1 Ansiolíticos/Hipnóticos e Sedativos Os ansiolíticos são depressores do SNC, chamados de tesniolíticos ou tranqüilizantes menores indicados para o combate da ansiedade. Os hipnóticos e sedativos são depressores gerais e não-seletivos do sistema nervoso central, sendo usados para reduzir a inquietação e tensão emocional e para induzir o sono ou sedação. O efeito dos hipnóticos e sedativos é em função da dose aplicada (dose dependente). Em doses maiores: causam efeito hipnótico. Em doses menores: produzem sedação. Em altas doses todos estes fármacos causam perda da consciência e, finalmente, morte por depressão respiratória e cardiovascular. Natureza da Ansiedade A resposta de medo normal frente a estímulos ameaçadores compreende vários componentes, entre os quais comportamentos de defesa, reflexos autônomos, despertar e alerta e emoções negativas. Nos estados ansiosos, estas reações ocorrem de uma maneira antecipada, independente dos eventos externos. A distinção entre um estado ansioso “patológico” e um “normal” não tem contornos nítidos, mas representa o ponto no qual os sintomas passam a interferir com as atividades produtivas normais. Os distúrbios da ansiedade clinicamente reconhecidos incluem: Distúrbio da ansiedade generalizada – um estado contínuo de excessiva ansiedade, sem nenhuma razão ou foco claros; Síndrome do pânico – ataques de medo opressivo ocorrendo associados com sistemas somáticos marcantes, como sudorese, taquicardia, dores no peito, tremores, sensação de asfixia, etc.; Fobias – medos intensos de coisas ou situações específicas, p. ex., cobras, espaços abertos, voar, interações sociais; 2 Distúrbio do estresse pós-traumático – ansiedade ativada por lembranças insistente de experiências estressantes passadas. Deve ser salientado que o tratamento para tais distúrbios, geralmente, envolve preferencialmente abordagens psicológicas, ou, simultaneamente, tratamento com fármacos. Classificação dos Fármacos Ansiolíticos e Hipnóticos Principais grupos de fármacos são: A) Benzodiazepínicos B) Buspirona C) Barbitúricos D) Outras Substâncias Variadas A) Benzodiazepínicos – usados como agentes ansiolíticos e hipnóticos, constituem o grupo mais importante. Estrutura Geral 9 8 1 2 NH CH 3 CH 7 6 CH N 5 4 Relação Estrutura X Atividade Para maior atividade ansiolítica, os benzodiazepínicos devem ter as seguintes características estruturais: Posição 1 – grupo metila ligado ao átomo de nitrogênio. Posição 2 – tem-se um grupo CO; se substituir por hidrogênio irá aumentar a potência ansiolítica. Posição 3 – não apresenta radical. A substituição por uma cadeia alquílica de qualquer tamanho, diminui a potência ansiolítica. Se na posição 3 ao invés do grupo 3 alquila tiver um –OH, a potência ansiolítica continua a mesma do que se não tivesse radical. Posição 4 e 5 – entre os carbonos 4 e 5 é necessário uma dupla ligação para que tenha uma relativa potência ansiolítica. A retirada da dupla diminui a potência ansiolítica. Posição 5 – para que tenha atividade ansiolítica é necessário um grupo fenila (ou grupo fenila com um substituinte eletronegativo como F, na posição orto). Posição 7 – é necessário um grupo retirador de elétrons, como Cl, NO2 ou CF3. Se for NO2 essa potência ansiolítica aumenta. Posição 6, 8, 9 – para ter atividade ansiolítica não deve ter nenhuma substituição nestas posições. O primeiro Benzodiazepínicos, o clordiazepóxido, foi sintetizado pó acaso em 1961. Clordiazepóxido [Antalin® + (amitripilina)] NH CH3 N Tem duração total de ação de 2448 horas. N Ansiolítico. Duração total de ação 24-48h Ansiolítico. O Cl Outros exemplos: Diazepam (Valium®) CH3 O N N 4 Lorazepam (Ativan®, Lorazepam®) H O N H Duração total de ação curta (12-18h). Ansiolítico, hipnótico (mais usado como OH N hipnótico) Cl Oxazepam (Serax®) H O N OH Cl Duração total de ação curta (12-18h). Ansiolítico, hipnótico. N OH Temazepam (Restoril®) CH3 O N OH Duração total de ação curta (12-18h) Ansiolítico, hipnótico (mais usado N Cl como hipnótico). Nitrazepam (Mogadon®) H O N O 2N Duração total de ação média. Hipnótico, ansiolítico (mais usado N como hipnótico) 5 Flurazepam (Dalmane®, Dalmadorm®) N O N Duração total de ação longa. Ansiolítico N Cl F Clonazepam (Rivotril) Duração total de ação longa H O N Ansiolítico Anticonvulsivante O 2N N Cl Efeitos Indesejáveis Podem ser divididos em: Efeitos tóxicos resultantes de superdosagem aguda – causam sono prolongado, sem depressão grave da respiração ou da função cardiovascular, sendo, portanto, seguros em caso de sobredose. Contudo, na presença de outros depressores do SNC, particularmente o álcool, os benzodiazepínicos podem causar depressão respiratório severa, até com risco de morte. Efeitos colaterais durante o uso terapêutico – os principais efeitos são sonolência, confusão mental, amnésia e coordenação motora prejudicada. 6 Tolerância e Dependência – A tolerância (isto é, um gradual aumento da dose necessária para produzir o efeito necessário) ocorre com todos os benzodiazepínicos, assim como a dependência, que é a sua principal desvantagem. Buspirona O N N N N N O É um potente (embora não-seletivo) agonista dos receptores 5-HT1A. Efeitos ansiolíticos levam dias ou semanas para se desenvolver. Efeitos colaterais parecem menos problemáticos do que com os benzodiazepínicos; eles incluem tontura, náusea, cefaléia, mas não sedação ou perda de coordenação. Barbitúricos As propriedades indutoras do sono dos barbitúricos foram descobertas no início do séc. XX e centenas de compostos foram produzidos e testados. Até o início dos anos 60 eles formaram o maior grupo de hipnóticos e sedativos em uso clínico. São depressores não-seletivos do SNC que produzem efeitos que vão da sedação e redução da ansiedade à inconsciência e morte por falência respiratória e cardiovascular. São, portanto, perigosos em dose excessiva. Atualmente estão obsoletos, tendo sido suplantados pelos benzodiazepínicos. Atualmente seu uso se restringe à anestesia e ao tratamento da epilepsia; não é mais recomendado o uso como agentes sedativos/hipnóticos. 7 Fórmula Geral de um Barbitúrico O H N3 4 5 R´ R´´ R´= H, alquila, arila. O X = O, S, Se. 2 1 6 N X R´´ = H, alquila, arila. H C) Relação Estrutura X Atividade dos Barbitúricos No estudo das relações estrutura-atividade dos barbitúricos encontra-se alguns parâmetros gerais. A duração do efeito depende principalmente dos substituintes na posição 5 (R´e R´´). - Cadeias longas (8 C) irá aumentar a intensidade do efeito (lipossolubilidade) - O aumento ulterior da cadeia lateral resultará em produtos convulsivante ou inativos. Substituintes na posição 2 (S e O) - S = aumenta lipossolubilidade (diminui o tempo de ação) - O = aumenta o tempo de ação. Metilação do nitrogênio (R) - aumenta a lipossolubilidade e diminui a duração do efeito. Grupo fenila na posição 5: propriedades anticonvulsivantes. O átomo de S na posição 2 encurta o tempo de latência em razão de sua passagem muito rápida para o sistema nervoso central e diminui a duração de ação devido à rápida redistribuição no tecido adiposo. Assim teremos; Barbitúricos de ação ultra-curta - R´e R´´: cadeia longa -X=S 8 Barbitúricos de ação curta - R´e R´´: cadeia longa - X= O Barbitúricos de ação intermediária - R´e R´´: cadeia mais curta e menos ramificada -X=O Barbitúricos de ação prolongada - R´e R´´: cadeia curta e saturada -X=O Utilidade terapêutica Ação prolongada: anticonvulsivante e sedativo diurno. Ação intermediária: hipnóticos. Ação intermediária e curta: sedação pré-anestésica. Ação ultra-curta: agentes anestésicos intra-venosos para anestesia basal. Exemplos Pentobarbital (Nembutal®) O H N Ação curta: até 3 horas. São ocasionalmente usados como hipnóticos e fármacos ansiolíticos. O N O H É com freqüência usado como anestésico em animais de laboratório. Fenobarbital (Gardenal®) O H O Permanece em amplo uso por sua atividade anticonvulsivante. N N H O Ação prolongada: 4 a 12 horas. 9 Tiopental (Pentotal®) O H Permanece em amplo uso como agente anestésico intravenoso (anestesia basal – um N graus S N O de inconsciência antes da administração do anestésico). H Amobarbital (Sonex) O Ação intermediária: 2 a 8 horas. Hipnótico H N O N O H D) Outras Substâncias Variadas O hidrato de cloral, meprobamato e metaqualona não são mais recomendados, porém os hábitos terapêuticos morrem lentamente, de modo que estes fármacos ainda são ocasionalmente usados. N Cl OH Cl C CH OH Cl S Hidrato de Cloral meprobamato Desvantagens dos Barbitúricos Induzem um alto grau de tolerância e dependência. Influenciam fortemente a síntese do citocromo P-450 hepático e das enzimas de conjugação aumentando assim a velocidade de degradação metabólica de muitos outros fármacos, de modo que podem causar interações de fármacos. 10 Devido à indução enzimática, os barbitúricos são perigosos em pacientes que sofram de porfiria. Mecanismo de Ação Os benzodiazepínicos atuam seletivamente sobre o subtipo A de receptores para o ácido gama-aminobenzóico (receptores GABAA), que mediam a transmissão sináptica inibitória rápida no sistema nervoso central (SNC). Os benzodiazepínicos potencializam a resposta ao GABA, por facilitarem a abertura dos canais de cloretos ativados pelo GABA. O aumento da permeabilidade ao cloreto hiperpolariza a célula, reduzindo, assim, a sua excitabilidade Ligam-se com alta afinidade a um sítio acessório (o “receptor de benzodiazepínicos”) no receptor GABAA, de modo que a ligação do GABA é facilitada e seu efeito agonista, potencializado. Os benzodiazepínicos não afetam os receptores de outros aminoácidos, como a glicina ou o glutamato. Os barbitúricos compartilham, com os benzodiazepínicos, a capacidade de aumentar a ação do GABA, mas se ligam a um sítio diferente no receptor GABAA/canal de cloreto e sua ação é menos específica.