Título: A rede social no contexto do adoecimento crônico

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Título: A rede social no contexto do adoecimento crônico
Proponentes: Shana Hastenpflug Wottrich (Universidade Federal do Pampa –
UNIPAMPA - Uruguaiana/RS)
Cibele Cunha Lima da Motta (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC –
Florianópolis/SC)
O adoecimento crônico contempla acontecimentos temporalmente sequenciais, porém
não lineares, que, consoante à perspectiva do Pensamento Complexo, devem ser
compreendidos em sua realidade multifacetada, multifatorial e complexa, em torno dos
quais aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais afetam-se recursivamente.
A doença crônica, porque incurável, implica em viver e administrar a doença por um
tempo indeterminado. São características atribuídas à cronicidade da doença, ainda, a
incapacidade residual, a irreversibilidade, a condição de incurabilidade e a dependência
contínua de medicamentos. Entende-se que o adoecimento causa uma ruptura biográfica
na vida dos indivíduos doentes, uma vez que impõe mudanças permanentes na rotina e
nos hábitos de vida dos sujeitos e no seu entorno. Sob a perspectiva dos aspectos
psicológicos e interacionais, há a necessidade de adaptação às condições impostas pela
situação, que colocam para o sujeito doente uma condição de incapacidade e
dependência de outros, repercutindo em um reajuste de funções e papéis dos diferentes
membros da rede social do paciente adoecido.Mediante a deflagração desse processo,
percebe-se que a cadeia de acontecimentos envolvida afeta o sujeito e a sua família nas
mais diferentes intensidades, repercutindo na reorganização e reconfiguração das
relações.Considerando esse cenário como ponto de partida, as doenças crônicas podem
ser entendidas como processos que repercutem no ciclo de desenvolvimento individual
e familiar. No tocante ao aspecto relacional, em situações de adoecimento e crise, a
literatura existente coloca o importante papel das redes sociais para o reconhecimento
do indivíduo enquanto tal, para a constituição de sua experiência de competência e
autoria. Cumpre salientar, além disso, que a relevância de tais relações sociais, em
termos de influência nos fenômenos de saúde e doença, é realçada por estudos
epidemiológicos internacionais, cujos resultados apontam para o seu impacto em
comportamentos e hábitos de saúde das pessoas. No sentido de esclarecer o conceito de
“rede social” em que se assentará a proposta deste Grupo de Trabalho, considerando-se
a produção científica de estudos sobre a temática, cabe salientar que a utilização da
terminologia referida não é unívoca. No universo de publicações, observa-se uma
profusão de conceitos relacionados, havendo falta de consensos em definições
conceituais e inconsistências teóricas e metodológicas em investigações sobre o assunto.
No marco de estudo de revisão de literatura, que analisa a produção científica nacional,
tem-se que as redes sociais são relações de interdependência favorecedoras das trocas,
da reciprocidade de obrigações e dos laços de dependência. Já o apoio social é
caracterizado como mecanismo coletivo, de solidariedade, participação e cidadania,
balizado no benefício recíproco, articulado pelos sujeitos na reivindicação de seus
direitos, enfrentamento de doenças, prevenção e promoção de saúde. Ao concordar com
essa diferenciação, neste Grupo de Trabalho entende-se como rede social significativa
aquela constituída pela experiência do sujeito, pela percepção e nomeação dele, ou seja,
singular conforme os significados atribuídos a ela pelo indivíduo que a nomeia. Os
membros da rede desempenham determinadas funções, dependendo do tipo de relação
estabelecida com o sujeito em questão: companhia social (realização de atividades em
conjunto ou estar junto), apoio emocional (atitude emocional positiva), ajuda material e
de serviços (colaboração específica com base em conhecimento de especialistas ou
ajuda instrumental), guia cognitivo e de conselhos (compartilhamento de informações e
oferta de modelos de papéis), regulação social (reafirmação de responsabilidades e
neutralização de desvios de comportamento) e acesso a novos contatos (abertura de
novas conexões com pessoas da rede). Com referência na experiência singular dos
sujeitos, os membros da rede social podem ser de diferentes contextos: família, relações
de amizade, relações no contexto da comunidade, relações estabelecidas com
profissionais da saúde e relações de trabalho e/ou estudo.Com base nessas definições, o
presente Grupo de Trabalho se relaciona com o eixo temático “Psicologia da Saúde ao
longo do Ciclo de Vida”, no marco do subtema “Doença Crônica e Dor ao longo do
ciclo de vida”, na medida em que objetiva promover reflexões e discussões que versem
sobreas funções dos membros das redes sociais das pessoas com doença crônica no
processo de adoecimento e consequente tratamento ao longo do ciclo vital.Com base
nessa proposição, nesse Grupo de Trabalho serão acolhidas revisões de literatura,
relatos de pesquisa e relatos de intervenção que discutam as relações estabelecidas entre
a pessoa com doença crônica e membros das suas redes sociais nos diferentes contextos
relacionais,a saber, relações estabelecidas com membros da família, amigos, colegas de
trabalho e estudo, comunidade, de forma geral, e profissionais da atenção à saúde. O
interesse é por estudos que abordem as funções exercidas por tais membros das redes
sociais no processo de adoecimento crônico e tratamento. Assim, espera-se que a
discussão proposta permita a abordagemda “rede social” como recurso potencial na
construção de estratégias e ações de cuidado, considerando-se o contexto da atenção à
saúde como um contexto de desenvolvimento humano, no qual os profissionais podem
atuar favorecendo os processos desenvolvimentais eventualmente paralisados pela crise
provocada pelo adoecimento.
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