim somente aqueles que trabalhavam na corte imperial, como alguns padres portugueses que trabalhavam no Dicastério dos matemáticos e o francês Padre Lamiot que trabalhava como tradutor. Os outros padres, já idosos e doentes, tiveram que deixar a missão de Pequim. Sua residência e as igrejas foram vendidas por um preço irrisório ao imperador.13 Esta nova perseguição determinou o fim da missão francesa de Pequim. Os últimos missionários foram condenados e expulsos do território chinês. Também o vicentino Lamiot, depois de alguns anos, foi obrigado a deixar Pequim para dirigir-se a Cantão. Terminava desta forma mais um capítulo das missões dos Vicentinos na China. 4 Restauração da missão francesa de Pequim A restauração da missão francesa de Pequim coincidiu com a restauração da Congregação da Missão na França. Durante a eclosão da Revolução Francesa, a Congregação da Missão tinha sido suprimida, assim como tinha acontecido em 1773 com os Jesuítas. Restaurada por Napoleão em 1806 foi de novo suprimida e renasceu definitivamente em 1816. A sede geral foi estabelecida na Rua de Sévre 95, em Paris, seguindo o mesmo modelo da primeira sede, Saint-Lazare, com o obje13 VERHAEREN, H. Catalogue de la biblioteque du Pé´tang. Pequim: Imprimerie des Lazaristes, 1949. p. XXI. 148 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> tivo de reafirmar a centralização da direção francesa sobre os grupos missionários espalhados pelos vários países europeus. O Superior Geral percebeu que a sobrevivência da Congregação da Missão em uma França caracterizada por um profundo espírito anticlerical dependia do quanto ela se mostrasse útil aos interesses do governo francês. Nesta visão, a opção que a Congregação da Missão fez em favor das missões do Extremo Oriente – região onde os interesses franceses eram, na época, fortíssimos – foi, sem dúvida, uma escolha que lhe permitiu revitalizar a sua ordem missionária no próprio território francês e também nas missões estrangeiras, principalmente da China. Na época da restauração da missão francesa, a diocese de Pequim incluía a Mongólia, região a norte de Pequim. Nessa região, tinham-se refugiado os Vicentinos chineses que conseguiram escapar da perseguição de 1811. Quando os Vicentinos franceses enviados pela Congregação da Missão chegaram à China, os padres chineses Mateus Xue e Joseph Han, que tinham dirigido a missão Vicentina até então, os acolheram com alegria. O novo superior da missão francesa era o Padre Joseph-Martial Mouly. Ao longo da sua permanência na região da Mongólia, Padre Mouly constituiu numerosas escolas para o ensino da religião cristã e preparou-se para a fundação de um novo seminário na província do norte. Existia, de fato, um só seminário, aquele de Macau, no sul da China, para onde eram enviados todos os candidatos ao sacerdócio. A iniciativa de fundação de um novo seminário foi, porém, adiada pela decisão, por parte da Santa Sé, de constituir um novo Vicariato, que iria separar a região da Mongólia de Pequim. Essa decisão fazia parte de uma nova reorganização das missões chinesas por parte da Santa Sé. Até então a China era dividida em três episcopados: Pequim, Nanquim e Macau. A Santa Sé decidiu suprimir os episcopados e erigir em toda a China Vicariatos, que seriam confiados às diferentes ordens religiosas missionárias que já cuidavam das respectivas regiões. Na época encontravam-se na China 80 sacerdotes, dos quais a metade era constituída de europeus que haviam ingressado na China desde 1825.14 O passo seguinte foi a nomeação do novo Vigário de Pequim. Essa região tinha sido dirigida, por 15 anos, pelo sacerdote vicentino chinês Pe. Mateus Xue, pois os missionários europeus tinham sido expulsos da China ou tinham morrido já com avançada idade. Padre Xue era considerado, pela sua experiência na missão de Pequim, como um dos candidatos mais prováveis. Todavia o escolhido foi Padre Mouly, recém-chegado à China, um sacerdote francês de 28 anos, contra os 44 de Padre Xue. 14 Carta de J. G. Perboyre, 16 de agosto de 1836. In: VAN DEN BRANDT, Jospeh (Org.). Lettres du Bienheureux Jean-Gabriel Perboyre: prêtre de la Mission. Pequim: Ed. Péking; Imprimerie des Lazaristes, 1940. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 149 Essa preferência nos leva a refletir sobre o critério de escolha dos dirigentes missionários. As nomeações eram feitas na França, pelo Superior Geral, sem consultar os interessados. O Superior Geral preferiu escolher um candidato francês, do qual conhecia a formação recebida, tendo ele estudado nos seminários nacionais, em vez de um chinês, do qual mal conhecia a preparação e que, de uma certa forma, segundo o pensamento tradicional dos missionários da época, não podia garantir a sobrevivência de um nacionalismo que estava, infelizmente, na base da vida das missões católicas daquela época. No entanto, a missão portuguesa na China sofreu um golpe que determinou o seu fim. No dia 24 de abril de 1838, o Papa Gregório XVI, por meio da Bula Multa Praeclare, declarava terminado o padroado do rei de Portugal sobre as Índias e a China. Isto significou que as missões, até então confiadas aos portugueses, eram transferidas para a jurisdição de missionários de outra nacionalidade. O governo português decidiu então não somente não enviar mais missionários portugueses, mas suspender toda ajuda econômica aos que tinham permanecido no território chinês. Isso significou o fim da missão portuguesa, começada em 1600, com a chegada dos primeiros jesuítas. 5 Mons. Mouly e o período dos tratados desiguais Após a morte de Jiaqing, filho do imperador Qianlong15, subiu ao trono seu segundo filho, Daoguang, que reinou até 1850. Começava um período difícil para a China, que ainda hoje é lembrado como o período dos tratados desiguais.16 O primeiro desses tratados foi o Tratado de Nanquim (1842), entre a Inglaterra e a China, que estabeleceu a abertura de cincos portos: Cantão, Fuchow, Amoy, Ningpo e Xangai ao comércio europeu, o pagamento por parte da China de uma forte indenização, além da cessão à Inglaterra da ilha de Hong Kong. Nesses portos, os ingleses teriam direito de extraterritorialidade, em virtude do qual, em caso de necessidade, deveriam ser submetidos apenas às leis do próprio país e não àquelas chinesas. Além disso, a cláusula da “nação mais favorecida” estendia automaticamente à Inglaterra qualquer privilégio que a China concedesse às outras potências. Logo em seguida, com a assinatura dos Tratados de Huangpu e de Wangxia, em 1844, a França e os Estados Unidos também ocuparam espaço na conquista territorial da China. 15 Sob o governo do imperador Qianlong, a China alcançou uma grande expansão territorial. Ele recebeu a primeira embaixada inglesa com a chegada de Lord Macartney a Pequim. A intenção do império inglês era pedir a abertura de portos para negociações, mas o Imperador respondeu que a China não precisava de nada que viesse de fora dos seus confins. 16 São chamados tratados desiguais porque marcaram o início do período da humilhação chinesa, em que a China foi ocupada pelas várias potências ocidentais que disputavam as áreas mais preciosas do território chinês. 150 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> Os tratados desiguais aparentemente asseguraram uma certa proteção à atividade missionária. Porém, tal proteção colocou em risco o trabalho missionário, criando, na maioria dos chineses, a ideia de que a Igreja Católica fosse ligada ao poder europeu de conquista dos territórios e de obtenção de vantagens econômicas, o que valia para alguns missionários, mas não para todos. O artigo 23 do Tratado de Huangpu, primeiro ato oficial entre a França e a China, foi extremamente importante para os sacerdotes chineses e para os missionários estrangeiros, porque estabelecia que todos os missionários fossem colocados sob a salvaguarda de um ato internacional, já que, daquele momento em diante, nenhum estrangeiro poderia ser julgado por autoridades chinesas.17 Não obstante essa disposição, os missionários não se livraram das perseguições que, sazonalmente, os governos locais chineses moviam contra os missionários. O mesmo Mons. Mouly foi preso e exilado em Xangai, onde chegou em 2 de janeiro de 1855. Antes de partir, porém, procurou indiretamente contatar o governo chinês para reclamar a restituição das igrejas de Pequim, segundo o tratado de Huangpu. Todavia, essas tentativas não alcançaram o sucesso esperado. Desde que tinha sido consagrado bispo e vigário de Pequim, ele não tinha conseguido receber os bens que pertenceram à antiga diocese de Pequim. Para tratar dos diferentes problemas que os missionários estavam encontrando, no mês de dezembro de 1850, o Superior Geral da Congregação da Missão reuniu, em assembleia, em Ningpo, todos os Vigários Apostólicos da China. O objetivo desse encontro era o de encontrar uma solução para a segurança dos missionários e discutir a questão dos protetorados das missões. O resultado foi a decisão de escrever uma carta ao Ministério da França para obter a aplicação do artigo 23 do Tratado de Huangpu, que não estava sendo respeitado, e outra carta para a Santa Sé, com o intuito de pedir ao papa que confiasse à França a proteção das missões na China. No entanto, o imperialismo ocidental na China crescia sem parar. As potências coloniais reivindicavam a abertura de todo o território chinês ao comércio internacional. Esse fator, juntamente com o excessivo incremento demográfico e o empobrecimento do povo chinês, provocaram muitas revoltas. A maior delas foi a dos Taiping, liderada por Hong Xiuquan, que proclamou o advento do “Reino celeste da grande paz” (Taiping tianguo). Essa revolta conseguiu instaurar, em 1853, um novo governo, com capital em Nanquim. Em um primeiro momento, as potências ocidentais olharam a revolta com simpatia, já que se baseava 17 THOMAS, Antoine. Histoire de la Mission de Pékin: depuis l’arrivée des Lazaristes jusqu’à la revolte des Boxers. Paris: Louis Michaud, 1923. p. 272. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 151 também em elementos cristãos. O líder dela tinha mantido, quando jovem, contatos com missionários cristãos, e se declarou irmão menor de Jesus Cristo e portador de um novo Evangelho. Mas, quando os europeus perceberam que os Taiping não permitiriam a permanência deles na China, se aliaram às tropas imperiais para derrotar a revolta. O Tratado de Tianjin foi negociado pelo Barão Gros, de nacionalidade francesa, ajudado por vários missionários vicentinos, que faziam as traduções necessárias. Ele aproveitou para inserir nos seus artigos um trecho que garantia a liberdade religiosa e o protetorado francês sobre as missões católicas. O artigo 13 completava o parágrafo do Tratado de Huangpu, do qual falamos anteriormente, garantindo completa proteção a todos os missionários: Art. 13. Os membros de todas as comunidades cristãs fruirão de uma completa segurança para suas pessoas, suas propriedades e do livre exercício de suas práticas religiosas. Uma proteção eficaz será dada aos missionários que se deslocarão pacificamente no interior do país, munidos de passaportes regulares. Nenhum entrave será aportado pelas autoridades do império chinês ao direito que é reconhecido a todas as pessoas na China de abraçar, se elas desejarem, o cristianismo e de seguir as suas práticas sem ser possível afligi-las com nenhuma pena por este fato. Tudo aquilo que foi precedentemente escrito, proclamado ou publicado na China por ordem do governo contra o culto cristão, está completamente abolido e permanece sem valor em todas as províncias do império.18 Por meio desse tratado, os missionários, munidos de passaporte francês, tinham liberdade de residir em qualquer parte da China. Contemporaneamente a Inglaterra e França, também Estados Unidos e Rússia conseguiram obter os mesmos benefícios de abertura de outros portos comerciais e de ulteriores indenizações. Quando a corte chinesa, perante essa grave situação, manifestou perplexidade, hesitando na ratificação desses tratados, as tropas britânicas e francesas deram mais uma vez demonstração de força militar. Entraram em Pequim, saquearam e destruíram o palácio de verão do imperador, construído, dois séculos antes, por arquitetos jesuítas. O Palácio Yuan Ming Yuan continha inúmeras obras de arte e preciosos artesanatos chineses, que acabaram sendo enviados aos museus europeus. Após o saque, as potências ocidentais obrigaram o governo chinês a assinar a Convenção de Pequim, em 1860. Essa Convenção, que ratificava o Tratado de Tianjin, além de permitir o credenciamento permanente de missões diplomáticas ocidentais 18 CONGREGATION DE LA MISSION. La Congregation de la Mission en Chine. In: ______. Mémoires de la Congregation de la Mission. Paris: Imprimerie d’Adrien Le Clère et Cie, 1912. t. 3. p. 639-640. 152 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> em Pequim e uma ulterior distribuição territorial entre as potências ocidentais, reconhecia a todos os missionários cristãos o direito de propriedade de edifícios religiosos e o direito de evangelizar em todo o território chinês. Um artigo dessa Convenção dizia respeito ao direito da Igreja Católica de receber de volta os prédios que o governo lhe tinha confiscado no passado. O confisco de prédios religiosos por parte do governo havia começado com o edito de Kangxi, de 1721, lançado contra o cristianismo. Muitos anos se tinham passado, e era difícil, naquele momento, verificar quais prédios pertenceriam aos missionários. Na maioria das vezes, os missionários procuraram o apoio dos seus governos para que estes obrigassem o governo chinês a devolver igrejas ou outros prédios, rejeitando qualquer tipo de oferta alternativa e reivindicando a desocupação imediata das pessoas que ocupavam tais edifícios.19 Essa atitude certamente não ajudou os chineses a pensar que os missionários não agiam em causa própria, assim como também não ajudou o fato de que, em nome do protetorado francês sobre as missões, todas as controvérsias que envolviam missionários ou leigos católicos chineses fossem decidias não pelo governo chinês, mas pelo governo francês que, evidentemente, defendia sempre os católicos. Os missionários vicentinos, usufruindo da proteção francesa, conseguiram de volta todos os prédios religiosos, que tiveram que ser restaurados quase que completamente. A proteção francesa não permitiu somente a reconstrução dos prédios e das igrejas destruídas, mas também significou uma liberdade de evangelização como jamais os missionários tinham recebido. Todavia, tal proteção gerou em alguns missionários uma mudança de atitude. Antes submetidos a duras provas, alguns deles passaram a ocupar uma posição de privilégio. Posição que se sustentava na ligação com as nações que tinham invadido a China e submetido a população à exploração econômica e a uma humilhação moral que não tinha precedentes na sua história. A liberdade de ação permitiu aos Vicentinos realizar um projeto há muito tempo sonhado, aquele de receber em Pequim o primeiro grupo das Filhas da Caridade, Congregação fundada por São Vicente de Paula e Santa Luísa de Marillac no século XVII. Mons. Mouly chamou as Filhas da Caridade às cidades de Pequim e Tianjin, onde elas abriram as suas casas para recolher crianças abandonadas. Esta foi uma das últimas obras realizadas por Mons. Mouly, que morreu no dia 4 de dezembro de 1868. 19 LEUNG, Beatrice. Sino-Vatican relations: problems in conflicting authority: 1976-1986. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. p. 36. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 153 6 A revolta dos Boxers e os mártires católicos Em 1894, a guerra com o Japão marcou uma ulterior derrota, pois aniquilou o imperador chinês. O Japão não era uma potência ocidental, mas sua superioridade era já indiscutível. O país tinha na cultura chinesa seus fundamentos principais, mas conseguiu alcançar uma modernização de tipo europeu, colocando-se na frente da China e convencendo-a da necessidade imediata de modernização. Um grupo de letrados, guiados por Kang Yuwei, conseguiu convencer o jovem imperador Guangxu sobre a necessidade de modernização. Seguindo os conselhos de Kang Yuwei, entre o mês de junho e setembro de 1898, o imperador Guangxu emitiu uma série de decretos com o intuito de reformar o aparato estatal, as estruturas das escolas e o exército. Essa iniciativa, que caracterizou o período chamado de “cem dias”, não obteve o sucesso esperado. Os decretos previam a reforma total dos exames imperiais, o que significava uma total revolução do sistema educacional, que era privilégio da elite chinesa; a criação de escolas de tipo ocidental; a instituição de ministérios de caráter técnico; a criação de um banco central, com instrumentos financeiros modernos; a renovação do exército; e a abolição de todos os privilégios das autoridades centrais e provinciais.20 Se esses decretos fossem aplicados, a burocracia chinesa perderia, de uma só vez, o seu poder e seus privilégios. E ela não poderia permitir que isso acontecesse. Os burocratas chineses simplesmente decidiram não agir, não acatar as reformas que o imperador estava aprovando uma atrás da outra. O líder dos letrados, Kang Youwei, tinha uma base de apoio militar muito fraca, e, quando o general mais forte, Yuan Shikai, em quem acreditava encontrar um fiel amigo, passou para o lado da imperatriz Cixi, o movimento de reformas fracassou definitivamente. A imperatriz Cixi e o general Yuan Shikai foram os responsáveis por um golpe de estado militar que confinou o imperador Guangxu em uma ala do palácio imperial, e permitiu que eles se apropriassem do poder do império. A fraqueza da dinastia ficou ainda mais evidente. A situação de colonialismo em que a China se encontrava desencadeou um ódio indiscriminado a todos os estrangeiros. O motivo que transformou este ódio em luta armada originou-se no interior da China, precisamente na província de Shantung, uma região onde as seitas secretas proliferavam. Entre essas seitas sobressaiu-se uma que ficou conhecida no Ocidente como “Boxers”. Tratava-se de uma organização armada xenófoba chamada Yihequan (Punho da Justiça e da Harmonia). A sua estrutura militar era muito rígida. Até então tinha atuado clandestinamente, mas, com a autorização da imperatriz, lançou-se a caçar todos os estrangeiros, colocando-se em frente ao povo chinês como tutores da tradição chinesa. . p. 79. 20 COLLOTTI PISCHEL, Enrica. Storia della Rivoluzione Cinese. Roma: Riuniti, 1972 154 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> A imperatriz Cixi, na tentativa de ganhar a simpatia popular e caçar os estrangeiros da China, apoiou os Boxers, que adotaram como lema “Viva a dinastia, cacem os estrangeiros!” Os missionários estrangeiros e os cristãos chineses foram suas primeiras vítimas. Apareceram manifestos com ideogramas vermelhos que anunciavam que todos os prédios religiosos deveriam ser destruídos e avisando que os Boxers atuariam o massacre dos estrangeiros. Ao lado dos missionários e dos cristãos, não foram poupados representantes das delegações ocidentais que residiam em Pequim. O Ministro da Alemanha morreu em um dos ataques ao bairro das Delegações, onde viviam todos os estrangeiros. No entanto, Inglaterra, França, Alemanha, Áustria-Hungria, Itália, Rússia, Japão e Estados Unidos lançaram a ofensiva contra a China e contra os Boxers. As delegações estrangeiras conseguiram sufocar a revolta dos Boxers, e a corte chinesa, derrotada, fugiu, deixando a Li Hongzhang, um velho general que era encarregado de conduzir a política estrangeira da China, a tarefa de negociar com os estrangeiros. Foram necessárias longas negociações para chegar ao acordo de paz que recebeu o nome de “Protocolo de 1901”. 7 A China no início do século XX e a contribuição de Vincent Lebbe à renovação das missões católicas Os primeiros anos do novo século viram a chegada na China de numerosos missionários. Entre os novos chegados, encontrava-se Vincent Lebbe, que tinha sido enviado à China por causa de algumas de suas ideias, consideradas muito progressistas para a época, e pelo seu espírito crítico, que lhe havia atraído muitas antipatias. Logo que chegou a Pequim, Lebbe começou a estudar chinês. Suas ideias inovadoras logo atraíram a atenção dos seus coirmãos. De fato, Lebbe se diferenciou dos seus companheiros pelas críticas ao método de evangelização usado especialmente pelos missionários franceses, em que o espírito universal do cristianismo era subjugado por uma visão europeia do cristianismo, que não considerava os valores ínsitos na cultura chinesa. Lebbe começou a escrever ao papa comunicando-lhe a necessidade de dar espaço a uma igreja autóctone chinesa, o que testemunharia que o cristianismo não era como tantos chineses pensavam, uma religião ocidental ou, pior ainda francesa, mas uma religião universal. Todavia, o principal obstáculo que se apresentava à evangelização não era somente a França, mas, sobretudo, a rejeição das várias congregações religiosas estrangeiras de criar um clero chinês. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 155 O nacionalismo exasperado das diversas congregações religiosas colocava em perigo o trabalho missionário, justamente no período em que a China estava lutando pela própria independência, com a proclamação da República Chinesa. Além disso, Lebbe tinha denunciado o racismo praticado pelos padres missionários. Ele revelou que os missionários estrangeiros obrigavam os fiéis chineses a ficar de joelhos na frente deles. Ninguém podia sentar. Além do mais, os seminaristas chineses recebiam uma preparação superficial para que eles ficassem em uma posição inferior, sendo reservadas a eles somente funções subalternas, impedindo que ocupassem cargos relevantes na Igreja Católica.21 Essas denúncias, com certeza, contribuíram para a iniciativa do Papa Bento XV de escrever um documento inovador, que apresentou, talvez pela primeira vez, uma nova atitude da Igreja Católica. Na Maximum Illud, Carta Apostólica do dia 30 de novembro de 1919, Bento XV denunciava abertamente a humilhação a que eram submetidos os poucos padres chineses, os seminaristas e os fiéis chineses por parte dos missionários estrangeiros; denunciava o espírito europeísta ainda dominante nas missões; e afirmava a importância de dar ao clero autóctone a formação adequada que lhe permitisse de ocupar funções de direção das próprias missões chinesas. Pouco depois da publicação da Maximum illud, Bento XV morreu, deixando ao seu sucessor, o Papa Pio XI, a tarefa de colocar em prática as diretrizes desse documento inovador para o tempo no qual foi escrito. 8 Estabelecimento da hierarquia católica chinesa Em 1926, o Papa Pio XI, com o intuito de constituir as bases da Igreja Católica chinesa, consagrou 6 bispos chineses. No mesmo ano, por meio da Carta Apostólica Ab ipsis, enviada a todos os superiores das missões chineses, Pio XI manifestou a posição da Igreja Católica em relação às potências ocidentais na China. O Papa esclareceu que o papel da Igreja Católica era puramente religioso, e a consagração dos 6 bispos chineses reforçou a posição dos que queriam que o cristianismo se tornasse patrimônio da cultura e do povo chinês, e fosse entendido como religião universal, não confinado aos países ocidentais. Para promover uma maior inculturação do cristianismo, o Delegado Apostólico da Santa Sé, Mons. Costantini, apoiado pelo missionário Lebbe, promoveu a criação de ordens missionárias chinesas e convidou a irem à China, para que fundassem as suas casas em território chinês, institutos missionários estrangeiros que fossem mais dóceis às novas 21 SANTINI, Alceste. Cina e Vaticano: dallo scontro al dialogo. Roma: Riuniti, 2003. p. 75. 156 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> diretrizes da evangelização inculturada. Estas iniciativas foram apoiadas pelos católicos chineses e por parte dos missionários, mas receberam numerosas críticas daqueles que perceberam que a nova ideia de evangelização inculturada promoveria o enfraquecimento político dos protetorados ocidentais. 9 A Igreja Católica às vésperas da proclamação da República Popular Comunista Os anos que precederam a proclamação \da República Popular Chinesa foram anos decisivos para o futuro relacionamento com os comunistas. Infelizmente a Igreja Católica não percebeu a importância desse momento. O estabelecimento de uma hierarquia chinesa, que começara com a consagração de seis bispos chineses, em 1926, e que parecia ter-se tornado uma realidade em progressivo crescimento não evoluiu como se esperava. As consagrações sucessivas de chineses foram poucas em comparação com as necessidades da igreja local: até 1933 somente mais três bispos chineses foram consagrados. Em 1939, o Papa Pio XII escolheu pela primeira vez um vigário apostólico de nacionalidade chinesa: Tian Gengxin que pertencia a uma congregação católica de origem alemã, a Sociedade do Verbo Divino. Em 1946, Tian Gengxin foi nomeado Cardeal, o primeiro de nacionalidade chinesa. Apesar da alegria dessa nomeação, permaneceu em alguns a dúvida sobre a confiança plena da Santa Sé nos chineses por ter escolhido um candidato que pertencia a uma congregação de origem alemã, que mantinha ligações com o Ocidente. Em 1945, o Papa Pio XII nomeou os primeiros altos prelados de nacionalidade chinesa da hierarquia católica na China. O Cardeal Tian Gengxin foi nomeado Arcebispo de Pequim e Mons. Paul Yu Bin, Arcebispo de Nanquim. Em 1948 existiam na China cerca de 3,2 milhões de católicos em 139 circunscrições eclesiásticas: 20 arquidioceses, 84 dioceses e 35 prefeituras apostólicas. Destas 139 circunscrições, somente 26 eram administradas por chineses. A maior parte das dioceses estava ainda sob o cuidado de missionários estrangeiros que pertenciam a 26 diferentes congregações missionárias europeias e americanas.22 No início de 1949, a Santa Sé nomeou como bispos ordinários de dezesseis dioceses chineses, oito bispos chineses e oito estrangeiros. O fato de não ter nomeado somente bispos chineses ou, ao menos, 22 Anuário da Igreja Católica na China, 1949 apud CHARBONNIER, Jean. Vaticano e Cina dal 1932 al 1952. In: GIOVAGNOLI, Agostino (A cura di). Roma e Pechino: la svolta extraeuropea di Benedetto XV. Roma: Studium, 1999. p. 269. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 157 maioria chinesa, resultou contrastante com a vontade manifestada várias vezes pela Santa Sé de ver os chineses protagonistas da Igreja local. Estas nomeações revelavam a falta de confiança na preparação do clero chinês e, talvez, o temor de perder o controle sobre uma realidade missionária tão distante. O atraso no estabelecimento de uma hierarquia eclesiástica que fosse majoritariamente de nacionalidade chinesa alimentará a desconfiança dos chineses em relação à Santa Sé, dificultando as relações com o novo governo comunista. 10 As missões católicas sob o regime comunista Os primeiros tempos depois da proclamação do governo comunista foram tranquilos. Os comunistas eram vistos na China como os “libertadores”. Por cerca de dezoito meses, nas grandes cidades os católicos puderam continuar a frequentar as igrejas em plena liberdade. A polícia tinha recebido a ordem de vigiar os cristãos durante as funções religiosas nas igrejas. A situação no interior do país era diferente. A cerca de 20 quilômetros de Tianjin, todo exercício de culto estava proibido. Os cristãos não podiam reunir-se para rezar juntos, e os sacerdotes não podiam celebrar missa nas igrejas. Todas as igrejas foram usadas como lugar de reuniões, destinadas à educação política do povo. Portanto, no primeiro ano do regime comunista, os cristãos das grandes cidades não tiveram que enfrentar nenhuma perseguição aberta por parte do governo comunista. Isso, porém, não significava a aprovação dos comunistas em relação à religião católica. Nas frequentes reuniões das quais os sacerdotes chineses deviam participar, já se escutavam as primeiras propostas contra a liberdade do culto, considerando a religião como uma superstição inútil. No final de 1949, as autoridades governamentais difundiram a notícia que todos os eclesiásticos estrangeiros daquele momento em diante precisavam de uma “permissão” para permanecer na China. Para obter esse documento, os missionários passavam por um longo interrogatório por parte de funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC), que, depois de concederem a permissão, lhes faziam entender que a sua presença não era desejável. Além disso, a permissão não era definitiva e estava restrita à cidade de permanência. Se os missionários quisessem viajar, deviam pedir permissão às autoridades da região de residência. O ano 1951 marca o fim de todas as missões católicas na China. Durante todo o ano de 1950, os comunistas se empenharam na difusão da doutrina marxista-leninista por meio de cursos em todas as escolas. Desde janeiro de 1951, somente os jornais comunistas podiam circular, e 158 Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> foi por meio dos jornais comunistas que o governo iniciou uma campanha de difusão do pensamento comunista em relação à religião. O governo comunista tinha como objetivo livrar a China de toda dominação estrangeira, política, econômica ou religiosa. Daquele momento em diante, nos Anais da Congregação da Missão, as notícias da China se tornaram sempre mais raras, reduzindo-se a algumas linhas para lembrar os tristes acontecimentos que estavam vivenciando os Vicentinos chineses na China. Um dos últimos artigos, de 1953, referia o seguinte: A missão da China está sempre sob pressão. Durante o último verão nos parecia perceber uma diminuição da perseguição. Tinha-se difundido a notícia de uma possível anistia para os prisioneiros durante a festa nacional do dia 1º de outubro. Não era mais que uma ilusão: a guerra continua implacável. Não há nenhum irmão estrangeiro que não esteja preso. Quanto aos nossos irmãos chineses, sabese que dez entre eles estão presos na província do norte. Não temos notícias em relação à província do sul. É a Igreja do silêncio. Silêncio angustiante quando pensamos que esses nossos caros irmãos estão na presença de uma alternativa trágica: fidelidade à igreja nacional, cismática, ou ameaça de prisão, de trabalho forçado. Sofrem a pobreza, o frio e a fome, e nós estamos na impossibilidade de ir ao seu socorro.23 11 Conclusões A história dos Vicentinos em Pequim e em toda a China pareceria acabar em 1951. De fato, daquele ano em diante, não chegou mais notícia alguma dos missionários chineses. Alguns membros da Congregação da Missão que se mudaram para a ilha de Taiwan – assim como fez também o então Núncio Apostólico, Mons. Riberi – continuaram a trabalhar, esperando que um dia as portas do Grande Império se abrissem novamente. Em 1980, quando, com a subida ao poder de Deng Xiaoping, depois da morte de Mao Zedong, começou a ser praticada na China popular uma política de abertura também no que tange à religião, uma Filha da Caridade de Taiwan tentou entrar em contato com algumas religiosas do continente para descobrir se elas ainda estavam vivas. Aos poucos, descobriu-se que tinham sobrevivido aos anos obscuros da Revolução Cultural, 90 Filhas da Caridade e 14 Vicentinos chineses. Atualmente as relações desses missionários com seus responsáveis mundiais em Roma estão sendo retomadas. Enquanto as relações oficiais 23 CONGRÉGATION DE LA MISSION. Annales de la Mission ou Recueil de Lettres édifiantes écrites Par les Prêtres de cette Congregation employés dans les Missions étrangeres. Paris: Imprimerie d’Adrien Le Clère et Cie, 1953. v. 118. p. 313-314. Seção em língua francesa. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 141-162, jul./dez. 2010 Disponível em: <http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos> 159 entre a Santa Sé e o governo de Pequim avançam a passo lento, os missionários estão conseguindo voltar a trabalhar em benefício da população chinesa – em muitos casos, com o beneplácito tácito das autoridades comunistas, que, governando o país de forma mais pragmática que ideológica, estão abrindo espaço para todos aqueles que querem contribuir para a construção de uma sociedade mais harmônica. Recebido em agosto de 2010. Aprovado em agosto de 2010. Vincentians in Beijing: a Missionary Experience in China (1699-1951) Abstract The first Catholic missionaries arrived in the Chinese territory in 1294. The Franciscan Giovanni Montecorvino founded the Franciscan mission in China that year, with the permission of the then emperor Kublai Kahn. That first contact between the Catholic Church and the Chinese Empire was the beginning of a secular history punctuated by agreements and disagreements. Within this history, the experience of the Vincentian missionaries in China represents only a particular group's point of view but a particularly significant one. The analysis of the most relevant events that marked the development of the mission of the Vincentians in Beijing can help us identify some of the reasons that led to the current situation of disagreement between the Holy See and the Chinese government. Keywords: Vincentian. China. Holy See Referências BORTONE, Fernando. I Gesuiti alla corte di Pechino: 1601-1813. Roma: Desclee, 1969. _____ . P. Matteo Ricci, S.J: il saggio d´Occidente. Roma: Desclee, 1965. CARLETTI, Anna. Diplomacia e religião: encontros e desencontros nas relações entre a Santa Sé e a República Popular da China de 1949 a 2005. Brasília: FUNAG, 2008. CHARBONNIER, Jean. Vaticano e Cina dal 1932 al 1952. 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