ÉTICA MEDIEVAL, MODERNA E CONTEMPORÂNEA (2ª SÉRIE

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ÉTICA MEDIEVAL, MODERNA E CONTEMPORÂNEA (2ª SÉRIE)
ÉTICA MEDIEVAL: ÉTICA CRISTÃ.
Ética ligada à religião.
Enquanto que para os filósofos antigos a razão seria capaz de controlar nossos desejos e vontades, para o
cristianismo, nossas vontades estavam corrompidas pelo pecado.
Para agir eticamente precisamos do auxílio divino, necessitamos das leis divinas.
Conceitos éticos fundamentais da Filosofia Medieval: a fé (qualidade da relação de nossa alma com
Deus); e a ideia de dever.
Para sermos éticos “devemos” reconhecer e cumprir a vontade e a lei de Deus.
O fim, o objetivo da ética medieval: indicar princípios e normas de conduta que capazes de possibilitar a
salvação espiritual da alma humana.
SANTO AGOSTINHO DE HIPONA (354-430) E A ÉTICA DO LIVRE-ARBÍTRIO
Conciliação entre o cristianismo e o pensamento filosófico pagão.
Influência filosófica de Agostinho: o filósofo gregp Platão (427-347 a.C.). Ele adapta algumas ideias e
teorias de Platão ao Cristianismo.
Superioridade da alma: a alma foi criada por Deus para controlar o corpo (dirigindo-o para o bem) e o
pecador inverteria essa relação.
O PROBLEMA DO MAL: A RESPOSTA MANIQUEÍSTA
Maniqueísmo: Doutrina criada por Manes (século III).
Combina elementos do zoroastrismo, de outras religiões orientais, além do cristianismo.
Visão dualista: encontram-se no mundo as forças do bem e do mal, ou da luz e da escuridão.
Essas forças (Bem e Mal) são princípios absolutos que estão em permanente e eterno confronto.
Homem: destituído de liberdade, suas ações são o resultado de uma inclinação natural, ora para o bem ora
para o mal.
O PROBLEMA DO MAL
Deus: um ser eterno e imutável do qual procede toda natureza material ou espiritual.
Toda natureza criada por ele é um bem.
Se Deus criou todas as coisas, ele teria criado também o mal?
Em sua teoria do livre-arbítrio, Agostinho de Hipona defende que Deus teria criado o homem livre e
criativo, portanto, dotado de vontade livre (ou livre arbítrio).
E ainda segundo Agostinho, o homem, através do uso equivocado do livre-arbítrio, cria o mal.
E Deus concedeu o livre-arbítrio ao homem para que este escolhesse seguir e fazer o bem por livre
escolha, e não por imposição.
As más ações provêm das paixões humanas
As boas ações provêm da boa vontade: vivermos com retidão e honestidade, para alcançarmos a sabedoria
(razão domina as nossas tendências inferiores).
Exercitar a boa vontade: a prudência, a força, a temperança e a justiça (4 virtudes cardeais)
BOA VONTADE X VONTADE CORROMPIDA
Homem Bom: utiliza da boa vontade, da razão, para praticar suas ações.
Boa Vontade: praticada com amor às coisas eternas e atemporais (Deus).
O Mal: fruto de ações praticadas com uma vontade corrompida.
Vontade Corrompida: o homem pratica visando uma segunda classe de amor (paixões, ou libido, o amor
às coisas materiais).
ÉTICA MODERNA: ANTROPOCÊNTRICA
No início da Idade Moderna há uma retomada do humanismo.
No terreno da reflexão ética, esse fato orientou uma nova concepção moral, centrada na autonomia
humana.
No Iluminismo, essa orientação fica mais evidente, pois os filósofos passam a defender a ideia de que a
moral deve ser fundamentada não mais em valores religiosos, e sim naqueles oriundos da razão humana.
No Período Moderno, as teorias éticas caracterizam-se por uma retomada e uma revalorização da
autonomia humana, por isso, a ética moderna é chamada de ética antropocêntrica.
IMMANUEL KANT (1724-1804) E A ÉTICA DO DEVER.
Para Kant, as obrigações morais não são impostas por Deus, nem resultam de nossos sentimentos: as
regras morais são leis que a razão natural estabelece.
E o indivíduo ético tem um dever moral, ou seja, adotar e seguir os valores morais.
Na visão kantiana, são as leis morais que levam o homem a praticar o bem, em detrimento dos seus
caprichos e interesses individuais.
Supremo critério ético kantiano: valores morais.
Por isso a teoria ética kantiana é chamada de ética do dever, pois, para ele, agir eticamente é agir
conforme nosso dever moral, guiado pela boa vontade, motivado pelo respeito à lei moral.
MÁXIMAS E LEIS MORAIS
As máximas e leis impõem-se à razão como regras de ação.
Máxima: uma regra de ação subjetiva que o indivíduo estabelece para si próprio.
Lei moral: tem uma validade universal; é assumida como algo absoluto.
A lei moral apresenta-se como um Imperativo Categórico.
FÓRMULAS DA LEI MORAL:
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”.
Essa exigência é denominada por Kant de Imperativo Categórico. Segundo essa formulação do
Imperativo Categórico, uma ação é considerada ética quando a máxima que rege a ação pode ser
universalizada, ou seja, quando a ação individual pode ser praticada por todos, sem prejuízo da
humanidade.
“Age como os princípios da tua ação devessem ser erigidos pela tua vontade em lei universal da
natureza”.
Agir de forma que os princípios da minha vontade fossem universais, fossem seguidos por todos.
“Age de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na do outro, sempre como um fim e
nunca como um meio”.
Ninguém pode ser usado como uma coisa ou um objeto, e sim como um ser digno de respeito e
consideração.
DEVER MORAL: IMPERATIVO
A moral kantiana baseia-se num princípio formalista : o que interessa na moralidade de um ato é o
respeito à própria lei moral, e não os interesses, fins ou consequências do próprio ato.
Uma boa vontade (guiada pela razão) age em função de um imperativo categórico (uma ordem).
Kant: “o imperativo é um mandamento da razão que serve para orientar a nossa ação”.
Imperativo Hipotético: apresenta uma ação como meio para alcançar determinado fim.
Imperativo Categórico: indica uma ação que é necessária e boa em si mesma, independentemente dos fins
que se possam alcançar com ela.
A BOA VONTADE
Para Kant, as normas morais devem ser obedecidas como deveres, mas a noção kantiana de dever
confunde-se com a própria noção de liberdade: o indivíduo que obedece a uma norma moral atende à
liberdade da razão.
Nossa vontade é também afetada pelas inclinações: os desejos, as paixões e os medos, e não apenas pela
razão.
Por isso, devemos educar a vontade para alcançar a boa vontade, que seria aquela guiada unicamente pela
razão.
A razão estabelece os princípios morais que guiam a vontade humana para a prática do bem = BOA
VONTADE.
Uma ação pode ser conforme o dever, e não ser moralmente boa (movida por interesses egoístas).
Valor moral da boa vontade reside na intenção e não no resultado.
A boa vontade consiste em respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação a simples conformidade à lei
e a boa intenção.
LEI MORAL E LIBERDADE HUMANA
Lei moral: Autonomia da Razão e Liberdade (ou Vontade Livre).
Autonomia da Razão: a razão dá a si mesma as regras de sua conduta.
Liberdade (Vontade Livre): Indivíduo LIVREMENTE percebe a importância dos valores morais e decidir
segui-los.
Liberdade humana: o ser humano só se torna livre quando se livra da influência dos seus desejos e
impulsos e se submete às leis da razão.
DIGNIDADE
“[...] tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo
equivalente, por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço compreende uma dignidade. A
moralidade e a humanidade são as únicas coisas providas de dignidade” (KANT, Fundamentação da
Metafísica dos Costumes).
O que tem preço não tem dignidade, pois a dignidade está acima de qualquer preço.
A UNIVERSALIDADE DOS VALORES MORAIS
A Razão é suficiente por si só (sem o auxilio de impulsos sensíveis) para mover a vontade.
Apenas neste caso podem existir princípios morais válidos sem exceção para todos os homens (leis
morais de valor universal).
Apetites e desejos: individuais, subjetivos.
A razão humana é um princípio universal (geral, comum a todos os homens).
Os valores morais e a boa vontade, que são frutos da razão, também são universais.
ÉTICA CONTEMPORÂNEA: SÉCULOS XIX E XX.
Recusa de uma fundamentação exterior, transcendental para a moralidade, centrando no indivíduo
concreto a origem dos valores e das normas morais.
MEDIEVAL: fundamentada na religião, na Bíblia, na Revelação Divina.
KANT: fundamentada no dever.
HEGEL E A FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL DA ÉTICA
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).
Hegel destaca o caráter histórico da moralidade: a moralidade assume conteúdos diferenciados ao longo
da história das sociedades, os valores morais podem variar de sociedade para sociedade.
A moral seria o resultado da relação entre o indivíduo e o conjunto social.
A moral, em cada época, se manifestaria tanto nos códigos normativos como na cultura e nas instituições
sociais.
Hegel: vincula a ética à história e à sociedade.
MARX E A MORAL IDEOLÓGICA
Karl Heinrich Marx (1818-1883).
Marx entendia a moral como uma produção social que atende a determinada demanda social: contribui
para a regulação das relações sociais.
Marx e a moral: uma forma de consciência própria a cada momento do desenvolvimento da existência
social.
MARX E A MORAL IDEOLÓGICA
Os valores que fundamentam as normas morais derivam da existência social e, portanto, não são
absolutos, não valem de forma universal: como as relações sociais se transformam ao longo da história,
transformam-se também os indivíduos e as moralidades.
A moral ideológica: difunde determinados valores que são necessários à manutenção da organização
social vigente, que privilegiam interesses e valores da classe dominante.
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