Avaliação da esperança de vida em pacientes renais crônicos

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Avaliação da esperança de vida em pacientes renais crônicos submetidos a tratamento
de hemodiálise em uma cidade do Sul do Brasil.
Joel Tuchinski Schuster¹; Caroline Gewehr Tissot²; Diene Landvoigt Wilhelms²; Betine Pinto
Moehlecke Iser3; Dra. Viviane Pessi Feldens (orientadora)4
INTRODUÇÃO
A saúde ao passar dos anos obteve grandes avanços nas áreas tecnológica e científica,
sendo assim, o homem pode retardar a morte, prolongando seu tempo de vida por meio da
investigação de doenças. Estes avanços têm possibilitado diagnosticar e antecipar a
terapêutica adequada, com resultados promissores para o controle e evolução da doença e,
talvez até a cura. Com estes avanços, pode-se identificar um maior número de doentes
crônicos, que requerem cuidados permanentes durante toda sua vida1.
A Doença Renal Crônica (DRC) é uma enfermidade que, além de trazer consequências
físicas ao indivíduo que a vivencia, traz prejuízos psicológicos, alterando seu cotidiano, sendo
caracterizada também como um problema social, que interfere no papel que o próprio
enfermo desempenha na sociedade
2,3
. Assim sendo, é estabelecido um longo processo de
adaptação a essa nova condição, onde o indivíduo precisa identificar meios para lidar com o
problema renal e com todas as mudanças e limitações que o acompanham4.
A Insuficiência Renal Crônica (IRC) é uma condição mórbida decorrente de uma série
de fatores, não contemplando expectativa de cura. É uma doença que vem crescendo
significativamente e tem como corresponsáveis o aumento da incidência de hipertensão
arterial sistêmica; diabetes mellitus; neoplasias de próstata e colo de útero, entre outras
causas. Muitas pessoas desenvolvem a insuficiência renal por falta de acompanhamento
adequado e detecção precoce das doenças de origem5.
A hemodiálise, um tratamento de apoio ao paciente renal consiste na remoção de
substâncias tóxicas e excesso de líquido por uma máquina. Um procedimento cuja duração
leva de duas a quatro horas, exigindo que o paciente se desloque para a unidade de tratamento
numa frequência, na maioria das vezes, de três vezes por semana. A dificuldade de adaptação
é grande e pode ser verificada logo no início do tratamento6.
_____________________
1
Acadêmico de Medicina da Unisul. Bolsista do PIBIC. E-mail: [email protected]
Acadêmicas de Medicina da Unisul.
3
Graduada em odontologia pela UFRGS. Mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Professora do curso de Medicina. E-mail: [email protected]
4
Formada em psicologia pela UNISUL. Doutorado em Psicologia pela Universidade de El Salvador – Argentina.
Professora do curso de Medicina e Coordenadora do Núcleo de Trabalhos de Conclusão do Curso de Medicina.
E-mail: [email protected]
2
É uma situação onde a ansiedade e os sintomas depressivos se fazem presentes durante
o processo e mesmo durante todo o tratamento7. Toda reação do enfermo renal frente ao
processo terapêutico de diálise é uma forma de resposta adaptativa frente aos sentimentos de
insegurança e perdas, sendo a depressão a desordem psiquiátrica mais comum entre aqueles
em estágio final da doença renal, tratados com hemodiálise8.
Sintomas psicológicos são comuns em pessoas com doença clínica. Esses sintomas
podem ser uma complicação da doença ou de seu tratamento ou ainda uma adaptação normal
a uma doença que ameace a vida, mas, frequentemente, são subestimados8. Algumas
evidências, embora com controvérsias, sugere que existem fatores emocionais e existenciais
envolvidos tanto no processo da produção da doença quanto no sucesso do tratamento9.
Indivíduos com saúde mental prejudicada apresentam exacerbação de sintomas físicos,
prejuízo funcional, menor adesão aos tratamentos propostos, diminuição dos comportamentos
de autocuidado e piora da qualidade de vida e ainda pior prognóstico, com maiores
morbidades e mortalidade10.
OBJETIVOS
O objetivo do presente estudo foi avaliar a associação da esperança com a depressão
em pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise em uma cidade do Sul do Brasil.
MÉTODOS
Participaram do estudo 70 pacientes que no momento da pesquisa estavam em
tratamento de hemodiálise na cidade de Tubarão, no estado de Santa Catarina-Brasil, no
período de julho e agosto de 2015.
Para serem incluídos no projeto, os pacientes deveriam estar em tratamento de
hemodiálise na clínica onde foi realizado o estudo, serem maiores de 18 anos, não se
encontrarem na primeira sessão do tratamento e possuírem condições mentais e físicas
satisfatórias para responderem as perguntas. Todos os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram utilizados três questionários: Um desenvolvido pelos pesquisadores com
informações socioeconômicas, que constituíram as variáveis do estudo. Os outros dois foram
o Inventário de Beck para Depressão (IBD) e a Escala de Esperança de Herth (EEH), ambos
devidamente validados para a língua portuguesa11,12.
Para as análises estatísticas e digitação dos dados utilizou-se o programa Epi-info.
Nível de significância utilizado foi de 95%.
O projeto foi devidamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
do Sul de Santa Catarina e encontra-se registrado sob o protocolo nº 1.148.485/2015.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O IBD consiste de 21 itens que variam de 0 a 3 que pode totalizar um escore de 0 a 63.
Os itens referem-se à tristeza, pessimismo, sensação de fracasso, culpa e punição, falta de
satisfação, autodepreciação, autoacusações, ideias suicidas, crises de choro, irritabilidade,
retração social, indecisão, distorção da imagem corporal, inibição para o trabalho, distúrbio do
sono, fadiga, perda de apetite e de peso, preocupação somática e diminuição da libido. Essa
análise do IBD considera os escores de 0-9 como ausência de depressão; de 10-18, depressão
leve; de 19-29, depressão moderada; e de 30-63, depressão grave11.
Ao todo, foi atingido um N de 70 pacientes, sendo 61,4% pertencentes ao sexo
masculino. 58,6 % da totalidade da amostra se declararam caucasianos, com uma idade média
de 59,08 anos (DP±15,47). 78,6% se declararam católicos na ocasião. Foi observada uma
média de 6,95 anos de estudos (DP± 5,27) com uma renda média de R$ 2860,71
(DP±2435,94). O tempo médio de tratamento geral foi de 35,3 meses (DP±41,18), onde
97,1% possuíam um acesso por meio de fístula arteriovenosa. 65,7% estão aposentados.
37,1% dos pacientes possuem diagnóstico de diabetes mellitus e 84,3% da amostra possuem
hipertensão arterial sistêmica.
Com a aplicação do IBD, obteve-se que 47,1% da amostra total possuem algum nível
de depressão. Quando estratificados os níveis de depressão: 52,9% não mostraram indícios de
qualquer distúrbio, bem como 31,4% demonstraram um nível leve, 11,4% um nível moderado
e 4,3% um nível alto de depressão. Obteve-se que o nível médio do score de depressão foi de
11,34 (DP± 7,69).
Dos 21 quesitos avaliados pelo IBD, os cinco que mais apresentaram significância na
vida dos enfermos foram: 48,6% dos pesquisados apresentaram algum nível de distúrbio no
sono, 62,9% informaram ter alguma dificuldade para o trabalho em geral, 64,3%
apresentaram fadiga em algum grau, 67,1% declararam ter perdido peso e 77,1% relataram
alterações na libido.
A EEH possui 12 itens, escritos de forma afirmativa na qual a graduação dos itens
ocorre por escala tipo Likert de 4 pontos, variando de concordo completamente a discordo
completamente onde 1 indica discordo completamente e 4 indica concordo completamente.
Há dois itens, a afirmação de número 3 e a de número 6 que apresentam escores invertidos. O
escore total varia de 12 a 48 sendo que quanto maior o escore, mais alto o nível de esperança
de vida. É uma escala considerada breve (10 minutos para ser preenchida) e de fácil
compreensão.
Com a aplicação dessa escala obteve-se um score geral de 39,08 (DP±5,89), sendo que
dos doze itens avaliados, os três que mais tiveram representatividade para os pacientes foram,
em ordem crescente: “Eu tenho uma fé que me conforta” com 3,55 (DP±0,82); “Eu sinto que
minha vida tem valor e utilidade” com 3,57 (DP±0,77) e “Eu posso me lembrar de tempos
felizes e prazerosos” com 3,61 (DP±0,66).
Quando isoladas as variáveis e confrontadas diretamente com a esperança, os
resultados obtidos foram os seguintes: Sexo (p=0,43); cor (p=0,77); escolaridade (p=0,69);
Religião (p=0,98); pratica religiosa (p=0,13); trabalho (p=0,99); tipo de acesso venoso
(p=0,87); lista de transplante (p=0,90); desejo de realizar o transplante (p=0,74); causas
associadas (p=0,69); depressão (p=00007*). Desta forma mostrou-se que a esperança se
relaciona de forma significativa com a depressão dos pacientes.
Realizando uma análise mais apurada através de regressão linear obteve-se que dentre
todas as variáveis incluídas no modelo, mostrou-se significância com a esperança a relação de
quem nunca trabalhou para aqueles que continuam ativos (p=0,04*, coeficiente: -8,9 , Std
Error : 4,33), ou seja, quem continua trabalhando tem maio esperança. Mostrou significância
referente à autodeclaração de cor de negros para brancos (p=0,03*, coeficiente: 4,56 , Std
Error : 2,05), negros tem maior esperança que brancos. Referente ao sexo (p=0,001*,
coeficiente: 4,81, Std Error : 1,43), mulheres acabaram demonstrando maior esperança que os
homens. Quando confrontada a esperança com a depressão pela regressão linear (p<0,001*,
coeficiente: -0,58, Std Error : 0,09).
Os resultados encontrados acompanham a literatura já existente sobre o tema.
CONCLUSÕES
O nível de esperança geral encontrado foi relativamente alto nesta população se
comparado a outros estudos. A esperança se relacionou com sintomas depressivos de forma
significativa, linear e negativa. Observou-se que as mulheres possuem maior esperança se
comparadas aos homens. Autodeclarados negros quando comparados aos autodeclarados
brancos, possuem maior esperança. Pacientes em hemodiálise que continuam a trabalhar
quando comparados àqueles que nunca trabalharam também são mais esperançosos. As
relações citadas foram todas significativas estatisticamente. As demais variáveis não tiveram
significância.
REFERÊNCIAS
1 - Nifa S, Rudnicki T. Depressão em pacientes renais crônicos em tratamento de
hemodiálise. SBPH vol.13 no.1 Rio de Janeiro jun. 2010.
2 - Kimmel, P.L., Peterson, R.A., Wheis, K.L., Simmens, S.J., Alleyne, S., Cruz, I. & Veis,
J.H. (Multiple measurements of depression predict mortality in a longitudinal study of chronic
hemodialysis outpatients. Kidney International, 57(5), 2093-2098. 2000.
3 - Zimmermann, P.R., Carvalho, J.O. & Mari, J.J. Impacto da depressão e outros fatores
psicossociais no prognóstico de pacientes renais crônicos. Psiquiatria do Rio Grande do Sul,
26(3), 34-39. 2004.
4 - Rudnicki, T. Preditores de qualidade de vida em pacientes renais crônicos. Estudos de
Psicologia, 24(3), 343-351. 2007.
5 - Almeida, A.M., & Meleiro, A.M.A.S. Revisão: Depressão e insuficiência renal crônica:
uma revisão. Jornal Brasileiro de Nefrologia, 22 (1), 192-200. 2000.
6 - Martins, M. R. I. & Cesarino, C. B. Qualidade de vida de pessoas com doença renal
crônica em tratamento hemodialitico. Latino-Americana de Enfermagem, 13(5), 670-676.
2005.
7 - Lacerda, D.O., Oliveira, P.M., Militão, D.B., Carneiro, H.Q., Toledo, G.O.P.P., Paula,
M.M.M. & Prado, M.R.M.C. Problemas psicossociais e a depressão em pacientes submetidos
à hemodiálise. Científica da FAMINAS, 3(1), 258. 2007.
8 - Janssen, D.J.A., Spruit, M.A. & Wouters, E.F. Daily sinptom on burden in end-stage organ
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9 – Boff RA, Wisintainer F, Amorim G, eds. Manual de diagnóstico e terapêutica em
mastologia. Caxias do Sul: Mesa Redonda. 275-90. 2008.
10 – Montazeri A. Health-related quality of life in breast cancer patients: a bibliographic
review of the literature from 1974 to 2007. J Exper Clin Cancer Res. 27(32):1-31. 2008.
11 – Gorenstein C, Andrade L. Inventario de Depressão de Beck: propriedades psicometricas
da versao em portugues. Psiq Clin. 1998;25:245-50.
12 – Sartore AC, Grossi SAA. Escala de Esperança de Herth - Instrumento adaptado e
validado para a língua portuguesa. Esc Enferm USP, 42(2):227-32. 2008.
FOMENTO
O trabalho teve a concessão de bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
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