Nível crítico de boro em folha de tomateiro em solução nutritiva. José M. O. Ribeiro1; André V. Zabini 1; Paulo C. R. Fontes1; Herminia E. P. Martinez1; Paulo R. G. Pereira1. 1/ UFV – Depto de Fitotecnia, 36571-000, Viçosa-MG. E-mail: [email protected] RESUMO O objetivo do trabalho foi determinar, em tomateiro, o nível critico da concentração de boro na matéria seca da folha adjacente ao primeiro cacho (FAC). O experimento foi realizado em casa de vegetação, do Departamento de Fitotecnia, da UFV. O ensaio foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e três repetições. Os tratamentos foram doses de boro (0, 500, 2000, 4000 e 8000 µg.L-1 de solução nutritiva), aplicadas em dose única, no momento do transplante das mudas. Cada planta foi cultivada em vaso contendo 8 L de solução nutritiva. Após 30 dias do transplante avaliou-se o peso da matéria seca total da planta e a concentração de B na matéria seca da FAC. As doses de 1453 e 3220 µg.L-1 na solução nutritiva proporcionaram 90 e 99,9 % da produção máxima de matéria seca total e o nível critico de boro na matéria seca da FAC variou de 190 a 400 mg.kg-1. Sintomas de deficiência de B foram observados apenas nas plantas do tratamento sem adição do elemento. Sintomas de toxidez foram observados com maior severidade nas plantas do tratamento com 8000 µg.L-1 de solução. Palavras – chave: Lycopersicum esculentum, hidroponia, toxidez, diaginóstico. ABSTRACT Boron critical level in tomato leaf under nutrient solution. The objective of this study was to establish the boron critical concentration in the tomato leaf adjacent to the first cluster (LAC). The experiment was done in greenhouse, at Departamento de Fitotecnia - UFV. The experiment was conducted in completely randomized design with three replications and five treatments. These were boron rates (0, 500, 2000, 4000 and 8000 µg B.L-1) in nutrient solution, applied at the planting time. Each paint was grown in 8L pot. Thirty days after transplantation in nutrient solution it was evaluated plant dry weight and boron content in the LAC dry matter. The rates of 1453 and 3220 µg.L-1 in nutrient solution led to 90 and 99,9 % of the maximum plant dry weight and the boron critical concentration in the LAC dry matter ranged from 190 to 400 mg.kg-1. Boron deficiency symptoms were only observed in plants grown in treatment without boron addition. Toxicity symptoms were observed in plants grown in the 8000 µg.L-1 treatment. Keywords: Lycopersicum esculentum , hydroponics, toxicity, diagnosis. A cultura do tomateiro caracteriza-se pela alta produtividade associada ao elevado custo de produção devido, em parte, aos fertilizantes minerais. Neste cenário assume relevante importância os micronutrientes, pois é comum o uso de formulações contendo micronutrientes, especialmente o boro, que podem ocasionar sintomas de toxidez do elemento no tomateiro. O boro desempenha funções relacionadas a síntese e transporte de carboidratos, elongação da parede celular, síntese de DNA e RNA, metabolismo de fenóis, AIA e crescimento da planta (Marschner, 1995), sendo essencial ao desenvolvimento do tomateiro. Porém, tanto a deficiência quanto o excesso do elemento afetam o desenvolvimento do tomateiro. Ajuste na quantidade de boro a ser adicionada pode ser conseguido pela análise química da planta. O procedimento envolve a análise do teor de boro na folha e posterior interpretação do resultado, utilizando-se, quase sempre, o critério do nível crítico (Fontes, 2001). Para utilizar tal critério é necessário o estabelecimento do nível crítico para ser usado com padrão de comparação. Assim, o presente ensaio teve como objetivo determinar o teor critico de boro na folha adjacente ao 1º cacho do tomateiro cultivado em solução nutritiva. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido na casa de vegetação do Departamento de Fitotecnia/UFV, em Viçosa-MG, no período de outubro a novembro de 2002. Plantas de tomate grupo Santa Cruz, foram cultivadas em solução nutritiva de Hoagland e Arnon (1950), e submetidas a cinco tratamentos (doses de boro) no delineamento inteiramente casualizado com três repetições. Os cinco tratamentos foram: 1) testemunha (sem boro); 2) solução com 500 µg B.L -1; 3) solução com 2000 µg B.L -1; 4) solução com 4000 µg.L-1 e 5) solução com 8000 µg.L-1 de boro. A quantidade de boro para obtenção dos tratamentos foi adicionada de uma só vez. As mudas foram produzidas em areia lavada e irrigadas com solução nutritiva de Steiner a meia força (Martinez, 2002) contendo 46 µm.L -1 de B. Quando a muda atingiu o estádio de quatro folhas definitivas foi transferida para vaso com capacidade para 8 L de solução nutritiva. Diariamente, o volume da solução foi reestabelicida com água deionizada. O pH das soluções contendo as mudas foi ajustado para 5,5 e corrigido, semanalmente, com solução de HCl 0,1mol.L -1. Durante o experimento, a condutividade elétrica da solução (CE) foi monitorada, não sendo necessária a troca da solução nutritiva mediante o critério de 60% de depleção da CE. As mudas de tomateiro permaneceram por 30 dias nos tratamentos, quando iniciou o florescimento do primeiro cacho. Nessa ocasião foram avaliadas a produção de matéria seca total (MST), matéria seca da folha adjacente ao 1º cacho (MSFAC) e teor de B na FAC. As determinações de matéria seca foram obtidas com a secagem do material coletado em estufa de circulação forçada de ar a 72ºC até peso constante. A análise de B na folha foi realizada pelo método da azometina, descrita por Malavolta et al. (1997).Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão, sendo ajustadas equações e escolhida aquela com maior valor de R2 e possível explicação biológica. A faixa critica e o nível crítico do teor de B na matéria seca da FAC foram determinado segundo metodologia descrita por Fontes (2001), considerando 90 e 99,9 % da produção máxima de matéria seca total. RESULTADOS E DISCUSSÃO A máxima produção de MST por planta foi 43,81 g, obtida com 3498 µg.L-1 na solução (Figura 1). Os incrementos na MSFAC foram crescentes até a concentração de 5909 µg B.L -1, obtendo-se o valor máximo de 1,61 g (Figura 2). O teor de B na matéria seca da FAC aumentou linearmente com o aumento do teor de B na solução (Figura 3). O teor crítico de boro na matéria seca da FAC foi 400 mg.kg-1 e a faixa crítica 190 a 400 mg.kg-1. Fontes (2001) considera adequado, para o cultivo em solo, o teor de B de 25 mg.kg-1 na folha oposta ao 2º ou 3º cacho durante o pleno florescimento do tomateiro. Malavolta et al. (1997) citam o valor critico de 50 a 70 mg.kg-1. A deficiência de B observada na testemunha inicialmente foi caracterizada por clorose e encarquilhamento de folhas novas, seguindo-se clorose generalizada da planta e, ao final do ensaio houve a morte do meristema apical. Nesse caso, a concentração de B observada na FAC foi de 16 mg.kg-1. Foram observados sintomas de toxidez de B nas folhas baixeiras das plantas nos tratamentos 3, 4 e 5, caracterizando-se por clorose seguida de necrose dos bordos da 2ª, 3ª, 4ª e 5ª folhas, enumeradas a partir da folha cotiledonar. Os sintomas foram mais nítidos no início do ensaio, destacando-se no tratamento 5 (8000 µg B.L -1). Entretanto, não ocorreram sintomas de toxidez na FAC. Com 8000 µg.L-1 na solução, a concentração de B na FAC foi 1028 mg.kg-1 e a produção de MST 35,28 g.planta -1 isto é, 80,5% da produção máxima de matéria seca total. LITERATURA CITADA FONTES, P.C.R. Diagnóstico do estado nutricional das plantas. Viçosa:UFV, 2001, 122p. HOAGLAND, D.A. e ARNON, D.I. The water culture method for growing plants without soil. Berkeley, California Agric. Exp. Sta. Circ. 1950. 347p. MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C. e OLIVEIRA, S. A. Avaliação do estado nutricional das plantas – princípios e aplicações. 2ed. Piracicaba: POTAFOS, 1997, 319p. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. San Diego: Academic, 1995. 889p. MARTINEZ, H. E. P. O uso do cultivo hidropônico de plantas em pesquisa. Viçosa: UFV, 2002, 61p. 25 MSFAC (g) MST (g) 50 Y=11,29 + 1,1√X - 0,0093X R2= 0,82** 0 2000 4000 6000 8000 -1 Y=1,23 + 0,00013X - 0,000000011X2 + R2= 0,96 1200 Y=26,06 + 0,11X + 0,0000019X2 R2= 0,99** 400 0 4000 6000 2000 4000 6000 8000 Dose Dosede deBB(µg.L (µg.L-1) ) Figura 1. Relação entre a concentração de B aplicada na solução nutritiva e a matéria seca total (MST). Viçosa, UFV, 2002. 2000 0 -1 Dose Dosede deBB(µg.L-1) (µg.L ) 0 1,0 0,0 0 800 2,0 8000 -1 Dose Dose de de BB(µg.L-1) (µg.L ) Figura 3. Relação entre a concentração de B aplicada na solução nutritiva e a concentração de B na folha adjacente ao 1º cacho (BFAC). Viçosa, UFV, 2002 Figura 2. Relação entre a concentração de B aplicada na solução nutritiva e a matéria seca da folha adjacente ao 1º cacho (MSFAC). Viçosa, UFV, 2002