Data reforça importância da doação de órgãos Prossegue até domingo a Semana da Doação de Órgãos e Tecidos. Ministério da Saúde quer destacar papel dos profissionais nesse processo Doar órgãos e tecidos é um ato de solidariedade capaz de salvar muitas vidas. Para enfatizar junto aos profissionais de saúde e toda a sociedade o valor dessa atitude, acontece até domingo (01 de outubro) a Semana de Doação de Órgãos e Tecidos. Amanhã, quarta-feira (27), é o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos. Ontem, em Brasília, o Ministério da Saúde abriu a semana com a entrega do prêmio “Destaque da Promoção da Doação de Órgãos” a uma pessoa e uma empresa que se destacaram com ações em benefício da doação de órgãos. O ministro da Saúde interino, Jarbas Barbosa, deu o troféu para a enfermeira Neide da Silva, da Comissão Intra-Hospitalar do Hospital Santa Isabel, em Blumenau (SC), e para a companhia TAM Linhas Aéreas. Neide foi agraciada pelo trabalho de sua equipe, que conseguiu captar o maior número de doadores em Santa Catarina, e a TAM pelo transporte gratuito de órgãos e tecidos e também de profissionais de saúde envolvidos com os transplantes. A solenidade de abertura contou com a participação da coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns. Ela – que em 2005 recebeu o prêmio – emocionou os presentes ao falar de sua experiência pessoal. Em 2003, Sílvia, filha de Zilda, morreu em conseqüência de um acidente automobilístico. Após seis dias em coma, Sílvia teve o diagnóstico de morte cerebral. “Quando o médico veio me falar isso, imediatamente lembrei dela sorrindo, com naturalidade, e do desejo da minha filha de doar seus órgãos”, explicou. “Ela era uma moça bonita e alegre e considerava um absurdo as pessoas não doarem seus órgãos, o que poderia salvar outras vidas”, recordou a coordenadora da Pastoral da Criança. Zilda revelou que, tempos depois da doação, conheceu um padre que voltou a enxergar porque recebeu as córneas da filha e foi visitada por um jornalista que sofria de hepatite crônica, mas sobreviveu graças ao fígado doado por Sílvia. “Queria pedir a todas as pessoas que façam a doação. Salva a vida de quem recebe e nos faz sentir um grande bem”, afirmou. A enfermeira Neide da Silva agradeceu a todos os profissionais com quem trabalha. Ela destacou o papel delicado de quem trabalha com a captação de órgãos – entre a dor da perda familiar e a possibilidade de salvar outro ser humano. “Quando vou abordar a família de um possível doador, sei que não vou amenizar o sofrimento. Apesar disso, tento mostrar um outro lado; que, desse sofrimento, pode surgir a esperança, ajudando alguém que precise bastante de um órgão para viver”, diz a enfermeira. Mensagem – Segundo o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), Roberto Schlindwein, além de mobilizar toda a sociedade, a Semana da Doação de Órgãos enfoca o papel do profissional de saúde no processo de doação e captação de órgãos para transplantes. Uma mensagem do Ministério da Saúde, publicada em revistas médicas nesta semana, chama a atenção dos profissionais para identificar possíveis doadores, conversar com os familiares dessas pessoas e informar as Centrais de Notificação, Captação e Distribuição, braços do SNT nos estados. “Queremos salientar que sem doações não existem transplantes. O prêmio que entregamos serve para homenagear pessoas que, por suas atitudes, de alguma forma, contribuem para que haja doações de órgãos”, afirma Roberto Schilindwein. As doações de órgãos vêm aumentando cada vez mais no país. Os transplantes de órgãos e tecidos existem tanto no SUS quanto no sistema privado de saúde. Em 2006, de janeiro a julho, foram realizados na rede pública e privada de saúde 7.777 transplantes. Schlindwein atribui o crescimento às mobilizações do Ministério em parceria com a sociedade e à enorme solidariedade do povo brasileiro. “A população é bastante favorável, porque o brasileiro se sente bem ajudando o próximo”, diz o coordenador. A doação – Quem quiser doar um órgão ou tecido deve manifestar sua vontade aos amigos e familiares Mesmo assim, a família do potencial doador precisa concordar com a decisão e deve autorizar a retirada dos órgãos e tecidos de seu parente. Mesmo com a realização de transplantes na rede pública e privada a fila é única para todos os pacientes. O SUS custeia todas as despesas do transplante, inclusive os medicamentos imunossupressores, utilizados após a cirurgia para combater uma possível rejeição ao órgão ou tecido recebido. Cerca de 68,2 mil pessoas aguardam na fila por um transplante no Brasil. Há três critérios para beneficiar quem espera. Uma das questões analisadas é a ordem de chegada na fila. Deve ser considerada também, no caso de transplantes de alguns órgãos, a compatibilidade do tipo sangüíneo, genética e anatômica do doador com o receptor. Por exemplo, pelo critério da anatomia, órgãos como o coração e o pulmão devem ser destinados para uma pessoa com altura semelhante à do doador. “Se o coração for muito grande, ele pode não caber no corpo de uma pessoa menor que o doador”, exemplifica Roberto Schilindwein. Fígado – No caso de transplantes de fígado, há um critério exclusivo: a gravidade da doença do paciente que precisa de um novo órgão, por causa de sua chance de sobrevivência. “Recentemente, modificamos os critérios para o transplante de fígado”, lembra o coordenador do SNT. A nova regra, chamada de Método Meld, segue um modelo matemático baseado em três exames laboratoriais e atribui pontos para cada paciente. Os números vão de 6 a 40. Quanto maior o valor, maior a gravidade e menor o tempo de vida previsto para o doente. Consideram-se casos graves aqueles com pontuação acima de 16. Os transplantes mais realizados no Brasil são os de córneas e de rins, pela facilidade em consegui-los. Somente em 2005, foram feitos quase dez mil transplantes de córneas no país. Neste mesmo ano, o Ministério da Saúde destinou recursos da ordem de R$ 500 milhões para todos os tipos de transplante. Da notificação à chegada do órgão ao paciente, estão à frente do processo as Centrais de Notificação, Captação e Distribuição, ligadas às Secretarias Estaduais de Saúde. As Centrais funcionam em quase todos os estados brasileiros, menos em Roraima e no Tocantins. Até o fim do ano, o SNT espera que estes dois estados já estejam com suas centrais em operação. Comissões – A lei brasileira prevê, desde 1997, que o Ministério da Saúde promova mobilizações para estimular a doação de órgãos e tecidos. Além das ações pontuais, o Sistema Nacional de Transplantes tem investido em cursos para os profissionais que atuam nas Comissões Intra-Hospitalares para doação no Brasil inteiro, tanto para equipes do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto para quem trabalha na rede privada. Mais de duas mil pessoas receberam treinamento e mais cinco cursos devem acontecer até o final de 2006. Essas capacitações têm como finalidade aprimorar o trabalho dos profissionais da comissão na identificação de prováveis órgãos para doação. As Comissões Intra-Hospitalares compõem junto com a Coordenação Geral e as Coordenações Estaduais as três instâncias do SNT. “Essas comissões são o braço mais importante do Sistema Nacional de Transplantes, por serem nelas onde identificamos os doadores”, afirma Roberto Schlindwein. Ele explica que, desde 2003, tem sido uma preocupação do SNT manter reuniões com os coordenadores do sistema, para que o trabalho funcione de forma mais harmônica, com procedimentos padronizados, e disseminando experiências positivas por essa imensa rede. E ressalta, ainda, o papel da mídia brasileira para divulgar a importância da doação à sociedade. “Queremos que as pessoas saibam não apenas da importância de doar órgãos, mas, também, que há um controle rigoroso sobre o Sistema Nacional de Transplantes, que se respeita a lista de espera e que nossos profissionais têm um nível muito bom”, diz Schlindwein. “O Brasil possui o maior sistema de transplantes público do mundo, graças ao SUS e à solidariedade do nosso povo”, conclui. Into quer aumentar número de doações de ossos A doação de tecidos ósseos é fundamental para o tratamento de pacientes com vários tipos de problemas ortopédicos e um doador pode beneficiar até 30 pessoas. No entanto, ainda há uma grande carência de recebimento desses tecidos. No ano passado, o Instituto Nacional de Tráumato-Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro, recebeu apenas três doações. Seriam necessárias entre 30 e 40 doações por ano para atender à enorme necessidade do estado do Rio e mil e quinhentas pessoas aguardam por um transplante no Into. Depois de promover uma campanha no início de 2006 para o grande público, o Into vem trabalhando junto aos profissionais de saúde para que eles notifiquem doadores. “Fora os ortopedistas, a maior parte dos profissionais de saúde, como enfermeiros e cirurgiões, não sabem que os ossos podem ser doados”, diz o chefe do Banco de Ossos do Into, Marco Bernardo Cury. “Este ano, tivemos quatro doações para o Into. O aumento foi pequeno, mas ocorreu; e queremos que as doações cresçam muito mais”, afirma. Na semana passada, o Into recebeu membros das comissões intra-hospitalares do Brasil inteiro para uma capacitação sobre a notificação de doadores de tecidos ósseos. A doação de tecidos ósseos pode beneficiar pacientes com diversos problemas ortopédicos, como vítimas do câncer ósseo, que geralmente precisam amputar o membro com problema. “Com a doação e se o tumor é descoberto no estágio inicial, conseguimos evitar a maior parte das amputações reconstituindo a parte do osso que precisa ser retirada”, explica Cury. Se a doação de outros órgãos e tecidos condiciona-se à morte cerebral do paciente, para doar ossos exige-se a parada do funcionamento do coração. Outros beneficiados pela doação são os pacientes com próteses no quadril ou no joelho. Nestes casos, a prótese dura de 10 a 15 anos e precisa ser trocada após este prazo. O uso da prótese termina por provocar desgaste no tecido ósseo do paciente, o que exige um transplante. Sem a doação, provavelmente ele não conseguirá andar novamente. “Esses pacientes sentem muita dor e, por conta disso, vão parar em uma cadeira de rodas ou na cama, por que não suportam andar”, explica o chefe do Banco de Ossos do Into. Os transplantes de tecidos ósseos servem ainda para as vítimas de acidentes como os automobilísticos e para pessoas feridas por armas de fogo potentes, como fuzis. Nessas circunstâncias, ocorre enorme destruição da massa óssea. Crianças com deformidades na coluna também necessitam de transplantes de tecido ósseo. O Banco de Ossos do Into oferece o transplante completamente gratuito e atende principalmente os pacientes do Rio de Janeiro. O Instituto também fornece tecidos ósseos para hospitais do Rio de Janeiro e de outros estados que estejam credenciados para realizar esse tipo de cirurgia pelo Sistema Nacional de Transplantes. “O maior empecilho à doação é a idéia de que o corpo não terá sua aparência preservada nas cerimônias de funeral”, explica Sérgio Côrtes, diretor-geral do Into. Entretanto, a legislação regulamentadora da atividade de transplante no Brasil determina a recomposição do cadáver após a retirada dos ossos e tecidos. As regiões com ausência de pele são cobertas e as cavidades serão preenchidas com material sintético. Em nenhuma hipótese, são retirados ossos da face do doador.