Klebsiella pneumoniae e sua resistência a antibióticos

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Klebsiella pneumoniae e sua resistência a antibióticos
Vanessa Carvalho Moreira1
Daniel Freire2
1
2
Biomédica. Aluna de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, pela Universidade Católica de Goiás/IFAR.
Biólogo. Microbiologista Clínico, pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto- CERES-SP.
Resumo
Klebsiella pneumoniae é um bacilo Gram-negativo e sua resistência a antimicrobianos tem se tornado um
problema de saúde pública e preocupação em todos os campos da saúde. A resistência pode ser originada de
diversas formas, como por exemplo, o uso inadequado de antimicrobianos e a produção de beta-lactamases tipo
AmpC e de carbapenemases, como as metalo-beta-lactamases (MBL) e carbapenemases tipo KPC. A maioria
das infecções associadas à K. pneumoniae, produtora da enzima KPC, ocorre em pacientes imunodeprimidos
hospitalizados e/ou com dispositivos invasivos, sendo a prevenção a arma principal no combate desta bactéria. O
objetivo desta revisão é apresentar, por meio de uma revisão de literatura, considerações levantadas a respeito da
bactéria Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase (KPC) e apontar os danos causados na saúde
pública, devido sua resistência a antibióticos, relatando as diferentes formas de diagnóstico e controle da bactéria
e destacando os processos de resistência e as enzimas envolvidas. Foram utilizados para esta revisão 36 artigos
com o tema proposto. A ampla resistência destas bactérias mostra a necessidade de restringir o uso de
antibióticos beta-lactâmicos, e realizar ações que visam prevenir infecções hospitalares e cuidados com pacientes
imunossuprimidos objetivando evitar surtos epidêmicos.
Palavras-chave: Klebsiella pneumoniae, Enzima KPC, Mecanismo de Resistência
Klebsiella pneumoniae carbapenemase and their antibiotic resistance
Abstract
Klebsiella pneumoniae is a Gram-negative bacilli and their antimicrobial resistance has become a public health
problem and concern in all fields of health. The resistance can be sourced from a variety of ways, such as for
example, the improper use of antimicrobials and the production of beta-lactamases AmpC-type and
carbapenemases, as the metallo-beta-lactamases (MBL) and carbapenemases KPC-type. Most infections
associated with producing enzyme KPC occurs in immunosuppressed patients hospitalized and/or invasive
devices, being the preventing the main weapon in combating this superbacteria. The purpose of this review is to
present, through a literature review, considerations raised regarding bacteria Klebsiella pneumoniae producing
enzyme carbapenemase (KPC) and point the damage caused in public health, because of their resistance to
antibiotics, report the various forms of diagnosis and control of bacterium and highlighting the processes of
resistance and the enzymes involved. Were used for this review 36 articles related to the theme proposed. The
broad strength of these bacteria shows the need for restrict the use of beta-lactamics antibiotics, and take actions
to prevent nosocomial infections and immunosuppressed patients care aiming to prevent epidemic outbreaks.
Keywords: Klebsiella pneumoniae, Enzyme KPC, mechanism of resistance
INTRODUÇÃO
Klebsiella
pneumoniae
é
um
bacilo
Gram-negativo,
membro
da
família
Enterobacteriaceae, encontrado em locais como água, solo, plantas e esgoto (PODSCHUM;
ULLMANN, 1998). Sua colonização em seres humanos provavelmente ocorre por contato
com as diversas fontes ambientais e pode ser encontrada colonizando a orofaringe e fezes de
pessoas sadias, já no organismo de pessoas imunocomprometidas esta bactéria encontra um
ambiente propício para seu crescimento, levando aos quadros de infecção (DESIMONI et al.,
2004; MARTINEZ et al., 2004).
A resistência apresentada por essa bactéria a antimicrobianos nos últimos anos se
tornou um problema de saúde pública e preocupação em todos os campos da saúde. Notícias
sobre mortes provocadas pela bactéria Klebsiella pneumoniae, produtora da enzima
carbapenemase (KPC), provocaram alarde em várias partes do Brasil. Segundo dados do
Ministério da Saúde, no Distrito Federal foram feitas 187 notificações de infecção no ano de
2010, sendo registrados 18 óbitos. Em São Paulo, o Hospital das Clínicas registrou 70 casos
desde 2008 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
O termo bactéria multiresistente é usado para determinar os organismos resistentes a
um número expressivo de antimicrobianos. As expressões de resistências em bactérias podem
ser originadas de diversas formas, como por exemplo, o uso inadequado de antimicrobianos
(DIENSTMANN et al., 2010). A Klebsiella pneumoniae KPC é uma bactéria que expressa
resistência a até 95% dos antimicrobianos existentes no mercado farmacêutico, sendo uma das
principais causas de falha terapêutica, a produção de beta-lactamases de espectro estendido
(ESBL) por esta bactéria. Cepas produtoras de ESBL frequentemente apresentam resistência
aos
antimicrobianos
de
importância
clínica,
como
penicilinas,
cefalosporinas,
aminoglicosídeos e quinolonas (BRADFORD, 2001; SPANU et al., 2002). Outras formas de
resistência emergentes, de grande importância são a produção de beta-lactamases tipo AmpC,
que hidrolizam cefoxitina, e de carbapenemases, como as metalo-beta-lactamases (MBL) e
carbapenemases tipo KPC (PEIRANO et al., 2009).
Segundo infectologistas, a maioria das infecções associadas à enterobactéria produtora
da enzima KPC ocorre em pacientes imunodeprimidos hospitalizados e/ou com dispositivos
invasivos como cateter, sonda, pulsão venosa periférica ou em outra situação que possa
favorecer a infecção bacteriana (MARCHAIM et al., 2008).
A prevenção é a arma principal no combate á Klebsiella pneumoniae produtora de
carbapenemase KPC, já que o tratamento é difícil devido sua alta resistência a
antimicrobianos. Desta forma, médicos e enfermeiros devem tomar certos cuidados quanto à
higienização das mãos, assim como os visitantes, além de utilizar luvas e máscaras para uma
prevenção mais efetiva. O isolamento de pacientes com suspeita de contaminação e a
preocupação com a limpeza dos locais é outra questão importante para evitar a disseminação
da bactéria com expressão do fenótipo KPC nas unidades de tratamento intensivo ou nos
locais de atendimento do pronto-socorro (DEL PELOSO et al., 2010). De acordo com o
Ministério da Saúde a venda de antimicrobianos será mais rígida, sendo exigida apresentação
de receita médica especial nas farmácias e drogarias e a retenção da mesma, sendo esta
normativa válida em todo o Brasil (RAMALHO, 2010).
De acordo com levantamentos anteriores, os problemas enfrentados com bactérias com
expressão de resistência a múltiplos antimicrobianos são antigos. No âmbito hospitalar, a
primeira bactéria multiresistente relatada foi o Staphylococcus aureus resistente a oxacilina,
seguido por enterobactérias produtoras de uma enzima com capacidade de promover a
digestão de diversos antimicrobianos. Mais recentemente, houve relatos de Staphylococcus
aureus resistentes a vancomicina e diversas bactérias gram-negativas produtoras de uma
enzima com propriedade de digerir antibióticos carbapenêmicos. No âmbito comunitário, as
bactérias mais preocupantes são a Mycobacterium tuberculosis, o bacilo causador da
tuberculose, doença com alta incidência na população, e o Staphylococcus aureus CA-MRSA
(DEL PELOSO et al., 2010).
Desta forma, as infecções causadas por K. pneumoniae multirresistentes representam
um sério problema de saúde pública e um grande desafio terapêutico (KEYNAN;
RUBINSTEIN, 2007). Por apresentar um importante mecanismo de resistência, a pesquisa da
expressão da KPC é relevante a fim de limitar sua disseminação e assim contribuir para a
redução dos índices de morbidade e mortalidade ligados a diferentes doenças infecciosas
(DIENSTMANN et al., 2010).
Assim, este estudo tem como objetivo informar sobre a enzima Klebsiella pneumoniae
carbapenemase (KPC), apontar os danos causados na saúde pública devido sua resistência a
antibióticos, relatar as diferentes formas de diagnóstico e controle da bactéria e destacar os
processos de resistência e as enzimas envolvidas no mesmo.
METODOLOGIA
Para o alcance dos objetivos determinados neste trabalho optou-se pela realização de
uma revisão bibliográfica buscando proporcionar a incorporação das evidências cientificas no
desenvolvimento da prática clínica (URSI, 2005; WHITTEMORE,2005).
Trata-se de um estudo descritivos incluindo os estudos exploratórios, que tem por
finalidade adquirir familiaridade com um fenômeno.
A estratégia de busca dos artigos utilizados são bases de dados importantes na área de
saúde, tendo como acesso a MEDLINE (Medical Literatura Analysis and Retrieval Sistem),
Science Direct e SCIELO (Scientific Electronic Library Online). As palavras utilizadas para
busca foram KPC, ESBL, AMPc, Klebsiella pneumoniae carbapenemase, antibióticos βlactâmicos e mecanismo de resistência, obtendo-se 36 artigos publicados nos últimos 10 anos.
DISCUSSÃO
1. Diagnóstico da infecção
A identificação de um microrganismo é baseada na comparação entre os exames
bioquímicos que refletem as atividades metabólicas do isolado e os dados publicados por
gêneros e espécies conhecidos (MURRAY et al., 2005). O gênero Klebsiella é definido como
contendo bacilos Gram-negativos da família Enterobacteriaceae, não móveis, geralmente
encapsuladas e em forma de bastão, que produzem lisina descarboxilase mas não produzem
ornitina descarboxilase (PODSCHUM; ULLMANN, 1998). Compreende cinco espécies, K.
pneumoniae, K. oxytoca, K. planticola, K. terrigena e K. ornithinolytica (MURRAY et al.,
2005).
Se a identificação completa da espécie de Klebsiella não for possível por teste
bioquímicos tradicionais, podem ser utilizados métodos alternativos, como resistência
intrínseca das espécies conhecidas e produção de β-lactamases (MURRAY et al., 2005).
Outras formas de diagnóstico são: focalização isoelétrica, disco-difusão, E-test (BRADFORD
et al., 2004) e teste de Hodge modificado (ANDERSON et al., 2007). O disco-difusão é um
dos principais métodos de triagem fenotípica, onde se realiza antibiograma com discos de
cefalosporinas subclasse III (como cefoperazona e cefotaxima) e imepenem (IPM) ou
utilizando meropenem (MEM) e ertapenem (ETP) (BRATU et al., 2005). Já o teste de Hodge
modificado tem apresentado sensibilidade e especificidade para confirmação de
carbapenemases.
Outro método empregado é a identificação molecular de patógenos bacterianos,
bastante utilizado em estudo de infecções hospitalares. Um exame molecular é necessário para
diferenciar carbapenemases tipo KPC a partir de outros tipos como SME, NMC-A-IMI, e
GES. A identificação das variantes, instituído pela triagem molecular, vai definir um padrão
de substrato específico, que pode ser usado para identificar o tratamento com antibiótico
adequado. Entretanto, a principal desvantagem de alguns exames baseados em reação em
cadeia da polimerase (PCR), por exemplo, é que eles distinguem entre apenas algumas
variações devido à sua limitada capacidade de multiplexação (IREDELL; SINTCHENKO,
2006).
Dentre as técnicas descritas para a identificação molecular de patógenos pertencentes a
família Enterobacteriaceae estão as de PFGE, RAPD e ERIC-PCR. A PFGE (Pulsed Field
Gel Electrophoresis), considerada padrão ouro devido sua alta capacidade de discriminação é
baseada na análise do perfil de restrição do DNA genômico por meio de eletroforese. Apesar
dos benefícios, apresenta como desvantagem a necessidade de vários dias para sua execução,
o que impede a tipagem de algumas cepas bacterianas devido à degradação do DNA, além do
alto custo empregado (SILBERT et al., 2003).
Como alternativa para a técnica de PFGE, o método baseado em PCR tem sido
bastante utilizado. A técnica ERIC-PCR (Enterobacterial Repet it ive Intergenic ConsensusPCR) consiste na análise do padrão de amplificação de elementos repetidos encontrados no
genoma bacteriano (VERSALOVIC et al., 1991). Esta metodologia permite uma maior
rapidez na obtenção de resultados quando comparada com o PFGE, além de apresentar alta
reprodutibilidade, simples execução e implementação, baixo custo e não enfrenta problemas
com a degradação do DNA (SILBERT et al., 2003).
2. Enzima KPC
A enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) possui a capacidade de
inativar inúmeros agentes antimicrobianos e atualmente é apontada como causadora principal
de certas infecções devido à resistência que confere aos medicamentos. Segundo dados da
ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), entre 2009 e 2010 foram relatados
diversos casos em hospitais do Espírito Santo; Goiás; Minas Gerais; Santa Catarina; Distrito
Federal e São Paulo. Devido sua localização em plasmídio, o grupo KPC possui alto potencial
de disseminação, sendo mais frequente em bactéria K. pneumoniae que apresenta grande
capacidade de acumular e transferir genes de resistência o que dificulta o controle de
epidemias e proporciona elevação nas taxas de mortalidade (ANVISA,2011).
Essa enzima pode ser produzida por diversos tipos de bactérias e segundo Monteiro et
al. (2009) diferenciada em KPC-1 a 4: KPC-1 isolados em Klebsiella pneumoniae; KPC-2 em
K. pneumoniae, K. oxytoca, Salmonella enterica e em Enterobacter sp.; KPC-3 em K.
pneumoniae e Enterobacter cloacae; KPC-4 em nenhum microorganismo até o momento
(CAI et al., 2008). Os métodos para rastreamento da KPC são bastante variados e consistem
em focalização isoelétrica, disco-difusão, E-test e teste de Hodge modificado, podendo-se
ainda pesquisar o gene blaKPC por PCR (ANDERSON et al., 2007). A triagem fenotípica se
dá por antibiograma com discos de cefalosporinas subclasse III (cefoperazona, cefotaxima,
ceftazidima, ceftizoxima, ceftriaxona) e imipenem (IPM), meropenem (MEM) e ertapenem
(ETP) (BRATU et al., 2005).
Como medidas preventivas, hábitos simples como lavagem das mãos e aplicação de
álcool 70% são bastante eficazes. Tratamento com antibióticos como Polimixina B e Colistina
também estão sendo utilizados com bastante sucesso.
3. Mecanismo de Resistência
Vários são os mecanismos de resistência que podem impedir a ação de
antimicrobianos. Este fármaco atua através da inibição de processos essenciais a
multiplicação e sobrevivência da célula bacteriana, inibindo membrana citoplasmática e a
síntese protéica, de ácidos nucléicos e da parede celular (MURRAY et al., 2005).
A resistência bacteriana é um mecanismo natural de defesa. Assim, para cada novo
fármaco desenvolvido, em algum momento as bactérias irão desenvolver resistência. A
bactéria KPC tem um gene chamado SHV-1 que a torna resistente a quase todos os tipos de
antimicrobianos, inclusive os carbapenêmicos, específicos para emergências e tratamento de
infecções por bactérias multiresistentes. A bactéria pode já ter no seu código genético a
informação necessária para o desenvolvimento da resistência, mas este mecanismo não se
expressa a não ser que a bactéria entre em contato com o antibacteriano, desencadeando todo
o processo, nos casos de resistência induzida, comuns em KPC (DEL PELOSO et al., 2010).
Outro mecanismo de resistência surge, ocasionalmente, da combinação de
impermeabilidade da membrana com β-lactamase cromossômicas (AmpC) ou de amplo
espectro (ESBL) (MARTINEZ et al., 2004). Entre as bactérias Gram-negativas, a produção
de β-lactamases é o principal mecanismo de resistência a antibióticos β-lactamâmicos
(MEDEIROS, 1997). Essas enzimas são capazes de hidrolisar tais antibióticos, gerando
compostos sem atividade antimicrobiana (BUSH, 2001).
4. Origem da resistência aos antibióticos
A resistência a antimicrobianos está intrinsecamente associada à expressão fenotípica
pelos organismos procariontes, que pode ser de três formas: resistência intrínseca, adquirida
ou susceptibilidade.
A resistência intrínseca faz parte das características naturais/fenotípicas do
microrganismo, ou seja, faz parte de sua herança genética sendo transmitida verticalmente a
prole sem perda da característica. O principal determinante deste tipo de resistência é a
presença ou ausência do alvo para a ação da droga (DEL FILHO et al., 2008). Um exemplo
são os organismos do gênero Enterobacter, naturalmente resistentes a cefoxitina, sendo tal
fenótipo oriundo da produção de uma β-lactamase AmpC cromossômica (CAVALLO et al.,
2008). Vale ressaltar, que por ser previsível, a resistência intrínseca não apresenta qualquer
risco ao tratamento terapêutico, basta conhecer o agente etiológico da infecção e os
mecanismos de ação do fármaco (DEL FILHO et al., 2008).
A resistência adquirida aos antibióticos, por sua vez, ocorre quando há o aparecimento
de resistência em uma espécie bacteriana anteriormente sensível a droga, resultante da
mutação de genes reguladores ou estruturais, aquisição de genes de resistência veiculados por
elementos genéticos móveis ou da combinação entre eles (GOLD et al., 1996). O fenótipo
resultante desta resistência não estará presente nas células genitoras, e sim nos indivíduos de
uma linhagem bacteriana derivada de um organismo susceptível. Os genes muitas vezes são
adquiridos através de elementos móveis, como plasmídeos e transposons (DIAS, 2008).
Já a susceptibilidade aos antibióticos é resultante da ausência total de mecanismos de
resistência, possibilitando a sobrevivência das bactérias na presença de determinados
medicamentos (HARBOTTLE et al., 2006).
A resistência aos antibióticos β-lactâmicos pode ser resultado também de modificações
do alvo do antibiótico, impermeabilidade da membrana citoplasmática, existência de proteínas
de efluxo ou por inativação enzimática do antibiótico (NIKAIDO, 2009).
4.1 Modificação do alvo
Neste mecanismo, as bactérias tornam-se resistentes através de substituições de
aminoácidos nas proteínas ligadoras de penicilina (PBPs) tornando-as menos susceptíveis a
ligação com o agente antimicrobiano. A modificação dos aminoácidos pode ocorrer por
aquisição de novas PBPs; presença de proteínas provenientes da recombinação entre genes
codificadores de PBP’s associadas a expressão de susceptibilidade ou devido a hiperprodução
da proteína, gerando aumento do nível de resistência aos antibióticos β-lactâmicos
(GEORGOPAPADAKPU; LIU, 1980).
A modificação do alvo é um mecanismo de resistência frequente em bactérias Gram
positivas, apesar de relatos envolvendo também bactérias Gram negativas. Há também outros
tipos de alteração do alvo, como mutação da DNA girase, que confere resistência aos
quinilônicos e mutação dos ribossomos.
4.2 Bombas de efluxo
A especificidade do antibiótico pode variar em função da bomba de efluxo.
Caracterizado pelo bombeamento ativo de antimicrobianos do meio intracelular para o
extracelular, este mecanismo gera uma resistência bacteriana a determinados antimicrobianos,
como é o caso da resistência às tetraciclinas codificada por plasmídeos em Escherichia coli,
devido à presença de proteínas integrantes da membrana plasmática bacteriana (PIDDOCK,
2006).
O aumento da síntese de proteínas é o principal responsável pela resistência
antimicrobiana devido às várias mutações que ocorrem em seus repressores transcricionais.
Tais mutações podem levar também a um aumento da eficiência do transporte dos antibióticos
para o exterior da célula (HARBOTTLE et al., 2006).
4.3 Alteração da permeabilidade
A resistência aos antibióticos é frequentemente associada à diminuição da
permeabilidade que ocorre na membrana externa das bactérias gram-negativas. O fluxo de
moléculas para o interior da célula ocorre por características peculiares como carga, estrutura
e dimensão e através de proteínas de membrana, as quais formam canais. Os antibióticos
utilizam este percurso para atingir o interior da célula bacteriana ou o espaço periplasmático
como é o caso dos antibióticos β-lactâmicos. Desta forma, a perda de função destas proteínas,
pode efetivamente causar a diminuição da susceptibilidade a vários antibióticos
(LIVERMORE, 2003).
5. β -lactamase de espectro estendido (ESBL)
Dentre as bactérias gram-negativas, a produção de Beta-lactamases é o mecanismo
mais importante de resistência contra agentes beta-lactâmicos (SANDERS; SANDERS,
1992). Esta enzima possui atividade hidrolítica e inativam uma variedade de antibióticos βlactâmicos como, por exemplo, as cefalosporinas e penicilinas, tornando a bactéria produtora
da enzima resistente a antimicrobianos potentes (JAIN et al., 2003).
Os principais produtores desta enzima são: Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli
(CASSETTARI et al., 2006) e o principal veículo de transmissão são entre pacientes e o
profissional de saúde e meio ambiente, sendo o principal reservatório o trato intestinal
(HOSOGLU et al., 2007). A produção de ESBL está associada também à resistência a outros
antibióticos em patógenos multirresistentes (BUSH, 2001), embora a utilização de testes de
triagem laboratorial para produtores ESBL possa evitar o uso de antibióticos β-lactâmicos nos
quadros de sepse, prevenindo desta forma, surtos de infecção hospitalar incontroláveis
(TRAGANTE et al., 2008).
As ESBLs são enzimas transmitidas ou codificadas por plasmídeos, como as famílias:
Temoniera (TEM), Sulfidril variável (SHV) e Oxacilina (OXA), variantes mais isoladas
atualmente, apesar do surgimento de outros tipos (SIROT et al., 1987). Como resultados mais
de 370 variantes naturais de ESBLs diferentes são conhecidas atualmente (STÜRENBURG et
al., 2005).
As ESBLs diferem-se entre si por substituições na sequência de aminoácidos que
alteram configurações e propriedades do seu sitio ativo, podendo gerar mutações tornando
estas enzimas capazes de hidrolisar antibióticos betalactâmicos ou então, reconhecer
antimicrobianos beta-lactâmicos de amplo espectro como substrato, muito fracamente
(KNOX, 1995).
As ESBLs foram mapeadas e classificadas em dois grandes grupos, não relacionados
entre si, embora algumas de suas enzimas ajam sobre o mesmo substrato, ligando-se aos
antimicrobianos β-lactâmicos em sítios completamente distintos. Este grupo de enzimas foi
descrito como resultado de genes presentes em plasmídeos, como o TEM-1, TEM-2 e SHV-1,
os quais sofreram mutações, resultando em substituições no aminoácido terminal e no sítio
ativo destas enzimas (STÜRENBURG; MACK, 2003). A K. pneumoniae é a espécie entre as
Enterobacteriaceae que apresenta a maior diversidade de fenótipos de resistência associados a
produção de ESBL, e onde estas enzimas são mais comumente encontradas.
A SHV-2 foi a primeira ESBL tipo SHV descrita e identificada em isolados clínicos de
K. pneumoniae e Serratia marcescens e em 1987 apareceram os primeiros relatos de TEM-3,
a primeira ESBL tipo TEM, identificada também em isolados clínicos de K. pneumoniae.
Atualmente, a maioria das ESBL identificadas em isolados clínicos são do tipo CTX-M, TEM
(TEM-1 e TEM-2) e SHV (SHV-1), sendo estas últimas derivadas de enzimas, codificadas
por genes blaSHV e blaTEM localizados no cromossomo bacteriano. Estas enzimas,
codificadas por genes localizados em plasmídeos se disseminaram facilmente para outras
espécies de bactérias, e são identificadas em importantes patógenos da família
Enterobacteriaceae (TOLENTINO, 2009).
Apesar de todos os estudos e achados a respeito de ESBL, a ocorrência desta enzima é
mundialmente sub-estimada, uma vez que a incidência de microorganismos produtores de
ESBL é muito difícil de se determinar, principalmente, por diferenças entre os métodos de
detecção e interpretação utilizados, além da falta de notificação do aparecimento de tal
fenômeno (STEWARD et al., 2000).
6. β-lactamases tipo AMPC
As β-lactamases tipo AmpC são enzimas produzidas por genes de localização
cromossômica ou plasmidial e conferem resistência às cefalosporinas de terceira geração,
como
cefotaxima, ceftazidima e ceftriaxona
e aos
inibidores
das
β-lactamases
(NORDAMNN; MAMMERI, 2007). Conhecidas desde 1989, hoje são descritas nove
diferentes tipos enzimáticos, denominadas CMY (pAmpC mais comumente encontrada entre
membros da família Enterobacteriaceae), FOX (encontradas em K. pneumoniae isoladas na
Europa e America do Norte), DHA (comuns em K. pneumoniae isoladas na Ásia), ACT, ACC
MIR, MOX, LAT e CFE (TOLENTINO, 2009).
Os genes AmpC plasmidiais (pAmpC) são derivados dos genes cromossômicos de
várias espécies da família Enterobactericeae. Estão normalmente localizados em integrons de
classe I, em plasmídeos onde também são encontrados os genes que determinam a resistência
para outras drogas como quinolonas e sulfas, além de genes para a produção ESBL de
diferentes tipos (ALVAREZ et al., 2004). Cepas produtoras de pAmpC são normalmente
multirresistentes e encontram-se disseminadas dentro do ambiente hospitalar e na comunidade
através de transmissão horizontal (HANSON et al., 2008).
Em K. pneumoniae são encontradas apenas enzimas AmpC plasmidiais (pAmpC),
sendo um importante determinante para resistência a drogas β-lactâmicas. A maioria das
cepas produzem também ESBL tipo TEM, SHV e CTX-M, e a diversidade de β-lactamases
expressas dificultam a sua detecção fenotípica (TOLENTINO, 2009)
A dificuldade de detecção fenotípica das cepas produtoras de pAmpC impede a
estimativa da prevalência destas enzimas, sendo uma barreira para o controle da sua
disseminação (DIAS, 2008). Assim, a investigação molecular da produção de AmpC
plasmidial é um importante instrumento para se conhecer a diversidade dos mecanismos de
resistência apresentados por cepas de importância clínica. Métodos moleculares podem
auxiliar na detecção da produção de pAmpC, auxiliando as condutas terapêuticas e de
controle de infecção (THOMSON, 2001).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sobre KPC é muito importante e bastante relevante, possibilitando a
limitação de sua disseminação, auxiliando na redução dos índices de morbidade e mortalidade
associados a diferentes doenças infecciosas. A ampla resistência destas bactérias mostra a
necessidade de restringir ao máximo o uso de antibióticos beta-lactâmicos, bem como a
realização de ações que visam prevenir infecções hospitalares, além de medidas básicas de
higiene como lavagem de mãos e cuidados com os pacientes imunossuprimidos, objetivando
sempre evitar surtos epidêmicos.
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