ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICORDIA DE VITÓRIA - EMESCAM ANDREW VIEIRA DE LOBATO GABRIEL SALMEN GONÇALVES LOBO ITALO PAGOTTO TONINI RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS BILIARES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA VITÓRIA 2016 ANDREW VIEIRA DE LOBATO GABRIEL SALMEN GONÇALVES LOBO ITALO PAGOTTO TONINI RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS BILIARES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM, como requisito parcial para obtenção do grau de Médico. Orientador: Professor Dr. Mitre Kalil VITÓRIA - ES 2016 ANDREW VIEIRA DE LOBATO GABRIEL SALMEN GONÇALVES LOBO ITALO PAGOTTO TONINI RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS BILIARES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM, como requisito parcial para obtenção do grau de Médico. Aprovado em 14 de Outubro de 2016 RESUMO O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura disponível sobre os procedimentos de radiologia intervencionista na abordagem das vias biliares e fígado. Foi efetuada uma busca nas bases de dados eletrônicas: MEDLINE, NCBI, NIH e SciELO, entre setembro de 2014 e abril de 2016, foram selecionados os artigos de acordo com a sua relevância. Os procedimentos de TIPS, colecistostomia percutânea, biópsia hepática, drenagem de abscesso hepático e microquimioembolização percutânea figuraram entre os principais, tendo quase todos apresentado melhor custoeficácia, menor tempo de internação e menos complicações tardias quando comparados às abordagens tradicionais. Descritores: Radiologia Intervencionista, Biópsia guiada por imagem, TIPS, Fígado, Vias Biliares. ABSTRACT The purpose of this study was accomplish a review on the available literature about interventional radiology procedures on biliary tree and liver. Was performed a search on the electronic databases MEDLINE, NCBI, NIH and SciELO, between September 2014 and April 2016. The pappers were selected according to their relevance. The procedures that were included were TIPS, percutaneous cholecystostomy, liver biopsy, liver abscess drainage and hepatic chemoembolization by they showed better costeffectiveness, shorter hospital stays and fewer late complications if compared to traditional approaches. Keywords: Interventional Radiography, Image-guided Biopsy, TIPS, Liver, Biliary Tract. SUMÁRIO 1 Introdução ........................................................................................ 6 1.1 Objetivos ........................................................................................... 7 1.1.1 Objetivo geral ................................................................................... 7 1.2 Justificativa ...................................................................................... 7 2 Radiologia intervencionista em fígado e vias biliares ................. 8 2.1 Transjugular intrahepatic portosystemic shunt ………….....……. 8 2.1.1 Abordagem da síndrome de hipertensão portal ........................... 8 2.1.2 Técnica ............................................................................................ 10 2.1.3 Indicações do uso de TIPS ........................................................... 11 2.1.4 Contraindicações ao TIPS ............................................................. 11 2.1.5 Complicações do uso de TIPS ...................................................... 12 2.2 Colecistostomia percutânea ......................................................... 13 2.2.1 Abordando as colecistopatias cirúrgicas .................................... 14 2.2.2 Técnica ............................................................................................ 14 2.2.3 Indicações para uso da PC ........................................................... 15 2.2.4 Contraindicações ........................................................................... 15 2.2.5 Complicações ................................................................................. 15 2.3 Drenagem percutânea de abscesso hepático ............................. 16 2.3.1 Abordagem do abscesso hepático .............................................. 16 2.3.2 Técnica ............................................................................................ 17 2.3.3 Indicações ..................................................................................... 17 2.3.4 Contraindicações .......................................................................... 18 2.3.5 Complicações .................................................................................18 2.4 Biópsia hepática ........................................................................... 18 2.4.1 Indicações ..................................................................................... 19 2.4.2 Técnica ........................................................................................... 20 2.4.3 Contraindicações ...........................................................................20 2.4.4 Complicações ................................................................................ 21 2.5 Abordagens radiológicas percutâneas de tumores hepáticos 22 2.5.1 Indicações ..................................................................................... 23 2.5.2 Técnicas ......................................................................................... 24 2.5.2.1 Terapias ablativas percutâneas ................................................... 24 2.5.2.1.1 Ablação química .......................................................................... 24 2.5.2.1.2 Ablação térmica ........................................................................... 25 2.5.2.1.3 Eletroporação ............................................................................... 26 2.5.2.2 Microembolização arterial e venosa .......................................... 27 2.5.2.2.1 Terapias intra-arteriais ................................................................ 27 2.5.2.2.2 Embolização de Veia Porta ......................................................... 28 2.5.3 Contraindicações ......................................................................... 29 2.5.4 Complicações ............................................................................... 30 3 Discussão ..................................................................................... 33 4 Conclusão ..................................................................................... 36 Referências ................................................................................... 37 1. Introdução O início do estudo da radiologia na medicina remonta à descoberta dos raios X, em 8 de novembro 1895, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen,1 o que lhe rendeu o primeiro prêmio Nobel em Física em 1901. Em 1896, por sua vez, o astrônomo Edwin Brant Frost conseguiu produzir, em Deartmouth, a primeira radiografia de fratura já realizada.2 No ano de 1929, com auxílio de radiografias, o residente de cirurgia Werner Forssman realizou, em si próprio, o primeiro cateterismo cardíaco o que lhe rendeu prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1956.3 Após isso, no início de 1960 a angiografia seletiva popularizou-se, sendo usada para diagnosticar as condições patológicas em praticamente todos os órgãos do corpo. Logo depois em 1964, Dotter e Judkins, descreveram a primeira angioplastia transluminal percutânea através da utilização de cateteres de dilatação dando os primeiros passos da radiologia intervencionista. 4,5 Nesse ínterim, gastroenterologistas e cirurgiões acolheram muito bem a angiografia pré-operatória, principalmente em situações de sangramento gastrointestinal. Entretanto, para utilizá-la na emergência médica, foi necessário que os angiologistas estivessem de plantão na emergência. Isto alterou o paradigma da especialidade de radiologia. Assim, como era de se esperar, o cateterismo vascular evoluiu rapidamente para tratamentos endovasculares. E, logicamente, a união destes dois fatores foi na década de 1960 o que marcou o início da radiologia intervencionista.6 Portanto, ao longo deste último meio século, a radiologia intervencionista desenvolveu-se como uma subespecialidade médica, a qual se dedicou a uma ampla variedade de doenças e uma extensa gama de procedimentos inclusive completou e até substituiu abordagens cirúrgicas tradicionais. De forma geral, as técnicas intervencionistas guiadas por imagem diminuíram significantemente a morbimortalidade relacionada a outras terapias. Entretanto, dada a natureza invasiva dos procedimentos, ainda existem complicações relevantes relacionadas a habilidade do profissional e o equipamento disponível. Assim, com a crescente quantidade de pacientes tratados desta forma, se faz necessário aos médicos o conhecimento da abordagem e seus desfechos.7 Este trabalho se propõe a revisar a literatura disponível sobre tais técnicas aplicadas ao fígado e vias biliares. 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral O objetivo deste estudo é realizar uma revisão descritiva da literatura acerca dos procedimentos de radiologia intervencionista na abordagem das vias biliares e do fígado. 1.1.2 Métodos Realizada revisão narrativa da literatura nas bases de dados MEDLINE, Cochrane e SciELO. Os artigos foram filtrados por idioma e só foram considerados trabalhos em português, inglês e espanhol. Os artigos foram selecionados à critério dos revisores de acordo com sua relevância sobre o tema. Foram incluídos artigos clássicos. 1.2 Justificativa Existem muitos artigos sobre métodos intervencionistas no manejo de “CHC”, mas há uma falta de revisão sobre o tema (em português) que traga clareza na comparação dos diferentes métodos. Este artigo se propõe a revisar na literatura as abordagens radiológicas intervencionistas em fígado e vias biliares. Isso se faz importante porque, primeiramente, é um tema muito pouco explorado na língua portuguesa assim como com disponibilidade limitada em território nacional. Além disso, há poucos trabalhos que se disponham a organizar de forma sistemática as abordagens radiológicas intervencionistas de fígado e vias biliares em conjunto. De certo, há um consenso entre os autores que a maioria das técnicas de radiologia intervencionista tem alto custo-efetivo6,7, ou seja, pacientes abordados por elas, geralmente precisam de menos tempo de internação e desenvolvem menos complicações. Este trabalho também busca avaliar se essa é uma premissa verdadeira quando lidamos com os distúrbios hepatobiliares. 2 Radiologia intervencionista em fígado e vias biliares Desenvolvido no final de 1960 e popularizado em 1980 para o tratamento de complicações de hipertensão portal, a “Anastomose Portossistêmica Intrahepática Transjugular” (Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt - TIPS) foi a técnica radiológica intervencionista pioneira no tratamento de doenças hepato-biliares.6 Desde então, graças aos avanços dos exames de imagem, muitos outros tratamentos foram criados para abordar fígado e vias biliares, dentre eles os mais relevantes são: colecistostomia percutânea, biópsia hepática, microquimioembolização e drenagem percutânea de abscesso hepático. 2.1 Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt (TIPS) Concebida para reduzir a pressão intraluminal do sistema porta-hepático, o TIPS cria uma comunicação entre a veia porta e a cava inferior fazendo um desvio da circulação porta-hepático. Embora tenha sido datado pela primeira vez durante a década de 1960 como resultado acidental de uma colangiografia transjugular,8 a maioria dos autores defendem Rosch como seu inventor pelo trabalho experimental em animais publicado em 19699 e em 1971.10 Somente em 1982, entretanto, foi realizado um ensaio clínico aplicando a técnica a humanos com cirrose avançada, hipertensão portal e hemorragia por varizes esofágicas com elevado risco de vida, obtendo resultados promissores.11 No entanto, este ainda resultava em má permeabilidade da anastomose criada. E, para melhorar isso, um stent de metal expansível foi colocado através do shunt para manter a sua permeabilidade.12 Desde então, passou a ser uma opção terapêutica a ser considerado na Síndrome de Hipertensão Portal e suas complicações.13 2.1.1 Abordagem da síndrome de hipertensão portal A hipertensão portal é uma síndrome hemodinamicamente definida por um aumento patológico do gradiente de pressão portal (diferença entre a pressão da veia porta e da veia cava inferior), e pela formação de circulação colateral portal-sistêmica que desvia parte do fluxo de sangue que passaria pelo fígado direto para a circulação sistêmica. Os valores normais do gradiente de pressão portal são de 1-5 mmHg, entre 5-9 mmHg ocorre hipertensão portal assintomática e apenas com valores superiores a 10mmHg a doença se torna clinicamente relevante.14 Assim, em sua fisiopatologia, a doença é caracteriza pela resistência ao fluxo sanguíneo portal, o qual pode ser de causa pré-hepática, intra-hepática ou pós-hepática. Na pré-hepática, a obstrução ocorre antes que o sangue alcance o fígado e na pós-hepática, após o sangue tê-lo feito. Desse modo, as etiologias mais frequentes para essas duas situações são a trombose de veia porta e a síndrome de Budd-Chiari respectivamente. As síndromes de resistências intra-hepáticas, por sua vez, são ainda subdivididas em: présinusoidal, sinusoidal e pós-sinusoidal. Normalmente são patologias mais complexas e não podem ser classificadas de acordo com um único local de obstrução. Em geral, qualquer hepatopatia crônica que altere a microarquitetura hepática pode ser causa de hipertensão portal. Vale ressaltar também, que a cirrose hepática corresponde sozinha por mais de 90% dos casos de hipertensão portal nos países ocidentais.15 Ademais, em sua história natural o maior risco da hipertensão portal, num primeiro momento, é o sangramento de varizes gastresofágicas seguida pela combinação da degradação hepática e do desvio porto-sistêmico sendo a causa de uma vasodilatação esplâncnica e arterial com resistência vascular reduzida. Com o tempo, esse estado hiperdinâmico leva ao aumento do débito e frequência cardíaca além da diminuição do volume sanguíneo central (hipotensão), o qual causa, posteriormente, junto com a hipertensão portal, a formação e perpetuação de ascite. Igualmente, a síndrome hiperdinâmica afeta uma variedade de funções de órgãos tais como os pulmões, com o desenvolvimento da síndrome hepatopulmonar (SHP); o coração, com a disfunção cardiovascular (incluindo aqui a cardiomiopatia cirrótica); e os rins, com o desenrolar da síndrome hepatorrenal (HRS). Por último, mas não menos importante, neste estado crônico é comum a translocação bacteriana, o que complica as infecções em relação ao sangramento de varizes e ao líquido ascítico - peritonite bacteriana espontânea (PBE).16 2.1.2 Técnica O radiologista intervencionista é o especialista responsável pela colocação do TIPS, que é um shunt o qual liga a veia porta às veias hepáticas dentro do parênquima hepático (Figura 1). Figura 1 (A) Angiografia de veia porta após cateterização transjugular. O cateter é visto passando através do parênquima hepático entre as veias hepática (seta escura) e porta (seta clara). Observa-se bom enchimento dos ramos intrahepáticos da veia porta. (B) Angiografia após a colocação do TIPS. O contraste pode ser visto na veia porta (seta escura) que flui através da derivação (seta encurvada) e pela veia hepática (seta clara). Não se visualiza nenhum dos ramos intrahepáticos da veia porta, indicando que o TIPS é um shunt total. Fonte: Boyer TD 2003. O cateter é inserido através da veia jugular passa pelo átrio direito e segue pela veia cava inferior até chegar dentro das veias hepáticas. A agulha é então inserida no parênquima hepático, e se injeta o contraste ou CO2, enquanto a agulha é lentamente retirada. Assim que um ramo da veia porta é identificado, um fio guia é inserido na veia seguido por um cateter. As pressões são obtidas, e a angiografia é realizada (Figura 1A). Logo em seguida uma comunicação é criada dentro do parênquima hepático usando um balão e finalmente o stent é implantado (Figura 1B).17 Quando há sucesso na criação do shunt, este reduz o gradiente de pressão portosistêmico em até 90% dos casos.13 2.1.3 Indicações do uso de TIPS As principais indicações para TIPS estão correlacionadas com as complicações da hipertensão portal, podendo-se destacar a prevenção secundária de sangramento de varizes gastroesofágicas, tratamento de hemorragia varicosa refratária aguda e ascites não tratáveis convencionalmente. Outras indicações promissoras para o procedimento incluem o tratamento de hidrotórax hepático, síndrome de Budd-Chiari, e síndromes hepato-renal e hepatopulmonar. Mais recentemente tem se usado o TIPS como primeira linha de tratamento precoce em hemorragia aguda e trombose da veia porta.18 2.1.4 Contraindicações ao TIPS As contraindicações absolutas para TIPS incluem insuficiência cardíaca direita, hipertensão arterial pulmonar, sepse grave, obstrução biliar importante. O benefício em pacientes com insuficiência hepática grave (ChildPugh classe C) ainda não está claro. Já as contraindicações relativas incluem encefalopatia hepática, doença policística, carcinoma hepatocelular, coagulopatia grave, sepse ativa, trombose crônica de veia porta. A trombose aguda de veia porta não é uma contraindicação para TIPS, mas apresenta uma necessidade de implante de stent para evitar a oclusão do shunt.19 2.1.5 Complicações do uso de TIPS As complicações relacionadas ao TIPS podem ser classificadas como técnicas, trombo-embólicas, induzidas diretamente pelo shunt, e sistêmicas (Tabela 1). A ocorrência de complicações técnicas está essencialmente relacionada com a habilidade do profissional. Variações anatômicas podem ser fatores importantes que conduzem a resultados inesperados. Complicações locais, como estenose e oclusão podem ser reduzidas com o uso de stents revestidos.20 Tabela 1 Complicações do TIPS Tipos Complicações Incidência (%) Perfuração transcapsular Fístula Biliar, hemobilia Hemoperitoneo Arritmias Cardiacas Bloqueio total de ramo Fistula Rotura de outros órgãos (Vesicula Biliar, colon, rim) 33 <5 1–2 <1 <1 Raro Raro Estenose, Oclusão Trombose Extensa Embolia Pulmonar Coagulação intravascular disseminada 18–78 3–15 Raro Raro Insuficiência Cardíaca Edema Agudo de Pulmão Encefalopatia Hepática Falência Hepática Hiperbilirrubinemia grave Raro Raro 20–40 5 5 Complicações Técnicas Complicações tromboembólicas Complicações induzidas diretamente pelo shunt Complicações Sistêmicas Bacteremia, sepse 2–10 Febre não-infecciosa 1–5 Anemia Hemolítica 10–15 Insuficiência Renal transitória Raro induzida por contraste 20 Fonte: Gin-Ho Lo, 2014 . Tradução para o português pelos autores. 2.2 Colecistostomia percutânea (PC) A Colecistostomia Percutânea é um método minimamente invasivo de abordagem das colecistopatias cirúrgicas. Esta proveio da colecistostomia aberta, a qual foi realizada pela primeira vez por Bobbs em 1867. Só, então, em 1979, executou-se a primeira colecistostomia guiada por ultrassom, com a colocação de um cateter para tratar colangite num caso de icterícia obstrutiva. Em seguida, em 1982 e 1983, tentou-se o mesmo procedimento em doentes com colecistite aguda exibindo resultados razoáveis. Além disso, ainda no ano de 1982 o método foi padronizado e publicado por Shaver. Nesse interim, realizou-se, em 1874, a primeira colecistectomia (remoção cirúrgica da vesícula biliar). E, logo depois em 1878, a cirurgia foi descrita, quando os cirurgiões Sims, Kocher e Keen realizaram esse procedimento separadamente (sendo que apenas o paciente de Kocher sobreviveu). A técnica evoluiu e se mostrou a mais eficaz para as colecistopatias cirúrgicas tornando-se o padrão-ouro para o tratamento. Entretanto, na população idosa ou em estado crítico, as taxas de mortalidade perioperatória são elevadas. Assim, a (PC), ou seja, a drenagem da vesícula biliar inflamada sob anestesia local, é proposta e empregada no manejo desses pacientes, especialmente após falha terapêutica.21-23 2.2.1 Abordando as colecistopatias cirúrgicas As colecistopatias cirúrgicas podem ser definidas por toda colecistopatia a qual necessite de drenagem ou remoção da vesícula biliar. Dentre elas podemos citar a infecciosa (colangite) e a inflamatória por obstrução da vesícula (colecistites), sendo esta última a mais importante. Assim, a colecistite aguda (AC) é descrita como uma inflamação da vesícula biliar e, embora litíase biliar seja a etiologia mais comum (colecistite calculosa), a inflamação da vesícula biliar, é ainda possível na ausência de cálculos (colecistite acauculosa). Assim, por mais que possua mais de uma causa, o tratamento e a clínica - dor em quadrante superior direito, febre e calafrios são iguais em ambos os casos.24 Contudo, para se realizar o diagnóstico da AC não basta a clínica compatível mas é necessário também exames laboratoriais (função hepática, bilirrubina total e frações) e de imagem (ultrassonografia ou tomografia computadorizada). Isto foi protocolado pelo “Tokyo Guideline” (TG13) o qual, além de fornecer critérios de diagnóstico, permite a classificação das AC em três graus de severidade; colecistite leve (grau I), colecistite moderada (grau II), e colecistite grave ou com falência de múltiplos órgãos (grau III). Nos casos mais leves recomenda-se tratamento de suporte e atibioticoterapia com posterior abordagem cirúrgica da vesícula biliar. Já nos casos mais severos a abordagem cirúrgica é urgente.25 2.2.2 Técnica A Colecistostomia percutânea pode ser resumida como a abordagem da vesícula biliar por via trans-hepática ou transperitoneal com o objetivo da colocação de um cateter para drenagem do conteúdo biliar. A primeira via de abordagem é vantajosa para a estabilidade do cateter e possui menos chances de escape da bile. Já a segunda, para minimizar sangramentos, complicações infecciosas e hepáticas respectivamente. Quanto ao especialista, a técnica deve ser realizada por radiologistas intervencionistas e, preferencialmente, executada com anestesia local e sedação do paciente na beira do leito (com cobertura antibiótica adequada) ou centro cirúrgico. Por último, após a colocação do cateter, deve-se realizar dentro de alguns dias uma colangiografia para avaliar a permeabilidade do canal formado, a existência de cálculos e a posição do cateter. Se o paciente estiver assintomático e sem complicações visíveis na colangiografia pode-se retirar o cateter e programar a alta do paciente. Por fim, a abordagem transhepática aparenta ser a melhor e com menos complicações, exceto na presença de doença hepática grave ou coagulopatia. 26,27,28 2.2.3 Indicações do uso da PC A Colecistostomia percutânea pode ser utilizada no manejo de qualquer colecistopatia cirúrgica. Todavia ela não é o padrão-ouro, sendo reservada então para tratamento da colecistite aguda em pacientes cuja colecistectomia esteja contraindicada ou possua índices mais elevados de morbimortalidade. Aqui, se destacam os pacientes idosos ou graves das unidades de terapia intensiva. Estes, possuem índice de morbimortalidade de até 46% quando submetidos a colecistectomia.22,23,27,28 2.2.4 Contraindicações Dentre contraindicações absolutas só podemos citar a não visualização da vesícula biliar por imagem (o qual tornaria a técnica inviável),26 a irrelevância da abordagem no tratamento do paciente e o desejo do paciente de não realizar o procedimento. Quanto as contraindicações relativas, tem-se coagulopatia severa, instabilidade hemodinâmica, falta de acesso seguro a lesão, vesícula perfurada e tumor de vesícula biliar.28 2.2.5 Complicações As complicações relacionadas ao procedimento incluem lesão do ducto biliar, o vazamento de bile e peritonite, sangramento por lesão de veia porta ou do parênquima hepático, o deslocamento do cateter, lesão de cólon ascendente e transverso e reações vagais.27,28 2.3 Drenagem percutânea de abscesso hepático Até o início de 1980, a drenagem de abscessos hepáticos piogênicos (PLAs) era cirúrgica. Apenas com o desenvolvimento da ultrasonografia e da tomografia computadorizada como ferramentas no diagnóstico de patologia intra-abdominal houve a crescente utilização da drenagem guiada por imagem. Pode-se acrescentar que, historicamente, Ochsner e DeBakey, em seu artigo publicado em 1938,29 foram pioneiros a defender uma abordagem de menor incisão para a drenagem de abscesso hepático com o objetivo de evitar a contaminação da cavidade peritoneal. Todavia só em 1953 McFadzean e colaboradores reportaram com sucesso o tratamento de 14 pacientes com abscesso hepático através de uma aspiração percutânea por agulha e antibioticoterapia.30 Este estudo, porém, foi ignorado até o surgimento de melhores técnicas de imagem, proporcionando avanços significativos no diagnóstico e abordagem terapêutica. Atualmente, os pacientes são tratados com antibióticos, juntamente com a punção aspirativa (PNA) ou a drenagem por cateter percutâneo (PCD). Com a primeira demonstrando uma taxa elevada de sucesso entre 69 % a 90% e a segunda não muito diferente entre 58% e 88%.31 2.3.1 Abordagem do abscesso hepático O abcesso hepático é uma cavidade supurativa no fígado resultante da invasão e multiplicação de micro-organismos. Estes podem ser provenientes de uma lesão direta, oriundos de vasos sanguíneos ou ascenderem pela árvore biliar. É mais frequente em países tropicais, e entre suas etiologias mais comuns, estão as infecções por bactérias piogênicas (Escherichia coli e Klebsiella sp.) e, principalmente, amebíase (infecção por Entamoeba histolytica).31,32 Mais raramente, este pode ser de origem fúngica. Vale ressaltar também que o abscesso hepático é reconhecido desde os tempos de Hipócrates (400 a.C). Nesta época acreditava-se na correlação entre o prognóstico dos pacientes e o tipo de fluído no interior da cavidade supurada.31,33 A clínica caracteriza-se por dor constante no quadrante superior direito do abdômen referida ou não na região escapular e ombro direito, além de febre entre 38 ºC e 40 ºC. O abscesso hepático pode ainda ocorrer em qualquer sexo e idade, mas predomina em homens entre 20 e 40 anos. Aproximadamente 60% destes abscessos são solitários e localizam-se no lobo direito do fígado. Isto se deve não só ao fato de ser o maior lobo, mas também por drenar a maior parte do fluxo portal. Por fim, quando há múltiplos abscessos, a etiologia mais provável é piogênica ou mista.33 2.3.2 Técnica A PCD pode ser prontamente realizada até mesmo no momento do diagnóstico radiológico. Evita-se anestesia geral e o material aspirado pode ser enviado para análise nos serviços de microbiologia e patologia geral. A melhor rota de acesso é atravessando a menor quantidade possível de tecido hepático, além de evitar outras vísceras. Os cateteres são deixados no lugar e fixados a pele até a drenagem ser mínima e não purulenta, o que geralmente ocorre entre 5 a 7 dias. Cavidades residuais de abscessos são geridos por reposicionamento do mesmo cateter ou pela introdução de um novo.31,34 No caso da PNA, inicialmente se realiza a punção em todos os abscessos diagnosticados e guiados por imagem. Em seguida, observa-se a resposta clínica do paciente com USG seriados (a cada três dias), se necessário se repete o procedimento até que a cura seja alcançada. Em média são necessárias 2,2 aspirações para cada abscesso.31,34 2.3.3 Indicações Embora alguns ainda defendam a drenagem cirúrgica aberta como terapia primária, a maioria das autoridades preferem a abordagem percutânea no tratamento inicial do abscesso hepático piogênico. Já nos casos dos abscessos por amebíase (ALAs), o tratamento inicial é clínico. Entretanto, nos 15% dos casos que são refratários ao tratamento, e os 20% os quais evoluem com infecções bacterianas secundárias, a drenagem percutânea passa a ser indicada.32 2.3.4 Contraindicações Por se tratar de um método minimamente invasivo para uma doença grave a qual pode levar a morte. Não há na literatura nenhuma contraindicação absoluta para o não tratamento com a drenagem percutânea. Todavia, podese citar as ALAs responsivas a terapia medicamentosa como não sendo necessária a execução de drenagem. Além disso nos pacientes com múltiplos abscessos, a intervenção cirúrgica é sempre considerada, embora, ainda hoje há um consenso entre autores que a drenagem de abscesso percutâneo deva ser a abordagem inicial.31,35 2.3.5 Complicações Não há grandes complicações causadas pelo método, embora haja alguns relatos em literatura sobre potenciais complicações como obstrução, sangramento, sepse, e deslocamento do cateter no PCD. No caso da PNA não há complicações relatadas, porém há empecilho técnico devido a necessidade de se realizar USG seriados os quais são examinador dependente o que pode ser uma complicação para serviços que não disponham de fácil acesso a esses exames.31 2.4 Biópsia hepática A biópsia hepática é um procedimento invasivo que visa à obtenção de uma amostra de tecido para diagnóstico e avaliação prognóstica de doença hepática aguda ou crônica. A amostragem pode ser realizada durante uma cirurgia, por endoscopia ou por biópsia de agulha percutânea usando diferentes técnicas.36 Paul Ehrlich é creditado pela primeira biópsia hepática percutânea em 1883 na Alemanha.37 Posteriormente, Menghini relatou uma técnica de " biópsia do fígado com uma segunda agulha", em 1958, quando o processo se tornou amplamente empregado.38 A biópsia do fígado é, em geral, o teste mais específico para determinar a natureza e gravidade das hepatopatias. Esta pode ser útil, também, na monitorização da eficácia de vários tratamentos. Atualmente existem vários métodos disponíveis para obtenção de tecido hepático: biópsia percutânea, biópsia transjugular, biópsia laparoscópica, e aspirativa por agulha fina guiada por ultrassonografia ou tomografia computadorizada (TC).38 Focaremos esse trabalho na biópsia percutânea, transjugular e aspirativa por agulha fina por se utilizarem de métodos de imagem e serem executados diversas vezes por radiologistas. 2.4.1 Indicações Para as doenças focais, a biópsia hepática parece só perder em eficácia para a ressonância magnética quanto ao diagnóstico de H-HCA (subtipo de adenoma hepático relacionado a mutações HNF1A).39 Já em relação às doenças hepáticas parenquimatosas, a lista de indicações para biópsia hepática diagnóstica é extensa, listadas na Tabela 2, além de ser usada como uma ferramenta para oferecer informações prognósticas em uma série de condições, incluindo cirrose, hepatite, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e cirrose biliar primária.40 Fonte: Vijayaraghavan GR, David S, Bermudez-Allende M, Sarwat 40 H; Tradução para o português pelos autores. 2.4.2 Técnica Para a biópsia transjugular, o procedimento envolve o puncionamento percutâneo da veia jugular interna direita, seguida pela introdução (com a utilização de fluoroscopia) de um cateter na veia hepática direita, e uma agulha de biópsia do fígado realizada através do cateter. A duração do processo está compreendida entre 30 e 60 minutos. É necessária monitorização eletrocardiográfica para detectar arritmias induzidas pela passagem do cateter através do coração. As amostras são recuperadas a partir de uma agulha a qual passa através do cateter para o fígado enquanto a sucção é mantida. As amostras obtidas são geralmente pequenas e fragmentadas, uma desvantagem da técnica cuja melhora é aguardada com 38 o avanço tecnológico. Pensando então na biópsia hepática percutânea, esta pode ser realizada a cego ou com ultrassonografia (guiada ou assistida). Existem dois tipos de agulhas de biópsia utilizadas: agulhas de corte (Tru-Cut, Vim-Silverman) e agulhas de sucção (Menghini, Klatzkin, Jamshidi). O índice de complicações graves após o procedimento a cegas é baixo, e varia entre 0,09% a 2,3%, porém a biópsia hepática percutânea guiada por ultrassom é ainda mais segura.40 A punção aspirativa por agulha fina do fígado é realizada sob orientação de USG ou CT. A precisão do diagnóstico varia de 80% a 95% e é substancialmente afetada pela perícia do profissional responsável pela análise do material.38 2.4.3 Contraindicações As contraindicações para a biópsia hepática percutânea são listadas na Tabela 3: Tabela 3: Contraindicações para Biópsia Hepática Percutânea Contraindicações absolutas: • Paciente não colaborativo • História de Sangramento não explicada • Tendência a sangramento* • Transfusão sanguínea não disponível • Suspeita de hemangioma ou outro tumor vascular • Inabilidade para identificar sítio adequado para a biópsia pela percussãoo ou pela ultrassonografia • Suspeita de equinococose cística Contraindicações Relativas: • Obesidade mórbida • Ascite • Hemofilia • Infecção na cavidade pleural ou hemidiafragmática à direita * Embora este critério seja considerado uma contraindicação absoluta pela maioria dos hepatologistas, ele pode ser corrigido por concentrado de plaquetas ou plasma fresco congelado e portanto não é realmente uma contraindicação absoluta. Fonte: Traduzido e adaptado de Bravo, AA ; Sheth, SG ; Chopra, S.38 2.4.4 Complicações Embora o fígado tenha um rico suprimento vascular, complicações associadas a biópsia hepática percutânea são raras. Estas ocorrem mais frequentemente entre 2 e 24 horas após o procedimento e dor e hipotensão são os sintomas mais presentes como motivo de internação hospitalar pós biopsia. As complicações menos graves incluem desconforto transitório, (localizado no local da biópsia); dor em aperto, leve e breve; e leve hipotensão transitória (devido a uma reação vasovagal). Dentre as complicações mais raras, a hemorragia intraperitoneal é a mais grave, esta geralmente é percebida nas primeiras duas a três horas após o procedimento. Pequenos hematomas intra-hepáticos ou subcapsulares podem ser notados após a biópsia do fígado, até mesmo em pacientes assintomáticos. Se maiores, estes podem causar dor associada com taquicardia, hipotensão, e queda do hematócrito. Nestes casos o tratamento conservador geralmente é o recomendado. Muito menos comum dentre as complicações hemorrágicas pode ocorrer a hemobilia, a qual se apresenta comumente com a tríade clássica: hemorragia gastrointestinal, dor biliar e icterícia (aproximadamente após cinco dias do exame). Outras complicações raras de biópsia hepática percutânea incluem bacteremia seguida de sepse, ascite biliar, pleurite biliar, peritonite biliar, pneumotórax, hemotórax, enfisema subcutâneo, pneumoperitônio, abscesso subfrênico, crise carcinóide, e pancreatite devido à hemobilia.38 Por último, mas não menos importantes as complicações relatadas de biópsia hepática transjugular incluem dor abdominal, hematoma cervical, síndrome de Horner transitória, disfonia transitória, arritmias cardíacas, pneumotórax, formação de uma fístula da artéria hepática para a veia porta ou da árvore biliar, perfuração da cápsula do fígado (especialmente em fígados pequenos e cirróticos) e como consequência do descrito acima, morte.38 2.5 Abordagens radiológicas percutâneas de tumores hepáticos O envolvimento hepático em patologias neoplásicas representa um desafio clínico em oncologia, tanto para tumores primários quanto para secundários (metástases hepáticas, principalmente do câncer colorretal). Isto se deve porque o fígado é importante a diversos sistemas e processos, dentre eles o imune, hematológico, a homeostase, síntese biliar, metabolismo de tóxicos entre outros.41 O câncer de fígado é o quinto câncer mais comum em homens e o sétimo em mulheres. Sua incidência mundial varia de 250.000 a 1.000.000 de novos casos por ano, com uma proporção homem-mulher de 5:1. Dentre as neoplasias primárias do fígado, o carcinoma hepatocelular (CHC) representa 85% a 90% de todos os casos. Os principais fatores de risco para CHC incluem o consumo crônico de álcool, hepatite B, hepatite C e doença hepática gordurosa não alcoólica. Por fim, qualquer agente que conduz à lesão hepática crônica e eventualmente cirrose tem sido associada com CHC.42 A ressecção hepática (RH) tem sido geralmente aceita como a primeira escolha para o tratamento de lesões malignas. No entanto, comumente há cirrose associada, o que limita a extensão da cirurgia e, portanto, aumenta o risco de falha terapêutica.41 Assim, dependendo do acometimento do fígado em relação a número, localização e tamanho dos tumores, diferentes abordagens minimamente invasivas podem ser usadas. As terapias minimamente invasivas disponíveis dividem-se em duas categorias: terapias ablativas e terapias intra-arteriais. O foco da discussão será na aplicabilidade destas terapias no manejo do CHC e das metástases colorretais no fígado.41 2.5.1 Indicações As indicações de terapias radiológicas percutâneas em tumores hepáticos foram padronizadas e reconhecidas pelo sistema de estadiamento BCLC (Barcelona Clinic Liver Cancer group). Este, é o melhor e mais usado sistema de estadiamento para CHC e metástases hepáticas de câncer colorretal.43, 44 Figura 2: Algoritmo para estadiamento e tratamento do CHC segundo as recomendações do BCLC. RFA = Ablação por radiofrequência. PEI = Injeção Percutânea de Etanol. TACE = Embolização trans-arterial. 43,45 2.5.2 Técnicas 2.5.2.1 Terapias ablativas percutâneas A ablação compreende um grupo de técnicas radiológicas as quais tem por objetivo a destruição ultrasseletiva de tecidos previamente diagnosticados como tumores. Estes métodos empregam diferentes meios que são aplicados “in situ” no local acometido sem maiores danos ao tecido saudável. E, para tanto, estes procedimentos são diferenciados pela natureza do agente a ser utilizado, são estas: química, térmica (frio ou calor), elétrica ou ultrassom.41,46 2.5.2.1.1 Ablação química A ablação química é a técnica de abordagem percutânea guiada por imagem mais antiga. Para tal, utiliza-se uma agulha fina introduzida via percutânea com o auxílio de exames de imagem (USG ou TC) para alcançar o tumor. O químico é injetado e atinge as células da área onde está situado o bisel. A técnica é amplamente realizada com o uso de etanol a 95% (injeção percutânea de etanol, PEI). Pode-se ainda empregar como alternativa ao álcool o ácido acético pois o mecanismo de ação local e o resultado final destes agentes é semelhante. Ambos, por fim, provocam a degradação de proteínas e necrose coagulativa do alvo e de tecidos circundantes. Pode levar até cinco ou seis sessões de injeções para destruir o câncer. 41,46 Vale ressaltar também uma técnica bem menos difundida: ablação eletrolítica. Esta se propõe a acidificar o pH do tumor e alcalinizar o pH do tecido adjacente através de dois eletrodos de platina, criando um meio tóxico de destruição tumoral.47 2.5.2.1.2 Ablação térmica Na ablação térmica a destruição tumoral ocorre de duas formas, por aquecimento do tumor, de forma prolongada a temperaturas entre 50 e 55ºC e por curta exposição a temperaturas superiores a 60ºC, ou por resfriamento (crioablação) a temperaturas entre -20 e -40 ºC. As técnicas por aquecimento diferem-se quanto a forma de se fornecer calor. A ablação por radiofrequência (RFA) emprega um ou dois eletrodos (mono ou bipolar) os quais conduzem energia de uma fonte eletromagnética de frequências inferiores a 30MHz. Uma corrente alternada é transmitida pelo tecido alvo, a qual causa agitação iônica, e por conseguinte as moléculas se chocam produzindo calor, este processo causa aquecimento e dano em uma área esférica de cerca de 2 à 5cm a cada 20min de aplicação do procedimento. A ablação por micro-ondas (MWA) funciona de forma semelhante. Esta se utiliza de fontes eletromagnéticas de frequência entre 30MHz e 30GHz, para produzir micro-ondas (entre 915MHz e 2,45GHz) cujo objetivo é oscilar as moléculas de água e por fim produzir calor. Em 60 segundos é possível atingir uma área levemente elipsoide de 2cm. Na ablação por Ondas Ultrassônicas Focalizadas de Alta Intensidade (HIFU), alcança-se uma potência de 30-100 W a qual é capaz de aquecer o tecido a mais de 90 °C. Principalmente usada para ablação de metástases hepáticas, dois métodos de aplicação são utilizados, o transcutâneo, e percutâneo com um transponder em formato de agulha. Na ablação por laser (LITT), se utiliza uma fonte luminosa como o laser de inglês neodymium-doped yttrium aluminium garnet). Nd-YAG (acrônimo Fibras ópticas do são posicionadas no tumor através de agulhas percutâneas, para que através de fótons produza-se calor para a destruição das células neoplásicas em um raio de 6 a 7 cm. O tempo de tratamento varia, mas geralmente excede uma hora por sessão. Por último, mas não menos importante, a crioablação, a qual destrói o tecido com ciclos de congelamento e descongelamento letais, Esta utiliza-se de “cryoprobes”, sondas próprias para a aplicação de um criogênico (nitrogênio líquido ou, mais frequentemente, gás argônio). Estes são capazes de produzir temperaturas inferiores a -100 °C e resultam de morte celular por congelamento direto entre -20 e -40 °C. Este procedimento é capaz de produzir zonas maiores que as demais técnicas de ablação, além de permitir delimitação mais clara das margens cirúrgicas.47 2.5.2.1.3 Eletroporação A eletroporação irreversível (IRE) é uma técnica de ablação não térmica recentemente introduzida na prática médica, principalmente na abordagem de tumores em fígado e pâncreas. A IRE se baseia na alteração do gradiente elétrico potencial da membrana celular, a qual é induzida por campo elétrico uniforme de alta voltagem atuando no tecido. Desta forma, há desarranjamento da estrutura de bicamada lipídica por formação permanente de microporos na membrana celular, não permitindo a regulação da passagem de micro e macromoléculas pela célula. Como consequência da alteração na parede celular há alteração da homeostase celular e finalmente morte por apoptose. A IRE é orquestrada por um gerador bipolar, ou múltiplos unipolares, sendo utilizadas ao menos duas agulhas 19G colocadas em torno da lesão, posicionadas obrigatoriamente em paralelo e, para se evitar necrose tumoral incompleta a distância máxima entre dois eletrodos é de 2 cm. Vale ressaltar também que lesões maiores necessitam de agulhas de maior comprimento além do reposicionamento das mesmas para melhor abordagem da neoplasia. Utiliza-se em média 2 a 4 agulhas variando em até 8 posições, sendo que em cada posição é realizado cerca de 90 pulsos elétricos de 1500V por par de agulhas.47 2.5.2.2 Microembolização arterial e venosa A microembolização é outra opção terapêutica no manejo de neoplasias. Seu objetivo é aplicar superseletivamente medicamentos ou substâncias que provoquem isquemia. Quando realizado via intra-arterial, o objetivo final é a necrose tumoral;48 quando via portal, otimiza uma posterior ressecção hepática para os pacientes inoperáveis por insuficiência do volume remanescente do fígado.49 A primeira, teve início nos anos 1960, com estudos os quais descreviam métodos de radioembolização transarterial usando microesferas do isótopo de Ítrio (90Y) em próstatas de cães,50 sendo que apenas em 1988 usou-se a técnica pela primeira vez para tratar casos de CHC e metástases no fígado.51 A segunda, começou a ser estudada em coelhos em 1920, nos quais houve atrofia ipsilateral do ramo ligado da veia porta. Em 1961, relatou-se uma ligadura de veia porta em humano como primeira parte de uma extensa hepatectomia em dois tempos, o que possibilitou em 1986 a realização da primeira embolização seletiva de veia porta.49 2.5.2.2.1 Terapias intra-arteriais A lógica para o tratamento intra-arterial de tumores hepáticos é que estas lesões malignas são nutridas quase que inteiramente pela artéria hepática (99%), em oposição ao tecido saudável, o qual depende principalmente da veia porta para o seu fornecimento de sangue (80% na veia porta e de 20% da artéria hepática). Assim, os agentes injetados por via arterial são direcionados preferencialmente às células neoplásicas, resultando em necrose tumoral com menos efeitos adversos, se comparado ao tratamento sistêmico convencional.52 Há três tipos de técnicas de embolização arterial em uso: a embolização intra-arterial (TAE), quimioembolização intra-arterial (TACE) e quimioembolização com eluição de fármacos (DEB-TACE). Todos estes procedimentos envolvem acesso percutâneo através da artéria femoral, seguido de cateterização seletiva da artéria hepática. Em seguida se realiza uma arteriografia para se confirmar a anatomia vascular do sítio tumoral. Pode-se utilizar o acesso braquial como uma alternativa ao femoral, apesar de ser tecnicamente mais difícil.53 Na TAE, o agente embolizante são partículas de 50 µm de álcool polivinílico (PVA), com ou sem contraste (Lipiodol). Estas partículas obstruem fisicamente o fluxo sanguíneo, induzindo assim a lesão isquêmica. Outros agentes embólicos atualmente empregados incluem gelfoam, cianoacrilato, partículas tris-acrílico, e embosferas. A TACE, por sua vez, combina o uso de material embólico com uma infusão inicial de um agente quimioterápico. Já na DEB-TACE, utiliza-se agentes embólicos de 500 a 700 µm carregados com um quimioterápico (geralmente a doxorrubicina), que dissocia-se lentamente dentro do parênquima hepático ao longo de um período de 7 a 14 dias.53 2.5.2.2.2 Embolização de Veia Porta (PVE) Em 1990 propôs-se pela primeira vez que a PVE poderia melhorar os resultados da ressecção cirúrgica do fígado, caso essa seja realizada antes, com a finalidade de induzir a atrofia dos segmentos hepáticos embolizados e hipertrofia dos demais. Isso, em tese, impediria o aumento súbito da pressão portal e a disfunção hepática perioperatória. Esse raciocínio foi confirmado em estudos posteriores mostrando que o aumento do volume do “fígado nãoembolizado” (future liver remnant – FLR) está associado não só ao descrito acima, como também o aumento da excreção biliar, da albumina sérica e melhora da função hepática pós-operatória.54 A PVE pode ser realizada por dois diferentes acessos: percutâneo e transileocólico. A transileocólica é a abordagem mais antiga das duas. Esta ocorre sob efeito de anestesia geral e é feito uma incisão cirúrgica para acesso direto de um ramo venoso ileocólico, o qual, após cateterizado, permite acesso à veia porta. Já a embolização percutânea portal pode ser realizada pela abordagem ipsilateral (por dentro do fígado portador de tumor) ou contralateral (através do FLR). Para ambas, utiliza-se exame de imagem (geralmente USG) para guiar o acesso à um ramo portal distal. Logo em seguida, é realizada uma portografia para pesquisar alterações anatômicas. Em adição, afere-se a pressão portal com finalidade de descartar hipertensão significativa, a qual contraindicaria a ressecção.54 Semelhantemente a embolização arterial, uma variedade de agentes foram descritos para o uso em PVE, incluindo cianoacrilato, cola de fibrina, etanol, e de micropartículas tais como o álcool polivinílico.54 2.5.3 Contraindicações Todas as terapias de ablação local estão contraindicadas em pacientes com ascite volumosa ou coagulopatia que não possam ser corrigidas. Quanto às diferentes terapias ablativas, a PEI não deve ser realizada especificamente na presença de tempo de protrombina elevado em mais de 16 segundos, ou na existência de contagem de plaquetas inferior a 40.000 por mm³.55 Nos métodos de ablação térmica, lesões situadas próximas à grandes vasos são de difícil manejo devido ao efeito dissipador de calor (“Heat sink effect”), o qual torna maior o dano perilesional. Tumores próximos à grandes ductos biliares são suceptíveis à mesma sequela.56 Para IRE, a única contraindicação absoluta são os pacientes que não podem ser submetidos a anestesia geral, por isso é necessário triagem cardíaca criteriosa e avaliação anestésica completa. O uso de marca-passo ou história de arritmias ventriculares são contraindicações relativas, uma vez que a alta tensão elétrica usada no procedimento, teoricamente, poderia induzir arritmias.57 No caso das embolizações intra-arteriais, o envolvimento hepático superior a 75% é considerado uma contraindicação relativa, uma vez que estes pacientes tendem a ter uma menor resposta ao tratamento, associado a maiores taxas de complicações, e até mesmo insuficiência hepática pós intervenção. A presença de trombose da veia porta é uma forte contraindicação, já que o parênquima hepático sadio precisa do fornecimento de sangue venoso portal para se recuperar. Portanto, a embolização da artéria hepática em pacientes com trombose da veia porta completa aumenta os riscos de isquemia grave do fígado. Além disso, há relatos de que a terapia não seja segura em pacientes com níveis de bilirrubina maiores do que 3 mg/dl.53 As duas contraindicações absolutas para PVE são hipertensão portal clinicamente evidente e extensa área de trombose tumoral. No cenário de um tumor extenso, a PVE é contra indicada, porque a maior parte do fluxo portal já foi desviado, o que dificulta o acesso do agente embólico. No caso da hipertensão portal clinicamente evidente, esta, por si só já é uma contraindicação à hepatectomia, e por conseguinte a PVE também não está indicada. Como contraindicações relativas, incluem-se coagulopatia incorrigível e insuficiência renal.54 Finalmente, todos os pacientes com contraindicações gerais para a angiografia, como intolerância de meios de contraste, doença vascular periférica e coagulopatias, não devem ser considerados para as embolizações.53,54 2.5.4 Complicações Devido a taxa elevada de recidiva neoplásica na PEI, múltiplas injeções e grandes quantidades de álcool são necessárias para atingir um melhor efeito terapêutico, o que pode causar danos cumulativos e até mesmo cirrose. Quanto aos métodos de ablação térmica, os malefícios mais frequentes são devidos ao efeito dissipador de calor, o qual diminui o grau de necrose coagulativa em tumores adjacentes a grandes vasos. Danos térmicos extrahepáticos, como a hérnia diafragmática podem ocorrer no tratamento de tumores subcapsulares, tanto em momento inicial quanto meses após o procedimento. Por último, a vesícula biliar também possui risco em potencial de danos térmicos como a perfuração e colecistite.58,59 A IRE pode causar arritmias ventriculares durante o procedimento, devido a interferência do campo elétrico no ciclo cardíaco. A incidência de tal viés e a gravidade do quadro em uma eventual intercorrência se reduziram com a sincronização dos pulsos elétricos da técnica ao ECG somados ao relaxamento muscular induzido por anestesia geral. Outras eventuais complicações da IRE são trombose de veia porta, oclusão de ducto biliar e extravasamento de bile por rotura canalicular. A dor pós eletroporação se apresenta em monta e intensidade similar aos métodos ablativos térmicos. Como complicação das embolizações intra-arteriais, a mais comum é a chamada “síndrome pós-embolização”, caracterizada por febre, náuseas, vómitos, dor abdominal, e elevação dos marcadores hepáticos. Normalmente desaparece dentro de três dias pós-procedimento. Além disso, insuficiência hepática, abscesso hepático, síndrome hepato-renal, sepse e hipertensão grave podem ocorrer durante a embolização como consequência da isquemia local induzida por embolização arterial. Vale ressaltar também a colecistite e pancreatite, ambas complicações relativamente comuns de embolização da artéria hepática. Estes eventos ocorrem devido ao refluxo de material embólico para dentro da artéria cística ou artéria pancreaticoduodenal respectivamente, causando lesão isquémica a estes órgãos. O posicionamento cuidadoso da ponta do cateter para dentro da porção intrahepática da artéria hepática, juntamente com técnicas de infusão suaves, é pensado para limitar a incidência destas complicações potencialmente graves. Pode-se notar também que os pacientes que realizam TAE têm taxas semelhantes de complicação em comparação com pacientes da TACE. Por fim, os procedimentos DEB-TACE demonstraram taxas de morbidade comparáveis, com 30% a 60% dos pacientes que apresentam elementos da síndrome pós-embolização. As complicações da PVE percutânea são semelhantes a de outros procedimentos transhepáticos. Estes incluem hematoma subescapular, hemobilia, hemoperitônio, lesões vasculares, pneumotórax e colangite. Complicações específicas da PVE incluem embolização de outros vasos, recanalização de segmentos embolizados, completa trombose da veia porta. Por último, todas as complicações relacionadas à punção percutânea, tais como pneumotórax e hemorragia podem surgir após os procedimentos acima. Estas, no entanto, raramente ocorrem na prática sendo que sua incidência é similar em todas as intervenções citadas acima. 3 Discussão Há certa unanimidade entre autores quanto a indicação do uso de TIPS em pacientes com hipertensão portal classificados como Child-Pugh B com sangramento ativo ou Child-Pugh C. Nestes casos o procedimento deve ser realizado em até setenta e duas horas da admissão (preferencialmente nas primeiras vinte quatro horas) logo após a abordagem inicial farmacológica e endoscópica sem sucesso. Com menor grau de evidência, porém ainda indicado, pode-se usar TIPS em casos de sangramento de varizes esofágicas refratário (dentro dos primeiros cinco dias após a abordagem inicial) ou como profilaxia secundária em pacientes intolerantes a terapia farmacológica e a endoscópica.60 Através das metanálises mais recentes, tem-se evidenciado também a eficácia do TIPS na prevenção secundária de hemorragia por varizes gastro-esofágicas,61 resta a dúvida e alvo de pesquisas futuras o uso de TIPS na profilaxia primária do sangramento de varizes gástricas. Além disso, este método se mostrou também de melhor custo-benefício em relação aos tratamentos convencionais.62,63 Pode-se acrescentar, também, no que se refere ao manejo da síndrome de Budd-Chiari (BCS) o uso de TIPS especialmente para pacientes classe II pelo score de Rotterdam ou, maior ou igual a sete pelo BCS-TIPS Prognostic Index score.64, 65 Quanto a colecistostomia percutânea, contrariando a indicação clássica, uma metanálise publicada em 2013 foi incapaz de determinar o papel da colecistostomia percutânea no manejo clínico dos pacientes cirúrgicos de alto risco com colecistite aguda ou outras colecistopatias complicadas. Esta concluiu interrogando a necessidade de ensaios clínicos randomizados adequadamente alimentados de baixo risco de viés sobre essa questão.28 Posteriormente, uma análise longitudinal realizada entre 1995-2009 com um número de 43.341 pacientes com colecistite aguda alitiásica, publicada em agosto de 2014, concluiu que a colecistostomia percutânea não oferece nenhum benefício quanto à sobrevida dos pacientes com sepse grave e choque se comparada ao tratamento farmacológico. Em contrapartida, o mesmo estudo evidenciou que a colecistectomia aumenta a sobrevida dos pacientes em comparação àqueles sem tratamento cirúrgico (colecistostomia percutânea e tratamento farmacológico).67 Sendo assim, há necessidade de mais estudos para se confirmar as indicações e eficácia do procedimento. No que discerne sobre a drenagem de abscesso hepático, há certeza quanto as indicações do tratamento.68 Mais recentemente, em metanálise de 2015, concluiu-se que tanto a PNA quanto a PCD são métodos seguros para a drenagem de abscessos hepáticos. No entanto, a PCD é mais eficaz do que a PNA porque possui uma taxa de sucesso mais elevada, reduz o tempo necessário para conseguir o resultado desejado e diminui em 50% o tamanho do abcesso. No entanto, entre os pacientes tratados com sucesso com a PNA, os resultados são comparáveis com os da PCD.32 No caso da biópsia hepática, há uma tendência mundial entre os especialistas de que esta caia em desuso. Isto se dá porque este procedimento diagnóstico, embora permaneça como padão-ouro,69 pode ser substituído com segurança por exames de imagem não invasivos como o fibrotest70 e a elastografia71 com valores já padronizados e validados para as hepatites virais crônicas (B e C).69 Sendo assim, há pesquisas em andamento para padronizarem e validarem o uso de tais exames de imagem no diagnóstico de outras doenças do parênquima hepático. Ficando a biópsia hepática apenas como último recurso diagnóstico. Por último, mas não menos importante, no tocante às terapias radiológicas percutâneas, estas estão amplamente validades pelo BCLC sendo empregadas principalmente nos estágios A e B.72 No estágio A, a RFA é a técnica de ablação de primeira escolha, competindo apenas com a ablação por micro-ondas. A PEI embora possua menos controle local do tecido destruído, ainda tem um papel importante nos casos em que há tecido viável. Todas as técnicas possuem a eficácia e sobrevida em HCC solitárias de até 2 cm, sendo a hipertensão portal o principal desfecho. Nos tumores de 3 cm, a sobrevida dos pacientes tratados com RFA é semelhante àquela oferecida pela ressecção cirúrgica. Assim, qualquer abordagem poderia, portanto, ser considerada terapia de primeira linha, devendo-se levar em conta idade, comorbidades, e localização do tumor para a escolha da terapia adequada. Nos casos de HCC maiores que 3 cm ou multifocais, a taxa de falha de terapêutica para a ablação é alta. Nestes casos a ressecção pode oferecer um melhor resultado. O tratamento combinado com quimioembolização e ablação tem sido propostos por alguns estudos, mas ainda não é possível traçar nenhuma conduta determinante a partir dos estudos que foram feitos. A taxa de recorrência após ablação de tumores de três centímetros é o mesmo que após a ressecção cirúrgica, embora a ressecção anatômica possa alcançar melhores margens cirúrgicas. Para os pacientes no estágio B do BCLC o tratamento de escolha é a TACE. A sobrevida média foi de 28,7 meses, sendo superior ao grupo controle pelo estágio do BCLC o qual foi de 17,8 meses. Várias metanalises mostraram que a c-TACE aumentou significativamente o número de pacientes com sobrevida de 2 anos e estabeleceu-se como tratamento de primeira escolha para os casos acima propostos. Quanto a DEB-TACE alguns estudos dizem aumentar a sobrevida média em relação a c-TACE, por diminuir o tempo de exposição sistêmica à quimioterapia. Todavia, o que se pode afirmar é que se a TACE for aplicada corretamente a sobrevida média não deverá ser menor que 30 meses. Há resultados promissores da combinação da RFA e da TACE para pacientes em ambos os estágios, mas ainda há mais dúvidas do que respostas para esta última opção.73 4 Conclusão Tais fatos tão inequívocos constatam que a relativamente recente especialidade da radiologia intervencionista trouxe avanços importantes para o tratamento das colecistohepatopatias, demonstrando diversas vantagens como menos complicações, consequentemente menor menos custobenefício tempo de quando internação comparadas e às abordagens convencionais. De todos os procedimentos listados nesta breve revisão apenas a colecistostomia percutânea parece não ser vantajosa quando comparado as terapias convencionais. Além disso há o caso da biópsia hepática, a qual ainda que padrão ouro, vem sendo substituída por exames de imagem não invasivos. Referências 1. Röntgen WC. On a new kind of rays. Science. 1896;3(59):227–231. 2. Seeley GW, McNeill K, Dallas WJ. Displays in radiology: past, present, and future. 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