A família e o câncer infantil Larissa Link Liliana

Propaganda
A família e o câncer infantil
Larissa Link 
Liliana Soraia de Andrade 
A discussão dessa temática propõe a compreensão do conceito de família, a importância
desta na constituição do sujeito e a participação dos membros em momentos decisivos
que compõem cada fase do processo de adoecimento. De acordo com Capelatto (2012),
a família é um conjunto de pessoas que se unem pelo desejo de estarem juntas, de
construírem algo e de se complementarem. É através desta família que a criança vive
suas maiores sensações, como as de alegria, felicidade, prazer e amor. Sentimentos de
medo, tristeza e desencontros também podem ser vivenciados pela criança. É na família
que se aprende a mais complexa linguagem da vida: a linguagem da afetividade. O grau
e a qualidade da afetividade no contexto familiar tem grande importância no
enfrentamento de situações difíceis de vida, como é o caso da enfermidade grave.
Segundo Franco (2008), a família está presente e envolvida nos cuidados da saúde
quando se auto-observa, quando avalia um sintoma, quando sugere, providencia ou
decide por uma conduta médica e quando recorre a uma solução anteriormente provada
eficaz. O câncer infantil é uma situação estressante que traz inúmeras questões a cada
membro da família. A aceitação do diagnóstico é um processo difícil, levando os pais,
muitas vezes, a questionamentos sobre a conduta de educação e de cuidados com o filho
doente. Assim, assumem a culpa dessa situação e por vezes responsabilizam um ao
outro. A negação e o sentimento de raiva tornam-se muito presentes nesse momento. As
reações da família são complexas e particulares a cada membro. A rotina muda,
especialmente para aqueles que precisam sair da cidade onde vivem para que o
tratamento seja realizado; há uma ruptura nessa estrutura familiar já que a criança e o
adulto acompanhante afastam-se do restante da família. Muitos pais deixam de trabalhar
para cuidar dos filhos e irmãos sentem-se injustiçados por não receber a mesma atenção

Psicóloga pelo Centro Educacional Leonardo da Vinci – Uniasselvi. Pós Graduada em Psico Oncologia:
atendimento a pacientes com câncer e terminais pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e
Saúde – CEPPS. E-mail: [email protected]

Psicóloga pela Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB.
Email: [email protected]
dada ao filho doente. Assim, muitas mudanças são produzidas devido a uma
determinada situação de enfermidade. Alguns aspectos são notadamente importantes
para o psicólogo que irá acompanhar a família, pois a maneira pela qual o indivíduo e a
família agem na fase pré diagnóstica pode ser muito reveladora, uma vez que, sugere os
padrões que persistirão ao longo da doença e os mecanismos de enfrentamento que
serão utilizados neste período. Nessa fase é comum o sentimento de culpa associada ao
medo, a família se preocupa com o que a doença vai significar para a pessoa doente e
para a própria família. No período do diagnóstico, os familiares e o paciente são
informados sobre o que é a doença, o tratamento e as prováveis consequências. É de
extrema importância que os pais participem do momento em que se expõe a criança ao
seu diagnóstico e a ajudem a entender o que é ter um câncer. As figuras parentais
trazem segurança e reafirmam o vínculo de confiança quando estão presentes em
situações difíceis. Neste período, as ameaças próprias do processo de adoecimento
atingem os projetos familiares que sofrerão mudanças ou serão adiados e novas
responsabilidades irão surgir. Esta é a fase em que pode se instalar uma crise familiar
caracterizada pela contínua incerteza e ansiedade que afetarão não somente o paciente,
mas a família e também a rede de apoio. É um período no qual a família começa a
experimentar o luto antecipatório diante das mudanças e perdas que poderão ocorrer.No
enfrentamento da doença, há fatores facilitadores e fatores complicadores. Entre os
facilitadores encontram-se a estrutura familiar flexível que permite o reajuste de papéis,
boa comunicação com a equipe profissional e entre os membros da família,
conhecimentos dos sintomas e o ciclo da doença, a participação nas diferentes fases e
também a presença de uma rede de apoio. Os fatores complicadores são os padrões
disfuncionais de relacionamento, como sistema de suporte formal e informal não
existente ou ineficiente, outras crises familiares simultâneas à doença, falta de recursos
econômicos e sociais, cuidados médicos de pouca qualidade e dificuldade de
comunicação com a equipe médica e doenças estigmatizantes.O efeito do prognóstico
afeta todo o sistema familiar. Na fase terminal, quando um paciente não pode mais
desempenhar os papéis ou funções que lhe foram determinados pela dinâmica familiar,
ocorre uma alteração importante no equilíbrio da família. Quando ela tem um de seus
membros em condição de terminalidade, enfrenta não somente a constatação de que
aquela pessoa está morrendo como também a morte simbólica da família que existia até
então. Cabe aos profissionais da saúde considerar todos os apontamentos acima, uma
vez que, o adoecimento de um familiar sempre gera preocupação. Conforme Kearney
(2012), um problema que constitui o foco de atenção médica envolve fatores
psicológicos ou comportamentais que afetam o quadro clínico. Assim, quando a doença
atinge a criança, principalmente, uma enfermidade grave e que leve a um longo período
de tratamento, como é o caso do câncer, a instabilidade emocional se faz presente
exigindo suporte psicológico não somente para a criança doente, como também para os
membros da família envolvidos em todo o processo.
CAPELATTO, Ivan Roberto. Educação com afetividade. Editora Fundação Educar
Dpaschoal, 2012
FRANCO, Maria Helena Pereira. A família em psico-oncologia. Temas em Psicooncologia, Summus, 2008
KEARNEY, Christopher A. Transtornos de comportamento na infância. Estudos de
casos. Cengage Learning, 2012.
Download