17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar 1 O uso de plantas medicinais na doença inflamatória intestinal Rejani Cristine Faustino dos Santos¹, Edna Manzato de Souza² ¹.²Universidade Federal da Grande Dourados (PG) 1 e-mail: [email protected] ¹Rua: Ivo Alves da Rocha, 558 - Altos do Indaiá Dourados - Dourados - MS, 79823-515 RESUMO A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é classificada, caracterizada, subdividida em Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa (RCU), que são doenças inflamatórias crônicas, e acometem o trato gastrointestinal. Infelizmente, a farmacoterapia disponível não determina a cura da DII, e os fármacos disponíveis, são de alto custo e determinam sérios efeitos adversos e colaterais. Os modelos experimentais em animais de laboratório são realizados para elucidar questões concernentes à etiologia, desenvolvimento e tratamento dessa doença. A literatura relata a eficácia do uso de várias plantas medicinais no tratamento da DII, sendo que suas propriedades terapêuticas são atribuídas a diferentes compostos ativos como polifenóis, alcalóides, flavonóides, cumarinas, terpenóides e taninos. Recentemente, novos procedimentos terapêuticos têm sido propostos, especialmente com produtos naturais que exibem atividade antioxidante e/ou imunomoduladora. O objetivo deste trabalho foi realizar levantamento bibliográfico dos trabalhos disponíveis na literatura científica sobre a DII, que relatam as suas formas de tratamento, com ênfase no uso de plantas medicinais. Este trabalho foi realizado através de monitores de busca: Pubmed, Bireme e Scielo. As plantas utilizadas, Achyrocline satureioides (macela) Camellia sinensis L. Kuntze (chá verde) e Hymenaea stigonocarpa Mart. (jatobá do cerrado) produziram uma serie de resultados satisfatórios que melhoraram a resposta dos animais frente á lesão intestinal provando que podem ser compostos promissores no tratamento de doenças inflamatórias. Palavras chaves: Plantas medicinais, doença inflamatória intestinal, trato gastrointestinal, doença de Crhon, retocolite ulcerativa. 1. Doença Inflamatória Intestinal A Doença Inflamatória Intestinal (DII), a Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa (RCU), são doenças inflamatórias crônicas, que acometem o trato gastrointestinal (ALMEIDA JUNIOR, 2013). Caracterizam-se por uma inflamação crônica do intestino, com períodos de exacerbação seguidos de intervalos prolongados de remissão dos sintomas, 17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar 2 sendo marcada pela ulceração e infiltração de neutrófilos na mucosa, desconforto ou dor abdominal com hábitos intestinais alterados tais como diarréia e constipação, no entanto, ocorrem algumas diferenças quanto às características e distribuição do processo inflamatório (KIEILA et al., 2005). Dados mundiais indicam que a prevalência está em uma faixa de 120-200 casos de RCU e 50-200 casos de DC para cada 100.000 habitantes. No Brasil, poucos estudos analisam os aspectos epidemiológicos da DII, sendo que a maioria apenas descreve os aspectos clínicos e a frequência de admissão em hospitais em função dessa enfermidade, sem qualquer tipo de referência quanto à incidência ou prevalência na população (ORSI, 2012). Estudos envolvendo diferentes modelos experimentais em animais de laboratório, bem como em seres humanos, a DC está fortemente relacionada à ativação de linfócitos T helper1(Th1), enquanto que na RCU a ativação de linfócitos T helper 2 (Th2) é mais proeminente, devido as diferentes citocinas envolvidas na modulação da resposta imune observada em cada doença. Na DC os níveis do fator de necrose tumoral alfa (TNF- α), o interferon gama (IFNy), interleucinas (IL) IL -12 e IL- 1 estão aumentados, enquanto na RCU é observado o aumento na secreção da IL-5 ,IL14, IL-10 e IL-13, sendo maior o desequilíbrio da homeostasia no sistema imune na DC do que na RCU. A destruição celular e necrose, por sua vez, ocorrem devido à secreção de mieloperoxidase e distintas proteases, especialmente das metaloproteinases, que influenciam na função de migração de células inflamatórias, ulceração da mucosa, bem como na deposição de matriz extracelular, além da geração de radicais livres derivados do oxigênio e nitrogênio, os quais contribuem no quadro inflamatório intestinal (ORSI 2012; ALMEIDA JUNIOR, 2013). Observa-se ainda que, na DII há uma produção excessiva ou um descontrole na regulação de radicais livres, é essencial que as células do tecido possuam um sistema de defesa para controlar os altos níveis de radicais livres para modular negativamente o processo inflamatório. Para isso as células dispõem de um sistema de defesa antioxidante que inibem ou neutralizam as ações dos radicais livres, (sistema antioxidante endógeno), modulando negativamente o desenvolvimento ou progresso da DII (KIEILA et al., 2005). 17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar 3 Atualmente na comunidade científica, existe um consenso generalizado de que os usos dos antiinflamatórios não esteroidais podem gerar danos à mucosa do trato gastrointestinal (TGI), resultando em ulcerações gástricas e duodenais, perfuração e sangramento do tecido lesado. Infelizmente, a terapêutica disponível não representa a cura da DII, sendo que os fármacos disponíveis ou possuem sérios efeitos colaterais e/ou são de alto custo e em vários casos os pacientes não respondem a nenhum dos tratamentos (ORSI, 2012; ALMEIDA JUNIOR, 2013). Entretanto, a busca de uma melhoria das condições patológicas desta e de outras doenças do TGI, através do uso de plantas medicinais é plausível e pode representar uma alternativa terapêutica. 1.1 Busca por novos compostos para o tratamento da Doença Inflamatória Intestinal. Recentemente, novos procedimentos terapêuticos têm sido propostos, especialmente com produtos naturais com atividade antioxidante e/ou imunomoduladora. De fato, há ainda a necessidade de mais estudos para a obtenção de novas estratégias terapêuticas que maximizam a eficácia dos fármacos, enquanto minimizam sua toxicidade (FERREIRA et al., 2011). Os modelos experimentais em animais de laboratório são realizados para elucidar questões concernentes à etiologia, desenvolvimento e tratamento dessa doença. A literatura relata a eficácia do uso de várias plantas medicinais no tratamento da DII, sendo que suas propriedades terapêuticas são atribuídas a diferentes compostos ativos como polifenóis, alcalóides, flavonóides, cumarinas, terpenoides e taninos. Recentemente, novos procedimentos terapêuticos têm sido propostos, especialmente com produtos naturais que exibem atividade antioxidante e/ou imunomoduladora. (ORSI, 2012; VARILEK et al., 2001). 2. Plantas Medicinas usadas no tratamento das DII. 2.1 Achyrocline satureoides (Lam.) D. C (A. satureoides) As folhas e caule da A. satureoides, popularmente conhecida como macela são bastante utilizadas pela população por possuir efeitos antidispépticos, antidiarreicos, hepatoprotetores, bem como antiinflamatório para distúrbios 17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar 4 intestinais. Como as formas farmacêuticas, a base da macela são compostos fitoterápicos e possuem uma série de princípios ativos e torna-se importante a análise do potencial da mesma como agente anti-inflamatório. (FERREIRA et al., 2011). Um estudo feito por Ferreira e colaboradores em 2011, teve como objetivo a avaliação da influência do uso de extrato da macela como agente antiinflamatório para o tratamento de DII aguda induzida em camundongos, os animais foram monitorados diariamente para análise das fezes (consistência, presença de sangue), variação de peso corpóreo. Após o protocolo experimental eles foram mortos para coleta de fragmentos intestinais para análise de infiltrados inflamatórios por técnicas histológicas. Com os resultados obtidos foi possível observar que a indução da DII foi satisfatória, devido à perda de peso dos animais e ao aspecto das fezes. O grupo tratado com extrato de A. satureoides a 20% começou a ganhar peso após o início do tratamento; o que não foi observado com o grupo placebo, que recebeu NaCl. O extrato de A. satureoides apresentou resultados promissores em relação ao seu potencial antiinflamatório, uma vez que, no estudo histológico não foram observados focos de infiltrado inflamatório nos segmentos intestinais analisados após o tratamento com o extrato da planta. 2.2. Camellia sinensis (L) Kuntze A C. sinensis é um arbusto de pequeno porte, de origem asiática, pertencente à família Theaceae. Apresenta folhas simples, é designado como chá da índia ou chá verde, oolong ou chá preto, quando obtido a partir da fermentação das folhas,e designado de chá branco quando obtido a partir das flores. As folhas frescas, recém-coletadas e estabilizadas caracterizam o chá verde. Seus componentes flavonóides e catequinas apresentam uma série de atividades biológicas, antioxidantes, quimioprotetora, termogênicas, antiinflamatória e anticarcinogênica (VARILEK et al., 2001). Uma pesquisa realizada por Varilek e colaboradores em camundongos tratados oralmente por 6 semanas com extrato de polifenóis (EP) observaram que os polifenóis do chá verde, inibiram fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e reduziu a ativação do nuclear-kB (NF-kB) responsáveis pelo processo inflamatório. Neste 17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar 5 estudo, foi avaliado que os EP polifenóis diminuíram a resposta inflamatória em um modelo animal da DII comprovando que os polifenóis do chá verde têm efeitos antiinflamatórios. O mesmo efeito não foi comprovado em camundongos com DII não tratados com EP. 2.3 Hymenaea stigonocarpa Mart. A H. stigonocarpa (Fabaceae) , é uma espécie vegetal do Cerrado Brasileiro conhecida também pelo povo como Jatobá do Cerrado. A casca do caule e o fruto do jatobá do cerrado são usados na medicina popular brasileira para o tratamento de ulceras, diarréias e antiinflamatório (ORSI, 2012). A planta possui polifenóis que parece proteger contra doenças, em virtude de sua propriedade antiinflamatória e antioxidante. Flavonóides também estão presentes, pois exercem a excelente capacidade de inibir a cicloxigenase e a 5lipoxigenase e modulam a atividade das células do sistema imune e os Taninos que desempenham a atividade de antioxidante e sequestrador de radicais livres (ORSI, 2012). Orsi em 2012, realizou uma pesquisa que investigou os efeitos do extrato metanólico da casca do caule e a polpa da fruta do H. stigonocarpa em modelos experimental de DII em ratos machos da linhagem Wistar (180-200g). Os animais foram induzidos ao processo inflamatório, sendo submetidos a um período de jejum de 24 horas e, posteriormente, anestesiados com halotano. Onde foi usado 0,25 mL de uma solução de 10 mg de 2,4,6- trinitrobenzenosulfonico (TNBS) em etanol a 50% (v/v). O TNBS foi administrado via retal, os animais foram mantidos em posição vertical desde o momento da instilação do hapteno até a recuperação da anestesia, quando devolvidos as caixas de manutenção. Os animais do grupo branco foram submetidos ao mesmo procedimento, mas com administração de salina em substituição ao TNBS. O grupo tratado com o extrato do jatobá do cerrado mostrou efeito antidiarreico, e histologicamente houve melhora no processo inflamatório ao contrario do grupo tratado somente com ração onde tiveram perda de peso e progressão da doença. O extrato do jatobá do cerrado também mostrou bons resultados relacionado ao grupo tratado com sulfassalazina onde o mesmo diminuiu os níveis de TNF-alfa e INF-gama na 17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar 6 DII. Contudo os efeitos observados no estudo podem estar associados à ação oxidante da planta, pois essa espécie apresenta taninos e flavonoides na casca e no caule. 3. Considerações finais. Os estudos deste levantamento bibliográfico mostram que as plantas utilizadas para o tratamento da DII produzem uma série de resultados satisfatórios, com diminuição das citocinas inflamatórias, efeitos antidiarreicos e histologicamente não foram observados focos de infiltrado inflamatório nos segmentos intestinais dos animais. Sugerindo que os extratos dessas plantas podem ser compostos promissores no tratamento de doenças inflamatórias intestinais. Referências Bibliográficas ALMEIDA JUNIOR, L. D. Atividade anti-inflamatória intestinal do extrato padronizado de Physalisangulata L. (camapú). 2013. 82 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – no Instituto de Biociências, no curso de Pós Graduação Área de concentração: Farmacologia, Universidade Estadual Paulista-IB, Botucatu, 2012. FERREIRA, C. H.; COELHO, L. M.; ARAUJO, A. N. S.; SOUZA, R. R de; SOUZA, R. R de.; TEIXEIRA, K. N.; MORÃES, D. R. S. Indução de doenças intestinais (DII) e avaliação da ação antiinflamatoria da macela (Achyroclinesaturoides) em camundongos. Perquirere: Patos de Minas: UNIPAM, v. 8, n. 2, p. 1-16, 2011. KIELA, P. R.; MIDURA, A. J.; KUSCUOGLU, N.; JOLAD, S. D.; SÓLYOM, A. M.; BESSELSEN, D. G.; Timmermann, B, N.; Ghishan, F. K. Effects of boswelliaserrata in mouse models of chemically induced colitis. Am J Physiol Gastrointest Liver Physiol. v. 288, p. 798–808, 2005. ORSI, P. R. Atividade antiinflamatória intestinal e antiulcerogênica gástrica e duodenal de Hymenaestigonocarpa Mart. 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