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PsicoDOM – número 4 – junho 2009 – pag. 42 a 54
www.dombosco.com.br/faculdade
O TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
E A VIDA COTIDIANA DE SEUS PORTADORES
Edilaine Cristina Hudzinski
Aluna do curso de Psicologia da Faculdade Dom Bosco
Josiane Schmidt Gonçalves
Aluna do curso de Psicologia da Faculdade Dom Bosco
Fabio Thá
Psicólogo, Doutor em Estudos Linguísticos, Professor do curso de Psicologia da
Faculdade Dom Bosco
RESUMO
A proposta deste estudo é analisar a vida cotidiana de pessoas portadoras de TOC.
Esta investigação está em andamento e tem por objetivo entender como os
portadores de TOC percebem sua doença e a veem no outro. A partir da criação de
um grupo de apoio, pretende-se propiciar um espaço de exercício da cidadania a
portadores e familiares, buscando diminuir a vergonha, o preconceito e a
discriminação que estigmatizam os portadores desse transtorno. Para tal objetivo, a
metodologia utilizada embasou-se nos fundamentos de abordagem qualitativa, e
usou a entrevista como instrumento para a coleta de dados. Foram realizadas oito
entrevistas com portadores de TOC de ambos os sexos, e algumas palestras
informativas para divulgação do tema. A análise dos dados considerou a abordagem
cognitivo-comportamental como base para a interpretação dos resultados. Os
resultados parciais apontam a ansiedade como determinante principal da doença,
demonstram que a falta de informação é uma das razões pelas quais a busca de
tratamento não ocorre, e que existe grande dificuldade de lidar com os rituais devido
à vergonha e ao preconceito. Seu início ocorre geralmente na adolescência, e seu
diagnóstico muitas vezes não é realizado. O grupo de apoio está em fase inicial,
reunindo até o momento pequeno número de participantes e, dessa maneira, os
dados obtidos até o momento não apontam resultados conclusivos.
PALAVRAS-CHAVE
Obsessão; compulsão; ritual; ansiedade.
1 INTRODUÇÃO
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Os transtornos emocionais e psiquiátricos estão cada vez mais presentes em
nossa sociedade. Fala-se no estresse como o mal do século, na depressão como
resultado de alguns problemas emocionais, e na hiperatividade para as crianças que
não têm bom desempenho escolar. Mesmo assim, a falta de informação a respeito
dos transtornos psiquiátricos ainda causa desconforto, preconceito, medo e até
vergonha naqueles que possuem algum.
Nossos estudos têm por objetivo apresentar contribuições para a vida
cotidiana dos portadores do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), esclarecendo
a população que este é um problema de saúde sério, mas que existe tratamento.
Trata-se de pesquisa em andamento, que busca reunir portadores em grupo,
propiciando trocas de experiências e apoio mútuo.
O TOC, considerado uma doença mental grave, está entre as dez maiores
causas de incapacitação, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(ROSÁRIO-CAMPOS; MERCADANTE, 2000). Aproximadamente 10% dos casos
tendem a um agravamento progressivo, podendo incapacitar os portadores para o
trabalho e acarretar sérias limitações à convivência com outras pessoas, além de
submetê-los a um grande e permanente sofrimento. Esta iniciativa tem grande
importância para a população, pois visa a aprimorar o conhecimento desse
transtorno, proporcionar a identificação e diminuir a vergonha dos portadores, além
de trazer informações para população, pacientes e profissionais de saúde, que terão
a oportunidade de esclarecer dúvidas, trocar experiências, aprender a conviver com
o TOC e principalmente incentivar as pessoas a procurar tratamento.
Descreve-se o Transtorno Obsessivo-Compulsivo como um transtorno mental
entre os transtornos de ansiedade, incluído pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV). Caracterizase pela presença de obsessões ou compulsões que causam um mal-estar intenso,
consomem muito tempo e interferem na vida cotidiana da pessoa.
A principal forma de tratamento é o uso de medicamentos, além de técnicas
psicoterápicas, sendo mais utilizadas as chamadas cognitivas comportamentais
(TCC).
2 METODOLOGIA
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Inicialmente realizou-se uma revisão bibliográfica sobre o transtorno
obsessivo-compulsivo. Em seguida, utilizou-se um roteiro semiestruturado de
entrevista aberta como instrumento para coleta de informações que abordava nome,
idade, escolaridade, sexo e questões voltadas à história individual de cada um, seus
rituais, suas dúvidas e crenças. Também se abordam questões referentes ao
cotidiano dos portadores, seu trabalho, seus relacionamentos e amizades.
Realizaram-se oito entrevistas com portadores de TOC, ambos os sexos, da
cidade de Curitiba, encontrados no meio social e via on line, em sites de
relacionamento. Três dessas entrevistas foram realizadas pessoalmente, sendo
duas destas gravadas e depois transcritas. As outras entrevistas foram feitas via on
line. Adotou-se como critério de participação o diagnóstico do transtorno.
Na sequência foram realizadas três palestras informativas para as agentes de
saúde de duas unidades básicas de saúde da cidade de Curitiba, abordando o
transtorno obsessivo-compulsivo e os objetivos da pesquisa. Solicitou-se apoio
dessas agentes para divulgar o trabalho na comunidade, a fim de identificar
portadores desse transtorno. As palestras tiveram duração média de 1h30min,
contando com recurso áudio-visual, cartazes e fôlderes explicativos.
Em seguida foram feitas duas visitas nas unidades de saúde para explicar e
divulgar a proposta de estudo. Posteriormente foram distribuídos em cada unidade
de saúde folhetos explicativos e cartazes com ilustrações sobre o TOC. A divulgação
desta proposta também foi realizada na internet, em sites de relacionamento.
Submeteu-se, então, o material obtido nas entrevistas e palestras à análise de
conteúdo, procedendo-se uma leitura dos depoimentos e abstraindo-se as principais
ideias sobre o tema. Os dados coletados neste estudo foram transcritos na íntegra e
de forma literal. Em seguida realizou-se a articulação da fundamentação teórica
levando em conta os dados obtidos.
A divulgação desta pesquisa na comunidade e na internet tornou possível
reunir algumas pessoas para palestras informativas a respeito do transtorno
obsessivo-compulsivo, de modo a mensurar o interesse da comunidade em
participar do grupo de apoio que se está formando, aberto a familiares, amigos e
portadores desse transtorno.
Até o momento aconteceram cinco encontros. Em dois deles não houve
participação; os outros tiveram em média cinco participantes por encontro.
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3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Há muitos séculos, pessoas com pensamentos obsessivos, blasfemos ou
sexuais eram consideradas possuídas, e o tratamento focava-se na expulsão do
mal. A primeira descrição do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) teve como
principais interlocutores Janet e Esquirol, na França.
No início do século XIX, considerava-se o TOC uma doença de fundo
emocional, que enfatizava aspectos de angústia, insegurança e culpa. No final do
século XIX, passou a ser considerado manifestação de melancolia ou depressão. No
início do século XX, as teorias da neurose obsessiva compulsiva voltaram-se para
explicações psicológicas. Hoje o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é descrito
como transtorno mental entre os transtornos de ansiedade, incluído pelo Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica
Americana (DSM-IV).
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo caracteriza-se pela presença de
obsessões ou compulsões que causam mal-estar intenso, consomem muito tempo e
interferem na vida cotidiana da pessoa em diversos aspectos: trabalho, atividades
sociais, convívio familiar...
Os sintomas do TOC interferem de forma acentuada na vida da família. A
doença altera rotinas, exige adaptações aos sintomas. É comum a
restrição ao uso de sofás, camas, roupas, toalhas, louças e talheres, bem
como ao acesso a determinados locais da casa. Outros sintomas típicos
são a demora no banheiro e as lavagens excessivas das mãos, das
roupas e do piso da casa. Os portadores do TOC normalmente obrigam
os demais membros da família a fazerem o mesmo, mas os medos
exagerados, os cuidados excessivos e as exigências nem sempre são
compreendidos ou tolerados pelos demais. De modo geral, essa
diferença provoca discussões, atritos, exigências irritadas no sentido de
não interromper os rituais ou de participar deles, dificuldades para sair de
casa e atrasos que comprometem o lazer e as rotinas. Não raramente, as
atitudes e dificuldades de relacionamento provocam a separação de
casais ou a demissão de empregos. (CORDIOLI, 2004, p. 9).
As pessoas que sofrem de TOC tendem a ocultar o problema, podendo não
procurar ou demorar a buscar tratamento.
Só se considera o Transtorno Obsessivo-Compulsivo uma patologia quando
as obsessões ou compulsões causam sofrimento acentuado, desconforto ou
prejuízo significativo, ou seja, interferem nas rotinas diárias e consomem mais de
uma hora por dia da pessoa, além de preencher os critérios do DSM-IV.
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Conhecido também como o transtorno das manias, o TOC caracteriza-se pela
necessidade que a pessoa tem de repetir seus atos de forma compulsiva, ou seja, a
pessoa não consegue evitar o ato por sua vontade. Manifesta-se sob a forma de
alterações de comportamento, pensamentos e emoções.
Obsessões são pensamentos – ou ideias, impulsos, imagens, cenas – que
invadem a consciência de forma repetitiva, persistente e estereotipada, seguidos ou
não de rituais destinados a neutralizá-los. São experimentados como intrusivos
inapropriados ou estranhos, causando grande ansiedade e desconforto. São ideias
impostas ao psiquismo, de forma incômoda, e sentidas como involuntárias. As
obsessões estão tão enraizadas na consciência que não podem ser removidas por
simples aconselhamento razoável nem por livre decisão. Essas ideias obrigatórias,
quando exageradas e promovedoras de significativa ansiedade ou sofrimento,
constituem quadro patológico. A temática das ideias obsessivas pode ser
extremamente variável, entretanto, em grande número de vezes diz respeito à
preocupação
excessiva
preocupação
com
com
simetria,
sujeira,
germes
ou
contaminação,
exatidão,
ordem,
sequência
ou
dúvidas,
alinhamento,
pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios relacionados a sexo
(comportamento
sexual
violento,
abusar
sexualmente
de
crianças,
falar
obscenidades, etc.), preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou
economizar,
religiosidade
(pecado,
culpa,
escrupulosidade,
sacrilégios
ou
blasfêmias), pensamentos supersticiosos (preocupações com números especiais,
cores de roupa, datas e horários, palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e
indesejáveis que podem provocar desgraça).
As pessoas tentam ignorar ou suprir tais pensamentos, impulsos ou
imagens e neutralizá-los com outros pensamentos ou ação. Reconhecem
serem eles produtos de sua mente, e não exposições exteriores, como
no caso de inserção do pensamento. (MAJ et al. 2005, p. 14).
Compulsões são comportamentos repetitivos e intencionais, motores ou
mentais, que têm como objetivo reduzir ou prevenir a ansiedade ou diminuir
sentimentos desagradáveis e sofrimentos. Trata-se de comportamentos ou atos
mentais repetitivos, realizados em resposta a obsessões, para prevenir algum
evento ou situação temida e que não possuem conexão realística com o que visam a
neutralizar ou evitar.
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As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade associada às
obsessões, levando a pessoa a realizá-las sempre que sua mente é invadida por
uma obsessão. As compulsões possuem uma relação funcional (aliviar a aflição)
com as obsessões. E como são bem sucedidas, as pessoas são atraídas a repetilas, em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por perpetuá-los, tornando-se
prisioneiras de seus rituais.
Existem compulsões desvinculadas de medos específicos ou estruturados,
que simplesmente aliviam uma sensação ruim ou angústia, ou ainda de que algo
está incompleto ou incorreto.
As compulsões mais comuns são lavar excessivamente as mãos; verificar
várias vezes se portas e janelas estão trancadas, se as luzes estão apagadas, se o
gás está desligado, repetições ou confirmações, contagens, ordem, simetria,
sequência ou alinhamento, acumular, colecionar ou guardar coisas inúteis,
economizar ou poupar, tocar, olhar, confessar, estalar os dedos.
As compulsões mentais não são percebidas por outras pessoas, pois não
acontecem mediante comportamentos motores observáveis, embora tenham a
mesma finalidade, ou seja, reduzir a aflição associada a um pensamento. Alguns
exemplos são rezar, contar ou repetir números, repetir palavras ou frases, relembrar
cenas ou imagens, marcar datas, tentar afastar pensamentos indesejáveis,
substituindo-os por pensamentos contrários.
As
obsessões
são
episódios
mentais
e
as
compulsões,
episódios
comportamentais.
O modelo funcional do TOC implica que as compulsões não podem
existir sem as obsessões, mas permite que as obsessões existam sem
as compulsões (obsessivos puros). Os dados do estudo de campo para
o DSM-IV indicam que a vasta maioria (acima de 90%) dos obsessivoscompulsivos manifesta tanto as obsessões como as compulsões
comportamentais. (BARLOW, 1999, p. 218)
Uma das preocupações mais comuns no TOC relaciona-se com a
possibilidade de falhar e, em consequência, ocorrer algum desastre ou dano. Essas
preocupações se manifestam através da dúvida, da incerteza, as quais, por sua vez,
levam os portadores de TOC a realizar verificações ou repetições como forma de ter
certeza e aliviar-se da aflição.
Devido a críticas sociais e consequente vergonha dos portadores em relação
aos sintomas, o TOC tende a ser secreto, podendo ser descrito como uma doença
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oculta. Alguns não sabem que existe tratamento e ocultam os sintomas até mesmo
de familiares e amigos; outros evitam até mesmo falar de seus medos por receio que
se realizem de fato.
Estudos constataram que a maioria dos portadores de TOC procuram ajuda
não para os sintomas obsessivos-compulsivos, mas sim para ansiedade, depressão,
estresse ou problemas de relacionamento.
Grande parte dos portadores de TOC apresenta sintomas leves e leva uma
vida considerada normal. Entretanto, em formas mais graves prejudicam
significativamente os relacionamentos sociais e afetivos, bem como o desempenho
profissional e acadêmico, levando alguns pacientes à esquiva generalizada,
confinando o indivíduo em sua casa para realizar seus rituais.
Segundo Maj (et al., 2005), o TOC pode iniciar em qualquer idade, desde a
fase pré-escolar até adulta. Os quadros de TOC em criança são similares aos
adultos, e ambos tendem a realizar seus rituais em casa e não na frente de
professores, colegas e estranhos. Dificilmente as crianças pedem ajuda, e os
sintomas podem não ser ego-distônico.
O TOC é igualmente comum em homens e mulheres na vida adulta, sendo
raro seu início depois dos 40 anos. Tem curso geralmente crônico, e se não tratado
pode manter-se por toda a vida. Na infância predomina em meninos com idade entre
6 e 15 anos. “Dados epidemiológicos mostram que o TOC é muito mais prevalente
entre adolescentes do que se imagina”. (MAJ et al., 2005, p. 123).
A taxa de concordância para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo é maior
entre gêmeos monozigóticos do que nos dizigóticos. Também é maior nos parentes
biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno Obsessivo-Compulsivo e
em parentes biológicos em primeiro grau de indivíduo com Transtorno de Tourette,
em relação à população em geral. (DSM-IV, 2002)
O aparecimento do TOC na infância tende a ser uma característica familiar.
Embora com pequena probabilidade, há chances de uma criança que tem um dos
pais com TOC desenvolvê-lo também. Segundo Cordioli (2004), diante de algum
caso de TOC na família, a chance de ocorrer outro caso aumenta de quatro a cinco
vezes. Nesse caso, a natureza geral do TOC aparentemente é hereditária, mas não
os sintomas – a criança poderá, por exemplo, ter rituais de repetições, ao passo que
a mãe lava excessivamente as mãos ou tem mania de limpeza.
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Na maioria dos casos, o TOC é uma doença crônica, que exibe um curso de
melhora e piora. Mesmo que o paciente esteja em tratamento, curas completas e
duradouras dos sintomas são raras.
Os tratamentos mais efetivos no momento incluem o uso de medicamentos e
algumas técnicas psicoterápicas. Os medicamentos geralmente são a primeira
escolha dos pacientes, principalmente quando, além do TOC, existem outros
problemas associados, como depressão e ansiedade, por exemplo. O problema do
uso dos medicamentos são os efeitos colaterais indesejáveis, e o fato de raramente
eliminarem por completo os sintomas.
As medicações mais comumente utilizadas para o tratamento do TOC
são os inibidores da recaptação da serotonina (IRSs). Incluem o
antidepressivo tricíclico clomipramina e os IRSs seletivos (IRSs)
fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina, os quais têm
demonstrado eficácia no tratamento de pacientes com TOC. (GREIST et
al.,1990; JENIKE, 1992 Apud RANGE, 2001 p. 240)
Uma das técnicas psicoterápicas mais utilizadas é a terapia cognitivocomportamental (TCC), efetiva especialmente quando predominam rituais, quando
não existem outros problemas psiquiátricos graves e quando os pacientes se
envolvem efetivamente nas tarefas de casa, parte fundamental dessa forma de
tratamento.
Segundo Cordioli (2008), a técnica segue etapas: avaliação do paciente e
indicação do tratamento; motivação do paciente, informações psicoeducativas e
estabelecimento da relação terapêutica; treinamento na identificação dos sintomas;
listagem e hierarquização dos sintomas pelo grau de aflição associada; sessões de
terapia; técnicas comportamentais de exposição e prevenção de resposta;
modelação; estratégias especiais para o tratamento de obsessões; técnicas
cognitivas para correção de pensamentos e crenças disfuncionais; prevenção de
recaída, alta e terapia de manutenção.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Após o levantamento dos dados, analisaram-se registros de visitas,
conversas e entrevistas. A partir das entrevistas e conversas com portadores de
TOC, percebeu-se que essas pessoas apresentam visão bastante crítica sobre seus
comportamentos – acreditam que suas próprias ideias e ações são "bobas",
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"ridículas", "absurdas" –, mas mesmo assim não conseguem evitar ou controlar seus
pensamentos e ações. Por isso a grande maioria sente muita vergonha, e passa a
esconder ou justificar seus rituais, não contando para ninguém, nem mesmo para
familiares ou pessoas próximas.
Esses dados permitem concluir que a ausência de informação reflete
diretamente no tratamento que, na maioria dos casos, não ocorreu ou, quando
ocorreu, não teve sequência.
Nos portadores de TOC , expectativa ansiosa é fator característico, podendo
ser considerada uma das causas da doença. Ansiedade também é muito comum,
principalmente durante a realização dos rituais, que propiciam aplacamento da
ansiedade, ou ainda quando estes não podem ser realizados.
Relatos dos entrevistados, a respeito de sua vida cotidiana, traduzem grande
dificuldade em conciliar os afazeres do dia-a-dia e o transtorno, visto que os
portadores de TOC tendem a ocultar sua real condição e seu transtorno, limitandoos, quando possível, a ambientes onde tenham total privacidade. A realização
desses rituais traz grande constrangimento. Os entrevistados relataram que muitas
vezes se sentem humilhados, pelas críticas que recebem. Comentários como "isso
que você faz é ridículo", "você faz isso porque quer", "se quisesse mesmo, você
controlava esses comportamentos", faz com que eles se omitam ainda mais,
aumentando seu sofrimento e a crença de que realmente não devem contar a
ninguém.
As dificuldades diárias trazem repercussão na organização da vida desses
portadores, que passam a modificar sua rotina, seus hábitos e costumes, na
tentativa de integrar os rituais às suas atividades. Tentam tornar suas manias, seus
rituais e comportamentos algo "normal", que faça parte de seu dia-a-dia, porque
assim consideram ser mais fácil encarar o transtorno. Acreditam que se o ritual fizer
parte de suas vidas, se for considerado hábito e não obrigação, não há motivo para
sofrimento. A maioria dos entrevistados relatou que já se acostumou a realizar os
rituais, que estes fazem parte de sua vida, fazem parte deles, confundindo-os com
uma característica de sua personalidade. Alguns chegaram a relatar que se trata de
uma forma de passar o tempo. Percebe-se que essa forma de lidar com os rituais
representa uma tentativa de autoexplicação – a explicação para a realização dos
rituais é automática. Cada um dos entrevistados relatou que tem uma resposta
pronta para cada ritual e, mesmo quando não são questionados, vão logo se
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explicando, o que demonstra tratar-se de uma tentativa de amenizar o sofrimento e
diminuir a ansiedade.
Segundo os entrevistados, dessa forma seguem a vida com menos
sofrimento, mas sabem que o que fazem não resolve o problema, apenas disfarça
os sintomas.
Problemas
familiares
e
profissionais
também
foram
descritos
como
consequências do transtorno. Muitas vezes, a realização de certos rituais ou a falta
de compreensão dos familiares provocam discussões, atritos e conflitos em família.
Em relação à vida profissional, o problema ocorre quando os rituais precisam ser
realizados no ambiente de trabalho ou quando exigem a participação de um terceiro,
como chefe ou colega de trabalho. Esse fato, segundo alguns entrevistados, já foi
motivo de constrangimento, ridicularização e advertências.
A partir das visitas, e dos primeiros encontros realizados, foi possível
perceber que amigos, familiares e portadores de TOC têm interesse em obter
maiores informações a respeito desse transtorno, mas a dificuldade em falar a
respeito do assunto, a vergonha e o medo de se expor como portador dificultam uma
participação mais efetiva do grupo. Esses interessados muitas vezes não
comparecem no dia marcado para o encontro, mas depois nos procuram para saber
como foi o encontro e para dar explicações como, por exemplo, “não sabia onde
era”, “tenho vergonha”, “não quero falar na frente de ninguém”, “não sei se vou
conseguir falar”, e afirmar que nos próximos encontros não faltarão.
Em razão das justificativas recebidas, após cada encontro percebeu-se a
necessidade de oferecer sessões individuais aos interessados, com o intuito de
construir sentimentos de confiança e segurança, assim os preparando para a
entrada no grupo, além de demonstrar que se trata de espaço seguro, de um lugar
onde as pessoas trocam experiências e encontram apoio e compreensão, e que
será uma oportunidade, para muitos, de ouvir depoimentos de pessoas com o
mesmo transtorno, tornando possível aprender e proporcionar apoio ao outro.
Os resultados apresentados até o momento, mesmo sendo parciais, reforçam
a idéia de que o transtorno obsessivo-compulsivo traz grande sofrimento e muitas
dificuldades para a vida cotidiana de seus portadores, alterando hábitos e rotinas,
interferindo no convívio familiar e profissional. Tais conclusões nos conduzem a
afirmar que a intervenção terapêutica é fator fundamental para melhora da qualidade
de vida.
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O grupo de apoio permite que os portadores de TOC reconheçam entre si seu
transtorno
obsessivo-compulsivo.
Ali
se
apresentam
alternativas
para
desenvolverem novas condutas diante de suas ansiedades, concedendo-lhes a
oportunidade para uma nova condição de vida, fato que os remete a procurar
tratamento psicoterapêutico.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve por objetivo contribuir para a vida cotidiana dos portadores
de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), esclarecendo a eles e à população que
se trata de sério problema de saúde, tentando assim reuni-los em um grupo que
propicie espaço para trocas de experiências e apoio mútuo.
A partir das reflexões apresentadas, observou-se que para cumprir esses
objetivos é necessário conhecer a realidade concreta vivenciada pelos portadores do
transtorno obsessivo-compulsivo, suas dificuldades de interação, de aceitação, suas
dúvidas e seus medos. Por meio da divulgação desta pesquisa na comunidade, foi
possível reunir algumas pessoas para palestras informativas a respeito do transtorno
obsessivo-compulsivo e, assim, saber sobre o interesse da comunidade em
participar do grupo de apoio que se está formando. Esse grupo é voltado a
familiares, amigos e portadores do transtorno. Os resultados obtidos até o momento
são parciais. Em razão da resistência e vergonha dessas pessoas, o número de
participantes nas reuniões tem sido pequeno, possibilitando reunir no grupo de apoio
uma média de cinco pessoas por encontro. Mesmo assim, já foi possível perceber
que o TOC traz dificuldades para o cotidiano de seus portadores, e que o apoio e o
tratamento são essenciais para sua vida. Nesse sentido, pode-se perceber que a
atuação do psicólogo é fundamental.
Embora o projeto se encontre em fase inicial de desenvolvimento, observa-se
que as reuniões têm se constituído em espaço de orientação, informação,
esclarecimentos e troca de experiências. A divulgação deste trabalho foi muito
gratificante. Verificar que a comunidade se interessa pelo assunto, e que há apoio
irrestrito das agentes de saúde, trouxe grande motivação para a sequência das
pesquisas e do projeto de formação do grupo.
Percebeu-se
que
os
cartazes,
folders
e
palestras
foram
recursos
imprescindíveis para a divulgação de informações, cujo objetivo foi propiciar melhor
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qualidade de vida aos portadores e seus familiares. Mesmo considerando que
muitos não tenham procurado o projeto para obter maiores informações, aqueles
que participaram dos primeiros encontros já tiveram a oportunidade de conhecer um
pouco mais sobre o transtorno, percebendo sua gravidade e até mesmo quebrando
seus próprios preconceitos.
Pretende-se dar continuidade a essa investigação por considerar-se que a
temática é abrangente e pode ser aprofundada. Conclui-se, com isso, que o
psicólogo tem muito a contribuir na vida cotidiana dessas pessoas.
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