Crescimento e teor de boro na folha do tomateiro influenciados por

Propaganda
Crescimento e teor de boro na folha do tomateiro influenciados por doses
de boro adicionadas parceladamente à solução nutritiva.
André V. Zabini 1; José M. O. Ribeiro1; Paulo C. R. Fontes1 ; Herminia E. P. Martinez1; Paulo
R. G. Pereira1.
1/
UFV – Depto de Fitotecnia, 36571-000, Viçosa-MG. E-mail: [email protected]
RESUMO
O trabalho objetivou avaliar o efeito do parcelamento de doses de boro sobre
características do crescimento do tomateiro cultivado em solução nutritiva. O experimento foi
realizado em casa de vegetação, na UFV, sob delineamento inteiramente casualizado com
três repetições. Os tratamentos foram cinco doses de B na solução nutritiva (0, 500, 2000,
4000 e 8000 µg.L -1), aplicadas parceladamente, diariamente, em parte iguais, durante 30
dias. Foi utilizado vaso de 8 L e uma planta por vaso. Decorridos 30 dias após o transplante
foram avaliados: peso da matéria seca total da planta (MST), da folha adjacente ao 1º cacho
(MSFAC) e da raiz (MSR); área da folha adjacente ao 1º cacho (AFAC); altura da planta
(AP); número de folhas (NF); volume de raiz (VR) e concentração de B na folha adjacente ao
1º cacho (BCFAC). Houve efeito da dose de boro sobre todas as variáveis analisadas exceto
sobre MST. Os valores máximos foram: 51,75 g para a MST; 2,31 g para a MSFAC; 329 cm2
para a AF; 204 cm para AP; 22 para NF e 421 cm3 para VR. BFAC variou, em media, de 24
a 814 mg.kg-1 nos tratamentos com 0 e 8000 µg.L -1, respectivamente.
Palavras – chave: Lycopersicon esculentum, tomate, hidroponia, toxidez.
ABSTRACT
Plant growth and boron contents in tomato leaf as affected by boron rates split
applied to the nutrient solution
The experiment objective was to evaluate the split addition effects of boron levels in
nutrient solution on tomato plant growth characteristics. The experiment was done in
greenhouse at UFV under completely randomized design and three replications. The
treatments were five B levels in nutrient solution (0; 500; 2000; 4000 e 8000 µg.L -1 ), split
applied, daily, during 30 days. It was utilized 8 L pot and one plant in each pot. Thirty days
after the transplantation they were evaluated: plant (MST), leaf adjacent to the first cluster
(MSFAC) and root (MSR) dry weight; area of the leaf adjacent to the first cluster (AFFAC);
plant height (AP); leaf number (NF); root volume density (VR) and boron concentration in the
leaf adjacent to the first cluster. There was effect of boron on all measures variables but
MSR. The maximum values were: 51.75 g for MST; 2.31 g for MSFAC; 329 cm2 for AF; 204
cm for AP; 22 for NF and 421 cm3 for VR. BFAC ranged from 24 to 814 mg.kg-1 at 0 and
8000 µg.L -1, respectively.
Keywords: Lycopersicon esculentum, tomato, hydroponics, toxicity.
O cultivo do tomateiro em hidroponia demanda adequada concentração de nutrientes
na solução nutritiva e manutenção regular desta solução mediante o monitoramento e
reposição de nutrientes. Neste contexto é importante o estudo dos micronutrientes, pois o
uso de formulações contendo micro pode ocasionar toxidez ou deficiência de um ou mais
elementos, acarretando menor crescimento da planta.
Nos experimentos para avaliar o efeito de doses de boro empregam-se,
freqüentemente, solução nutritiva contendo determinada concentração do microelemento,
aplicada de uma única vez. Este ambiente que a planta é submetida, em um curto espaço de
tempo, causa determinadas reações morfofisiológicas na planta. Adição gradativa de boro à
solução nutritiva pode permitir a “adaptação” da planta ao estresse tal como ocorre no solo,
onde a disponibilidade do nutriente e a absorção pela planta são gradativos, podendo o
tomateiro apresentar mecanismos de destoxificação ou tolerância ao micronutriente, se
fornecido parceladamente. O presente ensaio teve como objetivo avaliar o efeito do
parcelamento de doses de boro em solução nutritiva sobre o crescimento e o teor de boro na
matéria seca da folha do tomateiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido na casa de vegetação do DFT/UFV, em Viçosa-MG, no
período de outubro a novembro de 2002. Plantas de tomate grupo Santa Cruz, em solução
nutritiva de Hoagland e Arnon (1950), foram submetidas a cinco tratamentos no
delineamento inteiramente casualizado com três repetições. Foram empregadas soluções
com doses crescentes de B e reposição da solução com água deionizada. Os tratamentos
foram: 1) testemunha (sem boro); 2) solução com 500 µg.L -1; 3) solução com 2000 µg.L -1; 4)
solução com 4000 µg.L -1 e 5) solução com 8000 µg.L-1 de B. As doses de boro foram
divididas e aplicadas em subdoses iguais, nos 30 dias subseqüentes ao transplantio.
As mudas foram produzidas em areia lavada e irrigadas com solução nutritiva de
Steiner a meia força (Martinez, 2002) contendo 46 µm.L -1 de B. Quando a muda atingiu o
estádio de quatro folhas definitivas foi transferida para vaso com capacidade para oito L de
solução nutritiva. Diariamente, o volume da solução foi reestabelicido com água deionizada.
O pH da solução foi ajustado para 5,5 e corrigido, semanalmente, com solução de HCl
0,1mol.L -1. Durante o experimento, a condutividade elétrica da solução (CE) foi monitorada,
não sendo necessária a troca da solução nutritiva mediante o critério de 60% de depleção da
CE.
As mudas permaneceram 30 dias no vaso, quando iniciou o florescimento do primeiro
cacho. Nessa ocasião foram avaliadas as produções de matéria seca total (MST), da folha
adjacente ao 1º cacho (MSFAC), da raiz (MSR); área da folha adjacente ao 1º cacho
(AFAC); altura da planta (AP); numero de folhas (NF); volume da raiz (VR) e teor de B na
FAC. Os valores de matéria seca foram obtidos após a secagem do material coletado em
estufa de circulação forçada de ar a 72ºC até peso constante. O valor de VR foi obtido após
as raízes terem sido enxutas com papel toalha e posteriormente submersas em uma proveta
contendo 1 L de água. A análise de B na folha foi realizada pelo método da azometina
(Malavolta et al., 1997). Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão,
sendo ajustadas equações e escolhida aquela com maior valor de R2 e possível explicação
biológica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A máxima produção de MST por planta foi 51,75 g, obtida com a dose de B de 2873
µg.L-1 (Figura 1). A MST foi 18% maior que o valor da MST obtida com o tomaterio em
solução nutritiva onde o B foi adicionado de uma única vez (dado não mostrado). Com
adição diária de B à solução, a relação entre a máxima produção de MST e a quantidade de
boro na solução para foi 2250 µg. µg-1. Tal valor foi 43% maior do que aquele obtido com a
adição do boro de uma única vez (dado não mostrado).
Os incrementos na MSFAC foram crescentes até a concentração de 2292 µg.L -1,
obtendo-se o valor máximo de 2,31 g (Figura 2). A dose de B de 1918 µg.L -1 proporcionou o
maior valor de AFFAC, correspondendo a 329 cm2 (Figura 3). As concentrações que levaram
a obtenção de maiores AP (204,4 cm) e NF (22) foram, respectivamente, 3665 e 3381 µg.L -1
(Figuras 3 e 1). Não houve efeito dos tratamentos sobre MSR (média de 3,06 g.planta -1)
havendo o oposto com VR que atingiu o máximo, 421 cm3 .planta -1 , com a dose de 2957
µg.L -1 (Figura 3).
O teor de boro na MSFAC aumentou linearmente com o aumento da concentração de
B na solução (Figura 4). Com as doses de boro na solução que proporcionaram 90 e 99,9 %
da produção máxima de MST, os teores de B na MSFAC foram 100 e 204 mg.kg-1,
respectivamente. Foram observados sintomas de toxidez de B nas folhas baixeiras das
plantas nos tratamentos 3, 4 e 5, caracterizando-se por clorose seguida de necrose dos
bordos da 2ª, 3ª, 4ª e 5ª folhas contadas a partir da folha cotiledonar. Os sintomas foram
mais severos no início, destacando-se nas plantas do tratamento 5 (8000 µg.L -1). Entretanto,
não ocorreram sintomas de toxidez na FAC. A deficiência de B observada na testemunha foi
caracterizada por clorose e encarquilhamento de folhas novas, seguindo-se a clorose
generalizada da planta com morte do meristema apical ao final do ensaio; nessas folhas a
concentração de B foi 13 mg.kg-1.
LITERATURA CITADA
FONTES, P.C.R. Diagnóstico do estado nutricional das plantas. Viçosa:UFV, 2001, 122p.
HOAGLAND, D.A. e ARNON, D.I. The water culture method for growing plants without soil.
Berkeley, California Agric. Exp. Sta. Circ. 1950. 347p.
MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C. e OLIVEIRA, S. A. Avaliação do estado nutricional das
plantas – princípios e aplicações, 2ed. Piracicaba: POTAFOS, 1997, 319p.
MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. San Diego: Academic, 1995. 889p.
MARTINEZ, H. E. P. O uso do cultivo hidropônico de plantas em pesquisa. Viçosa: UFV,
2002, 61p.
•
?
2
NF Y = 12,46 + 0,314vX - 0,0027X R =0,67**
2
MST Y = 11,82 + 1,49vX - 0,0139X R =0,85*
•
3
MSFAC Y = 1,23 + 0,045vX - 0,00047X
2
R =0,66*
45
2
30
1
15
0
0
0
2000
4000
6000
8000
0
2000
¦
?
6000
8000
Dose de B (µg.L )
Dose de B (µg.L )
Figura 1. Relação entre a concentração de B aplicada na
solução nutritiva e a matéria seca total das plantas em granas
(MST) e número de folhas (VR). Viçosa, UFV, 2002.
•
4000
-1
-1
VR
Y = 86,58 + 12,29vX - 0,113X
AFAC Y = 227,17 + 4,66vX - 0,0532X
AP
Y = 68,79 + 4,48vX - 0,037X
Figura 2. Relação entre a concentração de B aplicada na
solução nutritiva e matéria seca da folha adjacente ao 1º
cacho em gramas (MSFAC). Viçosa, UFV, 2002.
2
R =0,84**
2
R =0,69*
2
R =0,84**
•
BFAC Y = 23,79-1,9 vX + 0,12X
2
R =0,99**
1200
400
300
200
100
0
800
400
0
0
2000
4000
6000
8000
0
2000
4000
6000
8000
-1
-1
Dose de B (µg.L )
Figura 3. Relação entre a concentração de B aplicada na
solução nutritiva e a altura de plantas em cm (AP), área da
2
3
FAC em cm (AFAC) e volume de raízes em cm (VR).
Viçosa, UFV, 2002.
Dose de B (µg.L )
Figura 4. Relação entre a concentração de B aplicada
na solução nutritiva e concentração de B na matéria
seca da folha adjacente ao 1º cacho em mg.kg-1
(BFAC). Viçosa, UFV, 2002.
Download