Alterações hemodinâmicas Adriano de Carvalho Nascimento Alterações hemodinâmicas São distúrbios (modificações) da distribuição do sangue. Alterações hemodinâmicas • • • • • • • • • Hiperemias Edema Hemorragias Trombose Embolia Isquemia Infarto Choque e falência múltipla de órgãos Coagulação intravascular disseminada (CID) Hiperemias Aumento da quantidade de sangue em um tecido, órgão ou região corporal. Hiperemias Microcirculação e esfíncteres pré-capilares: • Na microcirculação o sangue que chega é controlado pelos esfíncteres pré-capilares. • Controlam a chegada de maior ou menor quantidade de sangue de acordo com a necessidade. Hiperemias Dilatação dos esfíncteres pré capilares Redução da saída de sangue do tecido Vasodilatação arteriolar Diminuição do retorno venoso Hiperemia ativa Hiperemia passiva (congestão) Hiperemia ativa • Fisiológica: – Perda de calor – Rubor facial – Processo digestivo (o intestino sofre hiperemia) – Exercícios físicos (aumento do fluxo de sangue para os músculos). – Cérebro (áreas próprias de determinada função sofrem hiperemia quando solicitadas. – Ereção do pênis (processo misto de hiperemia ativa e passiva). Hiperemia ativa • Patológica: – Processo inflamatório agudo. – Reações de hipersensibilidade. Hiperemia passiva (congestão) Causas: • Obstrução venosa (principal causa): – Compressão – Trombose venosa • Alterações da funcionalidade cardíaca. – Insuficiência cardíaca – Insuficiência ventricular direita – Insuficiência ventricular esquerda • Cirrose hepática. Hiperemia passiva (congestão) • Insuficiência cardíaca congestiva (ICC): Redução na capacidade de contração do miocárdio com redução do bombeamento. Quando o coração todo apresenta falência, chamamos de insuficiência cardíaca congestiva. O fluxo sanguíneo está reduzido sistemicamente e o retorno venoso fica reduzido ou lentificado. Pode haver congestão pulmonar e sistêmica. O organismo tem um excesso de sangue na circulação porque existe um volume de sangue muito maior no sistema venoso e capilar que no sistema arterial. Coração esquerdo: ↑ pressão e ↓ volume Coração direito: ↓ pressão e ↑ volume Hiperemia passiva (congestão) • Insuficiência ventricular esquerda (IVE): – O sangue acumula no pulmão (congestão pulmonar). – Os vasos pulmonares se expandem até um certo limite. – Se a pressão hidrostática for muito grande, extravasa líquido do sangue e ele se acumula no interstício e alvéolos (edema pulmonar). Hiperemia passiva (congestão) • Insuficiência ventricular direita (IVD): – Congestão sistêmica (geralmente órgãos abdominais e membros inferiores por uma questão gravitacional). – Fígado congesto cronicamente (aspecto em noz moscada). – Congestão esplênica com esplenomegalia congestiva. Hiperemia passiva (congestão) • Cirrose hepática: – Com o processo inflamatório crônico o fígado sofre fibrose e fica menor, duro e nodular. – Redução do fluxo do sistema porta com aumento da pressão portal. – Todos os órgãos drenados pelo sistema porta ficam congestionados. – Começam a surgir varizes onde o sistema porta comunica com o sistema cava. • Varizes no esôfago. • Varizes na região perianal (hemorróidas). • Varizes peri-umbilicais (reabertura dos vasos umbilicais formando as cabeças de medusa). Edema Acúmulo de líquido derivado do plasma no espaço intersticial ou nas cavidades serosas (peritônio, pleura direita e esquerda, pericárdio e túnica vaginal). Obs.: o edema do espaço alveolar é considerado por muitos um abuso de linguagem porque o alvéolo não é uma cavidade do corpo). Edema Considera-se também o acúmulo de líquido dentro das células neuronais (tumefação neuronal). Tumefação: é o acúmulo de líquido dentro das células (água e eletrólitos, principalmente o sódio). Obs.: o acúmulo de líquido dentro da célula não deveria ser chamado edema mas esta é uma exceção (é o chamado edema cerebral). Edema Terminologia: • Localizado: recebe o nome do órgão (edema cerebral, edema pulmonar). • Generalizado: recebe o nome de anasarca (independente da gravidade). Ocorre nas doenças renais com retenção de água e Na+, edemas alérgicos (anafilaxia) e estado de choque prolongado. Edema Classificação quanto à causa: • Edema cardíaco (ICC). • Edema renal. • Edema alérgico. • Edema linfático. Edema Edemas cavitários (derrames): • Hidrotórax (derrame pleural). • Hidropericárdio (derrame pericárdico). • Hidroperitônio (ascite). Edema Edemas cavitários (derrames): O líquido que sai do vaso e se acumula nos espaços pode ser classificado em 2 grupos: • Transudato (simples ou modificado). • Exudato. Edema Edemas cavitários (derrames): Transudato simples: • Ocorre por diminuição da pressão oncótica ou coloido osmótica. • O líquido é claro e com pouca proteína (menor que 2,5g%), baixa densidade (menor que 1.015) e pequena quantidade de células . • A permeabilidade do vaso está inalterada. • A principal causa é a síntese de proteínas plasmáticas diminuída. Edema Edemas cavitários (derrames): Transudato modificado: • Ocorre por aumento da pressão hidrostática. • A permeabilidade do vaso está inalterada. • A principal causa é a hiperemia. • Características intermediárias entre transudato e exsudato. Edema Edemas cavitários (derrames): Exudato: • Ocorre por aumento da permeabilidade vascular. • O líquido é turvo e rico em proteínas, com proteínas de alto peso molecular (maior que 3g%) e alta densidade (maior que 1.020). • Rico em células, principalmente células inflamatórias (a principal célula inflamatória aguda é o neutrófilo). • A principal causa é a inflamação. Edema Etiopatogenia: • Alteração das forças de Starling: – Aumento da pressão hidrostática: • ICC • Hipertensão portal • Obstrução venosa – Diminuição da pressão oncótica plasmática: • Redução da oferta de proteínas (desnutrição) • Redução da síntese hepática (cirrose, hepatite, hemocromatose) • Perda proteica (proteinúria na síndrome nefrótica e gastroenteropatias perdedoras de proteína) – Aumento da pressão osmótica no interstício: – Redução da drenagem linfática. • Aumento da permeabilidade vascular: – Feita pela coesão entre as células endoteliais (ação de mediadores inflamatórios). Edema Linfedema: Ocorre quando há redução da permeabilidade linfática. Os 10 a 20 % do líquido que seriam absorvidos acumulam e formam o linfedema. • Linfangite (gera fibrose dos linfáticos, pode ocorrer em infecções bacterianas como a erisipela). • Filariose (gera aumento de partes moles causando elefantíase). • Neoplasias metastáticas. • Cirurgias radicais com retirada de gânglios. Hemorragia É a saída de sangue do interior para fora do vaso. Causas: • Fisiológicas (parto, menstruação, mudança de dentição). • Traumatismos (ruptura traumática dos vasos). • Patológicas. Hemorragia Causas patológicas de hemorragia: • Vasculopatias (doenças dos vasos sanguíneos). – Vasculites (inflamação dos vasos) – Aneurismas (dilatação anormal de um vaso arterial) – Varizes (dilatação e tortuosidade de vasos venosos associado a fraqueza da parede) – Lesão endotelial (alérgica, tóxica) – Defeitos genéticos adquiridos (hemangioma congênito). • Distúrbios da hemostasia (2 origens). – Plaquetas – Fatores da coagulação • Aumento da pressão intravascular (hiperemias). Hemorragia Distúrbios da hemostasia (diáteses hemorrágicas ou discrasias sanguíneas) tendências, predisposição a sangramentos: • Alterações plaquetárias: – Quantitativas – Qualitativas (as plaquetas circulam na forma inativa, e são ativadas fora do vaso (colágeno, eletronegatividade e mediadores inflamatórios, alguns medicamentos alteram esse processo). • Deficiência dos fatores da coagulação: – Genética. – Adquiridas (hepatopatias pode haver deficiência de fibrinogênio). – Inibição dos fatores (medicamentos, venenos). – CID ou CIVD. Hemorragia Classificação: • Quanto à cronicidade/intensidade: – Agudas (início rápido, intensidade maior e curta duração). – Subagudas. – Crônicas. • Quanto à duração: – Transitória (normalmente as agudas). – Contínuas (normalmente as crônicas). – Intermitentes (normalmente as crônicas). Hemorragia Classificação: • Quanto à extensão: – Petéquias (pontilhados hemorrágicos de até 3mm na pele, mucosas ou órgãos externos). – Púrpuras (acima de 3mm até 10cm). – Sufusões (acima de 10cm, pode conter de 500ml a 1.000ml de sangue). • Quanto ao vaso sangrante: – – – – Arteriais. Venosas. Capilares. Coração. Hemorragia Classificação: • Quanto ao mecanismo de formação: – Secção ou ruptura vascular (traumatismos). – Necrose parietal vascular (doenças vasculares, isquemia). – Diapedese (quando a pressão do sangue é muito grande, as hemácias passam entre as células endoteliais. Ocorre nas congestões dos membros inferiores, congestão pulmonar). Hemorragia Classificação: • Quanto à exteriorização: – Externas: • Soluções de continuidade da pele e mucosas. • Orifícios naturais: – Otorragia (fratura dos ossos do andar médio do crânio, ruptura do tímpano). – Metrorragia (via vaginal). – Rinorragia ou epistaxe. – Hematemese. – Hemoptise. – Hematúria. – Enterorragia (melena e hematoquezia). Hemorragia – Internas: • Intrateciduais (nos tecidos): – Equimoses (sangramento intratecidual difuso) não consegue drenar o sangue apenas vemos uma mancha roxa. – Hematomas: “tumor de sangue”. O sangue fica coletado dentro de uma cavidade no tecido. Exerce efeito de massa abaulando a pele ou comprimindo estruturas. Pode ser drenado. • Cavitárias (nas cavidades internas): – Subcapsulares (entre o órgão e a cápsula). – Cavidades serosas (hemoperitônio, hemotórax, hemopericárdio e hematocele). – Espaços meníngeos e ventrículos cerebrais. – Cavidades articulares (hemartrose). Hemorragia Conseqüências: • Anemia ferropriva (perda freqüente de sangue). • Efeito de massa (compressão de estruturas pela hemorragia. – AVE: pode levar a morte por compressão das estruturas encefálicas. – Tamponamento: nas cavidades como o pericárdio pode impossibilitar a diástole (tamponamento cardíaco). Pode ocorrer por ruptura da parede cardíaca ou pericardite hemorrágica. • Choque hipovolêmico. • Morte. Hemorragia Evolução (hemorragias internas): • Icterícia: – Coloração amarelada da pele e mucosas por depósito de bilirrubina. – Politraumatizados podem ter icterícia transitória enquanto há reabsorção do sangue das hemorragias. • Espectro equimótico (Le Grand Du Salle) – A medida que a hemoglobina vai sendo metabolizada em biliverdina, bilirrubina até sair do local a lesão vai mudando de cor (roxo no início, verde fase intermediária e amarela na fase final). • Pigmentação residual: – o heme pode formar um pigmento chamado hemossiderina. Hemorragia Espectro equimótico (Le Grand Du Salle). Útil na medicina legal para saber a idade das lesões. Trombose É a solidificação do sangue dentro dos vasos, coração ou microcirculação do indivíduo vivo. É o processo de hemostasia que ocorre em uma situação anormal (patológica), ou seja, o fenômeno normal de coagulação é ativado em situações anormais. Trombose O sangue tem um mecanismo normal para parar o sangramento chamado de hemostasia. Plaquetas e fator de Von Willebrand Hemostasia Fatores da coagulação Mecanismo da coagulação: 1. No vaso rompido o sangue começa a extravasar e os elementos figurados entram em contato com o tecido conjuntivo. Mecanismo da coagulação: 2. As plaquetas tem receptores para o colágeno (normalmente elas não tem contato com o colágeno, só quando rompe o vaso). Mecanismo da coagulação: 3. O Fator de Von Willebrand é uma proteína que faz uma ponte entre a plaqueta e o colágeno). Ocorre a metamorfose viscosa, a plaqueta é ativada e muda de forma com interdigitações para melhor adesão. A plaqueta ainda ativa outras plaquetas e aumenta o número de receptores na membrana para facilitar a união entre elas e o fator de Von Willebrand. Forma então o tampão plaquetário ou primário (até aqui temos a hemostasia primária) Mecanismo da coagulação: 4. Ativação da cascata de coagulação. Com a ativação dos fatores da coagulação forma uma verdadeira malha de fibrina entre e sobre as plaquetas, é a rede de fibrina. Forma então o tampão fibrinoplaquetário ou secundário (aqui temos a hemostasia secundária) Posteriormente o tampão é removido, as células endoteliais recuperam a parede e o vaso é reconstruído. Mecanismo da coagulação: Observação: o sangue não se coagula todo porque temos os mecanismos antitrombóticos. O endotélio íntegro não deixa o trombo se formar, ele secreta: – – – – – Prostaglandina I2. Òxido nítrico (bloqueia a coagulação). ADPase, quebra o ADP e inibe a agregação plaquetária. Antitrombina3. Plasminogênio tecidual (fibrinólise). Por outro lado o endotélio tem substâncias pró-trombóticas. – – PAF (fator de ativação plaquetária). Fator de Von Willebrand. Trombose Etiologia: • Doença ou agente agressor que levam a alterações na membrana endotelial: – – – – Hipóxia. Agentes químicos. Traumatismo por agente físico. Radiação. • Alterações do fluxo laminar do sangue: – O sangue flui formando camadas concêntricas (fluxo laminar). Se circular formando redemoinhos (fluxo turbilhonar), causa tensão da membrana endotelial, como ocorre nos aneurismas, estase ou obstruções. • Alterações na composição do sangue: – Trombocitose (aumento do nº de plaquetas). – Aumento dos fatores de coagulação (hipercoagulabilidade). Trombose A trombose pode ser um fenômeno secundário a várias doenças: • Anemia falciforme (a forma das hemácias faz aglomerados que entopem os vasos). • Algumas neoplasias malignas: secretam substâncias trombogênicas (síndrome paraneoplásica). Tromboflebite superficial migratória Síndrome de Trousseau. Trombose venosa extensa e recorrente mesmo com o tratamento anticoagulante. Principalmente adenocarcinomas de pâncreas e pulmão. Trombose Trombo: • É o resultado do processo de trombose. • Aderido à parede do vaso. • Tem plaquetas ativadas junto com a rede de fibrina. Coágulo: • Não está aderido à parede do vaso. • Elementos do sangue presos pela rede de fibrina (não tem plaquetas ativadas). Mole, brilhante e elástico porque só tem fibrina. • Ocorre pós morte. Trombose Morfologia: • Trombo vermelho: normalmente ocorre nas veias. Grande quantidade de hemácias porque a velocidade do sangue é baixa. • Trombo branco: se formam nas artérias. Predomina fibrina porque a velocidade do sangue é alta. • Trombo misto: na prática é o que mais acontece porque há um equilíbrio na quantidade de hemácias e fibrina. Trombose Causas: • Trombose arterial (a aterosclerose é a principal causa). • Trombose venosa (ocorre frequentemente por estase do sangue como varizes e insuficiência das válvulas). • Trombose cardíaca (lesões do endocárdio por necrose isquêmica como no infarto do miocárdio). • Próteses. Trombose Destino do trombo: • Reabertura: o trombo sofre lise pelos macrófagos. • Fragmentação: solta pequenos fragmentos formando êmbolos. • Cicatrização: organização com incorporação à parede do vaso. Não dá êmbolos mas diminui o calibre. • Recanalização: dificilmente é completa e o órgão continua com isquemia. Embolia É o deslocamento de uma massa sólida, líquida ou gasosa, pela corrente sanguínea, levada para um local distante de seu ponto de origem Embolia Constituição dos êmbolos: • Sólidos – – – – – – Trombos (99% dos casos). Restos ateroscleróticos. Fragmentos de tumores. Fragmentos de medula óssea. Corpos estranhos (projéteis). Parasitos • Gasosos (embolia gasosa) – Bolhas de ar (ar na seringa). – Nitrogênio (doença da descompressão - mergulhadores). • Líquidos – Gotículas de gordura (embolia gordurosa). • Medicações com veículo oleoso. • Medula óssea gordurosa (após fratura de ossos longos). – Líquido amniótico. Embolia Conseqüências: Essas massas chegam a um ponto onde a luz vascular é mais estreita e obstruem o fluxo sanguíneo. Como conseqüência temos necrose isquêmica do tecido distal (infarto). Podem se alojar em qualquer parte da árvore vascular (pulmonar ou sistêmica) de acordo com o ponto de origem. Embolia Tromboembolia pulmonar: Êmbolos que se originam na circulação sistêmica (atravessam o lado direito do coração e se alojam nos vasos arteriais pulmonares). 95% trombos nas veias profundas da perna. Embolia Tromboembolia pulmonar: • 60 a 80% são pequenos e clinicamente silenciosos (organizados e incorporados na parede dos vasos). • Hipertensão pulmonar com insuficiência cardíaca direita (evento crônico, por múltiplos êmbolos). • Morte súbita por insuficiência cardíaca direita (cor pulmonale) quando 60% da circulação pulmonar é obstruída. • Hemorragia pulmonar. • Infarto pulmonar. Embolia Tromboembolia sistêmica: Êmbolos que se originam na câmara cardíaca ou arterial sistêmica e se alojam nos vasos arteriais da circulação sistêmica. 80% trombos intramurais cardíacos (associados a infartos da parede do VE e a dilatação do AE por cardiopatia valvular reumática e fibrilação atrial). O restante em aneurismas de aorta, trombos em placas ateroscleróticas e fragmentação de vegetações valvares. Embolia Tromboembolia sistêmica: • Os principais locais de embolização são: – 75% membros inferiores. – 10% cérebro. – Menor freqüência intestinos, rins, baço e membros superiores. Infarto Necrose isquêmica por oclusão arterial ou da drenagem venosa em um determinado tecido. Infarto • Tipos de infarto: – Infarto branco (anêmico): Ocorrem em órgãos sólidos onde a solidez do tecido limita a hemorragia que pode infiltrar a área de necrose a partir dos leitos capilares adjacentes. Normalmente órgãos de circulação simples, única. • Coração. • Baço. • Rim. Infarto • Tipos de infarto: – Infarto vermelho (hemorrágico): Ocorrem em órgãos frouxos que permitem infiltração hemorrágica e acúmulo de sangue na área infartada Oclusão venosa. Órgãos com circulação colateral, independente da circulação principal. • Pulmão. • Intestino. Observação: infartos por oclusão venosa geralmente ocorrem em órgãos com única via de drenagem venosa como testículo e ovário (torção). Choque hemodinâmico A pressão hidrostática capilar é o reflexo microcirculatório da pressão arterial. PA=DC X RVP DC=VS X FC (volume de sangue ejetado por minuto, corresponde ao volume de cada sístole e a quantidade de vezes que bate em 1 min). RVP (resistência que os vasos da circulação periférica exercem). Sempre que essa equação sofre desequilíbrio ocorre o choque hemodinâmico. Choque hemodinâmico A circulação é um mecanismo para manter a homeostase. Leva nutrientes e oxigênio aos tecidos e retira as escórias do metabolismo. Esses fatores são dependentes da correta manutenção da pressão hidrostática capilar Homeostase do organismo vivo Manutenção da circulação e aporte sanguíneo Fornecimento de oxigênio, nutrientes e retirada das escórias Integridade celular Choque hemodinâmico Pressão arterial e choque: • Se reduz a PA, reduz a pressão de perfusão e o conjunto de eventos que mantém a homeostase. • No choque a redução da PA faz com que os tecidos não recebam sangue para fazer as trocas e entram em sofrimento. Choque hemodinâmico Conceito: É um estado prolongado de hipoperfusão dos tecidos, resultante de uma circulação sanguínea inadequada. No choque todos os tecidos sofrem, uns mais outros menos. Observação: síncope não é estado de choque porque é momentâneo, o choque é prolongado. Choque hemodinâmico Portanto, há uma falência da circulação em fornecer substâncias químicas necessárias à sobrevivência celular e remover os produtos residuais do metabolismo. Choque hemodinâmico Conseqüências: Respiração anaeróbica Acidose Diminuição da produção energética Desestabilização da membrana celular Tumefação Morte celular Choque hemodinâmico PA= (VS X FC) X RVP DC Causas: Relacionado à volemia • Choque hipovolêmico. – Hemorragia interna ou externa (perda de 30% da volemia global entra em estado de choque). – Desidratação (água contribui para a volemia plasmática). • • • • Vômitos e diarréia. Diurese intensa. Sudorese intensa. Queimadura grave (evaporação pela pele lesada). Volemia Global=Volemia corpuscular+ Volemia plasmática Choque hemodinâmico Causas: PA= (VS X FC) X RVP DC Relacionado ao DC (inclui a força de contração e a freqüência dos batimentos) • Choque cardiogênico: Lembrar que o coração é uma bomba eletromecânica. – Insuficiência cardíaca (síndrome). • Infarto agudo do miocárdio. • Miocardiopatias (chagásica, viral, hipertrófica, dilatada). – Doenças valvulares (insuficiências e estenoses - cai o VS). – Obstruções do fluxo de saída (trombose da aorta, embolia pulmonar) – Inelasticidade do pericárdio (pericardite constritiva, a fibrose impede a expansão cardíaca, tamponamento cardíaco). – Hemopericárdio (tamponamento cardíaco). Choque hemodinâmico Causas: PA= (VS X FC) X RVP DC Relacionado à freqüência cardíaca (ciclo elétrico) • Choque cardiogênico. – Arritmias. • Bradiarritmias (geram baixo DC). • Taquiarritmias (geram baixo DC porque diminui a capacidade de enchimento, não tem volume sistólico). Choque hemodinâmico Causas: PA= (VS X FC) X RVP DC Relacionado à rede vascular • Choque distributivo. Quem dá a resistência é o tônus dos vasos. Quem mantém o tônus é a microcirculação, através do sistema nervoso simpático adrenérgico e estímulos locais (equilíbrio entre substâncias vasoconstritoras e vasodilatadoras, efeitos parácrinos). Se o estímulo vasodilatador for maior que o vasoconstrictor a resistência reduz e a PA cai. Choque hemodinâmico Choque distributivo: Os tecidos tem um predomínio de estímulos vasodilatadores sobre os vasoconstritores, se diminuir o tônus diminui a RVP e a PA cai. • Histamina – artérias de médio a grande calibre é vasoconstrictora, microcirculação é vasodilatadora. • Leucotrienos – na microcirculação é vasodilatador, nos vasos maiores é vasoconstrictor. • Prostaglandinas e Óxido nítrico são vasodilatadores. Portanto, nesse tipo de choque há alteração na microcirculação pela distribuição do sangue. Choque hemodinâmico Choque distributivo (subtipos): 1. Anafilático: – Quando há reação antígeno e anticorpo envolvendo IgE e ativação de mastócitos. – Os mastócitos liberam substâncias vasodilatadoras (histamina). Choque hemodinâmico 2. Neurogênico: – Alteração no SNA simpático. • Trauma encefálico ou raquimedular (medula cervical alta ficam os centros vasomotores). • Acidente vascular encefálico. • Encefalites. • Meningoencefalites. • Drogas (anestésicos, drogas ilícitas). Redução da liberação de adrenalina predominando os estímulos locais. Observação: o parassimpático não atua de forma importante no controle vascular, apenas no coração. Choque hemodinâmico 3. Séptico: Infecção por vários agentes mas principalmente os Gram negativos. Fisiopatologia: 1. Os GN liberam um produto de sua parede celular (lipopolissacarídeo – LPS) que liga a uma proteína carreadora de LPS do sangue (LPB). 2. O complexo LPS-LPB se liga aos leucócitos principalmente os monócitos e macrófagos (receptor CD14), células endoteliais e outros tipos celulares. 3. Os leucócitos liberam mediadores inflamatórios (maioria vasodilatadores) que desencadeiam uma cascata de citocinas que propagam o estado patológico. Choque hemodinâmico Síndrome do choque séptico (amplificação da cascata de citocinas - altos níveis de LPS). 1. Vasodilatação sistêmica (hipotensão). 2. Contratilidade miocárdica reduzida. 3. Lesão e ativação endotelial difusa - aderência sistêmica de leucócitos e lesão dos capilares alveolares pulmonares (síndrome da angústia respiratória do adulto – SARA). 4. Ativação do sistema de coagulação (CID). Choque hemodinâmico Quadro clínico do choque: • Hipotensão arterial – existe uma fase inicial que há um reflexo barorreceptor e quimiorreceptor que eleva a pressão. • Taquicardia e taquisfigmia (compensação reflexa). • Palidez cutânea. • Pele fria e úmida (descarga simpática). • Colapso dos vasos venosos. • Alterações neurológicas (agitação até coma). • Redução do débito urinário. Choque hemodinâmico Fases do choque: 1. Fase não progressiva (hipotensão compensada) – o reflexo simpático compensa a hipotensão. A perfusão para os órgãos vitais é mantida. É a fase que é tratado. 2. Fase progressiva – perfusão tecidual reduzida. Começa a surgir desequilíbrios circulatórios e metabólicos (acidose) e insuficiência dos órgãos. Ainda pode reverter (se não tratar evolui para a fase 3). 3. Fase irreversível – insuficiência microcirculatória e lesão de membrana (a hipoperfusão começa a matar as células). Muito difícil tratar, o paciente evolui para falência múltipla de órgãos. Mesmo corrigindo os defeitos hemodinâmicos a sobrevida é impossível. Falência múltipla de órgãos Retroalimentação positiva do choque (forma um circuito fechado). É o estágio final do choque. Choque hemodinâmico Morfologia: • Lesões primárias (pré choque) – causas do choque. – IAM – AVC – Lesão traumática • Lesões secundárias (pós choque) – depende da duração da e resistência dos tecidos à hipóxia. – SNC (encefalopatia hipóxica, primeiramente no córtex e núcleos da base – estado de coma). Os neurônios são as células mais sensíveis – Pulmões (SARA – síndrome da angústia respiratória do adulto. Lesão grave, com produção de uma substância proteica chamada membrana hialina, prejudica a troca gasosa. Principalmente no choque séptico). – Coração, rins, fígado, pâncreas e TGI (necrose). Coagulação intravascular disseminada (CID) É um distúrbio tromboemorrágico que ocorre como complicação secundária de uma série de doenças. Não é uma doença primária. Definição: Ativação da cascata de coagulação, com formação de microtrombos em toda a microcirculação, com consumo de plaquetas e fatores da coagulação, e ativação dos mecanismos fibrinolíticos (coagulopatia de consumo). Coagulação intravascular disseminada (CID) Principais distúrbios associados: • Complicações obstétricas – – – – Descolamento prematuro de placenta. Retenção de feto morto. Aborto séptico. Embolia por líquido amniótico. • • Infecções – – – – – – • SEPSE por GN. Meningococcemia. Febre maculosa. Histoplasmose. Aspergilose. Malária. • Neoplasias – Carcinomas de pâncreas, pulmão, estômago e próstata. – Leucemia pró-mielocítica aguda. Lesão tecidual maciça – Traumática – Queimaduras – Cirurgia extensa Outros – – – – – – – Hemólise intravascular aguda Picada de cobra. Hemangioma gigante. Choque. Vasculite. Aneurisma de aorta. Hepatopatia. Coagulação intravascular disseminada (CID) Patogenia: 1. Ativação das vias intrínseca e extrínseca da coagulação por liberação de substâncias tromboplásticas na circulação e lesão disseminada das células endoteliais. 2. Deposição disseminada de fibrina na microcirculação (leva a lesão isquêmica por oclusão vascular e anemia hemolítica microangiopática por fragmentação dos eritrócitos). 3. Consumo de plaquetas e fatores da coagulação (diáteses hemorrágicas). 4. Ativação do mecanismo fibrinolítico (plasmina) agrava a diátese hemorrágica. Substâncias tromboplásticas: • O próprio fator tecidual (tromboplastina tissular). • Placenta nas complicações obstétricas. • Grânulos nas células da leucemia pró mielocítica. • Muco liberado por adenocarcinomas. Coagulação intravascular disseminada (CID) Fisiopatologia: Coagulação intravascular disseminada (CID) Fibrinólise: os resultantes desse processo são conhecidos como produtos da degradação da fibrina. Esses produtos, em particular o d-dímero da fibrina, podem ser dosados no sangue. Níveis elevados são úteis no diagnóstico de estados trombóticos anormais como CID, trombose venosa profunda e tromboembolia pulmonar. Coagulação intravascular disseminada (CID) Morfologia: • • • • • Os trombos não podem ser vistos na inspeção macroscópica, somente na microscopia. Os microtrombos podem ser encontrados por ordem de freqüência no cérebro, coração, pulmões, rins, suprarenais, baço e fígado. Microinfartos. Hemorragias. Hemorragias maciças na córtex das supra-renais (Síndrome de Waterhouse-Friderichsen, associada a meningococcemia).