Obstrução aguda de via aérea superior

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Obstrução Respiratória Alta
Piva, Celiny, Garros
1
Obstrução respiratória alta em pediatria*
*Texto modificado: Garros D, Piva J, Garcia. Obstrução respiratória alta em Pediatria. IN: Piva J, Garcia PC (Eds).
Medicina Intensiva em Pediatria. Rio de Janeiro : Revinter. 2005. p377-400.
Introdução
torna turbulento (1), e a resistência ao fluxo se
A via aérea da criança se diferencia da
tornará inversamente proporcional a quinta
do adulto em muitos aspectos: a) a laringe é
potência do raio. Portanto o esforço será
mais cefálica (ao nível de C2-C3 ao invés de C5-
dependente do grau de obstrução e da luz da via
C6 no adulto) e anterior em relação às vértebras
aérea. Nos quadros mais graves, há um intenso
cervicais; b) a laringe tem uma conformação em
esforço respiratório, com tiragem inter e
funil e estrutura maleável, tornando-se facilmente
subcostal e até mesmo retração esternal durante
colapsável e passível de compressão externa; c)
a inspiração (Figura 1).
a inserção anterior das cordas vocais é mais
inferior, produzindo uma angulação anterocaudal; d) a epiglote em lactentes se projeta
anteriormente em um ângulo de 45 graus
tornando a intubação mais difícil; e) a língua é
relativamente grande em relação as demais
estruturas da orofaringe; f) a região subglótica
apresenta um pronunciado estreitamento que
Figura 1: Retração esternal conseqüente a
pode ser objeto obstrução ou dificuldade na
obstrução respiratória alta
progressão do tubo traqueal; g) lactentes e
crianças pequenas tem uma região occipital mais
Sinais clínicos e sua correlação anatômica
protuberante, que causar excessiva flexão do
A obstrução de via aérea pode ser fixa,
pescoço, bem como uma traquéia mais curta e
limitando o fluxo de ar nas fases ins e
macia sendo propensa ao colapso.
expiratória, ou variável, com limitação mais
A redução no raio da via aérea acarreta
acentuada em uma fase da respiração.
um aumento dramático na resistência ao fluxo de
O nível da obstrução (extra ou intratorácico)
ar. Estima-se que a redução no diâmetro
pode ser definido de acordo com a fase do
traqueal de 4 para 2mm, representa um aumento
estridor. Estridor inspiratório reflete obstrução ao
de 16 vezes na resistência ao fluxo aéreo (no
nível supraglótico ou glótico (crupe), enquanto
caso de ser fluxo laminar)! Quando a criança
que o estridor expiratório é peculiar de
está doente, agitada e taquipnêica o fluxo se
obstruções abaixo das cordas vocais verdadeiras
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(ex: traqueomalácea). Lesões fixas geralmente
diagnóstico de traqueíte exudativa, corpo
geram estridor ins e expiratório (3).
estranho, e compressão pela artéria inominada.
Obstrução extra-torácica: Os pacientes com
Porém, a sensibilidade foi muito menor para
obstrução extra-torácica podem apresentar:
laringomalacia (5%) e traqueomalácea (62%) (4).
afonia ou rouquidão, tosse rouca e/ou metálica e
Obstruções intratorácicas: O sintoma mais
estridor. O curso da doença pode ser agudo
freqüente é a sibilância expiratória. O diagnóstico
(laringite
(laringite
diferencial mais importante é obviamente com
espasmódica), crônica (estenose subglótica ou
asma. Ao exame, os detalhes antropométricos, a
progressiva – ex: papiloma de laringe).
presença de cianose, o baqueteamento digital,
infecciosa),
recorrente
Durante o exame é importante atentar
tórax em barril, retrações e uso de músculos
se os sintomas pioram ou aliviam com o
acessórios da respiração podem auxiliar na
repouso, com a agitação, com a posição ou com
determinação da etiologia.
o sono da criança. A presença de agitação,
Os exames mais solicitados incluem
dispnéia importante, retrações severas, cianose,
Raio X de tórax, teste de suor, teste de função
letargia ou coma indicam risco de morte e
pulmonar e o estudo contrastado de esôfago e
exigem intervenção imediata (entubação).
estômago para detectar fístulas, anel vascular,
Em condições agudas os exames
etc.(6).
laboratoriais e radiológicos são relegados a um
segundo plano sendo o aspecto clínico o mais
Patologias específicas
relevante. Nessas condições, não se deve
1. Laringomalácea é a anomalia congênita mais
aguardar por uma gasometria para decidir a
comum da via aérea. Ela se caracteriza pela
intubação traqueal. O uso da gasometria pode
flacidez da cartilagem da laringe resultando em
retardar a tomada de atitude, visto que
colapso das pregas ariepiglóticas sobre a glote
hipercapnia associada à hipoxemia é um sinal
durante a inspiração (9). O estridor é usualmente
tardio e ocorre de forma súbita. Hemocultura e
inspiratório, agudo e posicional – diminui na
swab
posição
nasofaríngeo
podem
auxiliar
na
prona.
Com
freqüência
ele
é
identificação causa infecciosa. O Raio X de tórax
intermitente, aumentando com a atividade física
pode ser útil para demonstrar edema pulmonar
e agitação sendo detectável desde o nascimento
associado a obstrução de via aérea superior ou a
ou nas primeiras semanas de vida. O choro do
presença de pneumotórax. O raio X de pescoço
lactente é normal. Problemas de alimentação e
poucas vezes é util, podendo auxiliar no
baixo ganho de peso podem estar relacionados
diagnóstico de algumas condições tais como a
ao esforço respiratório crônico. A
epiglotite (sinal do “dedo polegar”). Numa revisão
e fluoroscopia confirmam o diagnóstico. O
de 144 casos, as radiografias de pescoço
problema desaparece ao redor de 2 anos de
apresentaram sensibilidade de 86% para o
idade.
laringoscopia
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3
Tratamento é raramente necessário.
2. Epiglotite. É uma condição que exige
Quando ocorre infecção viral, a criança com
tratamento urgente por sua rápida progressão e
laringomalácea pode piorar muito e necessitar
risco de obstrução total da via aérea. Se trata de
intubação endotraqueal por colapso da via aérea
uma inflamação aguda da região supra glótica,
associado ao edema inflamatório e dificuldade
que afeta em sua maioria crianças entre 2 e 4
de eliminar secreções. Na crise aguda de
anos de idade(1). Felizmente, devido a
dispnéia (precipitada por doença viral), deve ser
vacinação contra o Hemóphilus influenzae tipo B,
admitida à emergência pediátrica e administrar
a incidência desta doença tem decrescido
oxigênio
dramaticamente.
(cateter
nasal
ou
mascara).
Outros
microorganismos
Dependendo do grau de dispnéia, a alimentação
podem causar epiglotite, incluindo Staphilococus
por via oral pode ser suspensa e utilizada SNG
aureus, Klebsiela sp ou Candida albicans.
para descompressão
gátrica
(e, inclusive
O curso clínico se caracteriza por febre
alimentação). É prática em nosso serviço,
de surgimento recente e progressão rápida,
nessas situações, realizar nebulizações com
estridor e disfagia. A criança se apresenta tóxica,
vasoconstritor (ver adiante, página 5) associado
prostrada e se posiciona caracteristicamente de
a administração de corticosteróide. Quando não
forma que seu tórax é inclinado para frente, com
há melhora, o uso de pressão positiva expiratória
posição preferencial sentada, respiração bucal e
(CPAP nasal nos lactentes pequenos e BIPAP
a hipersalivação (sialorréia).
nas crianças maiores por máscara ou tubo
Tratamento: Idealmente a criança com
nasofaríngeo) pode ser benéfica. Em alguns
epiglotite deve ser manejada em ambiente de
casos, se torna necessário intubar o paciente e
UTI com pediatra experiente com acesso à via
mantê-lo com PEEP adequado (geralmente entre
aérea (ou anestesista pediátrico). Radiografias
8-10) para evitar o colapso da via aérea.
laterais de pescoço só vão atrasar o manejo,
Por
outro
lado,
pacientes
com
com risco de vida pelo estresse que acarretam.
condições clínicas que normalmente já tem
Havendo dúvida diagnóstica em criança estável,
comprometimento da via aérea podem ter curso
o raio x de região cervical pode apresentar o
mais difícil com essa condição. Prematuridade,
clássico sinal de “dedo polegar”. O antibiótico
síndrome de Down, cardiopatas cianóticos,
(Ampicilina,
encefalopatas, desnutridos graves são alguns
Cefotaxime) deve ser administrado após a via
exemplos (7). Nesses casos e naqueles em que
aérea ter sido assegurada e hemocultura obtida.
Ceftriaxone,
Cefuroxima,
ou
a laringomalácea interfera no ganho ponderal e
Mantenha a criança sentada. Procure
desenvolvimento da criança, a melhor alternativa
acalmá-la com a presença constante dos pais ou
é a epiglotoplastia ou a traqueostomia.
pessoa conhecida. Administre O2 umidificado e
monitorize a saturação de oxigênio com
saturômetro de pulso.
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A intubação traqueal deve ser realizada
imediatamente,
pela
pessoa
com
mais
4
extubação,
que
responde
as
medidas
convencionais.
experiência com este procedimento. Mantenha o
cirurgião e o anestesista de sobreaviso, assim
3. Laringotraqueíte (LT) (ou laringite viral
como
aguda) é uma doença comum (3% das crianças
material
para
cricotireotomia
ou
traqueostomia disponíveis.
menores que 6 anos), afetando lactentes de 3
Devido à inflamação pode ser difícil
meses a crianças de 5 anos, a maioria ao redor
identificar as estruturas na hipofaringe. Uma
de 18 meses. É geralmente benigna (apenas 2%
compressão torácica permite a saída de bolhas
dos casos necessitarem admissão hospitalar),
de ar pela glote indicando que alí deve ser
sendo que 0,5 a 2% dos internados necessitarão
passado o tubo endotraqueal, utilizando-se tubo
intubação e ventilação mecânica (25, 26, 28).
de tamanho menor que o usual para a idade (-
Em 16 anos (1978-94) da UTIP do H. São Lucas
0.5 mm). Utilizamos a técnica de seqüência
da
rápida de entubação (sedação, analgesia,
(306/13101) das internações na unidade (29).
PUC-RS,
relaxamento muscular e bloqueio de reações).
laringite
representou
2.3%
Sinais e sintomas clássicos: febre baixa,
Se com a laringoscopia direta ou uso de
com um pródromo viral de alguns dias que se
broncoscópio não foi possível obter acesso a via
associa
com
tosse
rouca
ou
“ladrante”
aérea, a cricotireotomia (5) ou traqueostomia
(“semelhante a um cachorro ou a foca”) e
deve ser realizada.
estridor inspiratório (podendo ser bifásico em
A criança intubada ficará na UTIP,
casos mais severos) (30).Em razão das cordas
ventilada com mínimo peep para prevenir
vocais serem poupadas, com freqüência a voz
atelectasias e com pressão de suporte, com
da criança é normal (31).
restrição de movimentos (mãos contidas) e
O
diagnóstico
Epiglotite,
decidido com base em fatores clínicos e a
periamigdaliano,
história natural da doença. A maioria dos casos
hemangioma e neoplasia (incluindo massas no
podem ser extubados dentro de 24 hrs, desde
mediastino anterior) (30).
a
apresente
uvulite,
corpo
abscesso
estranho,
estabilidade
O grau de tiragem intercostal e
cardiovascular, afebril e exista um escape de ar
subcostal não se correlaciona muito bem com
ao redor do tubo endotraqueal. Se a extubação
gravidade, mas existe evidência de que a
não pode ser feita em 4-5 dias, está indicada a
retração esternal quando presente é um sinal de
endoscopia para verificar a possibilidade de
alerta
granulação ou de outra anormalidade não ainda
Parainfluenza é o causador de aproximadamente
diagnosticada.
75% dos casos, porém Adenovirus, Sincicial
pacientes
criança
bacteriana,
envolve
sedação. O momento da extubação será
que
traqueite
diferencial
Aproximadamente
apresentarão
estridor
10%
após
dos
a
para iminente obstrução. O
respiratório e Influenza perfazem o restante.
virus
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O diagnóstico é basicamente clínico,
mucosa da região subglótica, diminui o edema.
contudo o Raio X (figura 2) de pescoço quando
O efeito Beta-adrenérgico pode beneficiar os
realizado pode demonstrar estreitamento (sinal
pacientes sibilância, relaxando a musculatura
de “ponta de lápis”). O hemograma não auxilia
brônquica. A forma L é o componente ativo,
no diagnóstico. O uso da endoscopia deve ficar
portanto a Adrenalina pura (L) pode ser usada
reservado para casos atípicos (30).
com eficácia similar (26). Neste caso utilizamos
na nebulização uma dose de 0,5 ml de
adrenalina 1:1.000 para cada 1 a 2 quilogramas
de peso (máximo de 5 ml). O efeito desaparece
em 2 horas, e o benefício máximo é observado
em 30-60 min após a nebulização (35). Vários
estudos prospectivos também foram necessários
para finalmente demonstrar que a Adrenalina
Figura 2: Sinal da ponta do lápis (estreitamento
além de melhorar o estado clínico do paciente
da laringe por quadro inflamatório).
pode prevenir intubações (25, 33).
Tratamento
Estudo recentes indicam que pacientes
Oxigênio e Umidificação. O ar ou oxigênio
podem ser observados em ER e mandados para
umidificado e a hidratação adequada são as
casa após um período de observação de
medidas
A
aproximadamente 2-4 horas (5), especialmente
administração de oxigênio pode ser feita por
se corticoide foi usado concomitantemente (36).
cânula nasal, tubos ou máscara facial. Oxigênio
Aproximadamente 5% dos pacientes tratados
por cânulas nasais ocasiona ressecamento da
com adrenalina e esteróides, que receberam alta
via aérea com espessamento de secreções,
da sala de emergência voltarão para receber
aumento de perda insensível de água e
atenção médica, porém o relapso dos sintomas é
diminuição da função muco-ciliar. A umidificação
raro em crianças com mínimos sintomas
teoricamente poderia melhorar a eliminação de
(escores de 0-2) (26).
secreções pela tosse, reduzir a irritação da via
Corticosteroides. Não há dúvida no benefício dos
aérea inflamada fazendo com que a criança se
corticosteróides no curso clínico do crupe em
sinta mais confortável (33).
pacientes internados e ambulatoriais (37).
Nebulização com vasoconstritor. O uso de
Comparadas
adrenalina racêmica em nebulização (0.05– 0.1
receberam esteróides necessitaram menos
ml/Kg a intervalos de 2/2 ou 1/1 hora misturado
adrenalina racêmica, a estada na emergência foi
com SF em nebulização com oxigênio) foi
mais curta e ainda o tempo de permanência
descrita em 1971 para tratamento do crupe (30).
hospitalar foi abreviado. O mecanismo de ação
O efeito vasoconstritor (alfa-adrenérgico) na
do corticóide em crupe ainda não está bem
mais
tradicionais
no
crupe.
com
placebo,
crianças
que
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definido,
embora
as
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suas
propriedades
6
a preferencial pela facilidade de administração e
antiinflamatórias parecem ser a razão mais
menor custo (41).
plausível. Alguns autores sugerem que, devido a
Admissão em UTIP e Intubação. Qualquer
sua rápida ação (2 horas), outro mecanismo seja
criança com sinais de obstrução progressiva e
responsável. Sugerem que a droga diminui a
sinais de hipóxia deve ser admitida numa UTIP.
vasodilatação capilar da mucosa
A decisão de intubar deve ser baseada
e sua
permeabilidade (36).
principalmente em critérios clínicos que indiquem
A dexametasona por via oral (VO)
demonstrou
ser
tão
eficaz
quanto
hipercapnia e iminente insuficiência respiratória,
a
incluindo aumento no estridor, freqüência
administração IM, sendo mais barata, menos
respiratória, freqüência cardíaca, tiragem e o
invasiva e mais fácil de administrar. O uso de IM
aparecimento de cianose, sinais de cansaço e
só se justifica se o paciente não pode receber
alteração no estado mental da criança (27).
VO ou está vomitando (26). A dose mais
O tubo a ser utilizado deve ser pelo
comumente utilizada é de 0.6 mg/kg (com
menos 0,5 mm menor que o calculado para a
máxima dosagem de 10mg), o que equivale a 6
idade. A extubação só acontecerá em média 5-7
mg/kg de prednisolona em termos de efeito
dias após, podendo ser feita na dependência da
corticosteróide– uma dose talvez até alta demais
presença de escape de ar e melhora do quadro
para a o crupe. Isso motivou os pesquisadores a
geral do paciente. É importante destacar que
diminuí-la em posteriores estudos
esses pacientes podem ser mantidos com
Recentes estudos mostram que a
pressão de suporte apenas e PEEP adequado
Budesonida (2 mg) por nebulização é tão eficaz
para
evitar
atelectasias.
A
sedação
é
quanto a dexametasona via IM em reduzir
fundamental nos primeiros dias de tratamento,
hospitalizações e melhorar o quadro clínico em
com restrição dos movimentos da criança
casos de leve a moderada gravidade que se
(ataduras macias nas mãos) para se evitar auto-
apresentam na sala de emergência (36). A
extubação. A partir de alguns dias as crianças
budesonida é um glicocorticosteróide sintético
maiores aprendem que o tubo é a garantia de
com forte atividade antiinflamatória tópica e
sua via aérea e a sedação pode ser minimizada
baixa atividade sistêmica (28). A dexametasona
com cuidado.
também pode ser usada por via inalatória, com
Mistura Hélio e Oxigênio (HeliOx) - A densidade
resultados semelhantes ao da budesonida. (39).
do gás Hélio é menor que a do ar. Portanto,
Um estudo recente realizado em duas
ocasionará uma resistência menor ao fluxo de ar
emergências Canadenses comparou os 3
na via aérea alta onde existe normalmente um
regimes de administração
– IM, VO ou
fluxo turbulento. Isso diminuirá o trabalho
nebulização- e concluiu que eles são igualmente
respiratório. A mistura de oxigenio e Hélio
eficazes, de modo que se sugere que a VO seja
(HeliOx) deve ser administrada numa proporção
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de 40/60% respectivamente, pois com oxigênio
O tratamento é de suporte, com ar ou
em maior percentagem o efeito anti-turbulência
oxigênio umidificado quando a criança chega a
do Hélio se perde. A maioria desses pacientes
ser admitida na sala de emergência. A partir daí
são hipoxêmicos, daí que não se recomenda o
o tratamento segue a mesma linha de conduta
aumento da proporção de hélio na mistura (1).
da laringotraqueíte, com uso de corticóide e
adrenalina racêmica(43).
4. Crupe Espasmódico (Laringite Estridulosa)
A laringite estridulosa (LE) parece ser
5. Laringotraqueíte Bacteriana
de origem alérgica (27), e não inflamatória, cujo
É uma forma grave de laringo-
fator desencadeante pode ser uma infecção viral
traqueobonquite. Os agentes etiológicos mais
pelos mesmos vírus que tendem a causar a
freqüentes
laringotraqueíte. Talvez exista nessas crianças
influenzae, Streptococous piogênico (grupo A),
uma sensibilidade a certos antígenos virais (27).
S.
são
pneumoniae,
Staphilococus
Neisseria
aureus,
sp,
H.
Moraxella
A LE tende a ocorrer durante a noite,
catarralis, Klebsiella sp. Uma revisão dos
tipicamente em crianças entre 3 meses a 3 anos
aspirados traqueais de 14 pacientes com L.
de idade. No início, é difícil distingui-la da
bacteriana diagnosticados por visualização direta
laringotraqueíte viral, pois a criança pode vir
revelou que 13 dos 30 isolamentos eram de
apresentando os sintomas de um resfriado, mas
germes anaeróbios. Mais de 75% das culturas
tem um aspecto sadio. Inicialmente o paciente
obtidas continham mais de um organismo,
acorda a noite com tosse ladrante, seca, intensa
sugerindo que uma vez lesada (por uma infecção
e
de
viral prévia), a mucosa se torna vulnerável a
apresentar típico estridor, mantendo-se afebril. A
colonização bacteriana, levando eventualmente
história clássica é de súbita melhora com o
a infecções oportunistas (13, 44).
desenvolve
dispnéia
súbita,
além
contato com ar frio ambiental ou administração
A confirmação diagnóstica se faz com
de vapor (no chuveiro!), permanecendo no dia
endoscopia,
seguinte uma rouquidão leve e tosse rouca. Os
purulento difuso na laringe e traquéia, com
sintomas representam um súbito edema da
necrose da mucosa (pseudomembranas). Nos
região subglótica, e a criança pode ter ataques
lactentes, a obstrução pode ser séria a ponto de
repetidos na mesma noite ou em noites
ocluir a via aérea requerendo-se intubação
subseqüentes. A recorrência é comum.
imediata. A hemocultura é geralmente negativa.
À endoscopia, a mucosa laríngea
aparece
apenas
edemaciada
no
demonstrando
um
exudato
O leucograma pode mostrar leucocitose com
crupe
desvio à esquerda. O raio X lateral de pescoço
espasmódico e vermelha e inflamada na
pode evidenciar severo estreitamento subglótico
laringotraqueíte (27).
ou traqueal difuso e/ou irregularidade dos
contornos traqueais; porém ele pode ser normal.
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O quadro clínico inicial é de uma L.
8
6. Inalação e Queimaduras
viral, no entanto ocorre uma piora gradual do
Grandes
queimados
exibem
paciente com febre alta, toxicidade, prostração e
concomitante lesão por inalação em até 35-50%)
progressiva obstrução da via aérea. O detalhe
e esses pacientes são responsáveis por 50 a
importante é que a criança não responde bem a
80% da mortalidade atribuída a queimaduras
terapia usual para o crupe. A progressão para
(63). A ocorrência de lesões por inalação em
obstrução total da via aérea e parada respiratória
queimadura aumenta o risco de mortalidade em
não é incomum. Diferente da epiglotite, a
20% e a presença de pneumonia aumenta em
sialorréia e disfagia não são comuns assim como
40%. Inalação de fumaça expõe o paciente a
não adotam a posição corporal típica (semi-
lesão térmica, asfixiantes químicos como o
sentado). Não é raro observar L. bacteriana
monóxido de carbono e cianeto e a irritantes da
progredindo para síndrome do choque tóxico e
mucosa.
septicemia (45) (46).
A intubação traqueal é recomendada
Tratamento
em qualquer paciente queimado em que existe
Via aérea – Os cuidados são semelhantes ao da
suspeita clínica de lesão térmica da via aérea:
epiglotite. O diagnóstico é clínico, a laringoscopia
quer seja pela história (ambiente fechado,
direta e intubação não devem ser adiadas nos
grande quantidade de material sintético) ou pelo
casos duvidosos ou graves. A entubação
exame físico (vítima inconsciente, queimaduras
endotraqueal se fará como descrito em L. viral,
nos lábios e nariz, estridor, voz abafada e rouca,
sempre utilizando tubo 0.5 a 1 mm menor que o
cinza nas narinas e/ou boca). Alguns centros
indicado para o tamanho e idade da criança. Não
preferem realizar broncoscopias seriadas para
é infrequente a necessidade de se trocar o tubo
tomar essa decisão, pois é um método sensível
com freqüência devido a quantidade de secreção
e específico para avaliar o grau de lesão (63).
que passa a obstruí-lo. Por isso a aspiração do
Em pediatria preferimos estabelecer a via aérea
tubo endotraqueal deve ser feita com freqüência.
artificial precocemente. Existem alguns possíveis
O paciente deverá ser convenientemente sedado
cenários em relação a obtenção de via aérea:
com analgesia. O tempo de permanência
Intubação profilática: Indicado em crianças com
intubado é maior que em L.viral e Epiglotite
queimaduras envolvendo face, orofaringe ou a
(aproximadamente 10 dias).
via aérea propriamente dita mas sem sintomas e
Antibióticos – Cobertura para os germes
apenas hiperemia perceptível na visualização
indicados se faz necessária (vancomicina
direta. Sabe-se que quanto mais tarde for
associada a cefalosporina de 3a ou 4a geração).
postergado o procedimentoo mais difícil será
Umidificação, Adrenalina e Corticosteróide – sem
obter a via aérea, exigindo técnicas mais
valor terapêutico para essa condição, a não ser
apuradas
que exista edema sub-glótico pós extubação.
broncópio flexível de fibra ótica). Da mesma
(p.ex.
intubação
assistida
por
Obstrução Respiratória Alta
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9
maneira, a aspiração de líquidos quentes pode
exigindo anestesia. É importante sempre lembrar
gerar edema extremo de via aérea, exigindo
que o uso de relaxantes musculares do tipo
intubação precoce mesmo não havendo sinais
succinilcolina (despolarizante) estão contra-
clínicos externos de queimada ou inalação.
indicados após 48 hrs da queimadura, pelo risco
Nesse estágio, a intubação pode ser feita
de hiperpotassemia induzida por essas drogas
utilizando a técnica de seqüência rápida.
Esse efeito começa 5-15 dias após a
Intubação
queimadura
queimadura e permanece por até 3 a 16 meses..
estabelecidos: o quadro clínico de queimadura
Em casos de intubação prolongada, a
de via aérea estabelecida lembra o de epiglotite;
traqueostomia tem sido recomedada, com baixa
assim sendo a intubação deve ser feita por
morbidade (5).
pessoal
com
treinado
sinais
de
(intensivista,
cirurgiáo
e
Fístula traqueoesofágica pode surgir
anestesista), utilizando técnica inalatória com O2
como complicação no paciente com via aérea
a 100%, sem uso de relaxantes musculares ou
queimada. É sempre recomendável sempre
sedação endovenosa, no bloco cirúrgico.
deixar um pequeno escape de ar, pois existe
Intubação por razões não relacionadas a via
evidência que esse achado se deve a pressão
aérea: a colocação de tubo endotraqueal pode
elevada no balonete (64).
ser necessária por alterações no nível de
consciência, por lesão pulmonar evidente,
pneumonia, sepse ou procedimento cirúrgico
Referência:
Este texto foi modificado exclusivamente para a disciplina de Trauma e Emergências, FAMED-PUCRS, sob cuidados de
JSantana e FBruno. Refere-se ao cap. 20 sobre “Obstrução respiratória alta em Pediatria” de Garros D, Piva J, Garcia. IN:
Piva J, Garcia PC (eds). Medicina Intensiva em Pediatria. Rio de Janeiro: Revinter. 2005. p377-400.
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