PIBID UNICAMP – PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INCENTIVO À DOCÊNCIA SUBPROJETO QUÍMICA – 2013 Educação Alimentar e Consumidor Consciente Por Vicente Gomes Oliveira Todos já ouviram falar o quão benéfica é uma alimentação saudável e balanceada, que proporciona não só o melhoramento físico, mas também uma melhor qualidade de vida, diminuição de riscos de doenças, melhor disposição e sensação de bem estar. A alimentação é a forma que o nosso organismo tem para se abastecer de vitaminas, minerais, energia e demais suprimentos que permitirão o bom funcionamento das funções biológicas. Mas você já percebeu como está difícil manter uma alimentação equilibrada nos dias de hoje? Grande parte dos alimentos disponíveis no mercado está repleta de aditivos químicos, sem falar na grande quantidade de calorias, gorduras, açúcares ou sódio que eles contêm. É certo que os alimentos industrializados tornaram o preparo das refeições mais prático, e essa agilidade é muito valorizada na correria do dia-a-dia. Proporcionaram aos alimentos, também, uma maior vida útil, o que chamamos de tempo de prateleira. Como pode ser conservado por mais tempo, isso se reflete em uma maior oferta, em maior facilidade de distribuição desses alimentos para diferentes regiões, e consequentemente, em um menor preço. Não que os alimentos industrializados sejam vilões da dieta equilibrada, mas é no padrão de consumo que está o maior problema. Alimentos com boa aparência, sabor, odor e que caem no agrado do consumidor, podem não conter os nutrientes necessários – e em proporções adequadas – para uma boa alimentação. Diretamente relacionado aos padrões de consumo está o grande papel da mídia, ou do marketing. Você já parou pra pensar como somos bombardeados de anúncios relacionados a alimentos? Fast-foods, salgadinhos, refrigerantes e doces fazem parte da programação da sua televisão, dos seus jornais e revistas, em outdoors pelas ruas e na internet. Sempre buscando despertar no consumidor aquela vontade (mesmo na não necessidade) de adquirir o produto. Como o desejo está ligado, muitas vezes, a fatores emocionais e afetivos, são esses aspectos estimulados pela indústria por meio de marketing, ao invés daqueles ligados a saúde e bem estar da população. Em se tratando do público infantil então, esforços não são medidos para conquistá-los em propagandas fantasiosas com seus personagens favoritos. Como devemos então estar preparados na hora de montarmos nossa refeição de maneira saudável? Esse texto tem o intuito de contribuir para o debate em torno de uma alimentação saudável, tanto levando em conta aspectos ligados ao momento de compra dos alimentos, quanto a escolhas adequadas de alimentos que irão compor o nosso prato, envolvendo o entendimento de fatores que colaboram ou não na elevação do padrão nutricional e na promoção de saúde. Assim poderemos fazer uma escolha consciente dos alimentos á nossa disposição. Alimentos com química Se você lembrar, estudamos que a mudança de odor, coloração e formação de gás são evidências de que se ocorreu uma transformação química. Portanto, quando cozinhamos fazemos muitas reações que nos ajudam a dar gosto, aroma e aspecto agradável aos alimentos, mesmo sem nos darmos conta disso! Desta forma, devemos evitar reproduzir o habitual vício de linguagem ao dizer que determinado alimento “tem muita química”. Todos os alimentos, sejam eles de origem orgânica ou industrializados, são formados de moléculas, ou seja, de compostos químicos. O que os diferem são suas formas de manejo e obtenção: alguns compostos químicos encontrados nos alimentos são sintetizados, outros são produzidos naturalmente, e mesmo assim, podem estar inseridos em cadeias de processos industriais. Em geral, podemos agrupar os compostos químicos presentes nos alimentos em 6 categorias: os carboidratos (ou açúcares), os lipídios (óleos e gorduras), as proteínas, as vitaminas, os sais minerais e as fibras. Esses são os nutrientes básicos de uma dieta alimentar e certamente você já deve tê-los visto nos rótulos dos produtos. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é um órgão fiscalizador que regula as normas de rotulagem dos alimentos e exige que neles apareçam as principais informações nutricionais, de acordo com o produto. A quantidade de nutrientes e calorias aparece na tabela nutricional, enquanto os principais aditivos químicos aparecerão nos ingredientes de composição do produto. O papel dos nutrientes Nutriente é toda substância presente na alimentação que pode ser usada pelo organismo para crescer, manter-se vivo ou reparar as partes machucadas ou desgastadas. Um nutriente pode ter função energética, caso ele forneça energia para o funcionamento das células e manutenção da temperatura corpórea; função plástica que atua como material de construção das partes do corpo, por exemplo, para produzir novas células que substituem as células mortas; ou função reguladora, que ativa as reações do nosso metabolismo, ajudando a controlar atividades vitais, permitindo que outros nutrientes sejam aproveitados ou protejam nosso organismo de agressões e doenças. A tabela 1 a seguir é um resumo das principais fontes de nutrientes e suas funções em nosso organismo. Tabela 1: Fontes de Nutrientes na Alimentação e suas Principais Funções Nutrientes Carboidratos (Açúcares) Proteínas Onde é encontrado Amido em pães, massas, batata, mandioca, farinha; Sacarose em açúcar da cana, guloseimas, frutas, refrigerantes. Leite, queijo, ovos, carnes, peixe, feijão, soja Margarina, manteiga, óleos, Lipídios (Óleos e Gorduras) azeite, frituras, salgadinhos, embutidos (salsicha, mortadela, salame, etc) Sais Minerais Frutas, vegetais, leites, ovos e carnes Vitaminas Vários tipos de vitaminas, encontradas em animais e vegetais Fibras Frutas, verduras, cereais integrais Funções Principal fonte de energia para as células realizarem suas atividades e manterem o corpo funcionando. Participam da composição de todas as células, em especial, das musculares. Sua falta provoca desnutrição. Algumas proteínas regulam as atividades vitais. Reserva, fornecem energia na falta de carboidratos. Fazem parte da composição das células do corpo Funções reguladoras diversas. O cálcio, por exemplo, na constituição dos ossos; o ferro, na hemoglobina do sangue; sódio e potássio na transmissão dos impulsos nervosos e absorção de água pelo corpo. Fundamentais para o funcionamento do corpo, pois regulam alguns processos que ocorrem nas células. Sua falta pode causa vários distúrbios. Não são digeridas, mas sua ingestão evita problemas intestinais. Calorias e o ganho de peso No processo de digestão, mastigamos o alimento e o atacamos de diversas formas (enzimas, bile, suco gástrico, etc.) para quebrar os compostos químicos presentes nos alimentos em moléculas bem pequenas. Esses fragmentos dos nutrientes são, então, absorvidos pelo organismo, em sua grande parte, ao longo do intestino. As proteínas são fragmentadas em aminoácidos, os lipídios em moléculas de ácido graxos e glicerol, e os carboidratos em moléculas de glicose. Quando respiramos, inalamos gás oxigênio para oxigenamos o sangue, que irá transportá-lo juntamente com os fragmentos de nutrientes, para o interior das células. Ocorre então a respiração celular, que é a obtenção de energia a partir da reação entre os nutrientes e o gás oxigênio. Nosso corpo está adaptado para usar primeiramente a glicose como material combustível para a respiração. Somente na falta de glicose as células usarão os aminoácidos e/ou os ácidos graxos e glicerol na obtenção de energia. Os nutricionistas geralmente expressam a energia que um nutriente pode fornecer em quilocalorias (kcal), também denominadas calorias alimentares (Cal). Enquanto cada grama de carboidrato ou proteína fornece cerca de 4 kcal, 1 grama de lipídio fornece cerca de 9 kcal. O nosso organismo necessita de aproximadamente 2000 kcal diariamente para desempenhar suas funções fisiológicas básicas, como manter a temperatura do corpo e o funcionamento dos órgãos vitais, por exemplo. Esta quantidade de energia gasta em quilocalorias varia de acordo com a idade, sexo e metabolismo do indivíduo. Ao praticarmos esportes ou atividades físicas, andarmos, estudarmos, brincarmos ou realizarmos atividades domésticas estamos consumindo mais energia. Se ingerirmos uma quantidade de quilocalorias maior do que gastamos, nosso organismo irá armazenar esse excesso de energia na forma de moléculas de gordura, no tecido adiposo, ou seja, engordamos! Se desejamos evitar o ganho de peso, temos que gastar mais energia praticando atividades físicas, e ingerindo alimentos pouco calóricos, porém ricos em nutrientes. Tabela 2: Gasto Calórico Médio de Diferentes Atividades (em kcal) A tabela 2 mostrada anteriormente apresenta algumas atividades e o quanto elas gastam de energia. Entendendo o rótulo As quilocalorias não são nutrientes, mas a maneira com que o organismo transforma em energia o alimento que ingere. O valor calórico dos alimentos é calculado com base nas quantidades de carboidratos, proteínas e lipídios totais. As fibras alimentares e os micronutrientes – vitaminas e sais minerais – não têm valor calórico significativo. Observemos o rótulo de um refrigerante ao lado. Esta bebida não contém lipídios e proteínas, então o conteúdo calórico deve-se apenas aos carboidratos. Como os carboidratos fornecem 4 kcal/g, temos que em 10,6g encontraremos 42,4kcal para uma porção de 100 mL. Portanto, ingerindo o conteúdo desta embalagem de 330mL, você estará consumindo 35g de açúcar, o que equivale a uma quantidade de energia de 139,9 Figura 1. Rótulo de Refrigerante de 330 mL kcal. Por determinação da ANVISA, estes valores atualmente têm aparecido em maior destaque nas embalagens dos produtos, como mostra a Figura 1. Esta medida visa auxiliar o consumidor, que antes tinha que se esforçar para compreender a informação nutricional em letras minúsculas! Repare que também são mostrados os valores diários de referência, que são as porcentagens indicadas para consumo em uma dieta padrão de 2000 kcal. Ou seja, para esta dieta, ingerir este produto significa consumir 39% da quantidade de açúcar recomendado para 1 dia, e 7% das quilocalorias para este dia. Como uma lata de refrigerante é apenas uma pequena parcela de uma refeição ao longo de um dia, percebemos que é um alimento calórico e com grande quantidade de açúcar, além de não fornecer nenhum dos demais nutrientes recomendados. Em relação aos demais alimentos, pode ser considerado nutricionalmente pobre, pois para a quantidade de energia fornecida, não satisfaz as necessidades diárias dos demais nutrientes. Observe também que, dentre os ingredientes, estão aditivos químicos como corantes, acidificantes e aromatizantes. Será que a ingestão frequente destes compostos químicos é compatível com uma opção saudável de vida? Pergunte a seu médico ou dentista quais são os problemas causados pela ingestão frequente de refrigerantes, e quais as implicações para a saúde em elevarmos os níveis de acidez em nosso organismo (o refrigerante contém ácido fosfórico). Alguns problemas podem estar associados a processos de desmineralização de ossos e dentes, e aparecimento de gastrite, refluxo , úlcera, dentre outros. Observemos agora as informações nutricionais para 240 mL de suco de laranja. Note que contém 25g de carboidratos, dos quais 21g correspondem a açúcares e os 4g restantes a carboidratos complexos. Contém também 2g de proteínas e 0,32g de lipídios. Estes três nutrientes serão responsáveis pelo conteúdo calórico: 25g x 4kcal/g = 100kcal 2g x 4kcal/g = 8kcal 0,32g x 9kcal/g = 2,9kcal 110,9kcal Portanto, ingerindo 240 mL deste suco você está consumindo uma quantidade de energia de 110,9kcal, o que corresponde a 8% das quilocalorias necessárias para uma dieta padrão de 2000kcal. Figura 2. Informação Nutricional para O valor obtido de quilocalorias foi Suco de Laranja de exportação. muito próximo ao de 330 mL do refrigerante. Porém, comparando a quantidade e a diversidade de nutrientes fornecidos pela ingestão do suco, será que não vale a pena substituir em suas refeições uma latinha de refrigerante por um copo de suco de laranja? Optando pelo copo de suco de laranja, certamente você estará ingerindo um alimento nutricionalmente mais rico! Aditivos alimentares Desvendar o que está presente nos rotos de produtos alimentícios torna-se um desafio ainda maior quando analisamos os ingredientes de que tais alimentos são feitos. Nos alimentos industrializados, não encontramos somente ingredientes comumente conhecidos e presentes em nossas cozinhas, mas uma série de compostos químicos que podem dificultar o entendimento do que se está sendo consumido. Aditivo alimentar é qualquer ingrediente adicionado aos alimentos intencionalmente, sem o propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais do alimento. Garantem à estabilidade, textura, aparência física, cor, aroma, entre outros. A tabela 3, a seguir, apresenta as principais classes de aditivos, bem como o papel que eles desempenham no alimento. Tabela 3: Principais Aditivos Alimentares Sabe-se que alimentos inteiramente processados precisam ser completamente aditivados para que possam incorporar as substâncias naturais perdidas no processo de industrialização. É o caso, por exemplo, de carnes transformadas em frios, e embutidos como salames, nuggets, salsichas, etc. Antes da inclusão dos aditivos na alimentação humana, os produtos tinham que ser consumidos rapidamente, pois estes se deterioravam com facilidade, e a sua inclusão trouxe a vantagem da preservação das suas características por um longo tempo, bem como a melhoria nas propriedades organolépticas. Entretanto, excesso e a falta de segurança quanto ao consumo dos mesmos pode propiciar aos indivíduos males à saúde tais como alergia, aumento de hiperatividade, câncer entre outros. Considerações Finais O ato de alimentar-se é vital para manter a saúde do indivíduo, pois os alimentos são fontes de energia e nutrientes para o ser humano. Cada pessoa desenvolve um hábito alimentar, adquirido na infância, pelo contato com familiares, pelo convívio social, pelas rotinas escolares e pela influência da mídia. Os alimentos e a forma de preparo provêm da cultura, do gosto, da renda e do acesso à diversidade destes. Atualmente nota-se um consumo muito elevado de produtos industrializados e cada vez menos a população está reservando tempo para cozinhar, tendo em vista a dinâmica dos cotidianos. Assim, facilidades na área de alimentos tem sido um mercado bastante lucrativo. A inserção de alimentos de elevados níveis de açúcares, lipídios, sódio para a maior parte da população tem se tornado um problema de saúde pública, uma vez que há maior incidência de doenças e de obesidade. Neste cenário, um consumidor consciente dos produtos que adquire e consome deve fazer parte do conceito de cidadania. Entender os rótulos, por meio de informações legíveis e compreensíveis, é uma ferramenta bastante útil para realizar escolhas de dietas balanceadas em calorias e nutrientes, ou mesmo permite contextualizar o debate em torno de tema tão importante e essencial para a manutenção de uma população com mais saúde e bem estar. Referencias Bibliográficas ALBUQUERQUE, M. V.; Santos, S. A.; CERQUEIRA, T. V.; SILVA, J. A. Educação Alimentar: Uma Proposta de Redução do Consumo de Aditivos Alimentares. Química Nova na Escola, vol. 34, N° 2, p. 51-57, Maio/2012. ANVISA. Rotulagem Nutricional Obrigatória: Educação para o Consumo Saudável. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/rotulos/manual_rotulagem.PDF, acesso em 05/2013. ANVISA. Manual de Orientação aos Consumidores: Educação para o Consumo Saudável. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/alimentos/rotulos/manual_consumidor.pdf, acesso em 05/2013. Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos. 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